terça-feira, 30 de setembro de 2008

APRENDENDO O PODER DA ORAÇÃO


Associação Paulistana da IASD

APRENDENDO O PODER DA ORAÇÃO

Leia 1 Reis 17:17-24
Você já parou para refletir nas ocasiões em que você realmente orou? Quero dizer, orou de verdade! É claro que todos nós podemos lembrar das vezes que falamos com Deus de uma forma rotineira:
• "Senhor, obrigado por estes alimentos!"
• "Pai, por favor, nos proteja enquanto fazemos esta viagem com toda a família."
• "Querido Senhor, peço-lhe que abra nossos corações e men¬tes enquanto iniciamos este estudo bíblico".
• "Jesus amado, tome conta de nós enquanto dormimos".

ORANDO DURANTE AS CRISES
Você se lembra das vezes que clamou a Deus de maneira intensa, constante e com grande emoção? Se você for como eu, isso aconteceu nas vezes em que você se deparou com uma crise, um problema, um desafio - algo em sua vida que não conseguiu resolver sozinho, nem mesmo com a sabedoria que o Senhor lhe dera. É nessas ocasiões que entendemos que realmente precisamos da ajuda de Deus.

Infelizmente, não aprendemos a orar até passarmos por situa¬ções que parecem estar além do nosso controle. Não entenda mal! Meus conhece essa tendência que nós, humanos, possuímos. Além disso, ele entende que não somos capazes de viver nossas vidas em meio a uma crise que possa nos levar a loucura. Porém, o Senhor também sabe que haverá ocasiões em nossas vidas quando a oração precisa tornar-se uma prioridade para que possamos usá-la para al¬cançar os propósitos que ele tem neste mundo.

O MAIOR DESAFIO DE ORAÇÃO DE ELIAS
Deus estava ensinando uma importante lição a Elias, a qual estava relacionada à oração. Elias era um homem de oração, e ele já havia demonstrado isso. Como Tiago nos lembra, o profeta "orou, com ins¬tância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu" (Tg 5: 17). No entanto, sua maior oportunidade desconfiar em Deus em oração ainda estava por vir - no momento em que ele precisaria enfrentar os profetas de Baal no monte Carmelo. Visando preparar Elias para esse grande desafio de oração, Deus pro¬porcionou outra grande oportunidade para seu servo crescer em sua vida de oração -e também em sua fé, uma qualidade espiritual que está sempre associada com a oração efetiva.

O plano de Deus se desenrolava segundo o previsto. Até aquele momento, Elias havia passado em todos os testes - e o Senhor provera a todas as suas necessidades. Quando ele temeu por sua vida, Deus lhe disse onde deveria se esconder. Quando não havia comida, o Se¬nhor usou os corvos para alimentá-lo. Quando a torrente secou, Deus o enviou até a viúva em Sidom. Quando Elias descobriu que aquela mulher pobre não possuía comida para compartilhar com ele, o Se¬nhor os proveu de óleo e de farinha para todos os que estavam na casa. Enquanto aquele homem de Deus se deparava com o que pare¬cia um obstáculo intransponível após o outro, Elias passou por todos eles, e o seu Deus supriu todas as suas necessidades.

Em algum momento Elias duvidou? Tenho certeza que sim! Afi¬nal de contas, ele era um "homem semelhante a nós". Algumas vezes ele deve ter se questionado a respeito de sua própria sanidade quando enfrentou o rei de Israel em nome do seu Deus. Ele deve ter passa¬do por períodos de grandes dúvidas questionando se o Senhor continuava no controle. Mas, mesmo que Elias se preocupasse, Deus era fiel. Em cada uma das ocasiões ocorreu o mesmo: ele não sabia como e quando Deus iria cuidar dele, mas o Senhor nunca o abando¬nou - mesmo nos últimos momentos, quando tudo parecia estar desmoronando.

A DOENÇA SE MANIFESTA
Visando preparar Elias para seu encontro frente a frente com o rei Acabe e seus falsos profetas, Deus permitiu que outra crise ocorresse. Aquele era um dos maiores testes que o profeta passara até então (veja 1 Rs 17:17-18).

Muitos meses após Elias ter ido morar com a viúva, "adoeceu o filho da mulher". Mesmo que a botija de óleo e a panela de farinha dela nunca ficassem vazios, isso não impediu que a doença invadisse a sua casa.

Não foi um ataque repentino que deixou o seu filho à beira da morte. A saúde do menino durante algum tempo foi se deterioran¬do. A "sua doença se agravou tanto, que ele morreu" (v. 17). Elias presenciou o seu jovem amigo ficar cada vez pior de saúde. Tenho certeza de que ele deve ter pensado bastante e durante muito tempo sobre a torrente em Querite. Afinal, aquele riacho também teve uma "morte lenta.

Lendo nas entrelinhas
Ainda que esse trágico acontecimento seja descrito de maneira bas¬tante sucinta na Bíblia, podemos fazer um pouco de especulação realista. Quando o menino finalmente morreu, a viúva "colocou para fora" os seus sentimentos mais íntimos de ansiedade e nervosismo. Disse ela: "Que fiz eu, ó homem de Deus? Vieste a mim para trazeres à memória a minha iniqüidade e matares o meu filho?" (v.18).

Imagine o que estava acontecendo. Durante dias, ou talvez se¬manas, a doença do menino foi piorando. Nos primeiros dias aqui¬ o não a preocupou tanto. Afinal de contas, não estava faltando óleo nem farinha! Todos nós já passamos por períodos de doença, eles vêm e vão.

No entanto, à medida que os dias iam passando, eles foram per¬cebendo que aquela não era uma doença comum. O menino não apresentava sinais de melhora. A preocupação normal da mãe passou a ser um grande temor - resultando em profunda introspecção. Em meio a situações como aquela, é normal começarmos a nos pergun¬tar: "Por quê? A tragédia humana sempre nos desperta para a refle¬xão - especialmente quando envolve a morte.

Reações previsíveis
Assim como todos nós, a viúva procurava um motivo para aquilo que estava acontecendo e voltou seus pensamentos para dentro de si mes¬ma. Ela já conhecia bem a Elias. Aquele não era um homem normal. Ele era diferente dos outros homens que ela já conhecera. Seus ami¬gos pagãos eram pecadores e devassos. Provavelmente ela também tinha um estilo de vida pecaminoso.

Mas durante muitos meses ela viveu na mesma casa com um homem que era diferente. Em nenhuma ocasião ele tentou se apro¬veitar dela por motivos egoístas. E mesmo que a viúva tivesse se ofe¬recido a ele, o profeta teria discutido com ela as leis eternas de Deus que foram reveladas a Israel no Sinai.

Ela sabia que Elias era um "homem de Deus". Quanto mais ela o conhecia - no que ele acreditava, como vivia e qual era a sua missão nesta vida - mais a viúva se dava conta de seus próprios pecados. Foi por isso que ela perguntou a Elias: "Que fiz eu, ó homem de Deus? Vieste a mim para trazeres à memória a minha iniqüidade e matares o meu filho?"

Dúvidas, medos, confusão
Mesmo que seu conhecimento sobre Abraão, Isaque e Jacó fosse limi¬tado, a viúva estava tentada a fazer o mesmo que muitos de nós faze¬mos quando ocorrem as tragédias. Nossa visão de Deus muitas vezes nos leva a questionar se ele está nos punindo por algum pecado, seja do passado ou do presente. A culpa que permanece em nós sempre gera paranóia.
A viúva ainda não havia aprendido que Deus não guarda ressen¬timentos. Mesmo que em raras ocasiões o Senhor tenha punido o pecado com a morte - como fez ao permitir a morte do filho ilegítimo de Davi, esse não é o modo como Deus normalmente age. Isso é verdade especialmente quando se trata de nossos pecados do passa¬do. E mesmo quando estamos cometendo pecados no presente, o Senhor é muito magnânimo. Até mesmo no caso de Davi, quando a lei de Deus declarava especificamente que ele deveria morrer por ter tirado a vida de Urias, o Senhor deixou que ele vivesse, pois o rei Davi mostrou ter um coração arrependido. Realmente o nosso Deus é um Deus misericordioso.

