sexta-feira, 10 de julho de 2009

Currículo Oculto e Currículo Oficial Sintonizando as salas de aula e o mundo exterior


A Semana - Editorial
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Currículo Oculto e Currículo Oficial
Sintonizando as salas de aula e o mundo exterior

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Esqueçam as clássicas e tradicionais salas de aula. Carteiras enfileiradas geometricamente onde os estudantes se acomodam calmamente e ficam a espera de seus professores para que novas aulas sejam dadas. Alunos respeitosos e que trazem de suas casas recomendações expressas de bom comportamento e de máximo aproveitamento das oportunidades que lhes são oferecidas pela escola.

A clientela escolar mudou muito e não nos permite mais pensar o ambiente educacional sem observar o contexto global em que estamos inseridos. Olhar apenas para o próprio umbigo e tentar diagnosticar as causas da indisciplina, da falta de disposição dos estudantes, do marasmo do trabalho executado nas escolas e dos resultados pífios obtidos não vai nos levar a nenhuma solução eficiente e plena.

Pode-se mesmo pensar que a resposta para nossos problemas esteja muito distante e que talvez seja inatingível. Partindo-se de um diagnóstico tão impróprio quanto o que nos leva a tratar câncer com aspirina é realmente improvável que consigamos extirpar os nossos males...

Não podemos deixar de pensar que a educação está inserida em um amplo contexto social, político, econômico e cultural. Que ao abordarmos tal situação temos que perceber inferências provenientes não apenas das decisões governamentais locais ou nacionais, mas também as influências sofridas das transformações que acontecem em outras regiões do planeta e que aos poucos promovem mudanças em nosso cotidiano, em nossos hábitos e nas relações que estabelecemos com o mundo.

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O Mundo mudou com as novas tecnologias e a educação não pode ficar alheia a
isso. No entanto não basta adicionar laboratórios e computadores, televisores e
aparelhos de DVD ou qualquer outro recurso às escolas, é necessário aprender a
utilizá-los e torná-los parte integrante dos currículos e instrumentais
básicos para o trabalho em sala de aula.

Pensamos em educação como as pessoas que querem entender as mudanças climáticas apenas em nível local, sem inserir nessa ampla e complexa questão situações como o efeito estufa, a camada de ozônio, a destruição das florestas tropicais ou a extinção de animais e vegetais.

Não podemos desprezar mudanças que têm acontecido no âmbito das comunicações como o surgimento da Internet, a ampliação das transmissões por satélite, as notícias que rapidamente cruzam as fronteiras e nos permitem saber o que se passa no Japão ou no Oriente Médio em questão de minutos.

Ignorar o avanço do neoliberalismo e a falência do sonho socialista; fechar os olhos para as disputas religiosas que abalam regiões do planeta; desprezar a rápida e portentosa ascensão da China no mercado mundial; ou ainda não se informar acerca dos grandes tratados internacionais que levaram a formação da União Européia nos levam a erros grosseiros e nos tornam míopes ou até mesmo cegos a questões relevantes que afetam o trabalho nas escolas.

O homem literalmente chegou a Lua, criou meios de transporte velocíssimos e eficientes, logrou transformações importantes nos setores produtivos e elevou consideravelmente sua capacidade de criar mercadorias. Essa mesma humanidade condenou milhares de pessoas à fome, ao abandono e aos descalabros da miséria. Guerras têm sido travadas em diferentes partes do mundo, doenças epidêmicas assolam os países desprovidos e a distribuição de riquezas é totalmente desigual e injusta entre as nações ricas e as pobres.

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A educação tem papel primordial na formação e esclarecimento das novas gerações.
Para que isso aconteça o professor também deve estar sintonizado com as
transformações do mundo em que vive e tem que tentar aproximar o currículo oficial
das notícias e informações do cotidiano que constituem um autêntico currículo oculto,
de grande influência na vida desses nossos estudantes.

E como tudo isso se relaciona à escola?

