quinta-feira, 3 de abril de 2008

Matemática na Educação Infantil



Gabriela Guarnieri de Campos Tebet
Inserindo a Matemática na Educação Infantil
A Educação Infantil brasileira passou por diversas transformações nos últimos 20 anos. Desde o final da década de 1980, universidades, movimentos sociais, partidos políticos, associações profissionais e mães têm debatido o modelo de Educação Infantil pretendido para as crianças brasileiras, influenciando as diretrizes estabelecidas na legislação do país.


A matemática e o projeto não-escolarizante de Educação Infantil

A Educação Infantil brasileira passou por diversas transformações nos últimos 20 anos. Desde o final da década de 1980, universidades, movimentos sociais, partidos políticos, associações profissionais e mães têm debatido o modelo de Educação Infantil pretendido para as crianças brasileiras, influenciando as diretrizes estabelecidas na legislação do país.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB -, aprovada em 1996, estabelece, em seu artigo n. 29, que a Educação Infantil tem como finalidade “o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Tal afirmação é resultado de uma nova maneira de compreender a criança que é vista como um ser ativo, competente, agente, produtor de cultura, pleno de possibilidades atuais e não apenas futuras.

Mas como trabalhar, no dia-a-dia da Educação Infantil, a partir de tais concepções? O quê ensinar para as crianças? Essas podem ser algumas dúvidas comuns de muitas professoras. Para respondê-las é importante compreender que as crianças estão inseridas no mundo e que, desde o seu nascimento, esforçam-se para compreendê-lo, reinventando e interagindo com ele a cada momento. Dessa forma, o papel do professor não seria tanto ensinar-lhes conteúdos, mas propiciar-lhes momentos e oportunidades para que explorem e descubram esse mundo.

Ao invés de apenas ensinar a matemática, poderíamos organizar o ambiente e disponibilizar para as crianças jogos e materiais que permitam desenvolver noções e conceitos matemáticos, que vão muito além de ensinar a contar.

Possibilitando às crianças um encontro com a matemática.

Existem muitas formas de conceber e trabalhar com a matemática na Educação Infantil. A matemática está presente na arte, na música, em histórias, na forma como organizo o meu pensamento, nas brincadeiras e jogos infantis. Uma criança aprende muito de matemática, sem que o adulto precise ensiná-la. Descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, classificam e criam conjuntos, estabelecem relações, observam os tamanhos das coisas, brincam com as formas, ocupam um espaço e assim, vivem e descobrem a matemática. Contudo, é importante pensarmos que tipo de materiais podemos disponibilizar para as crianças a fim de possibilitar-lhes tais descobertas.

Existem no mercado diversos materiais que podem ser utilizados pelos professores para enriquecer o contato com o universo matemático. São músicas, livros de histórias infantis, encartes de revistas, brinquedos e jogos pedagógicos, que podem ser facilmente encontrados e que permitem à criança o contato com os números, com as formas, com as quantidades, seqüências, etc. Além desse material, é possível que o professor crie seu próprio material de trabalho, confeccionando quebra-cabeças, seqüências lógicas, desenvolvendo atividades com ritmo, oferecendo palitos e outros materiais, propondo jogos e brincadeiras e possibilitando a criação das crianças.



Quanto ao trabalho com os números, é importante compreendermos que estes são símbolos que representam graficamente uma quantidade de coisas que poderiam ser representadas de outra forma. Assim, antes de descobrir os números, é importante ajudarmos as crianças: dizer quantos têm, mostrar nos dedinhos e brincar com tudo isso. Posso indicar que tenho 2 coisas mostrando o dedo indicador e o médio, mas também posso fazê-lo mostrando o dedo mínimo e o polegar. De qualquer forma estarei mostrando 2 dedos. De quantas formas diferentes você é capaz de mostrar 3 dedos? E 5?


Se uma criança, ao mostrar 8 dedos para a professora, pergunta quantos dedos têm ali, ela pode receber a resposta ou ser estimulada a desenvolver o seu pensamento lógico-matemático. Posso responder que tem 8 dedos, como posso desafiá-la, dizendo que ali só tem um dedo e mostrar: 1, 1, 1, 1, 1, 1,1 e1. Diante da contestação da criança, posso então dizer que me enganei e que acho que ali tem 5 e 3, ou 4 e 4, fazendo com que ela descubra que os números são mais que eles mesmos, podendo ser um conjunto de outros números.

O importante é que o professor perceba que pode trabalhar a matemática na Educação Infantil sem se preocupar tanto com a representação dos números ou com o registro no papel, pode colocar em contato com a matemática crianças de todas as idades, desde bebês. Podemos pensar a matemática a partir de uma proposta não-escolarizante, que permita à criança criar, explorar e inventar seu próprio modo de expressão e de relação com o mundo. Tudo o que temos que fazer é criar condições para que a matemática seja descoberta, oferecer estímulo e estar atentos às descobertas das crianças.



Gabriela Guarnieri de Campos Tebet é Professora de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos; Pedagoga e Mestre em Educação pela UFScar. É co-autora do livro Trabalhando a diferença na educação infantil pela Moderna.

*Fotografias da própria autora. Tratamento de imagem: Mariana Guarnieri.


Quer saber mais sobre o livro, entre http://www.moderna.com.br/

Educação Infantil e suas Disciplinas.


