sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PLANEJAMENTO DE CIÊNCIAS: CONTEÚDOS 1º à 4º séries

 

PLANEJAMENTO DE CIÊNCIAS: CONTEÚDOS 1º à  4º séries


1ª Série
Biodiversidade Vegetal
Biodiversidade Animal
Sentidos Humanos
Projetos Humanos
Conceito Unificador: Natureza Objetiva Homem Projetivo
Os vegetais são diversos, intera-gem com o meio, encerram um conjunto de funções vitais e apareceram na terra em tempos diferentes.
Os animais são diversos, intera-gem com o meio, encerram um conjunto de funções vitais e apareceram na terra em tempos diferentes.
O homem usa seus sentidos para colher informações sobre o mundo ao seu redor.
O homem assimila informações e usa a sua capacidade intelectual para projetar coisas.
2ª Série
Planeta
Matéria
Evolução
Gestação
Conceito Unificador: Padrões de Mudanças
A terra e o universo estão em permanente mudança.
A matéria se transforma e pode ser classificada com base nestas transformações.
Diferentes espécies habitaram a terra em tempos diversos
Os organismos são gerados a partir de uma monumental mudança biológica.
3ª Série
Clima
Tempo
Vegetais
Interrelações
Conceito Unificador: Escalas e Processos
A atmosfera e a hidrosfera são afetadas pela atividade humana e por processos naturais que se repetem.
Água, ar e sol modelam o tempo que pode ser observado e medido.
As plantas em seu processo natural interagem com o solo e com o tempo.
A especialização de vegetais e animais é interdependente
4ª Série
Eletricidade
Magnetismo
Corpo Humano
Nutrição
Conceito Unificador: Sistemas e Interações
A energia provoca movimento de matéria e pode ser percebida de forma indireta.
A energia existe em diferentes formas e gera campos de força.
O corpo humano é formado por um conjunto de sistemas que o controla, que modifica e transporta alimentos, que o suporta e o locomove.
Para funcionar e desenvolver-se de forma apropriada o corpo humano tem necessidades específicas.



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Estréias de filmes neste fim de semana.



O Fim da Escuridão (Edge of Darkness) trailler



Mel Gibson, em sua volta como ator após quase 8 anos, faz um policial cuja filha é assassinada na porta de sua casa. Ao investigar o crime, ele descobre uma conspiração envolvendo a empresa em que ela trabalhava, o governo e muitas autoridades. Baseada em uma série inglesa. Com Mel Gibson e direção de Martin Campbell, diretor de 007 - Cassino Royale.
Zumbilândia - trailer legendado (HD)
Columbus (Jesse Eisenberg) habituou-se a fugir de tudo que o assusta. Tallahassee (Woody Harrelson) não tem medo. Se ele tivesse, acabaria com ele. Em um mundo infestado por zumbis, estes dois sobrevivem perfeitamente. Mas agora, estão prestes a enfrentar o mais terrível panorama de todos: um ao outro.


INVICTUS - Trailer HD Legendado by Digerati
 
Após a queda do Apartheid na África do Sul durante seu primeiro mandato como presidente, Nelson Mandela fez campanha para sediar a Copa do Mundo de Rugby, em 1995. Novo filme de Clint Eastwood, estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon. Estreia no Brasil em 2010.



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Diagnóstico incial: você sabe o que eles já sabem?


Matemática

Edição 229 | Janeiro/Fevereiro 2010

Diagnóstico incial: você sabe o que eles já sabem?

Realizar uma sondagem do que os alunos conhecem no início do ano é essencial, certo? Saiba aqui como fazer isso com Matemática

Página   1 2 3 4 _ _
=== PARTE 1 ====
Avaliação inicial em Matemática. Fotos: Dercílio. Ilustrações: Daniela Domingues
O ano está começando e você tem uma nova turma para acompanhar. Além de reconhecer os rostos e gravar os nomes, uma tarefa mais difícil (e mais importante) o aguarda: investigar o que cada aluno sabe para planejar o que todos devem aprender. É o chamado diagnóstico inicial, ou sondagem das aprendizagens, uma das atividades mais importantes no diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Afinal, não dá para decidir que a turma tem de dominar determinado tema sem antes descobrir o que ela já conhece sobre esse assunto. Até porque, diferentemente do que muitos acreditam, ela costuma saber muita coisa. “Antes mesmo de entrar na escola, as crianças têm ideias prévias sobre quase todos os conteúdos escolares. Desde pequenas, elas interagem com o mundo e tentam explicá-lo”, afirma Jussara Hoffmann, especialista em Educação e professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “É preciso conhecê-las para não repetir conceitos nem propor tarefas além do que a garotada é capaz de compreender.” Daí a importância da avaliação inicial. “Esse olhar é imprescindível para construir uma visão detalhada de cada estudante e, com isso, poder planejar as aulas com base nas reais necessidades de aprendizagem do grupo”, explica Jussara. O bom diagnóstico não tem por objetivo contabilizar os erros ou classificar (e rotular) os alunos. Ou seja, não é uma prova, no sentido tradicional. “A ideia é enxergar problemas semelhantes que permitam direcionar o planejamento das atividades”, completa Leika Watabe, coordenadora do Programa Ler e Escrever, da prefeitura de São Paulo. Em outras palavras, o que está em jogo é entender as principais necessidades da turma para orientar as formas de ensinar. Por isso, não é qualquer atividade que serve para a realização de um bom diagnóstico. Os especialistas dizem que só as situações-problema permitem que o aluno mobilize todo o conhecimento que tem sobre o assunto. Não basta apresentar uma questão e obter um sim ou não como resposta – no máximo, um comentário dos mais participativos. “A chave é trabalhar e refletir sobre o problema”, ressalta Leika, “pois não é verbalizando que eles vão mostrar o que sabem.” Quer um exemplo? Se você perguntar para uma criança o que ela pensa sobre os números, ela nunca conseguirá verbalizar uma resposta que explicite suas hipóteses. Pode parecer óbvio, mas muita gente comete esse erro. Com as produções em mãos, é possível analisar o que cada um sabe e como representa isso no papel. A avaliação é o momento também de compreender a lógica empregada na resolução da tarefa. O produto final desse trabalho é uma espécie de mapa, com os conhecimentos da sala. Se ninguém conhece um conteúdo, é claro que ele tem de ser trabalhado de forma prioritária. Se a maioria já resolve bem determinadas questões, a chave é pensar em formas de dar mais atenção aos que estão um passo atrás. Sobretudo entre os alfabetizadores, esse tipo de sondagem é bem conhecido. Mas, nas outras áreas, essa atividade ainda é pouco difundida. O fato é que existem formas amplamente testadas e aprovadas de fazer diagnósticos precisos para muitos conteúdos – em Língua Portuguesa, para a produção de texto (você descobre o que a turma sabe em termos de ortografia, gramática e até organização textual), e em Matemática, no bloco de Números e Operações (para medir os conhecimentos sobre escrita numérica e no que diz respeito à resolução de problemas dos campos aditivo e multiplicativo). Nas páginas de nosso site (www.ne.org.br), você encontra uma seleção de textos que mostram em detalhes a avaliação diagnóstica em Alfabetização e produção de texto. E, nas próximas páginas, está um guia detalhado de como realizá-la com diversos conteúdos de Matemática para as séries iniciais. Vire a página e confira, passo a passo, como descobrir o que os alunos já sabem sobre o que você planeja ensinar.
=== PARTE 2 ====
=== PARTE 3 ====
=== PARTE 4 ====