Vivemos num país em desenvolvimento, pelo menos é o que nos dizem há algum tempo (desde que entrei nos bancos escolares escuto essa afirmação). Isso significa que há problemas sociais e desigualdade econômica. Não há guerras envolvendo o Brasil e outras nações, mas há soldados brasileiros em outras partes do mundo (como no Haiti). Vivemos algumas tensões internas que algumas vezes extrapolam os limites da racionalidade e se transformam em confrontos sangrentos (como no caso da questão agrária).

A fome é um flagelo que ronda permanentemente uma parcela significativa de famílias brasileiras. A destruição de florestas em território nacional é questão de interesse internacional e tema de debates em diferentes partes do mundo. Temos governos que não querem assumir seus posicionamentos neoliberais que, entretanto, seguem à risca as cartilhas do Banco Mundial e do FMI. Assistimos ao crescimento constante e avassalador do advento das novas tecnologias ao cotidiano de nossa população (vimos recentemente, por exemplo, que há no Brasil atual o dobro de celulares comparativamente as linhas de telefones fixos ou ainda que a Internet de banda larga já superou a de linhas discadas).

Já deu para perceber que tudo isso influencia a escola?

Ainda não? Então vamos um pouco além em nossas observações. Que tal lembrar, por exemplo, que a disponibilização mais rápida de informações e notícias pelo rádio, televisão, jornais diários ou internet atinge uma boa e considerável parcela dos estudantes que freqüentam nossas escolas.

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As mudanças do mundo não fazem parte dos currículos oficiais e têm forte
influência sobre a vida de nossos estudantes. Questões como a Guerra do Iraque,
o pagamento de mensalões ou o referendo sobre a venda de armas devem ser
discutidas em sala de aula e aproximadas dos temas previstos nos currículos oficiais.

Esses meios de comunicação são freqüentes companheiros de nossos estudantes e disponibilizam informações que afetam e sensibilizam o comportamento dessas crianças e jovens. E o que fazemos com esses dados e notícias? Desprezamos, ignoramos ou, por vezes, comentamos com brevidade entre uma aula e outra. Isso não consta do currículo e dos planos de aula, portanto representa perda de tempo precioso de nossas explanações e trabalhos. Esse é o pensamento da grande maioria dos professores...

Ao fazermos isso perdemos a sintonia que pretendemos estabelecer com os estudantes. Precisamos estabelecer relações entre o currículo oficial e o mundo que nos cerca e influencia constantemente. A influência da realidade no contexto educacional é muito maior do que podemos imaginar e constitui, de acordo com pesquisas conduzidas por especialistas em educação, o que pode ser chamado de currículo oculto.

Outro exemplo? Que tal pensarmos na economia e no neoliberalismo? A competição entre produtores internacionais e as conseqüências diretas no dia a dia dos estudantes é muito maior do que podemos imaginar. Vai desde as explicações acerca do desemprego dos pais até as justificativas quanto aos baixos salários oferecidos no mercado brasileiro ou a dificuldade para se obter o primeiro emprego.

E como conciliar o currículo oculto com o oficial?

O primeiro passo é manter-se atualizado em relação ao mundo que nos cerca. O segundo é colocar os neurônios para conseguir relacionar as notícias e informações obtidas aos planos e projetos de ensino. Isso significa que não podemos desprezar os currículos oficiais e sim modernizá-los criando elos que permitam a comunicação entre esses direcionadores de atuação da escola e a realidade em que vivemos. Outro aspecto fundamental é redimensionar nossa prática e questionar nossos caminhos, valores, posturas e até mesmo o nosso conhecimento (fazer novos cursos, entender as tecnologias e utilizá-las na educação, ler novos autores, reler os clássicos, assistir filmes, freqüentar teatros,...).