ESTUDO E ANÁLISE DO LIVRO -
“JOGOS, PROJETOS E OFICINAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL”
Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, para a disciplina de Articulação dos Eixos Temáticos – Módulo 4.

Orientador: Profª. Sandra Rampazzo
Tutor eletrônico: Thalita Janaina de Oliveira Serrano
Tutor de sala: Clarisvaldo da Sliva Britto
Unidade: Campinas
Turma: módulo 4 noturno.
Campinas/2007
1. INTRUDUÇÃO.

A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica, e tem a finalidade de desenvolver integralmente a criança dos 0 aos 5 anos de idade. Ao pensarmos na função pedagógica da educação infantil, temos como pressuposto um trabalho que toma a vivência e os conhecimentos prévios da criança como ponto de partida e os aumenta, com a finalidade de levá-la à construção de novos conhecimentos valorizando suas descobertas e respectivas manifestações, incentivando sua forma de comunicar-se, sua criatividade e espontaneidade, num ambiente que propicie experiências prazerosas como propostas no (RCNEIs).
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a prática deve ser organizada de propiciar aos alunos condições de: Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de fôrma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações. Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem estar. Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; (...). As crianças também sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. E a compreensão disso é um grande desafio para nós educadores. Assim a educação infantil deve cumprir um papel socializador, permitindo a elas aprendizagens diversificadas, para que possam desenvolver uma identidade própria. Para que elas possam criar, é imprescindível que lhes sejam oferecidas experiências ricas, sejam elas voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens em situações orientadas. Depois desta breve introdução vamos dar continuidade ao resumo falando sobre cada capítulo, começando coma à matemática e progredindo assim sucessivamente. E finalizaremos com as considerações finais.

2.1. MATEMÁTICA.

E através de jogar, brincar, cantar ouvir histórias, que a criança estabelece conexões entre o seu cotidiano e a Matemática, entre a Matemática e as demais áreas do conhecimento. Diversas ações intervêm na construção dos conhecimentos matemáticos, como recitar a seu modo a seqüência numérica, fazer comparações entre quantidades e entre notações numéricas e localizar-se espacialmente. Essas ações ocorrem fundamentalmente no convívio social e no contato das crianças com histórias, contos, músicas, jogos e brincadeiras etc.
Às noções matemáticas abordadas na educação infantil corresponde uma variedade de brincadeiras e jogos que possam interessar à criança pequena constituem-se rico contexto em idéias matemáticas podem ser evidenciadas pelo adulto, por meio de perguntas, observações e formulação de propostas. . São exemplos disso cantigas, brincadeiras das cadeiras, quebra –cabeças, dominós, dados de diferentes tipos e jogos de cartas etc.. Nesse sentido no livro todos os subsídios para se trabalhar os conteúdos, jogos, e avaliação na matemática na educação infantil são amplamente trabalhados neste capítulo do livro.

2.2. LINGUA PORTUGUESA.

O trabalho com a linguagem constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada a sua importância para a formação do sujeito, para a interação com outras pessoas, na orientação das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento.
A aquisição da linguagem inicia nas conversas com os bebês. É muito importante que os pais ou pessoas encarregadas de cuidar de bebês conversem com eles durante as atividades de troca de fraldas, banho, amamentação etc., pois, além de estreitar os laços de afetividade, esse dialogo representa modelos lingüísticos dos quais a criança se apropria, construindo, assim, a capacidade de compreender e fazer-se compreender. Cabe também à família e também à escola privilegiar o dialogo com as crianças. Uma sugestão para a escola é promover, sempre, rodas de conversa com os alunos.
As rodas de conversa estimulam os alunos a trocar idéias, contar casos ocorridos com eles, comentar fatos, apresentar poesias, parlendas ou, mesmo, conversar sobre um passeio que tenham feito ou discutir os resultados de um trabalho que tenham acabado de realizar em grupo. O intuito é desenvolver a comunicação oral e ampliar o universo discursivo dos alunos. Assim o livro aborda também, outras formas de se trabalhar com a língua portuguesa, tais com o ritmo das canções trava-línguas, ditados populares, adivinhas, seqüências de cenas dentre outros.