Para aumentar a sua confusão, aquela viúva sabia que não pa¬recia lógico que Elias tivesse salvado a ela e a seu filho da fome, apenas para, depois, mudar de idéia a fim de tirar de sua casa o precioso dom da vida. Não importa qual tenha sido o pecado dela, aquilo não fazia sentido. A partir dessa perspectiva certa¬mente podemos entender as perguntas da viúva, bem como seus medos e sua confusão.

Elias também estava perplexo
Elias passou a conhecer bem aquela diminuta família. Após um ano de uma triste solidão na torrente de Querite, imagine como foi res¬taurador para ele voltar a passar os seus dias na companhia de outras pessoas. O profeta ficou profundamente perturbado quando viu aquele menino morrendo lentamente, pois ele também passou a amar aque¬la criança. Para ele, ouvir as perguntas agonizantes da viúva era algo que apenas aumentava a sua própria tristeza.

Eu insisto, devemos nos lembrar que Elias era um "homem semelhante a nós". Mesmo que ele fosse um profeta de Deus, isso não significa que estava livre do sentimento de dor que acompanha um evento como aquele. Ela estava diante do profeta - segurando o filho morto em seus braços -, a agonia estampada em seu rosto banhado de lágrimas, e então ele ouviu a pergunta mais difícil de todas: "Por quê?"

A MORTE SEMPRE CAUSA TRISTEZA
Quando um ente amado morre, isso sempre gera uma imensa dor. É algo bastante real! Diante de Elias estava uma mulher com o coração partido. Ela estava segurando seu filhinho em seus braços. A criança havia parado de respirar. Porém, o mais doloroso para Elias era a pergunta que ela estava fazendo! Diante de seu sofrimento, ela o es¬tava rejeitando. O profeta a havia salvado, mas agora ela o acusava de lembrá-la de seus pecados e ter tomado a vida de seu único filho para puni-la.

Elias foi até aquela família em nome de Deus. Ele havia compar¬tilhado a sua missão e como Deus se preocupara com ele durante sua estada junto à torrente de Querite. A mulher e seu filho responde¬ram àquela mensagem e ao Deus de Elias. Eles haviam depositado Sua fé primeiro no profeta e depois no Senhor. E agora seu filho estava morto. Naquele momento, o profeta pôde sentir a falta de confiança da viúva. Ele não tinha uma explicação humana para o que tinha acontecido. Elias também sentiu que o nome e reputação de Deus estavam em jogo. O que as pessoas diriam quando soubessem o que aconteceu? O profeta Elias também estava confuso, perturba¬do e temeroso!

UMA ORAÇÃO QUE NUNCA DEVEVERÍAMOS ESQUECER
Por que, Deus, por quê?
Em meio à sua própria dor, o profeta pediu à mulher o seu filho. Ele tomou o menino nos braços, subiu até o quarto no andar de cima, onde estava hospedado, deitou o menino sobre sua cama e começou a orar intensamente. Aquela não foi uma oração comum. Elias "cla¬mou ao SENHOR"! Com grande angústia e frustração, ele derramou seu coração diante de Deus: "6 SENHOR, meu Deus, também até a esta viúva, com quem me hospedo, afligiste, matando-lhe o filho?" (1 Rs 17:20).

Depois, Elias, "estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao SENHOR e disse: 6 SENHOR, meu Deus, rogo-te que faças a alma deste menino tornar a entrar nele" (v. 21). Do mesmo modo como fez Eliseu - o homem que acabaria sendo seu sucessor como profeta de Deus em Israel-, Elias provavelmente "deitou-se sobre o meni¬no... pondo a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele e as suas mãos sobre as mãos dele" (2 Rs 4:34).

"Vê, teu filho vive"!
Em sua misericórdia, o Senhor o ouviu e respondeu à oração de Elias. A vida voltou ao menino. Imagine a alegria que tomava conta da alma do profeta enquanto ele descia as escadas com o meni¬no em seus braços e o entregou à sua mãe e disse: "Vê, teu filho vive" (1 Rs 17:23).

Quando a viúva viu que aquilo era verdade, as palavras que saíram de sua boca tinham um grande significado: "Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade" (v. 24).

O dedo acusador da viúva

Agora já sabemos mais a respeito da conversa que provavelmente ocorreu entre aquela mulher e Elias durante o tempo em que o meni¬no estava morrendo. Quando a saúde de seu filho começou a piorar, a viúva passou a apontar o seu dedo de acusação na direção de Elias. Ela começara a duvidar que ele realmente era quem dizia ser: um representante de Deus. Enquanto as coisas estavam indo bem, ela deu uma resposta positiva a ele. Mas quando as coisas começaram a dar errado, ela começou a duvidar e passou a apontar seu dedo de acusação.
O sofrimento de Elias
Aqueles que estão envolvidos com o ministério provavelmente conse¬guem se identificar de maneira mais profunda com essa experiência de Elias. Quase todos os pastores já tiveram de ajudar alguém que, em algum momento de sua vida, quando as coisas não estavam indo muito bem, voltaram-se contra eles e começaram a fazer críticas. Quando você realmente tentou ajudar alguém e depois passou a ser acusado de ser insensível e não ser uma pessoa sincera realmente esta deve ter sido uma experiência bastante dolorosa. Foi exatamente isso o que aconteceu com Elias. Podemos ver a sua dor revelada na oração que fez pelo menino. Como líder espiritual daquela mulher, ele tam¬bém estava confuso. Será que foi ele a causa da morte do menino? a Senhor levara a tragédia para aquela família por causa dele? Elias tam¬bém passou a questionar a maneira de Deus agir.

DEUS HONRA A HONESTIDADE
Deus não apenas honrou a persistência de Elias em oração; ele tam¬bém honrou sua honestidade e sinceridade ao expressar suas próprias dúvidas, medos e desilusões - bem como a sua decepção. a Senhor deu novamente vida ao menino. Mas, mais do que isso, a viúva vol¬tou a crer e a alegria de Elias foi restaurada quando ele viu seus novos amigos reunidos novamente e dando uma resposta positiva à vontade de Deus.

O mais importante para Elias era que a viúva não mais rejeitava o Deus a quem ele servia. Aquilo tinha uma importância especial para Elias já que seu próprio povo tinha se voltado a falsos deuses.

Em essência, foi por isso que o profeta foi para lá desde o início ¬ele havia tomado uma posição em favor do único Deus verdadei¬ro. Não é surpresa que ele queria ver o nome de Deus vingado e honrado!

TORNANDO-SE UM HOMEM DE DEUS HOJE
Princípios de vida

A lição mais importante que podemos aprender com Elias e a viúva de Sarepta tem que ver com o que Deus estava fazendo para continuar a preparar seu profeta para lutas ainda maiores contra as forças do mal. Durante todo o tempo, Deus estava preparando Elias para um encon¬tro dramático e aterrorizante com o rei Acabe e os profetas de Baal. O que Elias acabara de pedir a Deus pelo filho da viúva era de menor importância quando comparado com o que ele estava prestes a pedir que Deus fizesse no monte Carmelo.

Princípio 1 Deus nos prepara para os grandes desafios da vida ao nos dar oportunidades de encarar e vencer os peque¬nos desafios.
Alguma vez você já pensou a respeito deste princípio? Já vi Deus fazer isso em minha própria vida em muitas ocasiões. Claro, você deve procurar entender o que está acontecendo ou então poderá não entender o que Deus está fazendo em sua vida.

