Sérgio Biagi Gregório
"Sejamos como as crianças, isto é, sem defesas, sem preconceitos."
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Sobre a Dúvida: 4.1. Alguns Tipos de Dúvida; 4.2. Mais Tipos de Dúvida; 4.3. Dúvida Teórica Versus Dúvida Existencial. 5. Filósofos da Era Moderna, Relativismo e Fundamentalismo: 5.1. Filósofos da Era Moderna; 5.2. Relativismo; 5.3. Fundamentalismo. 6. O Meio, a Fé e o Espiritismo: 6.1. O Meio Dificulta a Fé Religiosa; 6.2. A Fé Espírita; 6.3. A Construção Doutrinária do Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O que é dúvida? Quais são os tipos de dúvida? Como ter convicção sem ser fanático? De que maneira exercitar o pensamento, a fim de deixá-lo livre e responsável?
2. CONCEITO
Dúvida. Apesar da ambiguidade conceitual, pode-se dizer que a dúvida é um estado de incerteza em que consiste na suspensão do julgamento, dada a ausência de razões para a afirmação ou negação.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No pensamento antigo, confiava-se mais nas evidências imediatas oferecidas pelos sentidos e pela razão. A crítica inexistia. Os primeiros filósofos apregoavam a admiração e o espanto pela harmonia do cosmos.
Em se tratando do Velho Testamento, logo no começo, a Bíblia cita o pecado original, uma espécie de desconfiança do ser humano em relação a Deus. Adão e Eva tratam Deus como seu rival. Por isso, a tentação, a desobediência.
No Novo Testamento, há também muitas dúvidas dos apóstolos em relação a Jesus. No início, a dúvida era positiva, pois assim se expressavam em relação a Jesus: "Que homem é este que opera tantos milagres?" Depois, principalmente na Paixão de Cristo, duvidam de seus ensinamentos. Pedro o nega por três vezes.
A dúvida moderna tem muito a ver com as lucubrações de Descartes.
Nietzsche havia proclamado a morte de Deus. Hoje, temos uma infinidade de deuses competindo pela atenção e lealdade das pessoas. O iluminismo advogava a vitória da razão e, com isso, o declínio da religião. Não foi o que ocorreu. Além de não haver o declínio, corremos o risco do fanatismo religioso, principalmente com a ascendência do islamismo.
4. SOBRE A DÚVIDA
4.1. ALGUNS TIPOS DE DÚVIDA
Dúvida científica - é atitude do cientista que apresenta suas hipóteses à prova submetendo-as ao controle experimental.
Dúvida cética - pretende-se definitiva e radical e conclui a impossibilidade de se alcançar a menor verdade.
Loucura da dúvida - patológica, de natureza obsessiva, manifesta-se por um sentimento penoso de incerteza com relação aos fatos da vida cotidiana e por fim pela incapacidade de se tomar uma decisão.
Dúvida metódica ou hiperbólica - devido a Descartes, procedimento que consiste em duvidar de tudo o que se admitiu anteriormente com o intuito de estabelecer a verdade em bases inabaláveis graças ao critério da evidência.
4.2. MAIS TIPOS DE DÚVIDA
Dúvida teórica - indecisão diante dos acontecimentos ou diante da verdade especulativa.
Dúvida existencial - é a impossibilidade de nos ligarmos com confiança a uma pessoa.
A dúvida é negativa quando deixa a alma insegura e angustiosa.
É positiva, quando representa o ponto de partida para as descobertas cientificas e filosóficas.
4.3. DÚVIDA TEÓRICA VERSUS DÚVIDA EXISTENCIAL
Diante de uma verdade especulativa, a dúvida se torna teórica. Diante da impossibilidade de nos ligarmos a alguém confiantemente, a dúvida se torna existencial. A dúvida teórica impede a certeza; a duvida existencial, a fé.
5. FILÓSOFOS DA ERA MODERNA, RELATIVISMO E FUNDAMENTALISMO
5.1. FILÓSOFOS DA ERA MODERNA
Descartes (1596-1650) inaugurou a filosofia moderna. A partir daí, a dúvida tornou-se o norte da ciência e da filosofia.
Marx (1818–1883) colocou em dúvida as ideologias existentes e propôs a luta de classes.
Nietzsche (1844-1900) suspeitava das "verdades morais": por detrás delas havia o medo da vida, a inveja pelos poderosos.
Freud (1856-1939) analisa a dúvida através dos processos libidinosos do subconsciente: nossas ações refletem um disfarce dos recalques ali armazenados.
5.2. RELATIVISMO
A relativização é o processo no qual o status absoluto de alguma coisa é enfraquecido ou, em caso extremo, destruído.
O maior problema do relativismo é sua falsa epistemologia. Dito de forma simples, todas as versões do relativismo expressam as dificuldades da busca da verdade. Existem fatos neste mundo e, ao buscar determinar os fatos, a objetividade é possível.
Todas as formas de relativismo contradizem a experiência da vida comum, fundamentada no bom-senso.
O relativismo, com sua moralidade individual, e não coletiva, é um convite ao niilismo.
5.3. FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo é uma tentativa de recuperar o não questionamento.
O requisito mais básico: não deve haver uma comunicação significativa com outsiders.
O segundo requisito: não deve haver dúvida.
Os fundamentalistas enfatizam a "conversão" (não importa se essa conversão for súbita ou gradual, voluntária ou coagida).
O relativista adota a dinâmica relativizante da modernidade; o fundamentalista a rejeita.
Se o perigo imposto pelo relativismo a uma sociedade estável for o excesso de dúvida, o perigo do fundamentalismo é uma insuficiência de dúvida.
6. O MEIO, A FÉ E O ESPIRITISMO
6.1. O MEIO DIFICULTA A FÉ RELIGIOSA
O pragmatismo da vida moderna, a luta pela sobrevivência e o anelo de posse afastam o ser humano da vivência plena do Evangelho de Jesus. Há, também, a influência dos maus exemplos dos cristãos mais velhos.
6.2. A FÉ ESPÍRITA
Lembremo-nos de que a fé cristã sempre foi uma luta contra a dúvida que nasce do coração. É por esta razão que Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, insiste para que todo o cristão faça uso da fé raciocinada, que é a única que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.
6.3. A CONSTRUÇÃO DOUTRINÁRIA DO ESPIRITISMO
Allan Kardec, através do método teórico-experimental, deu ênfase à dúvida como atitude de trabalho para a codificação do Espiritismo. Ele dizia que era preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro.
Observe a sua postura diante das manifestações das mesas girantes: “Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto da carochinha.”
7. CONCLUSÃO
Saibamos usar a dúvida com moderação. Há situações em que a fé deve sobrepujar as incertezas do cotidiano. Numa dificuldade aparente, pensemos em Deus primeiro.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BERGER, Peter e ZIJDERVELD, Anton. Em Favor da Dúvida: Como Ter Convicções sem se Tornar um Fanático. Tradução de Cristina Yamagami. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.
IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.
São Paulo, janeiro de 2016.
fonte; acessadoem24/04/0224as09;12http://www.ceismael.com.br/filosofia/duvida.htm
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