2.3. NATUREZA E SOCIEDADE.

A relação da criança pré-escolar com os fenômenos naturais e sociais pode ser sintetizada numa única palavra: curiosidade. É a partir dessa vontade de conhecer que o trabalho escolar deve ser planejado. Muitos são os temas que despertam o interesse nas crianças: bichos de jardim, pequenos animais, dinossauros, tubarões, heróis, castelos bruxas, programas da TV são para as crianças parte de um todo integrado.
O conhecimento do mundo é transmitido à criança desde o seu nascimento: quando se diz o nome e se explica a função dos objetos, está implícita aí uma história acumulada socialmente; quando se leva uma criança a um passeio pela rua, ela está sendo apresentada à construção social dos espaços; o toque do médico que examina é muito diferente das carícias e brincadeiras da mãe, e esse exame já lhe dá parâmetros para conhecer seu próprio corpo.
A todo o momento o saber lhe chega, de forma não sistematizada. À escola cabe propiciar a ampliação e a sistematização desses conhecimentos, convidando a criança a participar de descobertas, abrindo-lhe oportunidades de desenvolver suas capacidades, orientando-a a olhar para um e outro lado, dando-lhe oportunidade de refletir, experimentar e formular hipóteses. Esse não é, no entanto, um caminho solitário. O ambiente escolar é um ambiente coletivo - de convivência, discussão, confronto, competição e colaboração, o que torna ainda mais enriquecedor o processo de construção do conhecimento, mas também envolve questões ligadas a valores: ética, honestidade, disciplina, companheirismo, solidariedade, persistência e respeito. É esse o enfoque que devemos buscar.
Muitas vezes utilizamos os conteúdos com o pretexto para discutir questões mais importantes. Pouco sentido faz para a criança dessa faixa etária a divisão do tempo escolar em matérias (Ciências, História, Geografia, Matemática, Língua Portuguesa). O conhecimento, para ela, ainda não é algo compartimentado. A curiosidade é uma só, e em poucos segundos passa da quantidade de estrelas que existem para a cor dos olhos dos gatos. Como “encaixotar” o conhecimento nessa fase?
A organização do conteúdo, nesse sentido, serve como um roteiro básico, nem sempre claramente delimitado a uma única área. Pois dentro de uma disciplina podemos usar conteúdos de outras disciplinas que se complementam e se ampliam. O trabalho com ciências historia e geografia, desse modo, vai além do mero aprendizado de meros conteúdos, embora eles estejam presentes, porque acreditamos na responsabilidade da escola na formação dos cidadãos, do que na transmissão de conhecimentos.

2.4. MÚSICA.

A música é considerada fundamental na formação de futuros cidadãos desde a Grécia antiga, pois, além do poder de encantar e proporcionar distração, pode ser utilizada para transmitir conhecimentos de naturezas diversas.
As canções populares constituem a mais viva expressão lingüística de um povo. As letras das músicas, em sua simplicidade, servem de modelo para as crianças em processo de alfabetização, que, de maneira prazerosa, captam a estrutura das frases e do pensamento do povo do qual fazem parte.
Associadas à música estão a dança, as brincadeiras e os jogos com movimentos e gestos corporais, que devem constituir conteúdos para o trabalho com as crianças.
Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos e jogos de mãos são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de entenderem a necessidade de expressão que passa pela esfera afetiva, estética e cognitiva.
Enfim, a música pode ser trabalhada de diversas maneiras, como por exemplo, através dos sons da natureza, de instrumentos musicais, composições clássicas, canções de ninar, músicas que exploram os direitos das crianças e temas variados.

2.5. ARTES.

A criança tem, naturalmente, uma grande aproximação com o universo da arte. A estética, para ela, está presente nas situações mais cotidianas: nas formas e cores da natureza, nas histórias que ouve, nos brinquedos, nas representações que faz em suas brincadeiras e nas músicas que aprende a cantar.
Sempre que possível, o educador deve propiciar o contato direto das crianças com as obras de arte. Admirar uma pintura, percebendo suas cores, textura, tela, diferentes efeitos ao afastar-se ou aproximar-se dela, é uma experiência muito mais enriquecedora do que conhecer reproduções em livros. Apreciar uma escultura em todas as suas dimensões é, igualmente, muito mais interessante do que olhar uma fotografia desta escultura. A variedade de trabalhos que podem ser feitos com o tema “artes” é muito grande (dia do Índio, do Trabalho, do Professor, da Criança, dentre outros).Os projetos descritos no livro sobre o referido tema são mais que suficientes para trabalhar o ensino das artes, cabendo ao educador ampliá-los ou restringi-los conforme o caso, levando em conta a faixa etária e o desenvolvimento sócio-psico-emocional de seus alunos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Uma coisa interessante me chamou atenção no livro, é que praticamente o eixo movimento permeia desde a matemática, natureza e sociedade linguagem oral e escrita, música, projetos, oficinas e artes. Resumidamente, podemos dizer que o eixo movimento tem uma relação, interdisciplinar com as outras matérias. Mas também o corpo é algo muito mais do que meramente biológico dotado de visão, audição, paladar e tato. Ele se expressa à individualidade do ser, pois, toda a vivência se dá no plano corporal. Os aspectos psicológicos, cognitivos, emocionais e sociais se dão mediante um “corpo organizado”, o qual depende dos aspectos neurofisiológicos e locomotores. Isso quer dizer que o controle do próprio corpo e sua interiorização é fundamental para a criança adquirir equilíbrio e sentir as possibilidades de sua ação no mundo.
Assim, a ação no mundo por meio do movimento,

[...] deveria, em qualquer circunstância, ser entendido como um modo para o homem e a mulher serem mais.[...] A motricidade humana traz consigo toda significação de nossa existência. Há uma extrema coerência entre o que somos, pensamos, acreditamos ou sentimos, e aquilo que expressamos através de pequenos, gestos, atitudes, posturas ou movimentos mais amplos(MEDINA,1992, p. 87,grifo do autor).

A proposta de uma educação de corpo inteiro deve ser incorporada pela escola, valorizando as brincadeiras, os jogos e a imaginação, porque, apesar de algumas habilidades motoras serem desenvolvidas na família, não se pode negar a importância dos primeiros anos de escolaridade, onde ela se desenvolve como um todo. Tanto para o leigo, como para o educador experimentado o livro Jogos, Projetos e Oficinas Para Educação Infantil traz um material que não da para se abrir mão. O livro fala por si só.
4. REFERÊNCIAS.