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Prepare seu português




Prepare seu português

Dez cuidados básicos para quem deseja aumentar o domínio do idioma e melhorar sua capacidade de comunicação no ano que se inicia




Para quem quer assumir novos desafios este ano, aprimorar a própria expressão em língua portuguesa não é problema a ser minimizado.O desempenho no próprio idioma em diferentes situações formais é, em geral, tomado como diapasão de outros atributos da pessoa. Se somos descuidados com o português, no que mais seremos descuidados? Se alguém fala comigo de forma truncada, pode errar em outros momentos do nosso relacionamento.
O idioma é, como se vê nestas páginas, mais do que a gramática da língua. A expressão em língua portuguesa pode não se limitar a um decorar de regras gramaticais - sua premissa está em mostrar nossa versatilidade comunicativa e nossa capacidade de tirar de letra os diversos contextos em que nos metemos e os diferentes relacionamentos que mantemos. Saber português significa trabalhar melhor, namorar melhor, interagir melhor.
Ao seguir esse pressuposto, Língua sugere a seguir um programa de orientação para quem deseja aumentar o domínio sobre o idioma e, com isso, melhorar sua comunicação cotidiana neste ano que se inicia. São dez cuidados básicos que, não esgotando cada um dos temas aqui propostos, alertam sobre eventuais fragilidades pessoais ou são pontos de partida para a formação, a produção de textos e discursos orais ajustados às nossas necessidades comunicativas. Afinal, o modo como nos expressamos faz o idioma. As dicas que seguem podem tornar a expressão em língua portuguesa um obstáculo a menos a ser superado, ante os outros que o ano anuncia. (LCPJ)

1. A concordância na volta das férias
Cuidado antes de contar como passou a virada de ano e as horas de lazer
Sintaxe
O tropeço
A explicação
O correto
"Fazem" três semanas que viajei.
"Fazer", quando exprime tempo, é impessoal, fica no singular.
"Faz"
Chegou "em" São Paulo "a" dois dias e partirá daqui "há" cinco horas, a trabalho.
Verbos de movimento exigem "a", e não "em" (vai ao cinema, levou a família à praia).
Chegou "a" São Paulo "há" dois dias e partirá daqui "a" cinco horas, a trabalho.
"Houveram" muitos carros na estrada.
"Há" indica passado (= "faz") e "a" indica distância ou tempo futuro (não equivale a "faz"). "Haver", como "existir", é invariável.
"Houve"
"Há" dez dias "atrás" eu estava no Nordeste.
Redundância. "Há" e "atrás" têm a mesma função de indicar passado na frase.
"Há dez dias eu estava no Nordeste" ou "Dez dias atrás eu estava no Nordeste"
Se eu "ver" o agente de viagens de novo...
A conjugação de "ver" é: "se eu vir, revir, previr". Do verbo "vir": "se eu vier".
Se eu "vir"
Eis o roteiro "onde" baseei a viagem.
O advérbio ou o pronome relativo "onde" expressa a ideia de lugar: "O hotel onde fiquei").
Eis o roteiro "em que" baseei a viagem.
Não "lhe" vi no aeroporto.
O pronome "lhe" substitui "a ele", "a você", por isso não pode ser usado com objeto direto: "não o convidei"; "a mulher o deixou"; "ele a ama".
Não o "vi"
Para "mim" passar o réveillon.
O pronome aqui age como sujeito da frase. Portanto,"mim" não passa o réveillon, porque não pode ser sujeito. Daí: "para eu passar", "para eu trazer", "para eu definir".
Para "eu" passar
Entre "eu" e você.
Depois de preposição (no caso, "entre"), usa-se "mim" ou "ti".
Entre "mim" e você.
Preferi sair da cidade "do que" ficar.
Prefere-se sempre uma coisa "a" outra.
Preferi sair "a" ficar.
A guia era "meia" boba.
"Meio", como todo advérbio, não varia (não vai para o plural nem muda de gênero).
"meio" boba
"Existe" muitos hotéis na região.
Verbos como "existir", "bastar", "faltar", "restar" e "sobrar" admitem o plural.
Existem
2. Cuidados na escrita das palavras
Erros ortográficos podem desfazer a boa imagem que os outros fazem de nós