Em alguns aspectos, essa é uma idéia assustadora - pelo me¬nos para mim. Olhando para trás hoje, consigo lembrar de algu¬mas crises dolorosas e bastante difíceis que considerei serem testes de fé para mim. Francamente, do ponto de vista humano, posso dizer que não quero nenhum desafio maior! Mas a boa notícia é que Deus está confiando sua obra a nós e ele não quer que falhe¬mos. O Senhor deseja aumentar a nossa fé para que, quando esti¬vermos preparados da maneira adequada, os grandes desafios pareçam menores ainda.

Princípio 2 É em meio a situações que estão além do nosso con¬trole que realmente aprendemos a orar.
Como isso é verdadeiro na experiência de Elias! E como é verdadeiro em nossas próprias vidas!

Em alguns aspectos, é lamentável que precisemos estar sempre em uma situação delicada para podermos usar o privilégio da oração de maneira séria. Parece que isso sempre foi verdade na história do povo de Deus. Felizmente, o Senhor entende as nossas tendências humanas. Seus ouvidos nunca estão surdos. Mesmo que o resultado nem sempre seja o que escolheríamos, Deus nos dá a melhor respos¬ta para o problema.

Nunca hesite em orar quando você estiver encarando um pro¬blema sério - ainda que talvez você negligencie esse importante exer¬cício espiritual quando as coisas parecem estar indo bem. É natural que oremos de maneira mais fervorosa durante situações difíceis.

Princípio 3 Deus entende nossas ansiedades, nossos medos, nossas decepções e nossas desilusões.
Algumas pessoas vêem Deus como um pai irado, que está pronto a bater nelas quando elas compartilham o que realmente estão sentin¬do. Isso não é verdade! Se fosse, Deus iria agir antes que já dissemos, pois ele já sabe o que pensamos e como nos sentimos antes que pos¬samos expressar esses pensamentos e sentimentos. Por isso, creio que é bem melhor para nós que os compartilhemos com o Senhor. Nunca deveríamos ter medo de expressar esses pensamentos e sentimentos a ele em oração.

Por outro lado, devemos sempre lembrar que estamos falando com Deus. Ele não pode ser manipulado! Em certas ocasiões, entre¬tanto, ele nos responde de modo especial- sobretudo quando seu nome e sua reputação estão em jogo.

Quando Deus muda de idéia
Pense sobre a ocasião em que Moisés estava no monte Sinai rece¬bendo as leis de Deus. Com uma audácia incomum, os filhos de Israel deram forma a um bezerro de ouro e se prostraram diante dele. Eles até mesmo deram crédito àquele ídolo por tê-los tirado do Egito.

Como era previsível, o Senhor estava muito irritado com seu povo. Ele disse a Moisés que se pusesse à parte para que ele pudesse destruí-los. No entanto, Moisés - que era um pastor fiel - lembrou ao Senhor que, se ele eliminasse Israel "da face da terra", os egípcios diriam que Deus, "com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes e para consumi-los" (Êx 32:12). Moisés estava lembrando a Deus que sua reputação e nome estavam em jogo.

Nunca conseguiremos explicar de que maneira um homem como Moisés - ou qualquer um naquela situação - podia fazer Deus mu¬dar de idéia ao lembrá-lo de sua reputação. Mesmo assim, foi isso o que aconteceu! Lemos que "se arrependeu o SENHOR do mal que dis¬sera havia de fazer ao povo" (v. 14).
Princípio 4 Deus responde de maneira especial às nossas orações quando somos capazes de ir além de nossos interesses próprios e preocupações e nos concentramos nas ne¬cessidades dos outros - especialmente quando se trata de sua reputação.

Quando Elias passou por aquela crise com o filho da viúva, mais uma vez vemos um "homem semelhante a nós" apelando a Deus de acordo com sua preocupação pela reputação do Senhor. Ele certamente também se preocupava com a mulher. Contudo, ele havia sido chamado de "homem de Deus" - uma pessoa que re¬presentava o Senhor do universo. Segundo o ponto de vista de Elias, se ele não tivesse capacidade de trazer o menino de volta à vida, os infiéis iriam questionar a mensagem que o profeta estava proclamando.

A viúva identificou a preocupação de Elias com sua própria resposta quando ela declarou: "Nisto conheço agora que tu és ho¬mem de Deus e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade" (1 Rs 17:24).

Uma pergunta penetrante
Quando você ora pedindo ajuda a Deus, você está mais preocupado consigo mesmo do que com os outros? E o mais importante, sua maior preocupação é com a reputação do Senhor? Se nos concentrar¬mos mais nas necessidades dos outros e no nome do Senhor a quem servimos, é possível que iremos receber mais respostas de oração? Penso que sim!

Não me entenda mal! Deus deseja suprir nossas necessidades pessoais. Paulo deixou isso bem claro quando escreveu aos filipenses e disse: "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela sú¬plica, com ações de graças" (Fp 4:6). O Senhor também esta preo¬cupado com nossas necessidades - sejam elas quais forem.

Mas, mesmo assim, a reputação de Deus deve vir em primeiro lugar, não a nossa! A vontade dele precisa vir em primeiro lugar, não a nossa! Coloque Deus e os outros em primeiro lugar e experimente um novo poder em sua vida de oração!

Lembre-se também de que Deus pode trazer honra para si em todas as situações - não importa qual seja o resultado delas. No caso de Elias, Deus respondeu às suas orações e curou o menino porque aquilo traria maior honra ao seu nome. Mesmo assim, devemos acei¬tar o fato de que existem certas ocasiões em que o Senhor pode trazer mais honra a seu nome, mesmo em meio a uma tragédia humana.

Oração e cura física
O Senhor nunca prometeu que curaria todas as enfermidades físicas - mesmo que oremos com fé. Ele prometeu, contudo, que daria gra¬ça e força em cada situação - mas nem sempre nos livraria da morte.

O apóstolo Paulo ilustra isso com sua própria vida. Apesar de ele muitas vezes ter curado pessoas com o poder de Deus, certa vez o Senhor não respondeu às orações por cura física em sua própria vida. Paulo disse aos coríntios que ele pedira ao Senhor três vezes que o curasse. Suas palavras foram: "pedi ao Senhor que o afastasse de mim". No entanto, Deus respondeu lembrando ao apóstolo que sua graça era suficiente para capacitá-lo a lidar com aquela enfermidade (veja 2 Co 12:8,9).
Falsa culpa
Uma visão equivocada da soberania de Deus no tocante à cura pode levar as pessoas a sentirem-se culpadas de uma maneira imprópria¬ muitas vezes responsabilizando a si mesmas por não ter fé o suficien¬te para serem curadas pela oração. Devemos nos lembrar de que a vontade de Deus é mais importante do que a nossa própria vontade nesses assuntos, e, quando se trata de cura física, o Senhor não reve¬lou sua vontade específica.

Deus escolhe responder às nossas orações por cura quando essa é a sua vontade. Além disso, nossa fé é fundamental quando ele decide não responder a tais orações. Lembre-se também de que, se nós não orarmos, ele pode não responder a oração faz diferença - seja quan¬do Deus responde com a cura ou com a sua graça para nos ajudar a carregar os nossos fardos.

TORNANDO-SE UM HOMEM DE ORAÇÃO
Enquanto revê os princípios a seguir, peça ao Espírito Santo que co¬loque em seu coração uma lição que você precisa aprender a respeito da oração. Depois, estabeleça um alvo específico, por escrito. Por exemplo, você pode estar temeroso em expressar para Deus suas ansi¬edades, seus medos, suas decepções e suas desilusões. Não devería¬mos ter medo de expressar esses pensamentos e sentimentos ao Senhor em oração.
• Deus nos prepara para os grandes desafios da vida ao nos dar oportunidades de encarar e vencer os pequenos desafios.
• É em meio a situações que estão além do nosso controle que realmente aprendemos a orar.
• Deus entende nossas ansiedades, nossos medos, nossas de¬ decepções e nossas desilusões.
• Deus responde de maneira especial às nossas orações quando somos capazes de ir além de nossos interesses próprios e pre¬ocupações e nos concentramos nas necessidades dos outros ¬especialmente quando se trata de sua reputação.