CENTURIÓN, Marília. (et al). Jogos, projetos e oficinas para educação infantil. São Paulo: FTD, 2004.
MEDINA, João Paulo Subirá. A Educação física cuida do corpo...e“mente”: bases para a renovação e transformação da educação física. 10. ed. Campinas: Papirus, 1992.

Trabalho feito por.( João Carlos Maria).

Vídeos sobre, Auto-Estima, Aprendizagem e Pnl. (Lair Ribeiro).



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Alfabetização & Letramento.



Magda Becker Soares
O que é letramento e alfabetização

Neste texto, vamos discutir conceitos e, portanto, palavras, ou, se quiserem, vamos discutir palavras e, portanto, conceitos: os conceitos alfabetização e letramento, as palavras alfabetização e letramento.


Em um primeiro momento, gostaria de fazer um "passeio" pelo campo semântico em que se inserem essas palavras, esses conceitos. São palavras de uso comum, conhecidas, exceto talvez letramento, palavra ainda desconhecida ou mal entendida, ou ainda não plenamente compreendida pela maioria das pessoas, porque é palavra que entrou na nossa língua há muito pouco tempo.



ALFABETIZAÇÃO



ALFABETIZAR ALFABETIZADO



ANALFABETISMO ANALFABETO



LETRAMENTO



LETRADO ILETRADO




ALFABETISMO



Não precisamos definir essas palavras, porque estamos familiarizados com elas, talvez com exceção apenas da palavra letramento. Mas vou me deter nelas para conduzir nossa reflexão em direção ao sentido de letramento.



Vejamos as definições que aparecem no dicionário Aurélio:


analfabetismo: estado ou condição de analfabeto


a(n) + alfabet + ismo

-izar:

sufixo,

indica: tornar, fazer com que.

Exemplos:

suavizar: tornar suave;

industrializar: tornar industrial


Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever.

Alfabetização: ação de alfabetizar

Alfabet + iza(r) + ção



-ção: sufixo que forma substantivos

indica: ação

Exemplos:

traição: ação de trair

nomeação: ação de nomear




Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar "alfabeto".


Causa estranheza o uso desa palavra "alfabeto", na expressão "tornar alfabeto". É que dispomos da palavra analfabeto, mas não temos o contrário dela: temos a palavra negativa, mas não temos a palavra positiva.


É no campo semântico dessas palavras que conhecemos bem - analfabetismo, analfabeto, alfabetização, alfabetizar - que surge a palavra letramento. Como surgiu essa palavra e o que quer ela dizer?


LETRAMENTO?


Conhecemos as palavras letrado e iletrado:


Letrado: versado em letras, erudito
iletrado: que não tem conhecimentos literários


uma pessoa letrada = uma pessoa erudita, versada em letras (letras significando literatura, línguas)

uma pessoa iletrada = uma pessoa que não tem conhecimentos literários, que não é erudita; analfabeta, ou quase analfabeta.


O sentido que temos atribuído aos adjetivos letrado e iletrado não está relacionado com o sentido da palavra letramento.


A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos datar com precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi usada pela primeira vez.


Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986.


A palavra letramento não é, como se vê, definida pela autora e, depois dessa referência, é usada várias vezes no livro; foi, provavelmente, essa a primeira vez que a palavra letramento apareceu na língua portuguesa - 1986.


Leia mais


Depois da referência de Mary Kato, em 1986, a palavra letramento aparece em 1988, no livro que, pode-se dizer, lançou a palavra no mundo da educação, dedica páginas à definição de letramento e busca distinguir letramento de alfabetização: é o livro Adultos não alfabetizados - o avesso do avesso, de Leda Verdiani Tfouni (São Paulo, Pontes, 1988, Coleção Linguagem/Perspectivas) um estudo sobre o modo de falar e de pensar de adultos analfabetos.


Mais recentemente, a palavra tornou-se bastante corrente, aparecendo até mesmo em título de livros, por exemplo: Os significados do letramento, coletânea de textos organizada por Ângela Kleiman, (Campinas, Mercado das Letras, 1995) e Alfabetização e letramento, da mesma Leda Verdiani Tfouni, anteriormente mencionada (São Paulo, Cortez, 1995, Coleção Questões de nossa época).


Na busca de esclarecer o que seja letramento, talvez seja interessante refletirmos sobre o seguinte: vivemos séculos sem precisar da palavra letramento; a partir dos anos 80, começamos a precisar dessa palavra, inventamos essa palavra - por quê, para quê?


Por que aparecem palavras novas na língua?


Resposta:

Na língua sempre aparecem palavras novas quando fenômenos novos ocorrem, quando uma nova idéia, um novo fato, um novo objeto surgem, são inventados, e então é necessário ter um nome para aquilo, porque o ser humano não sabe viver sem nomear as coisas: enquanto nós não as nomeamos, as coisas parecem não existir. Um exemplo:

hoje em dia se usa com muita freqüência a palavra globalização, abrimos o jornal e lá está a palavra globalização; poucos anos atrás, ninguém usava essa palavra, não no sentido com que a estamos usando atualmente. Por que surgiu a palavra globalização( Porque surgiu um fenômeno novo na economia mundial, e foi preciso dar um nome a esse fenômeno novo -surge assim a palavra nova.



Outros exemplos


Portanto: o termo letramento surgiu porque apareceu um fato novo para o qual precisávamos de um nome, um fenômeno que não existia antes, ou, se existia, não nos dávamos conta dele e, como não nos dávamos conta dele, não tínhamos um nome para ele.


