Dialética

Dialética. A dialética é, propriamente falando, a arte de discutir. A arte do diálogo. Como, porém, não discutimos só com os outros, mas também conosco próprios, ela acaba sendo considerada o método filosófico por excelência. Entre os gregos, chamava-se ainda dialética à arte de separar, distinguir as coisas em gêneros e espécies, classificar idéias para poder discuti-las melhor (cf. Platão, Sofística, 253c)
Para Platão, dialética seria o processo que, partindo do diálogo de opiniões contrárias, iria separando a opinião (dóxa) do conhecimento ou ciência (epistéme), possibilitando à alma se elevar do mundo sensível ao mundo das ideias. (1)
Com o passar do tempo o termo evolui para um sentido mais preciso, designando "uma discussão de algum modo institucionalizada, organizando-se habitualmente em presença de um público que acompanha o debate – como uma espécie de concurso entre dois interlocutores que defendem duas teses contraditórias. A dialética eleva-se, então, ao nível de uma arte, arte de triunfar sobre o adversário, de refutar as suas afirmações ou de o convencer" (2)


Dialética. a. Na filosofia antiga e medieval é um sinônimo da lógica ou da arte de argumentação. A dialética, no hegelianismo e no marxismo, é algumas vezes encarada como um método e em outras, como uma filosofia. A primeira interpretação é equivocada, porque nem Hegel nem Marx nem seus seguidores propuseram qualquer método propriamente dito (ou procedimento padronizado) com gosto de dialética. A dialética é uma filosofia e, mais precisamente, uma ontologia. A ética e a epistemologia dialética não existem. b. Lógica dialética — Ela tem sido vendida como uma generalização da lógica formal. Esta última seria uma espécie de aproximação em câmara lenta da primeira: teria validade apenas para certas extensões, enquanto a lógica dialética cobriria processos em sua inteireza. Para melhor ou para pior, a lógica dialética permaneceu em estágio de projeto. De fato, ninguém jamais propôs quaisquer regras dialéticas de formação ou de referência. Além disso, a ideia toda de uma lógica dialética parece ser um mal-entendido proveniente da identificação feita por Hegel entre a lógica e a ontologia — uma equação que tem sentido apeOntologia dialética — Esta concentra as assim chamadas três leis da dialética, estabelecidas por Hegel e reformuladas por Engels e Lênine. Elas são: (1) cada coisa seria a união de opostos; (2) cada mudança origina-se em oposição (ou "contradição"); (3) qualidade e quantidade mudam uma na outra. As partículas elementais — os tijolos que constituem o mundo — são os contra-exemplos da primeira "lei". Cada caso de cooperação na natureza ou na sociedade arruína a segunda. A terceira "lei" é ininteligível na forma como se apresenta, mas pode ser caridosamente reformulada assim: Em cada processo qualitativo, ocorrem (podem ocorrer) mudanças e, uma vez realizadas, novos modos de crescimento ou declínio começam. É esta a única "lei dialética" clara e verdadeira, mas ela não envolve o conceito de contradição, que é marca registrada da dialética. Não é de surpreender que, ante uma doutrina tão nebulosa, a dialética nunca tenha sido formalizada. (4)
nas dentro de seu próprio sistema idealista. c.

Dialética. Originalmente, a "arte de conversação", mas foi usado por Platão para designar o método filosófico correto. Na antiguidade, Zenão de Eleia foi considerado o fundador da dialética, em virtude de suas provas indiretas de, por exemplo, a impossibilidade de movimento, inferindo absurdos ou contradições da suposição de que o movimento ocorre. A dialética de Sócrates, conforme retratada nos primeiros diálogos de Platão, tende a assumir uma forma destrutiva: Sócrates interroga alguém sobre a definição de algum conceito que empregou (por exemplo, "virtude") e extrai contradições das sucessivas resposta dadas. Mas em diálogos posteriores, que devem muito mais ao próprio Platão do que a Sócrates, a dialética é um método positivo, formulado para produzir o conhecimento das FORMAS ou IDEIAS e das relações entre elas. Nesses diálogos, a forma dialogal tende a tornar-se relativamente pouco importante e a dialética perde o seu vínculo com a conversação (exceto na medida em que pensar é tido como um diálogo da pessoa consigo própria). Para Hegel, a dialética não envolve um diálogo entre dois pensadores ou entre um pensador e o seu objeto de estudo. É concebida como a autocrítica autônoma e o autodesenvolvimento do objeto de estudo, de, por exemplo, uma forma de CONSCIÊNCIA ou um conceito.
A "dialética" também adquiriu um sentido pejorativo em consequência de sua associação com os chamados "sofistas" ou "professores profissionais de sabedoria" que, embora combatidos por Sócrates, usavam frequentemente métodos parecidos com os de Sócrates.
Lato sensu, a dialética de Hegel envolve três etapas: (1) Um ou mais conceitos ou categorias são considerados fixos, nitidamente definidos e distintos dos outros. Esta é a etapa do entendimento. (2) Quando refletimos sobre tais categorias, uma ou mais contradições emergem nelas. Esta é a etapa propriamente dialética, ou da razão dialética ou negativa. (3) O resultado dessa dialética é uma nova categoria superior, que engloba as categorias anteriores e resolve as contradições nelas envolvidos. Esta é a etapa de ESPECULAÇÃO ou razão positiva (Enc. I, && 79-82). Hegel sugere que essa nova categoria é uma "unidade de OPOSTOS", que se ajusta ao DEVIR. (5)
Dialética. Esse termo, que deriva de diálogo, não foi empregado, na história da filosofia, com significado unívoco, que possa ser determinado e esclarecido uma vez por todas; recebeu significados diferentes, com diversas inter-relações, não sendo redutíveis uns aos outros ou a um significado comum. Todavia, é possível distinguir quatro significados fundamentais: 1.º D. como método da divisão; 2.º D. como lógica do provável; 3.º D. como lógica; 4.º D. como síntese dos opostos. Referem-se, respectivamente, à D. platônica, à D. aristotélica, à D. estoica e à D. hegeliana. Pode-se dizer, por exemplo, que a D. é o processo em que há um adversário a ser combatido ou uma tese a ser refutada, e que supõe, portanto, dois protagonistas ou duas teses em conflito; ou então que é um processo resultante do conflito ou da oposição entre dois princípios, dois momentos ou duas atividades quaisquer. (6)



(1) BRAGA, M. (e outros). Breve História da Ciência Moderna. 3. ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2008. (Volume 1 Convergência de Saberes)
(2) BLANCHÉ, R. História da Lógica de Aristóteles a Bertrand Russel. Lisboa: Edições 70, 1985)
(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.
(4) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)
(5) INWOOD, Michael. Dicionário Hegel. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
(6) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.