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Dinheiro, Saúde e Sagrado.


Autor: Dr. Waldemar Magaldi Filho (*)

Nos últimos dias estão sendo veiculadas inúmeras matérias a respeito do lançamento de novos medicamentos que podem melhorar o nosso humor. Remédios antidepressivos capazes de nos deixar livres de qualquer tipo de vício além de propiciarem sentimentos de felicidade e paz! É evidente que em nossa sociedade, aonde a dificuldade de sobrevivência cada vez mais brutaliza e estressa o ser humano, notícias como essas são muito bem vindas.De fato, muitas empresas farmacêuticas estão investindo pesadamente neste segmento, que é altamente rentável e atinge mais de 40% da população mundial. Porém, é importante lembrarmos que há exatamente 20 anos o lançamento da fluoxetine (princípio ativo do Prozac) provocou as mesmas reações eufóricas. Mas, infelizmente, apesar do consumo exagerado deste e de outros antidepressivos ou estabilizantes de humor de última geração, os problemas emocionais continuam crescendo e provocando muitos danos tanto relacionais quanto orgânicos.Não podemos “terceirizar” a responsabilidade que devemos ter com a nossa felicidade. A felicidade não pode vir por meio de coisas externas, pois a verdadeira e perene felicidade só pode acontecer na jornada do autoconhecimento e do encontro de sentido e significado existencial. Nem o dinheiro pode ser instrumento para se atingir a felicidade, pois feliz é quem gosta de viver e tem fé na própria vida, independente dos percalços tristes que possam atingi-lo.O medicamento pode ser um instrumento momentâneo para quem está sofrendo e não está conseguindo se libertar dos pensamentos e emoções destrutivas. Hoje nós sabemos que existe uma estreita relação entre a emoção e a bioquímica corporal e, neste caso, a medicação pode, de fora para dentro, tentar restabelecer o equilíbrio. Porém, se não houver uma mudança no padrão de crenças e de pensamentos, o organismo vai criando resistência ao remédio e todos os sintomas reaparecem. Nesse momento é que os novos produtos, que obviamente são mais caros, substituirão os antigos e a cura, infelizmente, fica de lado. Nesse sentido que publiquei o livro: “Dinheiro, saúde e Sagrado”, com o intuito de promover a reflexão sobre essas situações contemporâneas que abrangem tanto a medicina quanto as religiões, facilitando o autoconhecimento e o alcance da cura que é muito mais abrangente do que a supressão dos sintomas.

(*) WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com) é psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. É mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”. Por ter atuado tanto no meio corporativo de empresas multinacionais quanto no comércio varejista, tem uma vasta experiência nas demandas do mercado econômico. Atualmente, atende clientes em seu consultório, apresenta palestras em empresas, coordena e ministra aulas nos cursos de especialização em Psicologia Junguiana; Psicossomática; Dependências, Abusos e Compulsões; e Gestão Organizacional nas abordagens Junguiana e Integral da FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.Fonte: http://www.joacir.com/

Parte 1 e parte 2 da entrevista do Prof. Dr. Waldemar Magaldi sobre o seu livro: "DINHEIRO, SAÚDE E SAGRADO", para a apresentadora Marisa Monfort da Rede Vida

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DINHEIRO, SAÚDE E SAGRADO - WALDEMAR MAGALDI parte 1


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Dinheiro, Saúde e Sagrado.


Autor: Dr. Waldemar Magaldi Filho (*)

Nos últimos dias estão sendo veiculadas inúmeras matérias a respeito do lançamento de novos medicamentos que podem melhorar o nosso humor. Remédios antidepressivos capazes de nos deixar livres de qualquer tipo de vício além de propiciarem sentimentos de felicidade e paz! É evidente que em nossa sociedade, aonde a dificuldade de sobrevivência cada vez mais brutaliza e estressa o ser humano, notícias como essas são muito bem vindas.De fato, muitas empresas farmacêuticas estão investindo pesadamente neste segmento, que é altamente rentável e atinge mais de 40% da população mundial. Porém, é importante lembrarmos que há exatamente 20 anos o lançamento da fluoxetine (princípio ativo do Prozac) provocou as mesmas reações eufóricas. Mas, infelizmente, apesar do consumo exagerado deste e de outros antidepressivos ou estabilizantes de humor de última geração, os problemas emocionais continuam crescendo e provocando muitos danos tanto relacionais quanto orgânicos.Não podemos “terceirizar” a responsabilidade que devemos ter com a nossa felicidade. A felicidade não pode vir por meio de coisas externas, pois a verdadeira e perene felicidade só pode acontecer na jornada do autoconhecimento e do encontro de sentido e significado existencial. Nem o dinheiro pode ser instrumento para se atingir a felicidade, pois feliz é quem gosta de viver e tem fé na própria vida, independente dos percalços tristes que possam atingi-lo.O medicamento pode ser um instrumento momentâneo para quem está sofrendo e não está conseguindo se libertar dos pensamentos e emoções destrutivas. Hoje nós sabemos que existe uma estreita relação entre a emoção e a bioquímica corporal e, neste caso, a medicação pode, de fora para dentro, tentar restabelecer o equilíbrio. Porém, se não houver uma mudança no padrão de crenças e de pensamentos, o organismo vai criando resistência ao remédio e todos os sintomas reaparecem. Nesse momento é que os novos produtos, que obviamente são mais caros, substituirão os antigos e a cura, infelizmente, fica de lado. Nesse sentido que publiquei o livro: “Dinheiro, saúde e Sagrado”, com o intuito de promover a reflexão sobre essas situações contemporâneas que abrangem tanto a medicina quanto as religiões, facilitando o autoconhecimento e o alcance da cura que é muito mais abrangente do que a supressão dos sintomas.

(*) WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com) é psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. É mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”. Por ter atuado tanto no meio corporativo de empresas multinacionais quanto no comércio varejista, tem uma vasta experiência nas demandas do mercado econômico. Atualmente, atende clientes em seu consultório, apresenta palestras em empresas, coordena e ministra aulas nos cursos de especialização em Psicologia Junguiana; Psicossomática; Dependências, Abusos e Compulsões; e Gestão Organizacional nas abordagens Junguiana e Integral da FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.Fonte: http://www.joacir.com/

Parte 1 e parte 2 da entrevista do Prof. Dr. Waldemar Magaldi sobre o seu livro: "DINHEIRO, SAÚDE E SAGRADO", para a apresentadora Marisa Monfort da Rede Vida

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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Alfabetização científica e formação profissional


Educação & Sociedade

Print ISSN 0101-7330

Educ. Soc. vol.18 no.60 Campinas Dec. 1997

doi: 10.1590/S0101-73301997000300006

Alfabetização científica e formação profissional

Gilberto Lacerda*

RESUMO: Este artigo aborda a questão da "alfabetização científica" no contexto do ensino profissionalizante. Inicialmente, nós apresentamos algumas previsões quanto ao contorno da sociedade tecnológica emergente, colocando em evidência as repercussões sobre o mundo do trabalho. Em seguida, nós abordamos o conceito de alfabetização científica e o situamos no campo da formação para o trabalho, tendo em vista principalmente uma caracterização do saber do técnico de nível médio. Este saber, de natureza eminentemente funcional, encontra na dinâmica do processo de alfabetização científica uma via de valorização pessoal e social da formação profissional. Nós concluímos com uma reflexão geral sobre o tema tratado. Palavras-chave: Ciência, tecnologia, profissionalização, educação, qualificação

Introdução

Neste artigo, nós abordamos o conceito de alfabetização científica, associando-o ao processo de aquisição de estruturas conceituais que explicitam princípios científicos de base subjacentes aos conteúdos de natureza técnica. Em nosso percurso, nós tomamos como ponto de partida uma caracterização geral da sociedade tecnológica emergente, a fim de explicitar a importância da alfabetização científica na formação do cidadão requerido por esta nova sociedade que toma forma progressivamente. Em seguida, na medida em que nos referimos à complexidade da alfabetização científica no campo da formação técnica, nós buscamos caracterizar o saber do indivíduo que opta por esta via de profissionalização, ressaltando sua natureza eminentemente funcional, no sentido mais amplo do termo. O conceito de alfabetização científica, no campo da formação profissional, é então associado ao conceito de saber funcional, tendo em vista que o saber do técnico é prioritariamente voltado para a resolução de problemas concretos e para a intervenção profissional enquanto detentor de saberes úteis, significativos e pertinentes.