Três perguntas precisam agora ser respondidas:


Qual é o significado dessa palavra letramento?

Por que surgiu essa nova palavra, letramento?

Onde fomos buscar essa nova palavra, letramento?

Comecemos por responder à última pergunta.

Onde fomos buscar a palavra letramento?


Na verdade, a palavra letramento é uma tradução para o Português da palavra inglesa literacy; os dicionários definem assim essa palavra:


literacy = the condition of being literate

littera + cy





palavra latina = letra -cy: sufixo, indica qualidade, condição, estado. Exemplo: innocency: condição de inocente.


Traduzindo a definição acima, literacy é "a condição de ser letrado" - dando à palavra letrado" sentido diferente daquele que vem tendo em português. Em inglês, o sentido de literate é:


literate: educated; especially able to read and write (educado; especificamente, que tem a habilidade de ler e escrever)


Literate é, pois, o adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita, e literacy designa o estado ou condição daquele que é literate, daquele que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso competente e freqüente da leitura e da escrita.


Há, assim, uma diferença entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na condição ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa palavra o sentido que tem literate em inglês). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a escrever - que se torna alfabetizada - e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita - que se torna letrada - é diferente de uma pessoa que ou não sabe ler e escrever - é analfabeta - ou, sabendo ler e escrever, não faz uso da leitura e da escrita - é alfabetizada, mas não é letrada, não vive no estado ou condição de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita.


O adjetivo letrado, e seu feminino letrada serão usados no restante deste texto com um significado que não é o que têm (por enquanto) nos dicionários: serão usados para caracterizar a pessoa que, além de saber ler e escrever, faz uso freqüente e competente da leitura e da escrita. Serão usados também os adjetivos iletrado/iletrada como seus antônimos.

Estado ou condição: essas palavras são importantes para que se compreendam as diferenças entre analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto é que quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, a envolver-se em práticas de leitura e de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um outro estado, uma outra condição.


Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural - não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura - sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente.


Há a hipótese de que tornar-se letrado é também tornar-se cognitivamente diferente: a pessoa passa a ter uma forma de pensar diferente da forma de pensar de uma pessoa analfabeta ou iletrada.


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Tornar-se letrado traz, também, conseqüências lingüísticas: alguns estudos têm mostrado que o letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto; por exemplo: pesquisas que caracterizaram a língua oral de adultos antes de serem alfabetizados, e a compararam com a língua oral que usavam depois de alfabetizados, concluíram que, após aprender a ler e a escrever, esses adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convívio com a língua escrita teve como conseqüências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas lingüísticas e no vocabulário.


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Enfim: a hipótese é que aprender a ler e a escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivíduo, levam o indivíduo a um outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, lingüístico, entre outros.


Tentamos responder, até aqui, a uma das três perguntas anterior. Busquemos, agora, a resposta à primeira pergunta.


Finalmente, uma definição de letramento

Chegamos finalmente à palavra e ao conceito letramento:


letra + mento


forma portuguesa da palavra latina littera -mento: sufixo, indica resultado de uma ação. Exemplo: ferimento = resultado da ação de ferir.


Portanto: letramento é o resultado da ação de "letrar-se", se dermos ao verbo "letrar-se" o sentido de "tornar-se letrado".

LETRAMENTO


Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita

O estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo

como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais


Observação importante: ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita "própria", ou seja, é assumi-la como sua "propriedade" .


Outros exemplos


Retomemos a grande diferença entre alfabetização e letramento, entre alfabetizado e letrado: um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita.


Letramento definido num poema


Uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o em um poema:


O QUE É LETRAMENTO?


Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.

Letramento é diversão
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.

São notícias sobre o presidente
O tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.

É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.

É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.

É um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não fique perdido.

Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser.

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O poema mostra que letramento é muito mais que alfabetização. Ele expressa muito bem como o letramento é um estado, uma condição: o estado ou condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham na nossa vida. Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita.


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Por que surgiu a palavra letramento?


A palavra analfabetismo nos é familiar, usamos essa palavra há séculos, ela já está presente em textos do tempo em que éramos Colônia de Portugal. É um fenômeno interessante: usamos, há séculos, o substantivo que nega (recorde a análise da palavra analfabetismo na página 2: a(n) + alfabetismo = privação de alfabetismo), e não sentíamos necessidade do substantivo que afirmasse: alfabetismo ou letramento. Por que só agora, no fim do século XX, a palavra letramento se tornou necessária?


Palavras novas aparecem quando novas idéias ou novos fenômenos surgem. Convivemos com o fato de existirem pessoas que não sabem ler e escrever, pessoas analfabetas, desde o Brasil Colônia, e ao longo dos séculos temos enfrentado o problema de alfabetizar, de ensinar as pessoas a ler e escrever; portanto: o fenômeno do estado ou condição de analfabeto nós o tínhamos (e ainda temos...), e por isso sempre tivemos um nome para ele: analfabetismo.

À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não ncessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita: não lêem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio... Esse novo fenômeno só ganha visibilidade depois que é minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o desenvolvimento social, cultural, econômico e político traz novas, intensas e variadas práticas de leitura e e de escrita, fazendo emergirem novas necessidades, além de novas alternativas de lazer. Aflorando o novo fenômeno, foi preciso dar um nome a ele: quando uma nova palavra surge na língua, é que um novo fenômeno surgiu e teve de ser nomeado. Por isso, e para nomear esse novo fenômeno, surgiu a palavra letramento.