Os problemas de grafia dos brasileiros são muito maiores do que as dúvidas porventura estimuladas pelo novo acordo ortográfico, que completou um ano no país. O sistema Anglo compilou até uma lista com erros frequentes em redações de concursos. Há os tropeços de memória semântica ou sintática e de insegurança gráfica ("porque" junto ou não, "mal"/"mau", "exceção", "privilégio", "flagrante", "infringir" etc.). Há também a falta de correlação visual ou de sensibilidade acústica na hora de se localizar a sílaba tônica: "anônimato" (por comparar-se ao cognato primitivo "anônimo"), "espontâneidade" (devido a "espontâneo"), "essêncial" (de "essência"), "ingênuidade", "paciênte", "váriados". E há os casos em que se sabe que uma palavra tem acento, mas não onde: daí "tambêm" e "alguêm", denunciando o quanto a pessoa escreve pelo olho, não pelo ouvido nem pelo cálculo. Outra categoria é a dos termos acentuados sem consciência do que se está fazendo. Daí "algúns", "álias", "cancêr", "chápeu", "avalia-lá", "ângustia".
O balanço é preliminar. Imagine se fosse feita uma amostra estatística completa?
Ortografia
O tropeço
O Correto
Advinhar
Adivinhar
Ascenção
Ascensão
Beneficiente
Beneficente
Excessão
Exceção
Pego em "gragrante"
"Flagrante"("fragrante" refere-se a "fragrância", odor)
Impecilho
Empecilho
"Mal" uso
"Mau" ("bom" x "mau"; "bem" x "mal")
Paralizado
Paralisado
Pixar
Pichar
"Porque" você foi?
"Por que"(separado). Se estiver dada ou subentendida a palavra "razão", é escrito separadamente. Reserve "porque", junto, para as respostas
Previlégio
Privilégio
Vultuoso
Vultoso
Frustado
Frustrado

3 Férias para as muletas
Comece o ano sem os cacoetes linguísticos que atormentam ouvidos e leitores exigentes

Termos populares nos centros urbanos ("entende?", "veja bem!", "como eu estava falando" etc.) acabam por produzir ruídos na comunicação quando usados a todo instante, de forma indiscriminada, não raro destoando do contexto em que são usados e sempre truncando ou simplificando em demasia o que expressamos. Por isso, quem deseja, a partir deste ano, largar um vício (de linguagem) deve redobrar a atenção à própria fala, tomar cuidado para não transformar as expressões que usa em clichês.

Vícios de linguagem
O tropeço
O correto
A explicação
"O atraso no pagamento implicou em multa"
"O atraso no pagamento implicou multa"
No sentido de "ocasionar" ou "provocar", não pede preposição.
"O laboratório fez o exame e o resultado do mesmo será enviado ao paciente."
"O laboratório fez o exame e o seu resultado será enviado ao paciente"
"Mesmo" é pronome demonstrativo, não pessoal; deve dar lugar a "ele" ou outro substantivo.
"Reclame do problema junto a operadora"
"Reclame do problema à operadora"
A locução adverbial "junto a" equivale a "perto de". Não substitui as preposições (no caso, "em").
"Renato, enquanto engenheiro, deixa a desejar"
"Renato, como engenheiro, deixa a desejar"
A conjunção deve ser usada quando se deseja indicar noção de temporalidade, não no lugar da conjunção "como": "Enquanto estudávamos, outros divertiam-se".
"Tipo assim", "a nível de"
Evitar
Configuram uso de gírias ou outros termos que demonstram falta de instrução.
"Governo cria novos empregos"
"Governo cria empregos"

É preciso evitar a tautologia, repetição desnecessária de uma ideia ("Iphan restaura velho casarão") ou de um termo já pronunciado (subir para cima, surpresa inesperada).
4. Regras simples evitam decoreba
A intuição e a generalização de exemplos concretos podem ser mais efetivas do que a memorização de todas as normas
É preciso haver o encontro da preposição "a" com o artigo "a" para que ocorra a contração, a fusão dessas duas vogais, assinalada pelo acento grave indicativo de crase.
A mesma fusão ocorre também na presença da preposição ante os pronomes demonstrativos "aquela", "aquele", "aquilo" e ante o demonstrativo "a".
Há erro de crase, portanto, em situações em que não há a fusão das vogais.
"Levei à ela toda a papelada" (levei a + ela).
Aqui, o pronome pessoal "ela" não admite o artigo.
Na prática, a intuição e a generalização de exemplos concretos de crase podem ser mais efetivas que a decoreba de regras. Se intuimos a regra básica de que só se usa crase diante de palavras femininas quando há preposição seguida de artigo, evitamos ocorrências como "à 80 km", "à correr" ou "à Pedro". Afinal, nunca pensamos em crase com palavras masculinas ou verbos: daí não haver "a lápis", "a contragosto", "a custo".
Se lembramos que o sinal grave também serve para eliminar ambiguidades, evitamos tirar a crase em contextos que pedem, por exemplo, "à beira", "à boca miúda", "à caça".
O mais são regras específicas, em expressões como "a distância" (que só leva crase com distância determinada: "O hotel fica à distância de 10 quilômetros"). Aí não tem jeito: é mesmo preciso memorizar as regras.
5. Adaptação ao interlocutor dita o rumo da prosa
Ao conversar, é preciso adaptar-se ao nível de formalidade e reduzir a resistência da plateia à sua opinião

Falar bem é mais do que se fazer entender. É saber o contexto em que sua fala será recebida.
A falta de adequação ao nível de formalidade exigido pelo contexto virou um problema de idioma. Há de se preparar o terreno, modificar o conjunto de opiniões e valores prévios, partilhados por quem nos ouve, e só então abrir espaço para a nossa opinião.