Este texto constitui parte do quadro teórico de um projeto de pesquisa cujos objetivos giram em torno da questão da alfabetização científica dos jovens que escolhem a via do ensino profissionalizante. Tal projeto de pesquisa, financiado com recursos do Conselho Nacional de Pesquisas, situa-se então em um contexto mais amplo de identificação de representações detidas por professores e alunos de cursos de formação técnica acerca do perfil que profissionais de nível médio devem ter para garantir seu acesso pleno e irrestrito à sociedade tecnológica emergente.

Sociedade tecnológica e cidadania: A nova face de um velho problema

Não é nenhum segredo de Pandora: a sociedade está mudando. E tal mudança ocorre de maneira inédita, a uma velocidade sem precedentes na história e rumo a um futuro cujos contornos são inimagináveis. Fala-se cada vez mais no advento de uma sociedade eminentemente tecnológica, na qual as aplicações práticas do trabalho científico estarão mais rapidamente disponíveis e inseridas no cotidiano imediato dos cidadãos. Tal sociedade será intrinsecamente relacionada com o advento das novas tecnologias, tendo sua dinâmica de funcionamento baseada principalmente em noções tais como «globalização», «polivalência», «eficiência», «autonomia», «descentralização». Já na década de 1970, Alvin Toffler anunciava que uma nova sociedade estava tomando forma, baseada no emprego crescente da tecnologia, na globalização da economia, na abolição de fronteiras, na universalização da comunicação, na adoção de novos métodos de trabalho etc. Segundo Toffler (1980), a sociedade tecnológica emergente, que ele chama de «a terceira onda», seria caracterizada por um novo modo de vida altamente tecnológico e antiindustrial, pelo uso de fontes de energia diversificadas e renováveis, pela obsolescência de linhas de montagem, pelo advento de uma nova ética e pela abolição da padronização, da especialização, da sincronização, da concentração, da maximização e da centralização. Segundo esse autor, nós estaríamos atualmente vivendo momentos de crise em que três vertentes da evolução da humanidade dividem o mesmo espaço: uma vertente eminentemente agrícola, a chamada «primeira onda», que, praticamente extinta, persiste apenas em países fadados à obsolescência e à eterna dependência tecnológica e científica; uma vertente eminentemente industrial, a «segunda onda», em pleno processo de agonia e esgotamento, e uma vertente tecnológica, a «terceira onda», que traz consigo uma premissa revolucionária avassaladora, impondo-se em um curto espaço de tempo como hegemônica. E, sempre segundo Toffler, a grande evidência desta revolução tecnológica pode ser observada no fato de que todas as nações de alta tecnologia oscilam sob a colisão entre a terceira onda e as obsoletas economias e instituições da segunda.

Empregando tal metáfora, a da colisão de ondas de desenvolvimento tecnológico, Toffler tentou assim delinear um fio condutor para a chamada aventura humana e mostrou que a passagem de um momento a outro, de um paradigma a outro ou de uma onda a outra sempre foi marcada por uma dimensão revolucionária, plena de conflitos e de tensões, em que os paradigmas ou as ideologias, caracterizando cada momento, foram inicialmente inconciliáveis, em seguida complementares e, enfim, opostos. Segundo tal ótica, nós estamos vivendo um momento crucial da revolução que nos levará a uma sociedade tecnológica na qual a ciência e suas aplicações, nas mais diversas formas, estarão presentes em nosso cotidiano, em nossa cultura, em nosso consciente e em nosso inconsciente. Com relação a este momento, Toffler anuncia que as mudanças súbitas que estamos vivendo não são fortuitas, nem ocasionais, nem caóticas. Elas formam um padrão vivo e claramente discernível. Tais transformações são cumulativas e contribuem para uma grande transformação na maneira como vivemos, trabalhamos, brincamos e pensamos. Estamos, de fato, num período de revolução global, o maior já registrado na história. Conseqüentemente, e tendo em vista que há sempre uma ideologia dominante, isto é, uma superideologia que caracteriza cada onda ou cada momento da evolução tecnológica da humanidade, nós estaríamos em pleno processo de criação e desenvolvimento da superideologia necessária para explicar a realidade e para justificar a existência da sociedade tecnológica. Como esta superideologia se organizará e ocupará espaço no inconsciente coletivo? Quanto tempo será necessário para que seja implantada uma nova sociedade altamente tecnológica e antiindustrial? São perguntas ainda sem respostas, o que não impede a Toffler de concluir que a história humana está apenas começando e que o ser humano tem certamente muito a ganhar com a abolição da padronização, da especialização, da sincronização, da concentração, da maximização e da centralização, palavras-chave da revolução industrial. Em outros termos, a revolução tecnológica seria uma espécie de ponto de partida para uma nova sociedade, supostamente melhor e mais democrática, menos excludente e mais igualitária.

O historiador Eric Hobsbawm, segundo uma ótica distinta, observa que o século XX se acaba numa desordem global cuja natureza não estava clara, e sem um mecanismo óbvio para acabar com ela ou mantê-la sob controle. Segundo ele (Hobsbawm 1995), os novos e sucessivos avanços tecnológicos foram se traduzindo, em espaços de tempo cada vez menores, em tecnologias que não exigem qualquer compreensão por parte dos usuários finais. Desta maneira, a distância entre as descobertas científicas e seu impacto na sociedade é cada vez menor e o desenvolvimento científico alcança patamares inimagináveis há algumas décadas. A emergência de uma sociedade tecnológica pode também, segundo interpretação das afirmativas de Hobsbawm, ser avaliada sob a ótica do desenvolvimento científico. As «mudanças» podem ser medidas pelo número de cientistas no mundo. Em 1910 havia 8 mil cientistas no mundo (principalmente na Europa). Em 1980 este número havia sido elevado para 5 milhões, geograficamente distribuídos em todo o planeta. No entanto, a inserção da tecnologia na sociedade não aproxima necessariamente os cidadãos do conhecimento que gera tal tecnologia. Hobsbawm observa então que a distância entre os seres humanos e o conhecimento científico e tecnológico é cada vez maior. Ele observa também que as instituições coletivas humanas perdem o controle das conseqüências coletivas da ação humana, o que pode ser percebido pelo surgimento de problemas incontornáveis, centrais e, a longo prazo, decisivos, ligados à demografia, à ecologia, à imigração, à sustentabilidade do planeta, ao emprego, ao racismo e ao nacionalismo.