Criar canais de comunicação com os alunos. Escutar e aprender com os estudantes também é medida essencial. A escola ainda é deveras conservadora e antiquada nesse sentido. Criar relações de proximidade e permitir que os alunos se permitam uma nova compreensão da escola e da educação. Isso não significa abdicar da autoridade e do respeito que se fazem necessários nessa atuação profissional. Seriedade, trabalho, disciplina e responsabilidade são totalmente condizentes com diálogo, amizade e construção cooperativa de novos conhecimentos. Todos ganham com isso, ninguém perde.

Para completar nossa conversa de hoje, não podemos deixar de mencionar a necessidade da criatividade e do amor à profissão. Criatividade que dá o tom e o tempero, que estimula e convence, que atrai e estabelece o interesse na educação. Amor que nos faz vencer as adversidades, os pessimismos e as pequenas derrotas do cotidiano para que possamos chegar ao triunfo e as realizações...

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=437

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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Números bem tratados


Junho 2009

Números bem tratados

Fazer o registro da pontuação de jogos simples, como o "dados coloridos", é um dos passos iniciais para a criançada entender - e fazer corretamente - o tratamento da informação

Thais Gurgel (thais.gurgel@abril.com.br)

Dados coloridos. Jogo de matemática.

Realizar registros que ajudem a chegar ao resultado de um problema matemático é um aprendizado importante para as crianças das séries iniciais. Esse conteúdo de ensino pertence ao bloco Tratamento da informação, uma área do conhecimento na Matemática que se articula com todos os outros campos da disciplina no Ensino Fundamental I – Números e Operações, Espaço e Forma e Grandezas e Medidas –, mas que tem especificidades a serem desenvolvidas desde cedo.

Mais sobre tratamento da informação

Vídeo

Reportagem

Planos de aula

Trabalhar a produção de registros e a sua interpretação depende, antes de mais nada, de que os pequenos compreendam a sua utilidade. Para isso, é preciso criar situações – no registro de jogos, por exemplo – em que o controle de quantidades pela contagem de dedos ou pela memória não dê conta de garantir que se chegue ao resultado. “Essa preocupação é fundamental na hora de escolher a atividade a ser proposta”, diz Cileda Coutinho, professora da pós-graduação em Educação Matemática da PUC-SP. “Sem que a criança perceba por si própria a necessidade de registrar, dificilmente ela se envolverá em encontrar a melhor forma de fazê-lo para chegar a seus objetivos.” E descobrir como se faz bem o registro é a segunda condição para que a aprendizagem desse conteúdo de fato seja conquistada. Por isso, são fundamentais as intervenções do professor ao longo da atividade.

A professora Rosimeire Soares, da EMEF Laura Lopes, em São Caetano do Sul, SP, fez a escolha certa para sua turma de 1º ano. Durante dois meses, as crianças brincaram com o jogo “dados coloridos”, ao menos uma vez por semana.

O jogo, de regras bastante simples, deve ser praticado em grupos de quatro participantes, dos quais um (denominado “secretário”) fica responsável por controlar as rodadas – que são três – e determinar o vencedor. A cada jogada, a criança lança três dados – com faces de cor azul, vermelha e amarela – e ganha um ponto para cada face azul obtida. A cada dia, é importante que haja um revezamento na função de “secretário”.

Qual informação coletar

Nos primeiros dias em que trabalhou com o jogo em suas aulas, Rosimeire apresentou as regras do jogo e deixou que os pequenos brincassem para se familiarizar com elas. “Quando todos entendem a regra e percebem o que deve ser contado para saber quem foi o vencedor, eles já têm resolvido uma das partes do problema – justamente o de saber qual é a informação numérica a ser coletada”, diz Cileda. “O registro é o próximo passo.”