Para falar melhor, é preciso, enfim, entender o interlocutor, para não confrontá-lo de imediato. O que não significa fazer o jogo oportunista de quem concorda com tudo. Deve-se criar um campo neutro de conversação, mas que prepare o interlocutor para a opinião que se defenderá. Começar por afirmações com as quais a pessoa concorda sinaliza que não se é adversário, abrindo espaço para o próximo ato. Sem esse esforço prévio, o ouvinte nem teria paciência em nos ouvir.
6. Como organizar o que dizer
Ordenar as ideias é o primeiro passo para quem quer fazer entender-se
Começar um assunto, pular o meio, retomar o fio da meada, para depois desviar-se de novo, todo atrapalhado. Sinais como esses mostram desorganização de pensamentos, e esta sinaliza uma falta de objetivos sobre como tratar um assunto. A imagem que fica é de alguém disperso, inseguro, talvez pouco confiável.
Por isso, alguns cuidados prévios.
1 Imagine todos os aspectos negativos de cada afirmação sua. Esteja preparado para responder a cada um desses fatores.
2 Qual a informação compartilhada pelo leitor? Quem nos lê ou escuta não tem obrigação de intuir o que sabemos e pensamos.
É razoável buscar construir, na mente do ouvinte, uma imagem do que se fala. Ao escrever, é preciso ordenar as ideias e os termos da oração (sujeito, predicado, complementos), ter cuidado na escolha de palavras e usá-las em construções sintáticas as mais simples. Organize o que vai dizer, definindo o rumo a seguir após escolher os argumentos que vai usar.
Todo escrito se organiza em torno de um elemento de referência, que lhe dá coesão. A partir dele, todo o resto se posiciona.

Uma ideia deve levar à próxima, sem sobressaltos. Uma afirmação relaciona-se à anterior e à seguinte. Um texto bem escrito não provoca perguntas de preenchimento, em que o leitor tem de voltar ao mesmo trecho para entender o que foi dito.
Técnica de redação
A CRIAÇÃO DOS ARGUMENTOS
Escolha o seu modo de organizar o que tem a dizer
- Fazer lista de palavras-chave.
- Anotar o que vem à mente, desordenado, então cortar e ordenar.
- Resumir ideias e partir para o detalhe, o exemplo, a ideia secundária.
- Criar 1º parágrafo para desbloquear e desenvolver as ideias nele contidas.
- Escrever a ideia central e as secundárias em frases isoladas para aí interligá-las.
- Criar um sumário ou esquema geral do texto.
- Organizar na mente os blocos do texto para depois estruturá-lo.
7. Vencer o desafio de ser entendido
Erro de português também ocorre porque não conseguimos nos fazer compreender
Uma frase perde clareza por má ordenação das ideias e até por pontuação inadequada. Ser claro requer esforço. A linguística mostrou que sentidos se formam no conjunto da enunciação, na composição de coerência e coesão, nos significados configurados na memória.
Há clareza a ser cultivada antes mesmo do primeiro esboço. Afinal, um leitor também "lê" com a memória: ao fim da leitura, improvável que se tenha o texto inteiro radiografado na mente, palavra por palavra. Tende-se a fazer pausas, para que nossa memória de curto prazo forme um resumo do lido até ali. É com essa síntese mental que avançamos a leitura.
Muitos incisos e elementos interca­lados fazem o leitor não saber o mo­mento da pausa necessária a seu resumo. Daí o problema com frases longas, excesso de apostos e fatos acumulados, sobreposição de protagonistas e de números. Eles atrapalham a síntese mental. Alguns obstáculos são semânticos: termos raros, gírias, jargões e formulações desconhecidas ou pouco acessíveis. Outros são sintáticos:
  • Apostos que desarticulam a informação;
  • Frágil progressão de tópicos;
  • Acúmulos de elementos, ideias e conclusões por frase;
  • Anacolutos (iniciar uma coisa, encerrar com outra: "O advogado que não escreve o que diz, não é difícil prever situações de conflito no tribunal");
  • Hipérbatos (um termo interrompe o elo de outros dois: "Aguenta a escola pública da iniciativa privada uma concorrência desleal" (em vez de: "A escola pública aguenta da iniciativa privada uma concorrência desleal").
  • Pontuação: a ausência ou o deslocamento de sinais muda o sentido, e afeta a clareza. Uma mera vírgula refaz um raciocínio: em "Ele não falou, de alegria" x "
Ele não falou de alegria", exemplos de Maria Helena de Nóbrega, da USP, alude-se à disposição emocional do sujeito na primeira frase, e o tema "alegria", na segunda.8. O inusitado da redação criativa
Ninguém nasce criativo, mas pode desenvolver estratégias que melhoram seu texto