Outro observador destes tempos de revolução paradigmática, como diria talvez Thomas Khun, é o sociólogo francês Alain Touraine. Para ele (Touraine 1995), estamos vivendo tempos de surgimento de uma cultura caleidoscópica, baseada nas proezas técnicas rapidamente ultrapassadas, no fim da cultura no sentido da globalização de todas as culturas. Conseqüentemente, a nova sociedade teria como base o fim do indivíduo, como ator cultural, como portador de uma identidade cultural. Todos falarão a mesma linguagem, todos se compreenderão, todos terão as mesmas aspirações e os mesmos anseios, determinados pelo funcionamento do mercado, pela interação constante com meios tecnológicos, pela luta para fazer parte dos que estão na frente e não mais para fazer parte dos que estão no alto. Neste sentido, Touraine defende a tese de que o século XXI será o século das nações como o século XIX foi o das classes: a luta de classes (mais vertical) cederá lugar à luta de posições (mais horizontal) e as esquerdas passarão a defender os excluídos tecnologicamente, os que estão atrás, abandonando gradativamente os que estão «embaixo», tornando-se sensíveis à desigualdade norte-sul, às ameaças que pesam sobre o planeta e à exclusão de numerosas categorias sociais e culturais. O capital se deslocará do campo dos que são passivamente beneficiados pelo trabalho para o campo dos que, de maneira estrategicamente vanguardista, trabalham. Em outras palavras, a «classe ociosa» à qual se refere Saviani (1994), que não precisa trabalhar para viver e explora o trabalho alheio, tende a desaparecer na sociedade que toma forma. Touraine observa também que o consumo de massa e a comunicação de massa abrem espaço para um sociedade pós-industrial, hiperindustrial ou neo-industrial, na qual as empresas substituem o conceito de gerência pelo conceito de estratégia e lutam nos mercados internacionais para transformar tecnologias novas em processos de produção e para se adaptar a um meio ambiente de mudanças constantes e pouco previsíveis. Nesta nova sociedade, a social-democracia, que dirige a sociedade de classes, será substituída pelo neoliberalismo. Touraine é igualmente consciente de que uma nova ideologia é requerida por parte da sociedade tecnológica emergente, pois o pós-modernismo é incompatível com a essência do pensamento social que nós herdamos dos dois séculos que precederam o nosso. Neste sentido, Touraine prevê um processo árduo de mudança e de adaptação à nova sociedade emergente.

Outros aspectos, igualmente cruciais, precisam também ser assinalados. Um deles diz respeito às transformações eminentes sobre o mundo do trabalho que reforçam o modelo de funcionamento do capitalismo, acentuando desigualdades, instaurando um novo modo de acumulação de capital, reforçando discriminações de classe, gerando altas taxas de desemprego e de subemprego. O fordismo dá lugar ao toyotismo e à acumulação flexível, e estabelece um processo aparentemente irreversível de heterogeneização, fragmentação e complexificação do mundo do trabalho. E não há nenhum sinal de que tal processo constitui um avanço no sentido da superação da exploração e da alienação do trabalho. Pelo contrário, Apple (1995) tenta mostrar que os sinais indicam exatamente o contrário. Contrapondo-se à tese da especialização máxima, ele argumenta que a exigência de qualificação, na sociedade tecnológica, tende a diminuir, pois, à medida que a tecnologia se sofistica e se vulgariza, os conhecimentos exigidos para sua utilização declinam. Segundo esse autor, a tecnologia não existe para facilitar os processos industriais, mas sobretudo e unicamente para eliminar postos de trabalho nestes tempos de crise do capital.

Para Apple, o futuro terá realmente menos empregados, e isto é inevitável. No entanto, boa parte dos empregos existentes serão enfadonhos, exigirão pouquíssima qualificação, não serão causadores de satisfação, nem serão bem pagos. As diferenças de classe, de raça e de gênero tenderão a aumentar com o avanço da tecnologia. Não há nenhum indício de que a sociedade tecnológica emergente será mais justa, mais prazerosa, mais democrática, mais igualitária. Em outros termos, o avanço tecnológico e suas implicações sobre o modo de funcionamento do mercado estariam conduzindo a sociedade a uma intensificação da exploração do trabalhador, favorecendo a proliferação do trabalho terceirizado, parcial e precário, sem direitos e sub-remunerado, fortalecendo o mercado dual de trabalho (Damiani 1996).

Mas, quaisquer que sejam as previsões com relação à emergência de uma sociedade eminentemente tecnologizada, um aspecto fundamental para sua instauração e manutenção é o cidadão, seu espaço, seu saber, seu poder de participação e de reivindicação. Então, algumas questões fundamentais tomam forma: Que tipo de cidadão requer a sociedade tecnológica emergente? Que tipo de indivíduo poderá exercer plenamente sua cidadania em uma sociedade baseada no largo emprego de aparatos tecnológicos, na convivência imediata com resultados de pesquisa científica, na globalização da informação? Que saber precisaremos deter para participarmos adequadamente de processos político-partidários baseados no usufruto dos avanços científicos e em investimento em ciência e tecnologia? Quais as dimensões caracterizando a cidadania em uma sociedade caleidoscópica, onde os indivíduos são constantemente instigados a ser criativos, autônomos, independentes, polivalentes, omniscientes?

Diversos trabalhos, que fornecem subsídios para a caracterização do cidadão que a sociedade tecnológica do futuro requer, poderiam aqui ser citados. Por exemplo, Dal Pian (1993) indica que os cidadãos desta nova sociedade precisarão estar a par dos princípios básicos subjacentes ao funcionamento das coisas, para raciocinar em consonância com o desenvolvimento científico e tecnológico. Krasilchik (1985, 1986, 1988a, 1988b, 1991, 1992) aponta para a necessidade cada vez maior de uma nova cidadania através da qual os indivíduos poderão melhor compreender e interferir no nível da intersecção entre ciência, tecnologia e sociedade. Apple (op. cit.), advertindo-nos para o fato de que a tecnologia não pode ser vista como um processo autônomo, independente das intenções sociais, do poder e do privilégio, advoga uma necessária «alfabetização social» que permitirá às pessoas uma compreensão séria do impacto da ciência e da tecnologia e dos seus efeitos sociais mais amplos. Identificamos reivindicações semelhantes nos trabalhos de Santos (1994), Girot, (1991), Pinard (1992), Zen (1992), Witkowski (1995), Testard-Vaillant (1993), Giordan e Martinand (1985). Todos esses autores e pesquisadores, abordando aspectos diferentes de uma mesma temática, delimitada pela crescente e irreversível intrusão tecnológica em todos os setores da sociedade, apontam para um caminho inevitável quando se trata de dotar o cidadão de conhecimentos de base indispensáveis a uma percepção adequada desta intrusão tecnológica, de seus impactos, causas, conseqüências e repercussões: a detenção de uma alfabetização científica de qualidade.

O conceito de alfabetização científica

«Alfabetização científica» é um conceito amplo que, segundo Dal Pian (op. cit.), corresponde à aquisição de uma série de conhecimentos gerais relacionados à natureza, aos resultados e à relevância do empreendimento científico. Neste sentido, a autora menciona que são recomendados, para ser incluídos nos currículos, temas tais como vida, matéria, energia e movimento, estrutura e evolução do universo, representações e modelos matemáticos, formas de raciocínio, mudanças sociais, conflitos, formas políticas e econômicas da organização, probabilidade, análises quantitativa e qualitativa etc. Fourez (1994) associa tal conceito ao desenvolvimento do que ele chama de «unidades de racionalidade», constituídas por um conjunto de conhecimentos de base em ciência e tecnologia. Tais conhecimentos de base instrumentariam os indivíduos com conceitos e princípios científicos fundamentais para uma participação ativa na sociedade, tanto em nível da compreensão de fenômenos e procedimentos, quanto em nível da facilitação do processo de aquisição de novos conhecimentos. A própria finalidade do ensino de ciências estaria, segundo o autor, estreitamente ligada ao desenvolvimento de tais unidades de racionalidade, o que o aproxima do ponto de vista de Krasilchik (1986).