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Compreendido o que é letramento, por que surgiu a palavra letramento, qual a origem da palavra letramento, pode-se voltar à diferença entre letramento e alfabetização:


Alfabetização = ação de ensinar/aprender a ler e a escrever


Letramento = estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita


cultiva = dedica-se a atividades de leitura e escrita

exerce = responde às demandas sociais de leitura e escrita


Precisaríamos de um verbo "letrar" para nomear a ação de levar os indivíduos ao letramento... Assim, teríamos alfabetizar e letrar como duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.


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Alfabetizado e/ou letrado - uma nova pergunta se impõe.


Como diferenciar o apenas alfabetizado do letrado?


Eacute; difícil a resposta a essa pergunta, porque letramento envolve dois fenômenos bastante diferentes, a leitura e a escrita, cada um deles muito complexo, pois constituído de uma multiplicidade de habilidades, comportamentos, conhecimentos:


Ler

É um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal... Assim: ler é um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere à leitura? A partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à leitura?

Escrever

É também um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese de doutorado... uma pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas não ser capaz de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio sobre determinado assunto... Assim: escrever é também um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere à escrita? A partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à escrita?


Conclui-se que há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural.


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analfabeto e alfabetizado, alfabetizado e letrado:

conceitos imprecisos


Eleições de 1996. O jornal Folha de S.Paulo em 19 de julho de 1996 publica a seguinte notícia:


Candidaturas são impugnadas após teste de alfabetização
O juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80 candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, na região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).

A impugnação foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um teste de alfabetização realizado pelo juiz, no Fórum de Itapetininga.

Incane Filho disse que fez o texto com base na exigência contida na Lei Complementar nº 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.

O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter o 1º grau completo e nistraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas candidaturas.

Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes são mantidos em sigilo. "Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em seguida, pedi que cada um redigisse um texto expondo sua lógica", disse.

Segundo incane Filho, erros gramaticais não foram levados em conta. "Apenas observei se o candidato tem condições de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai ter de trabalhar com leis e documentos."

A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma recomendação aos juízes para que "em caso de dúvida", façam "um teste de alfabetização" nos candidatos.



Baseado numa lei que "proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos", o juiz submeteu candidatos a prefeito e a vereador a "um teste de alfabetização".


Que razões levaram o juiz a supor que 80 candidatos eram analfabetos?


Duas razões:


1ª) tinham 1° grau incompleto

2ª) mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas candidaturas

Portanto: para o juiz, um alfabetizado seria alguém que tivesse o 1° grau completo e preenchesse formulários sem dificuldades.


No entanto, o juiz admitiu que, embora não tendo o 1° grau completo e revelando dificuldades para preencher documentos de registro de candidatura, o candidato a prefeito ou vereador poderia ser considerado alfabetizado:

Segundo o juiz, que comportamentos o candidato deveria demonstrar, para não ser considerado analfabeto?


O candidato deveria:


* Ler e interpretar um texto;

* Redigir um texto sobre o texto lido.

O juiz definiu ainda o nível do texto que o candidato deveria ser capaz de interpretar e o critério de correção das respostas do candidato:




Segundo o juiz, o candidato deveria ser capaz de ler e interpretar que tipo de texto?


texto de um jornal infantil




Segundo o juiz, com que critérios os resultados do candidato deveriam ser avaliados?


* não levar em conta erros gramaticais

* verificar se o candidato tinha entendido o texto


O juiz admitiu, pois, que um candidato a prefeito ou a vereador poderia não ter o 1° grau completo, poderia enfrentar dificuldades para preencher documentos, mas deveria ser capaz de ler e interpretar um texto de jornal infantil, e de redigir um texto sobre o que lera, mesmo cometendo erros gramaticais; e justificou esses critérios:




Por que o juiz considerou que ser capaz de entender um texto era o critério adequado para avaliar se o candidato a prefeito ou vereador poderia ser considerado alfabetizado?


Porque, se eleito, ele teria de trabalhar com leis e documentos (que deveria saber ler e interpretar).




O juiz mostrou ter dois conceitos de alfabetização:


um conceito genérico, aplicável a qualquer pessoa - ter o 1° grau completo e ser capaz de preencher documentos, sem dificuldades;

um conceito específico, aplicável a pessoas que exercem a função de prefeito ou vereador - ser capaz de ler e interpretar textos legais e documentos oficiais.


Talvez você queira refletir um pouco mais sobre esse episódio:


* A alfabetização que o juiz considera necessária a prefeitos e vereadores estará sendo avaliada num teste que mede a capacidade de ler e interpretar um texto de jornal infantil ?


* Fica claro que, para o juiz, as práticas sociais que envolvem a língua escrita necessárias a prefeitos e vereadores são as de leitura de textos legais e documentos oficiais - é esta uma concepção adequada?


* Será que se pode concordar que o nível de alfabetização de um indivíduo deve ser definido pelas exigências das práticas sociais específicas que ele precisa ter com a escrita, segundo sua inserção no mundo do trabalho?


* Pense: o juiz procura avaliar o nível de alfabetização ou o nível de letramento dos candidatos?