Intencionalmente, Rosimeire não orientou a turma a registrar os pontos no papel, pois queria ver essa necessidade surgir pela dificuldade em controlá-los. Aos poucos, os “secretários” começaram a perceber que, para garantir a contabilidade do jogo, precisavam de lápis e papel para anotar. No início, é possível – e aceitável – que alguns ainda recorram aos dedos das mãos (tanto as próprias como as dos colegas, quando seus dedos já não forem suficientes). Conforme avançam as partidas, aqueles que ainda não utilizam a marcação em papel sentem dificuldade em anunciar o vencedor. Vendo como os outros grupos resolvem a questão, eles também partem para o registro, revelando o entendimento de uma das funções do número: a de representar uma quantidade, ou seja, de registrar um montante de pontos que pode ser esquecido sem um registro.

Ao final de cada rodada de partidas, é preciso analisar no material produzido pelos alunos a forma como eles organizaram os dados coletados. “É muito comum que, inicialmente, as crianças não coloquem os nomes dos jogadores nos registros”, explica Priscila Monteiro, formadora do projeto Matemática é D+, da Fundação Victor Civita. “Em salas onde esse aspecto aparece, é importante discutir a necessidade de marcação dos nomes, como condição mínima para saber quem ganha o jogo.”

O melhor registro

Também é natural que, ao fazer o registro escrito, apareçam várias formas de anotação. No caso de Rosimeire, os alunos usaram diferentes opções de escrita numeral (por exemplo 1-1-1 ou 1-2-3), mas também marcações como bolinhas e pauzinhos. Por isso, é importante promover na classe uma reflexão coletiva sobre a organização das informações.

Rosimeire lançou diferentes questões à turma. Em uma folha, por exemplo, em que os nomes estavam muitos próximos, assim como os números relativos aos pontos, ela perguntou apontando: “Dá para ter certeza se esse ponto é desse jogador ou do outro?” Com a negativa das crianças, o grupo discutiu formas de evitar a dúvida em uma próxima vez, como traçar uma linha entre os nomes dos participantes no papel.
Outro aspecto frequente em atividades como esta é o fato de as crianças só marcarem no papel os pontos feitos, sem usar qualquer indicador para as rodadas em que o participante não pontua. Aparecem registros como o abaixo:

Resultados do jogo de matemática

“Eles dificilmente compreendem de início a importância de colocar um zero ou um traço, por exemplo, no registro”, diz Priscila. “Nesse caso, você pode questionar a turma: como é possível saber que esse jogador (o ganhador) não jogou mais vezes que o outro, se há mais algarismos registrados em seu nome?”

Mais uma reflexão necessária é se o registro com algarismos indica uma soma de pontos ou não. Tomando como exemplo os registros da turma de Rosimeire é possível discutir se, no registro “1, 2, 3”, o algarismo 3 se refere ao total da partida ou se é o número de faces azuis que o jogador obteve na terceira rodada.

“O norte da discussão para o aperfeiçoamento do registro é torná-lo um instrumento de informação eficaz e sem margem de dúvidas”, diz Priscila. Uma possibilidade para levantar essa discussão é trocar registros entre os grupos e pedir que descubram quem é o vencedor do outro grupo com base na interpretação do material.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/tratamento-informacao-480244.shtml

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Em busca do tempo perdido


REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 147

Em busca do tempo perdido

MEC anuncia Plano para fazer com que 600 mil professores consigam formação adequada; estratégia de recorrer à educação a distância é questionada


Dois anos depois da criação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que já falava em priorizar a valorização profissional, o Ministério da Educação lançou, no final de maio, o Plano Nacional de Formação de Professores (PNFP). Com investimento previsto de R$ 1 bilhão, a ação tem como meta combater as distorções que minam o magistério no que tange à formação docente.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do total de 1,8 milhão de professores que atuam nos ensinos fundamental e médio em escolas públicas brasileiras, 600?mil não possuem formação universitária ou lecionam em áreas diferentes daquelas para as quais foram licenciados. Essa distorção entre formação e atividade é apontada como um dos principais motivos dos índices sofríveis de avaliação escolar, principalmente do ensino médio.