O conceito de alfabetização científica apresenta ligações intrínsecas com o de alfabetização tecnológica, definido por Reis (1995) como sendo o desenvolvimento da capacidade de utilização, de maneira inteligente e crítica, de meios tecnológicos e de uma postura crítica com relação à própria tecnologia.

Nesta ordem de idéias, nós nos inserimos nesta vertente que reconhece o papel estratégico e crucial de um conhecimento de base em ciência e tecnologia na formação do cidadão da sociedade emergente. Neste sentido, nós definimos a alfabetização científica como sendo a apreensão dos princípios científicos de base, essenciais para que o indivíduo possa compreender, interpretar e interferir adequadamente em discussões, processos e situações de natureza técnico-científica ou relacionados ao uso da ciência e da tecnologia. Trata-se da instrumentação do indivíduo com conhecimentos científicos válidos e significativos tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista individual, sem os quais o próprio exercício da cidadania ficaria comprometido na medida em que ele depende, entre outros aspectos, da intervenção profissional e da auto-satisfação do indivíduo como detentor de conhecimentos técnicos que lhe são pertinentes. Mas, de que maneira pode-se falar de alfabetização científica no contexto da formação para o trabalho? É o tema que abordamos a seguir.

A alfabetização científica e a formação para o trabalho

Estando inseridos nesta mesma ótica que se articula em torno do papel imprescindível do conhecimento de base em ciência e tecnologia na sociedade tecnológica emergente, nós temos privilegiado, em alguns trabalhos anteriores (Lacerda 1995a, 1995b, 1996), uma abordagem na qual o conceito de alfabetização científica, além de compreender os aspectos gerais antes apresentados, é ancorado sobre a detenção de um saber específico e eminentemente funcional, centrado na compreensão crítica e nas aplicações práticas do conhecimento científico e na resolução de problemas relacionados com as aplicações da ciência e com o uso de recursos tecnológicos. Em outras palavras, nossa reivindicação pela alfabetização científica situa-se no campo específico da formação profissional, na qual a compreensão e a resolução de problemas técnicos constituem a causa e a razão do investimento pessoal dos indivíduos que escolhem esta via de escolarização (Gagnon 1992; Lacerda 1995c).

Ora, sabe-se que o ensino profissionalizante é historicamente percebido como uma opção de segunda ordem, destinada à classe trabalhadora e exigindo prioritariamente o trabalho manual em detrimento de uma intervenção intelectual, também tradicionalmente reservada às elites (Kessler 1993; Franco 1994; Gonciar 1990; Gagnon 1990; Kervin 1988; Lacerda 1995c). No Brasil, esse nível de ensino reflete essa dimensão histórica e, como destaca Franco (op. cit.), aparece dicotomizado e segmentado entre a enfatização de seu caráter terminal, voltado para a profissionalização e centrado na aquisição de habilidades de natureza técnica, e de seu caráter intermediário, voltado para o acesso aos estudos superiores e centrado na aquisição de conhecimentos gerais.

Evidentemente, toda a formação escolar do indivíduo está intrinsecamente relacionada com sua capacitação para o trabalho. No entanto, o mercado de trabalho, qualquer que seja seu contorno e sua dinâmica interna, não pode ser considerado como a baliza mestra norteadora do modo de funcionamento da escola profissional, distanciando sua clientela de uma formação integral, ampla e que ultrapasse os limites e as necessidades imediatas do exercício de uma profissão.

[Admitir] uma relação linear entre escola e trabalho (...) seria limitar o papel da escola concebendo-a apenas como uma agência de adestramento em que o domínio de técnicas ganharia primazia sobre as atividades voltadas para a formação integral do aluno. (...) Isso, por outro lado, não implica fazer o raciocínio inverso e eximir a educação de qualquer responsabilidade pela formação profissional. Mais do que isso acreditamos ser a escola uma das oportunidades para capacitar o aluno a compreender o trabalho como categoria social - e histórica, desde que existe [na] escola a preocupação de levá-lo a entender as formas diferenciadas de vivenciar as relações de produção e as desigualdades delas decorrentes. (Franco, op. cit., pp. 20-21)

Entretanto, a formação para o trabalho vem sendo sistematicamente esquivada da aquisição de conceitos e de princípios científicos de base, tendo em vista que, como demonstra Kessler (op. cit.), crê-se que os jovens que a ela se destinam não se interessam e não necessitam deste tipo de conhecimento em sua futura intervenção no mercado de trabalho. Desta maneira, os futuros técnicos são distanciados de uma formação mais integral, centrada no desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da polivalência, permitindo-lhes, entre outros aspectos, elaborar uma compreensão do significado social do trabalho. Neste sentido, Franco (op. cit.) nos permite estabelecer uma relação direta entre a formação para o trabalho e a alfabetização científica, quando menciona que: "A compreensão do significado social do trabalho concentra uma das muitas possibilidades, para o aluno, de auto-identificar-se como sujeito histórico e, conseqüentemente, capacitar-se a rever suas condições reais de subsistência, questioná-las e pensar em agir no sentido de transformá-las"(p. 21).

Igualmente, os alunos são sistematicamente esquivados do desenvolvimento de habilidades necessárias à compreensão, à intervenção e à tomada de decisões voltadas para questões científicas e tecnológicas, nos termos discutidos anteriormente.

Os autores citados alertam também que a manutenção desta dicotomia entre o aprendizado de técnicas profissionais e a alfabetização científica contraria os próprios princípios do desenvolvimento tecnológico e as próprias demandas atuais do mercado de trabalho e da sociedade como um todo quanto à capacitação do pessoal de nível técnico. De fato, inúmeros trabalhos têm sido dedicados a explicitar o arsenal de competências e de habilidades demandado pela sociedade emergente com relação ao saber do trabalhador. Espera-se que este último possa não somente exceder-se no desempenho de tarefas técnicas específicas, mas também que ele possa demonstrar competências e habilidades gerais, como as descritas acima. Em outros termos, a alfabetização científica no âmbito do ensino profissionalizante, além de direito inalienável dos futuros técnicos, torna-se requisito básico para que eles possam participar ativamente da sociedade tecnológica emergente como cidadãos no sentido mais amplo do termo.

Nesta perspectiva, novas questões são formuladas: Que mecanismos podem proporcionar uma alfabetização científica adequada da clientela dos programas de formação profissional? Como assegurar a formação para a cidadania, em uma sociedade tecnológica emergente e segundo a ótica da alfabetização científica, dos futuros técnicos de nível médio? De que modo pode-se favorecer a eliminação da fronteira entre a ciência e a técnica no contexto da formação para o trabalho? Como viabilizar e facilitar o acesso do técnico de nível a um conhecimento científico e tecnológico de base?

A identificação de elementos de resposta a estas questões não é uma tarefa simples e um grande número de pesquisadores dedica-se a tal problemática, em diversos países e contextos. Nossos trabalhos no Grupo de Pesquisas em Didática das Ciências Aplicadas à Formação Profissional, na Universidade Laval (Quebec, Canadá), levaram-nos a abordar a temática da alfabetização científica em programas de formação profissional sob a perspectiva do desenvolvimento de um saber técnico-científico funcional, no sentido mais amplo do termo. Abordemos a seguir o conceito de saber funcional e suas relações com a questão da alfabetização científica.