Criatividade é a habilidade de criar respostas novas, talvez inusitadas, para os problemas de expressão que temos.
É mudar o eixo em que as coisas são apresentadas.
O raciocínio comum, sequencial, funciona dentro de um quadro de referências familiar.
O inventivo associa o domínio inicial de um problema a outro quadro de referências.
O estímulo primário do texto criativo é abastecer-se de informações de variadas fontes, e ter a disciplina de ver sempre que bicho dá o ato de conectá-las.
Pode-se, por exemplo, inserir uma informação antiga em contexto novo, aplicada a problema atual. Ou modificar a relação habitual que há entre duas ou mais coisas ou seres.
O raciocínio sequencial, convergente, tende a viciar a escrita de dois modos:
1 Se o redator foi muito intimidado no processo escolar, pode tornar-se demasiado crítico consigo mesmo ao escrever.
2 Falta de familiaridade com outras soluções: tendemos a moldar nosso texto a fórmulas que conhecemos.
Por isso, um texto, para ser criativo, deve ser visto como um jogo de xadrez: que movimento devo fazer, qual levaria a que situação e que efeito obterei? Que ideia ou imagem torna palpável o que quero dizer? Ser inventivo é saltar o quadro de referências predominante. Alterar o próprio ponto de vista ou aprofundar o exame de um fenômeno observado. É prestar atenção à informação disponível fazendo um atento exame flexível das implicações dela.
9. O zelo independe do meio
Rapidez e concisão não podem ser pretextos para textos truncados na internet
Mensagens eletrônicas são um misto de língua escrita e falada. A redação rápida é, aqui, comparável à fala de improviso. Mas é preciso considerar que a mensagem será lida. Pensa-se e digita-se quase que ao mesmo tempo. Ao ser recebida pelo destinatário, o autor da mensagem não estará fisicamente presente para esclarecer imprecisões e trechos obscuros. Por isso, escrever de maneira rápida exige síntese e releitura, antes do envio.
Muita gente costuma escrever em meios eletrônicos como se estivesse falando despreocupadamente, com frases mal organizadas, sem clareza. O texto tende à informalidade, mas precisa evitar erros que comprometam a imagem do redator.
Como a redação da correspondência empresarial demanda rapidez, os textos devem priorizar a simplicidade, clareza e objetividade. Uma vez que ninguém tem tempo a perder, o vocabulário deve fazer parte da linguagem usual, sem rebuscamentos que tornem a mensagem complicada. Mas simplicidade vocabular não significa repetição exaustiva de termos, abreviações apressadas ou construções truncadas. Para obter concisão, qualquer que seja o meio, deve-se evitar dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas.
Concisão on-line
Em vez de
Use
Chegar a uma conclusão
Concluir
Chegar a uma decisão
Decidir
Conduzir uma investigação a respeito
Investigar
Fazer um exame
Estudar
Levar a efeito um estudo
Tentar
Levar a efeito uma tentativa
Repetir

10. Revisar o próprio texto
Repassar o próprio texto, à procura de falhas de concepção e redação, pode salvar o dia
Revise cada escrito, do texto a ser publicado ao e-mail mais despretensioso. Na revisão, é preciso fingir ser o próprio leitor de um texto que você fez, para buscar as questões que o rascunho pode ter deixado de fora. O leitor ou ouvinte não deve passar pelas dificuldades que você passou ao ler o próprio original.
Leitura final
- Tenha em mente o projeto de texto que você se propõe.
- Confira se o texto flui ponto a ponto.
- Verifique se afirmações se antecipam a eventuais indagações do leitor.
- Corte o que for irrelevante.
- Não omita informações; não exagere nos detalhes.
- Não insista em fatos de que o leitor já disponha.
- Melhor dispor de forma linear os elementos da frase.
- Não desvie do assunto.
- Veja se os trechos não devem ser distribuídos noutro ponto do texto.
- Não repita conectores, muitos "que" para iniciar explicações ou restrições a termos já expostos.
- Busque palavras com sentidos apropriados ao tema.
- Evite usar termos como se fossem sinônimos ou antônimos, mas que não têm real relação semântica.
- Faça revisão gramatical do escrito. Três vezes.
- Quanto terminar, pare.


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Muito controle, pouca educação



Muito controle, pouca educação
 
Nunca se falou tanto na parceria entre escola e família. Mas, ao contrário dos discursos, as relações mostram desconfiança mútua

 
Beatriz Rey

Imagine um mundo sem adultos, em que todas as decisões são tomadas por crianças. Como seria viver sem pais ou professores? A rede de televisão britânica BBC resolveu investigar: produziu o reality show Esqueceram de nós - A vila das crianças, programa que confinou crianças de 8 a 11 anos por duas semanas em uma espécie de vila. Em casas separadas, meninos e meninas tentaram conviver (ou sobreviver) sob a observação contínua dos pais - interferências só seriam feitas caso a saúde das crianças fosse colocada em risco. No começo do segundo dia, o caos reinava nas duas casas. De um lado, os meninos não conseguiam fazer uma simples refeição: Sid, de 9 anos, come macarrão cru porque não consegue esquentar uma panela de água. Do outro, as meninas entram em pé de guerra quando a competição feminina fala mais alto e não há adultos para mediar as relações. "É como viver um pesadelo", chora uma menina. "Pensei que fosse durar, mas não se passou nem um dia e já estou chorando", diz outra.
Quando assistiu ao programa, a psicóloga e consultora educacional Rosely Sayão ficou assustada. O que mais a incomodou não foi só o abandono extremo ao qual aquelas crianças foram submetidas - um retrato fiel do que acontece no mundo contemporâneo -, mas também a constatação de que o aprendizado hoje está nas mãos das crianças, e não dos adultos. "Um menino quis sair e a mãe disse: 'não, você vai ficar porque é a sua chance de aprender a cuidar de você e das suas coisas'", conta Rosely. Pode parecer contraditório, mas no momento em que mais se prega o diálogo entre as instituições familiar e escolar, constata-se que a criança nunca esteve tão sozinha.
A família está insegura: como lidar, além da educação familiar, no auxílio da aprendizagem escolar, sendo que o tempo é escasso e os filhos muito indisciplinados? Com as novas configurações familiares, grande número de instituições escolares tenta entender quais papéis são seus e se vê obrigada (ou não, em alguns casos) a repensar sua atuação. A famosa parceria entre as duas instituições pode até acontecer na prática, mas os papéis de ambas não estão claros para os professores, educadores, diretores, pais, especialistas ou psicólogos. Enquanto o mundo adulto experimenta daqui e tateia dali, resta às crianças conviver com sua ausência efetiva, em casa e na escola.
"A divisão de trabalhos entre escola e família está embaralhada. O fato de que esses dois territórios não têm fronteiras claras ocasiona tanta tensão", diz Maria Alice Nogueira, coordenadora do Observatório Sociológico Família-Escola da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na escola particular, o pai que paga a mensalidade se vê muitas vezes no direito de cobrar e de exigir mais da escola. Esse é um dos motivos pelos quais Julio Groppa Aquino, professor do Departamento de História e Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da USP (Feusp), considera que a guerra entre as duas instituições no âmbito privado acontece na surdina. "Os professores são empregados da família e são tratados como tal. Isso ata a possibilidade de ação e gera tensão", diagnostica. Para Rosely, o conflito não é tão quieto como parece. Apesar de na superfície ele funcionar sob os moldes da gentileza, quando a tensão explode, os envolvidos mostram seu tom real, que é bélico. "Quando a mãe está em casa e o filho fala que tem uma lição e precisa de ajuda, ela xinga a professora. Quando o aluno está na escola e se comporta mal, o professor diz que aquela mãe não sabe o que faz. Não há respeito mútuo", pontua. 