Na primeira etapa do PNFP, prevê-se a criação de 331 mil vagas, em 90 instituições públicas de ensino superior. Segundo o diretor de Educação Básica Presencial da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), João Carlos Teatini, a maior parte da oferta é para os cursos de pedagogia, devido à "enorme carência de formação dos professores da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental". Nos demais cursos, foram priorizadas as disciplinas para as quais faltam docentes, como física, química, matemática e biologia.

O plano será executado em regime de colaboração entre União, estados e municípios, por meio de 90 instituições públicas de ensino superior. Os cursos de primeira licenciatura têm carga horária de 2.800 horas mais 400 horas de estágio supervisionado. Os de segunda licenciatura têm 800 horas para cursos na mesma área de atuação ou 1.200 horas para cursos fora da área de atuação.

Os professores interessados devem procurar as secretarias estaduais ou municipais de Educação. Caso a demanda, nessa primeira fase, seja maior que a oferta, o processo seletivo ficará a critério das instituições de ensino superior responsáveis. Professores que não obtiverem vaga para o próximo semestre serão contemplados nas?de 2010 e 2011. Para 2009, estava previsto o ingresso de 62,9 mil docentes. Em 2010, 144 mil professores serão contemplados. Para 2011, a previsão é de 124 mil vagas.

Presencial versus a distância
Apesar de a Política Nacional de Formação de Professores para a Educação Básica estabelecer que a oferta deve ser majoritariamente presencial e de as entidades ligadas à área de formação docente apoiarem essa modalidade, 48% das vagas são para a educação a distância (EAD), de acordo com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras (ForGrad). Defensor da EAD, o professor Romualdo Portela de Oliveira, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), considera que a utilização da modalidade, no âmbito do plano, é precipitada. "A EAD é um instrumento poderoso, mas a experiência só deveria ser colocada em prática para a formação inicial depois de consolidada na continuada", avalia Portela.

Já o secretário de Educação a Distância do MEC e coordenador da Dimensão de Capacitação do Plano de Ações Articuladas (PAR), Carlos Bielschowsky, garante que "são cursos com credibilidade, desenvolvidos por instituições sérias, que têm seus instrumentos de avaliação, que comprovam a qualidade da EAD". O diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Johannes Doll, encara a modalidade como solução para as regiões mais distantes. A UFRGS desenvolve um projeto de EAD, ?em parceria com o MEC, para formar 400 professores do ensino fundamental que só possuem o curso normal. "Basta que a relação professor/aluno, a estrutura e a avaliação sejam adequadas", completa.

O presidente-executivo do Movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos, questiona a demora para implementação do plano. Para ele, a medida chega com 15 anos de atraso. "Na década de 90, quando a meta era colocar toda criança na escola, o problema maior era a falta de salas. Houve falta de visão de futuro. Era óbvio que essas crianças, que estavam ingressando, continuariam avançando e chegariam ao ensino médio, hoje em situação precária, e precisariam de bons professores em todos os níveis", analisa. Ramos destaca outros momentos perdidos, como o começo da primeira gestão do atual governo, quando foi criada uma comissão para estudar o assunto, no âmbito do MEC, que acabou caindo no esquecimento, e o próprio lançamento do PDE, em 2007.

Bielschowsky rebate e afirma que, no âmbito do PDE, "a lógica é a de onde se quer chegar e não uma lógica sequencial, porque variam o período e a capacidade de executar cada ação prevista". No quesito formação, a próxima etapa, ainda em processo de organização e que deve ser concluída até o fim do ano, será a educação continuada dos docentes já graduados.

O secretário concorda que a qualificação dos professores deveria ter sido ?paralela ao atendimento da demanda por vagas, mas responde que "falar é fácil, o difícil é colocar em prática". Das 27 unidades da federação, 21 firmaram acordo. Apenas São Paulo optou por não participar. Rio Grande do Sul e Minas Gerais estão elaborando os projetos.?Acre, Rondônia e Distrito Federal, devem aderir a programas de educação continuada. "É muito complexo chegar a um consenso entre estados, municípios e universidades, em um país continental", destaca Bielschowsky, que foi o articulador do Plano Nacional de Formação dos Professores.