Mas continuemos, porque o episódio não termina aí. Cerca de vinte dias depois, em 7 de agosto, o mesmo jornal Folha de S.Paulo publica a seguinte notícia:


TRE aprova candidatura de reprovados em teste

O plenário do Tribunal Regional Eleitoral aprovou ontem a candidatura de 30 políticos que foram reprovados em um teste de alfabetização aplicado pelo juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38.

O juiz havia impugnado as candidaturas de políticos das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, todas na região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo). Eles tiveram de ler o texto de um suplemento infantil de um jornal e escrever algo sobre o que leram.

Incane Filho convocou para esse teste 80 candidatos que afirmaram não ter o primeiro grau completo. Os testes se basearam na lei complementar nº 64/90, de 1992, que proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.

O TRE reformou a sentença do juiz, considerando que os candidatos tinham "rudimentos" da alfabetização e que, portanto, não poderiam ser considerados analfabetos. para chegar a essa conclusão, os juízes utilizaram a definição do dicionário Aurélio para a palavra "analfabeto.

O TRE deverá julgar hoje outros onze recursos apresentados pelos candidatos impugnados daquelas cidades. A plicação de testes de alfabetização é uma orientação do próprio TRE a todos os juízes eleitorais do Estado.

Entre os candidatos impugnados pelo juiz Incane Fillho, havia um ex-prefito e seis vereadores. José Luiz Holtz (PSDB), ex-prefeito de Sarapuí, considerou a decisão do juiz de Itapetininga "um absurdo". Seu candidato a vice também foi impugnado.

Segundo o juiz Incane Filho, o teste que aplicou não levou em consideração os erros gramaticais, mas apenas a capacidade dos candidatos de entender um texto.

"Depois de eleitos, eles terão de trabalhar com leis e documentos", afirmou o juiz.



O Tribunal Regional Eleitoral - TRE - foi contrário ao conceito de alfabetização do juiz, considerando que os candidatos reprovados não eram analfabetos porque tinham "rudimentos da alfabetização":




Qual o critério do TRE para considerar que os candidatos não eram analfabetos?


A definição do dicionário Aurélio para a palavra "analfabeto".


Recorde a definição de analfabeto do dicionário Aurélio:


analfabeto: que não conhece o alfabeto; que não sabe ler e escrever


Portanto: o TRE considerou que os candidatos sabiam ler e escrever (já que tinham alguma ou algumas séries do 1° grau e, embora com dificuldades, enfrentaram os documentos de registro da candidatura), e assim, não eram analfabetos.


O juiz eleitoral e o TRE mostraram ter conceitos diferentes de alfabetização: o juiz eleitoral avaliava antes o letramento que a alfabetização dos candidatos - embora desconhecesse o conceito de letramento, preocupava-se com as práticas sociais de leitura e escrita que eles deveriam ter; o TRE avaliou apenas a alfabetização dos candidatos, porque se satisfez com os "rudimentos" de leitura e escrita que tinham, desconhecendo seu nível de letramento, pois não considerou suas habilidades de usar a leitura e a escrita.


Esse episódio evidencia:

* a imprecisão do conceito de alfabetização - pessoas ou grupos têm conceitos diferentes, o conceito varia de acordo com a situação, com o contexto;

* o fenômeno do letramento ainda é pouco percebido em nossa sociedade.


Analfabeto-alfabetizado, letrado-iletrado:

variações segundo as condições sociais e históricas


Um bom exemplo da variação do conceito de alfabetização ao longo do tempo e da dependência entre o fenômeno do letramento e as condições culturais e sociais é a comparação entre os critérios que foram no passado utilizados e os que hoje são utilizados para definir quem é analfabeto ou quem é alfabetizado nos recenseamentos da população brasileira.


Até a década de 40, o formulário do Censo definia o indivíduo como analfabeto ou alfabetizado perguntando-lhe se sabia assinar o nome: as condições culturais, sociais e políticas do país, até então, não exigiam muito mais que isso de grande parte da população. As pessoas aprendiam a desenhar o nome, apenas para poder votar ou assinar um contrato de trabalho.


A partir dos anos 40, o formulário do Censo passou a usar uma outra pergunta: sabe ler e escrever um bilhete simples( Apesar da impropriedade da pergunta [se quiser saber por quê, leia o quadro abaixo], ela já expressa um critério para definir quem é alfabetizado ou analfabeto que avança em relação ao critério de apenas saber escrever o nome: definir como analfabeto aquele que não sabe ler e escrever um bilhete simples indica já uma preocupação com os usos sociais da escrita, aproxima-se, pois, do conceito de letramento, e revela uma outra expectativa com relação ao alfabetizado - uma expectativa de que seja também letrado.


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A mudança de critério para avaliação dos índices de analfabetismo no Brasil revela mudanças históricas, sociais, culturais. A comparação dos critérios utilizados aqui com os utilizados em países do Primeiro Mundo pode ser esclarecedora.


Analfabetismo no Primeiro Mundo?