Na escola pública, a situação se inverte. Muitas vezes com escolaridade média baixa, os pais se sentem desencorajados ou temerosos de participar da vida escolar dos filhos. Quando a relação acontece, forçada por algum problema disciplinar, é sempre tensa ou truncada (leia mais nas páginas 30 e 31). Mas isso não significa que ele dê menos importância à escola. "Não há pai de classe popular que não fale para seu filho estudar para ter um futuro melhor. O problema é que eles têm poucas condições econômicas e culturais para colocar isso em prática", lembra Maria Alice.

Cena do seriado Esqueceram de nós - A vila das crianças: sem adultos, crianças buscam criar regras de convivência
Pessoa e cidadão

A relação entre escola e família passa por um conflito de funções sociais. Até a década de 50, a transmissão de valores era papel da família, que representava o ambiente privado. O conhecimento era responsabilidade da escola. "A família transforma o filhote da raça humana em pessoa. A escola transforma a pessoa em cidadão", resume Rosely.

Dessa divisão clara, passou-se a uma zona de névoa, em que as atribuições não estão definidas. Um exemplo: quando o aluno apresenta um problema de comportamento em sala de aula, quem resolve? A escola, que deve ensinar a disciplina em sala de aula, ou os pais, em tese responsáveis pela transmissão de valores do que deveria ser um comportamento socialmente adequado? "É uma espécie de disputa geopolítica. Menos da responsabilidade sobre o educar e mais da prerrogativa, de quem se arroga o direito de dar a palavra final", afirma Groppa Aquino.
Há dados que apontam o crescimento da investida familiar em educação. Uma pesquisa realizada recentemente pelo movimento Todos pela Educação em parceria com a Fundação SM mostrou que 80% dos pais entrevistados estão atentos para que os filhos não faltem às aulas ou se atrasem, além de acompanhar sempre as suas notas. Mais de 50% dos entrevistados impõe horários para que o filho estude. Foram ouvidos 1.350 pais em regiões metropolitanas e no interior do país de todas as classes socioeconômicas.

Muito dessa postura vem das diversas correntes que atestam que uma inação nesse sentido tem efeitos negativos no comportamento dos filhos (o que é geralmente associado ao desempenho escolar). A Universidade Federal do Paraná realizou um estudo com 3 mil crianças em 2005 e chegou a quatro perfis de pais: negligentes, participativos, permissivos e autoritários. No caso dos pais negligentes, que raramente dedicam uma parte do dia ao filho, os efeitos são nocivos: 56% dos filhos apresentavam sinais de depressão, 73% tinham indícios de estresse e apenas 6% têm boa desenvoltura social.

No colégio Einstein, em São Paulo, as consequências benéficas da participação familiar foram percebidas há quatro anos pela diretora e coordenadora pedagógica Raquel Burmesteir. "Quando o pai se interessa, cobramos: olha, está mais difícil aqui ou ali. Ele pontua em casa e nós aqui. A criança se conscientiza do que realmente precisa", conta Raquel. "A escola não consegue estar sozinha e o pai também não. É um tripé que envolve o aluno", diz.
Rosely Sayão toma por antidemocrática a associação entre o desempenho do aluno e a participação dos pais. "Consideramos a família do aluno para que ele tenha possibilidade. É absolutamente infantilizador. E se ele entrar na escola e construir um processo de autonomia?", questiona. Na mesma linha, Groppa Aquino não vê como a participação familiar pode ter impacto no desempenho do aluno. "Essa associação se deve à entrada do discurso psi dentro da escola. É a história de ver a criança como um todo. Quando a gente faz isso, esquece do aluno, que é o que interessa à escola", alerta.
Mesmo quando se esboça algum tipo de definição sobre o papel da família, ainda não há clareza definitiva. Cristina Guerra é mãe de Gabriel, 15 anos, que cursa o 9º ano do ensino fundamental. Para ela, o trabalho da família deve ser acompanhar a educação escolar - a escola deve chamar o pai quando achar necessário. Mas sua lista de "acompanhamento" é extensa. "Acompanho lição de casa, quero saber como foi a rotina na sala de aula, como está o comportamento nas atividades, no recreio, na educação física, tudo. A rotina na escola tem que ver com a formação da pessoa", conta.
O rei da casa
Há um traço da família contemporânea que se ressalta quando o assunto é a participação familiar na escola. A partir do momento em que o filho passa a ser o centro da família (leia texto nas páginas 34 e 35), há a necessidade de que ele seja perfeito. "É um ideal de consumo, um pacote de felicidade. É como se você quisesse garantir uma relação afetiva duradoura, pelo menos a do filho, já que o casamento não é", lembra Rosely. Extrapolando o relato de Cristina, há pais que trabalham o dia todo e passam pouco tempo com os filhos. Isso cria uma ausência de disponibilidade (e não do tempo cronológico, como define a psicóloga), o que os leva a adotar uma postura permissiva: vou fazer tudo o que meu filho quer. Além disso, a juventude hoje não é mais uma faixa etária, mas um estilo de vida. "É por isso que tantos pais esquecem os filhos no carro e na escola. A mirada principal é a própria vida", aponta.