Mesmo com toda a engenharia mencionada pelo secretário, Romualdo Portela considera que poderia ter havido mais diálogo com as sociedades científicas da área, para conhecer suas experiências. Ele adverte que os problemas existem em três níveis - atratividade, formação e retenção. "Não conseguimos atrair os melhores alunos do ensino médio para a carreira docente; a formação é muito ruim, porque a maior parte dos professores é formada em instituições privadas, em geral, bastante precárias, além de não retermos bons profissionais por questões como salário e condições de trabalho", diz. "Se não for promovida uma política abordando todas essas dimensões, é muito provável que o plano não funcione", completa. Os aspectos mencionados por Portela foram contemplados em medidas anunciadas na esteira do plano, mas de forma incipiente.

O secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, também cobra mais diálogo. "Houve inversão do processo. O Enem, por exemplo, foi discutido com as universidades, de cima para baixo, deixando municípios e estados em papel secundário", protesta. "Por outro lado, para evitar novas contratações, os governadores contestam no Supremo Tribunal Federal (STF) o dispositivo da Lei do Piso, que permite que o professor realize sua formação no horário de aula". Araújo lembra um levantamento feito pela CNTE, em 2002, apontando que, além da carga horária normal, o professor gasta, em média, 14 horas semanais em casa, com a correção de trabalhos e o planejamento das aulas. "Não há condições de acumular tudo", reclama.

A professora Stella Bortoni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), responsabiliza a descontinuidade das políticas públicas pelo quadro. "O plano é positivo, antes tarde do que nunca, mas não sabemos o que virá depois. A cada eleição, em todos os níveis do Poder Executivo, quem chega altera ou engaveta projetos, troca membros da equipe. A educação precisa ser uma política de Estado e não de governo, não pode ficar atrelada ao calendário eleitoral", ressalta Bortoni, lembrando que formar o professor é bem diferente de asfaltar uma estrada. Enquanto obras desse tipo podem ser feitas em quatro anos, a formação é um processo para a vida toda. Bortoni alerta que também é necessário ter clareza acerca do perfil do professor que o país deseja, que habilidades ele precisa dominar para ser um agente da cultura.

Como as instituições de ensino superior não têm condições de atender à demanda de professores em exercício, que não possuem formação adequada, foram criados cursos emergenciais. De acordo com a Capes, 14% das vagas são para os cursos regulares existentes e os outros 86% para os emergenciais. Os termos de adesão das IES têm previsão de duração de sete anos, com a oferta observando as necessidades regionais.

O pacote para o magistério

Fies
Quem fizer a licenciatura em instituição privada, por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), poderá reduzir a dívida. Caso ingresse em escola pública, após a formatura, cada mês de serviço dará direito a um abatimento de 1%. A medida também beneficia os professores que já se formaram, com financiamento do Fies, e atuam em escola pública.

Verba para piso salarial
Os estados que não tiverem condição de pagar o piso nacional dos professores, de R$ 950, terão verba complementar do Fundo da Educação Básica (Fundeb).

Obrigatoriedade de curso superior
Será apresentado um projeto de lei ao Congresso Nacional, que pretende alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), tornando obrigatória a formação superior para os professores que lecionam até a 4ª série/5º ano do ensino fundamental. Os de nível médio, na modalidade normal, somente poderão atuar na educação infantil.

Nota mínima no Enem
O mesmo projeto prevê que o Ministério da Educação poderá definir uma nota de corte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), como pré-requisito para o ingresso em cursos de graduação de professores. - Cursos de pedagogia A autorização dos cursos de pedagogia só será concedida às instituições que destinarem 70% da carga horária total para a formação de professores.

Ingresso na carreira
No primeiro semestre de 2010, será realizada uma prova nacional de concurso para o magistério. A ideia é oferecer um banco de professores para contratação nos estados e municípios.

Fonte: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=12733

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