É surpreendente quando os jornais noticiam a preocupação com altos níveis de "analfabetismo" em países como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra; surpreendente porque: como podem ter altos níveis de analfabetismo países em que a escolaridade básica é realmente obrigatória e, portanto, praticamente toda a população conclui o ensino fundamental (que, nos países citados, tem duração maior que a do nosso ensino fundamental - 10 anos nos Estados Unidos e na França, 11 anos na Inglaterra). É que, quando a nossa mídia traduz para o português a preocupação desses países, traduz illiteracy (inglês) e illetrisme (francês) por analfabetismo. Na verdade, não existe analfabetismo nesses países, isto é, o número de pessoas que não sabem ler ou escrever aproxima-se de zero; a preocupação, pois, não é com os níveis de analfabetismo, mas com os níveis de letramento, com a dificuldade que adultos e jovens revelam para fazer uso adequado da leitura e da escrita: sabem ler e escrever, mas enfrentam dificuldades para escrever um ofício, preencher um formulário, registrar a candidatura a um emprego - os níveis de letramento é que são baixos.


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No Brasil, há já algumas poucas pesquisas que procuram avaliar o nível de letramento de jovens e adultos; a tendência tem sido considerar como alfabetizado (o termo mais adequado seria letrado) o indivíduo que tenha pelo menos completado a 4ª série do ensino fundamental, com base no pressuposto de que são necessários no mínimo quatro anos de escolaridade para a apropriação da leitura e da escrita e de seus usos sociais. Quando se calcula o analfabetismo no Brasil com base nesse critério, o índice cresce assustadoramente...


Condições para o letramento


Termos despertado para o fenômeno do letramento - estarmos incorporando essa palavra ao nosso vocabulário educacional - significa que já compreendemos que nosso problema não é apenas ensinar a ler e a escrever, mas é, também, e sobretudo, levar os indivíduos - crianças e adultos - a fazer uso da leitura e da escrita, envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita.


No entanto, infere-se, de tudo que foi dito, que o nível de letramento de grupos sociais relaciona-se fundamentalmente com as suas condições sociais, culturais e econômicas. É preciso que haja, pois, condições para o letramento.




Uma primeira condição é que haja escolarização real e efetiva da população - só nos demos conta da necessidade de letramento quando o acesso à escolaridade se ampliou e tivemos mais pessoas sabendo ler e escrever, passando a aspirar a um pouco mais do que simplesmente aprender a ler e a escrever.




Uma segunda condição é que haja disponibilidade de material de leitura. O que ocorre nos países do Terceiro Mundo é que se alfabetizam crianças e adultos, mas não lhes são dadas as condições para ler e escrever: não há material impresso posto à disposição, não há livrarias, o preço dos livros e até dos jornais e revistas é inacessível, há um número muito pequeno de bibliotecas. Como é possível tornar-se letrado em tais condições( Isso explica o fracasso das campanhas de alfabetização em nosso país: contentam-se em ensinar a ler e escrever; deveriam, em seguida, criar condições para que os alfabetizados passassem a ficar imersos em um ambiente de letramento, para que pudessem entrar no mundo letrado, ou seja, num mundo em que as pessoas têm acesso à leitura e à escrita, têm acesso aos livros, revistas e jornais, têm acesso às livrarias e bibliotecas, vivem em tais condições sociais que a leitura e a escrita têm uma função para elas e tornam-se uma necessidade e uma forma de lazer.


Outro exemplo



Letramento e escola, letramento e educação de jovens e adultos



Quais as conseqüências de tudo isso para a escola? Para a educação de jovens e adultos?


O que significa alfabetizar?


O que significa "letrar"?


Quais as diferenças entre alfabetizar e "letrar"?


Como alfabetizar "letrando"?


Quando se pode dizer que uma criança ou um adulto estão alfabetizados? Quando se pode dizer que estão letrados?


Quais são as condições para que o aprender a ler e a escrever seja algo que realmente tenha sentido, uso e função para as pessoas(




É sempre bom terminar com perguntas e não com soluções; diz o grande escritor português Saramago:



Tudo no mundo está dando respostas,

o que demora é o tempo das perguntas.


Aí estão as perguntas; busquemos as respostas.

Este texto foi originalmente publicado no livro Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Editora Autêntica, 1998. http://www.autenticaeditora.com.br/

PAUL POTTS. (Não julgue pela aparência).



Este vídeo mostra que não podemos julgar pelas aparências, elas nos enganam. Os jurados não acreditaram que aquele vendedor de celulares não muito bonito, pudesse cantar tão bem. Estamos sempre julgando e avaliando e tomando decisões, quer seja na escola trabalho , supermercado, nas relações familiares e muitas vezes cometemos equívocos. Originados do preconceito e da arogancia. Nos professores não podemos deixar que estes sentimentos limitem nossos alunos. Quando fazemos uma prova o que queremos, avaliar?
O homem pode transcender seus limites. (Paul Tillich). Jesus era carpinteiro. E nem por isso deixou de ser um ex.: bom de ser seguido.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

(HD) - Quem Somos Nós ? parte 01 a 12.



Este filme foi dividido em, 12 partes. Para ter acesso basta ir no menu do próprio vídeo e escolher a parte que quer assistir. Obrigado por sua visita, se seu computador estiver lento esperimente o navegador Opera ou o Firefox. Muito melhor do que o internet explorer.

Will Smith - Men In Black - Music Video



Sou fã do Will Smith. Para quem acompanha, nos anos 80,90 ele fez dupla com seu dj Jazzy Jeff & Fresh Prince. Fresh Prince é como Will Smith era conhecido no meio do Rap. Desde entâo acompanho seu trabalho. Boa noite a você, que está conectado. Obrigado por sua visita.

A Batalha Pelo Entretenimento Digital Começa! X (Twitter) vs YouTube e TikTok Paula Bernardes

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