Geralmente, além das reuniões de pais, as escolas abrem espaço para encontros individuais com os pais, que acontecem pela chamada de um ou de outro. De volta ao início do texto, quando o aluno tem um problema de comportamento, por exemplo, os pais podem ser chamados. Até os anos 50, essa convocação não era comum. Foi então que uma série de pesquisas internacionais apontou o peso da origem social sobre os destinos escolares e o Brasil adotou esse modelo mais próximo de relação família-escola. O contexto histórico leva a uma pergunta: como os professores lidavam com a falta de disciplina antigamente? Há quem diga que, como a criança tinha na rua um espaço primário de socialização, o grau de maturidade era maior quando ela chegava à escola. O próprio processo de socialização da família era mais sofisticado, já que contava com a participação de mais membros (hoje, a relação central é pai-filho). Mas havia também um senso de autoridade muito grande. "As crianças se relacionavam obedecendo cegamente a alguns princípios. O senso de autoridade mudou na sociedade. É uma questão que a escola se recusa a assumir. Se há um fenômeno chamado bullying acontecendo é porque ela se recusa a enxergar que isso, nesse mundo que mudou, faz parte da responsabilidade dela", opina Rosely.

Rosely Sayão: diálogo deve ter como foco a educação de todas as crianças, e não do "meu filho", ou do "meu aluno"
O problema é a construção desse senso de autoridade dentro da sala de aula. Para elaborar o estudo Trabalho docente e saúde: o caso dos professores da segunda fase do ensino fundamental, os pesquisadores Maria do Socorro Sales Mariano e Hélder Pordeus Muniz consultaram professores de uma escola de segundo ciclo de ensino fundamental em João Pessoa (PB). O chamado "domínio da turma" é associado à existência de uma especialização técnica em relação à disciplina que lecionam, ao investimento em qualificação profissional e à organização do conteúdo que será exposto em sala de aula. "O desempenho na exposição dos conteúdos em sala e a relação construída entre professora e aluno são elementos igualmente pertinentes para se ter domínio da turma. Ter esse domínio significa menos angústia e maior controle da situação em sala de aula", concluem os pesquisadores. Obviamente, esta é apenas uma das variáveis em jogo, mas, sem dúvida, ela ajuda a determinar a postura do professor em sala. 
Ausências e compensações
Muitos educadores escolares, por sua vez, creem ser obrigados a assumir tarefas que não estão sendo feitas pela família. É comum que pais se dirijam a professores e diretores com dúvidas sobre a educação de seus filhos. Em uma palestra sobre a passagem do ensino fundamental para o médio no Colégio XII de Outubro, Marcos Ercíbio Couto, pai de Letícia, 14, e João Marcos, 10, mostrou-se angustiado: até onde nós, pais, devemos ir,  já que hoje os filhos controlam a situação? Marcos tem dificuldade de falar não para os filhos, não por querer protegê-los, mas porque o acesso fácil à informação deixou o poder argumentativo das crianças mais incisivo. "Há pais que não falam não para compensar a ausência dentro de casa. E então minha filha vê colegas que não sabem receber não e me diz: por que temos uma família com essas coisas antigas, pai? Minha colega não é assim", conta.

Uma das coisas que a família teria deixado de fazer é a educação familiar, que envolve a transmissão de valores que norteiam a convivência do indivíduo na sociedade. "A criança está vindo para a escola sem alguns elementos. Por exemplo, elas são mais individualistas na maneira de se comportar", diz Esther Carvalho, diretora do Colégio Rio Branco. Mas até que ponto o próprio individualismo não seria um valor contemporâneo, como a competição e o consumo? A partir desse questionamento, Rosely Sayão diz que as crianças chegam, sim, com valores na escola - só não são aqueles que se deseja.
Aqui, a ideia de abandono é reforçada: se os pais já trabalham com um ideal de filho, a escola pensa o aluno da mesma maneira. "É uma ótima parceria: ninguém olha a criança como de fato ela é. Assim, a escola não se sente desafiada a desenvolver práticas educativas que aprimorem seu desenvolvimento", afirma a psicóloga. Ana Maria Matrandonakis, coordenadora de ensino fundamental 1 do Colégio XII de Outubro, vai além: a maioria das famílias não dá conta da formação inicial e não consegue acompanhar os filhos, mas também não acredita no que a escola diz.  "Quando acontece um conflito na escola, nós somos os culpados. Os pais estão sempre um pouco bravos porque temos de resolver um problema pontual. O filho dele não tem problemas", diz. Aqui é preciso fazer uma distinção importante e que é unânime entre os especialistas: quando o professor reclama do aluno para o pai, está evocando a face estudantil daquele indivíduo. "Não é o mesmo sujeito que está lá. O filho pode ser uma coisa, mas o aluno da professora é outra", lembra Groppa Aquino.
Marcos Ercíbio Couto: angústia com os limites da atuação paterna, já que os filhos controlam a situação
Separar ou juntar?

Muitas das angústias relacionadas ao tema são provenientes das mudanças socioeconômicas e culturais do mundo contemporâneo. A fugacidade, as relações superficiais, o consumismo e o individualismo ainda são questões em aberto para a sociedade. Originalmente, a família é lugar do singular, do afeto. Em contrapartida, a escola é lugar do "mais um": é ali que as relações sociais se desenvolvem. Quando esses dois mundos devem se encontrar? Aliás, eles devem se encontrar? Ou o que é da escola, à escola? As opiniões são diversificadas.


Aliança inviável

Julio Groppa Aquino faz a voz dos que aceitam a inviabilidade da parceria entre as duas instituições. Para ele, quando os pais não participam, a escola reclama. E quando participam, reclama também. "Só chamamos os pais na hora em que o bicho pega. Ou nas festinhas insossas. Na escola privada, chamamos para mostrar que o dinheiro está valendo. Na pública, para responsabilizarmos os pais pela parte pedagógica. Só tem uma saída: não participar", defende.

