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terça-feira, 29 de julho de 2008

NEM TUDO O QUE CONTA PODE SER CONTADO. Educação.



Por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"
Recentemente eu recebi uma carta em resposta a meu artigo "Notas escolares: úteis ou nocivas?", dizendo, entre outras coisas:
"Seu artigo sobre notas escolares tende a ser um instrumento para se inventar desculpas. Não só para as crianças mas também para os pais. Seja em sala de aula, seja no serviço ou em um 'site' da internet (as premiações assinaladas na página principal de seu 'site' [The Natural Child Project] representam sua aprovação) - somos avaliados. Não foi nesse sistema de avaliação "imperfeito, enganoso e perigoso" que você recebeu um título de Mestrado? As notas são um meio que permite aos pais e aos alunos medir seu desempenho. A simplificação das notas a 'Satisfatório' e 'Insatisfatório' provocou fortes reações entre os pais. Um 'S' ou um 'I' não especificam um nível de desempenho. Enfim, eu concordo e apóio de todo o coração a idéia de que as crianças devem ser respeitadas de todos os modos possíveis. Também imploro aos pais que não ensinem e protejam somente os direitos de seus filhos, mas igualmente as responsabilidades que lhes correspondem".
Aqui vai a minha resposta:
Sua carta é bem-vinda, pois me dá a oportunidade de explicar uma aparente contradição entre minhas convicções declaradas e meus próprios atos.
Você tem razão, é claro, em que existe uma contradição entre minhas declarações sobre o perigo das avaliações e a apresentação em meu 'site' na internet de títulos acadêmicos e premiações. Mas a contradição não está em meu modo de pensar e sim nas falsas convicções de nossa sociedade. Eu me defronto com o dilema inevitável de que para ser vista e aceita como uma pessoa com idéias que vale a pena ler, devo me apresentar com as "qualificações" que nossa sociedade espera e exige. É triste mas é verdadeiro que as pessoas que não têm graduação acadêmica simplesmente não são levadas tão a sério quanto aquelas que têm essa qualificação, independentemente de seu conhecimento e capacidade. Eu mesma aprendi quase tudo o que sei sobre criação de filhos a partir de minha própria experiência como mãe, interagindo de coração com meu filho, e não de meus anos de estudante em um programa universitário.
É uma grande ironia que justamente nós que nos declaramos contra o sistema de avaliação e qualificação artificial precisemos apresentar nós mesmos essas qualificações, para nos fazermos ouvir. Acho essa situação frustrante e particularmente odiosa, mas não vejo como escapar dela.
Tenho esperança de que se a natureza nociva do sistema de avaliação escolar pudesse ser compreendida e abolida, a sociedade começaria a avaliar tudo de um modo mais realista e o trabalho de uma pessoa poderia ser apreciado e avaliado simplesmente por seus próprios méritos. Até chegar a esse ponto eu vou continuar a apontar as deficiências dos sistemas que pretendem "medir desempenho" mas que na verdade não o fazem, nem são capazes.
Quero acrescentar aqui uma observação: eu vejo certa diferença entre os prêmios conferidos a um 'site' na internet com a finalidade principal de ajudar as pessoas a escolherem entre milhares de 'sites', e sistemas de avaliação que intimidam e afetam a preciosa auto-estima de nossos filhos. Como escreveu John Holt, "quando amedrontamos as crianças, bloqueamos totalmente seu aprendizado... o único meio das crianças obterem um senso de dignidade, competência, valor próprio e auto-estima é serem bem-sucedidas em tarefas de sua própria escolha, por seus próprios padrões e para sua própria satisfação, e não à dos outros".
Quanto a preparação das crianças para terem boas notas "no serviço", o que acontece é exatamente o contrário. O consultor de empresas Peter Drucker, em uma reportagem na revista 'Careers Today' ('Carreiras Hoje'), citou vários empresários de destaque lastimando o fato de que novos funcionários admitidos diretamente a partir da faculdade, "estão acostumados a, todas as vezes que fazem alguma coisa, alguém lhes dar um A, B ou C e dizer 'isto está muito bom' ou 'não está muito bom'. Eles não sabem como avaliar seu próprio trabalho. Eles não conseguem se libertar do apoio da autoridade". Nesse sentido, as escolas estão julgando muito mal o que as crianças realmente necessitam para estar bem preparadas para o "mundo real". Parece que o hábito da avaliação e do direcionamento externo é prejudicial não só enquanto as crianças ainda estão na escola mas também quando elas passam para o mundo real do trabalho.
O fato dos pais insistirem em avaliações específicas só demonstra que eles também freqüentaram a escola e que aprenderam a acreditar na utilidade das notas. Seja o sistema "A, B, C" ou "S, I", não há saída para o grande erro de todos os sistemas de avaliação: qualquer nota inferior à máxima é uma ofensa e um castigo, e todas as ofensas e castigos são ineficientes e nocivos. Um professor de pedagogia da Universidade de Victoria (Colúmbia Britânica, Canadá) durante anos ofereceu uma recompensa em dinheiro a quem fosse capaz de provar o benefício das notas baixas. Ele tem o dinheiro até hoje.
Albert Einstein tinha um aviso na parede de seu escritório: "Nem tudo o que conta pode ser contado e nem tudo o que pode ser contado, conta". Vamos dar uma olhada em cada uma dessas frases:
"Nem tudo o que conta pode ser contado". Tenho uma amiga que tem mais sabedoria, compaixão, compreensão e criatividade do que qualquer outra pessoa que eu conheço. Ela encontra soluções para problemas que ninguém mais consegue resolver e apresenta essas soluções com delicadeza e tato. Seu exemplo de vida feliz inspira muita gente. Embora ela seja a melhor conselheira que eu conheço, ela não tem nenhum título. Se ela quisesse trabalhar como psicoterapeuta, ela teria que embarcar em um longo curso universitário.
"Nem tudo o que pode ser contado, conta". Eu também conheci um número deprimente de psicólogos incompetentes e negligentes que não chegam aos pés da minha amiga mas cujos títulos profissionais instilam uma falsa confiança em seus clientes. Eles podem pendurar um diploma na parede mas não são capazes de agir a partir de seu coração. A sabedoria verdadeira não vem dos livros e não pode ser medida por provas, notas e títulos. Ela vem sempre do amor que uma pessoa recebe quando criança e da abertura às lições que a vida lhe proporciona.
Como é possível respeitar as crianças "de todos os modos possíveis" ameaçando-as com provas e notas, ignorando seu modo singular de aprender, desprezando seu ritmo próprio de desenvolvimento e classificando-as como "bem-sucedidas" ou "mal-sucedidas" com base em provas que não conseguem avaliar muito mais do que a memória de curto prazo e desprezam aquilo que essas crianças têm de realmente valioso e precioso? Essa sim é uma contradição que precisa receber a atenção de professores, administradores escolares e de todos aqueles que estejam preocupados com o bem estar das crianças em nosso mundo.

Fonte: http://members.tripod.com/~Helenab/jan_hunt/tudoque.htm

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