A professora Maria Alice Nogueira, da UFMG, vê uma relação de mão dupla: se a escola está procurando a família, o contrário também vale. "Não posso dizer que minha mãe se inteirava do que eu estava aprendendo em geografia. Isso, para ela, era coisa da escola, hoje não é mais. É como se a família pensasse que a escola é muito importante para ficar só na mão do professor", aponta. Assim, a família de classe média exige cada vez mais da escola, que, sozinha, não consegue executar sua tarefa. Cabe à escola saber, por exemplo, qual é o momento de dizer não aos pais. "É importante que a escola tenha clareza sobre a sua proposta, para que o pai também tenha sobre a escola que quer para o filho dele", opina Adriana Silveira Garcia, diretora do Colégio XII de Outubro.
Além de restabelecer seus pressupostos, a escola deve ver a função educativa de forma ampla. Educar não é uma função apenas pedagógica, mas também ética e política, pois o que se quer, no final do processo, é abrir as portas do mundo público às crianças. Nessa linha, os educadores precisam descobrir até onde seus alunos podem ir, quais são os ritmos de aprendizagem, o quanto pode ser ensinado. "É preciso olhar para esse mundo e pensar qual projeto desenvolver para que as crianças não sejam fatalidades do destino social. A escola precisa ter uma utopia. Caso contrário, não há sentido em sua existência", lembra Rosely. Ela vislumbra uma possibilidade de acomodação de funções entre escola e família. O primeiro passo seria a escola (pública e privada) parar de atender os pais como clientes e de querer alunos ideais e homogeneidade. Em contrapartida, os pais precisariam esquecer a formação escolar do filho.
"É possível um diálogo, mas que tenha como foco principal a educação da criança, e não do 'meu filho', do 'meu aluno'. Deveriam se reunir para dialogar a respeito do projeto que a escola pratica com as crianças", opina. O importante é não perder de vista o sujeito, cuja maturidade de aprender os conteúdos e as coisas da vida por conta própria está se constituindo. No reality show da BBC, uma menina, aos prantos e molhada, tentava mediar um conflito provocado pelo excesso do uso de armas de água entre o grupo. "Precisamos de um adulto que nos diga quem deve ficar aqui e quem deve sair!", gritou. A famigerada parceria entre escola e família pode parecer incerta, mas a relação entre o mundo adulto e o infantil é cada vez mais necessária.

Quando o pai bate à porta
Um aluno é repreendido em sala de aula e, do caminho até a sala da diretoria, liga aos pais pelo celular e relata o ocorrido. Quando chega à direção, os pais já estão em contato com a escola, em tom acusatório. A cena ao lado é cada vez mais comum nas escolas particulares brasileiras: pais que se sentem no direito de cobrar, intervir, mudar. "O trabalho fundamental dos pais não é defender os filhos, mas encorajá-los para os enfrentamentos com a vida pública que estão na escola", propõe Julio Groppa Aquino, da Feusp.
Algumas escolas cedem. Abraçam projetos de educação ambiental, educação para o trânsito e tantas outras coisas que servem de vitrine. Qual o limite entre o desejo do pai e a vontade da escola? Para Groppa Aquino, os pais precisam entender que os dilemas escolares têm um sentido formativo. É ali que as crianças se relacionam com o mundo público: testam as leis, as punições, os limites, o sexo. "O que chamamos de indisciplina remete a essa experimentação ativa das crianças. Isso não é desvio, é da natureza da vida escolar", diz.

Pais, escola e tecnologia
A união entre escola e família muitas vezes acaba sendo sinônimo de controle de jovens e crianças exercido pelas duas instituições. É o que atesta a recente medida adotada pela rede municipal de ensino de Altinópolis, cidade paulista localizada a 70 km de Ribeirão Preto, região noroeste do estado.

Desde o último mês de novembro, os alunos da escola municipal Padre Geraldo Trossel estão sendo monitorados por câmeras
distribuídas por salas de aula e pelo pátio. A partir do próximo ano letivo, os pais terão acesso, via internet e ao vivo, às imagens gravadas. A notícia foi veiculada no jornal Folha de S. Paulo no dia 1º de dezembro.

De acordo com a prefeitura, as câmeras serão implantadas em todas as unidades. Para Marcos Hernani Hyssa Luis (PMDB), prefeito da cidade, os equipamentos foram instalados como parte do projeto pedagógico, que busca uma aproximação entre os pais e a escola.
"A questão da segurança está inserida nesse contexto", disse.

  Mas não é só o governo municipal que encabeça a ideia. Os pais dos alunos aprovaram a mudança e pensam que ela deveria ser adotada em outras escolas. Ricardo Honório Tozzi, uma das fontes ouvidas pelo jornal, é pai de Karen Gonçalvez, de 12 anos. "Os alunos vão ficar meio constrangidos de perturbar porque tudo vai ser filmado", disse. Antônio Sérgio Bendazolli, outro pai cujo filho está matriculado na escola, afirmou que pretende até comprar um computador para acompanhar o que se passa na escola - para ele, os problemas com a droga podem ser enfrentados com o uso da câmera.


Para Saber mais
A parceria presente - A relação família-escola numa escola da periferia de São Paulo, Marcia Gallo, LCTE Editora, 2009.
Cadernos Cenpec Escola, família e comunidade, diversos autores, 2009.

Crianças (con)fundidas entre a escola e a família, Liliana Sousa, Porto Editora.

Escola e família numa rede de (des)encontros - Um estudo das representações de pais e professores, Lelia de Cassia Faleiros Oliveira, Editora Cabral, 2002.

Escola-família - Uma relação em processo de reconfiguração, Pedro Silva e Stephen R. Stoer, Porto Editora, 2005.

Família e escola, Maria Alice Nogueira, Editora
Vozes, 2000.


Família e educação - Olhares da psicologia, Lucia Moreira e Ana M. A. Carvalho, Editora Paulinas, 2008.

Família e escola - A arte de aprender para ensinar, Albertina de Mattos Chraim, Editora Wak, 2009.

Família: modos de usar, Julio Groppa Aquino e Rosely Sayão. Editora Papirus, 2007.

Os bastidores da relação família-escola, Daniela de Figueiredo Ribeiro, tese apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, 2004.



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