Saber funcional e alfabetização científica

Entre os diferentes objetivos que podem ser associados ao ensino técnico, seis estão em primeiro plano:

1. Desenvolver habilidades e conhecimentos de resolução de problemas;

2. Desenvolver habilidades e conhecimentos relacionados à concepção e à criação;

3. Fornecer uma alfabetização social, cultural, científica e tecnológica de qualidade;

4. Favorecer a compreensão da profissão através do desenvolvimento de uma reflexão aprofundada sobre a área de formação, sua extensão, seus limites e objetivos;

5. Favorecer o domínio, através de um conhecimento adequado, dos objetos técnicos e tecnológicos;

6. Instrumentar o aluno para enfrentar a evolução da área de formação quanto ao avanço científico e tecnológico.

A partir de tais objetivos, pode-se concluir que o ensino técnico deveria ser necessariamente associado a um processo de comunicação e de aquisição de saberes eminentemente funcionais, fundamentando a intervenção efetiva, criativa e autônoma do futuro profissional no mundo dos objetos técnicos e instrumentando-o para a compreensão de sua evolução e para se adequar em conseqüência. O conceito de saber funcional relaciona-se assim com três aspectos distintos e estreitamente ligados. O primeiro aspecto, mais corrente, nos conduz à questão da reutilização dos saberes em situações novas e inéditas. O segundo aspecto, menos abordado, nos conduz aos objetivos e às finalidades dos saberes técnicos, enquanto instrumentos de intervenção sobre o mundo real. O terceiro aspecto, oriundo de nossos trabalhos, nos conduz à aquisição dos conceitos e princípios científicos subjacentes à resolução de problemas de ordem técnica.

Os pesquisadores que privilegiam o primeiro aspecto referem-se aos saberes funcionais em termos das possibilidades concretas de transferência desses saberes em situações diferentes, distanciadas daquelas onde eles foram adquiridos. Nesse caso, a detenção de saberes funcionais favorece o desenvolvimento da criatividade e da criticidade. Com relação ao segundo aspecto, diversas pesquisas levam-nos a associar o conceito de saber funcional a duas dimensões intrinsecamente interligadas: a validade e a pertinência do saber, tanto no plano individual quando no plano social. Nesse caso, a detenção de saberes funcionais contribui para o desenvolvimento da autonomia e para a responsabilização do indivíduo quanto a suas opções profissionais e pessoais. O terceiro aspecto permite-nos estabelecer uma relação direta entre o saber funcional e a alfabetização científica, na medida em que a aquisição e a compreensão de conceitos e princípios científicos de base são comuns a ambos. Nesse caso, o indivíduo detentor de saberes funcionais instrumenta-se para se tornar polivalente e para se auto-satisfazer na manipulação dos saberes efetivamente adquiridos.

Essas três dimensões constituem assim, segundo nosso ponto de vista, fatores-chave para uma formação profissional engajada na evolução da sociedade, da tecnologia e do mercado de trabalho, assim como no desenvolvimento integral do indivíduo. Elas colocam em evidência, junto ao detentor de saberes técnicos, eminentemente funcionais, a significância real de tais saberes, sua veracidade, objetividade, utilidade, transferibilidade e natureza eminentemente científica.

Conclui-se então que a alfabetização científica no contexto da formação profissional deveria ser estreitamente associada a um processo de explicitação da plausibilidade dos conhecimentos científicos implícitos aos conhecimentos técnicos e da funcionalidade da base científica dos saberes adquiridos. Desse modo, o enunciado científico terá garantida sua validade fora do laboratório e da sala de aula, em outros contextos que não o do manual escolar ou do discurso do professor.

Outros aspectos reforçam a conveniência da adoção de uma perspectiva funcionalista para favorecer a alfabetização científica no contexto da formação profissional. Por exemplo, refiramo-nos à epistemologia que caracteriza um indivíduo tendo escolhido a via da formação técnica. Tal epistemologia pode ser descrita como o conjunto de relações de validação que o indivíduo estabelece com os saberes e a utilização que ele faz desses saberes. Nesse caso, supõe-se que a epistemologia do indivíduo seja essencialmente formada de conhecimentos relacionados com a resolução de problemas concretos e com sua intervenção efetiva no mundo dos objetos técnicos. Esses são os objetivos sobre os quais se baseiam sua busca de novos conhecimentos e sua evolução como sujeito, cidadão e técnico. Tais aspectos constituem a pedra angular de sua visão do mundo, que tem um papel preponderante na aquisição e na organização de novos saberes. Ora, um técnico «ideal» em uma área qualquer é um indivíduo que conseguiu estabelecer relações entre seu modo de funcionamento e o modo de funcionamento do mundo no qual ele vive, e de fazer dessas relações um mecanismo de melhoria de sua performance como técnico. Desta maneira, seu saber é mais rico, mais elaborado, mais qualitativo e contém essencialmente conhecimentos procedurais, isto é, regras e suas condições de aplicação (Lafontaine, Blondin, Closset e Lejoly 1993).

Como conseqüência, o saber de um técnico conteria essencialmente conhecimentos capazes de informá-lo a respeito de sua intervenção sobre o funcionamento do universo das coisas técnicas. Tal indivíduo deteria também conhecimentos organizados de modo que ele consiga decifrar os problemas que é chamado a resolver, e isto da maneira mais eficaz possível. Trata-se de um saber global no sentido de que ele não é compartimentalizado para ser mais bem compreendido e apreendido. Trata-se de um saber que permite a seu detentor demonstrar autonomia intelectual em seus procedimentos de resolução de problemas e que elimina, em um certo sentido, as fronteiras entre os diferentes tipos de conhecimento. Trata-se de um saber estritamente relacionado com suas finalidades concretas, o que nos leva a crer que a explicitação dos fundamentos implícitos aos procedimentos de natureza técnica, quando revestidos de uma dimensão funcional, favoreceria a satisfação da epistemologia do técnico e a retenção do saber delimitado por tais fundamentos.

À guisa de conclusão

As características que associamos ao conceito de saber funcional, no seu sentido mais amplo, redimensionam o saber do técnico de nível médio e o aproximam dos objetivos da alfabetização científica, tais como foram explicitados anteriormente e que podem ser resumidos em favorecer a emancipação e a liberdade individual, proporcionar auto-satisfação, desenvolver espírito crítico e instrumentar para o exercício da cidadania, quaisquer que sejam os rumos da sociedade atual.

Podemos então concluir que a alfabetização científica em meios de formação profissional só pode ser viabilizada na medida em que o conceito científico implícito ao procedimento técnico seja revestido de uma funcionalidade claramente delimitada, que permita ao aluno-técnico reconhecer na sua apreensão um objetivo concreto, relacionado com sua intervenção profissional e com sua epistemologia. Tal objetivo concreto seria, segundo a perspectiva por nós adotada, relacionado com as próprias características associadas ao saber funcional, permitindo ao técnico de tornar-se detentor de saberes transferíveis, significativos, úteis, multidisciplinares, favorecendo o desenvolvimento da criatividade, a compreensão e a apreensão da sociedade na qual ele está inserido.

Mas, quaisquer que sejam os avanços desta discussão, Maranhão (1993) adverte-nos sobre o fato de que deixar de atribuir a devida importância ao desenvolvimento científico e tecnológico e à sua repercussão em meios escolares, e portanto nos programas de formação profissional, corresponde a situar-se fora da realidade presente e futura e, mais uma vez, a contribuir para a manutenção da dicotomia entre a formação profissional e a formação propedêutica, ampla, emancipatória e formadora de espiríto crítico.

A escola profissional deve então colocar em prática uma didática voltada não apenas para a apreensão de informações, mas também para o desenvolvimento de habilidades e para a aquisição de conhecimentos técnico-científicos necessários para se lidar com realidades complexas, para enfrentar desafios, buscar soluções, questionar-se e refazer seus próprios conhecimentos, ampliando os horizontes de informação e reivindicando uma participação ativa na sociedade. Trata-se de um desafio que tem que estar à frente de toda preocupação com a qualidade da educação técnica e tecnológica durante todo o processo de aprendizagem e de articulação do saber do aluno com um saber de referência que deve instrumentá-lo não somente para postos de trabalho, mas para a vida no sentido mais amplo do termo.

Scientific literacy and professional knowledge

ABSTRACT: This article analyses the concept of "scientific literacy" in the context of technical education. First, we present some previsions about new technological society and its repercussions on work. Then, we characterize "scientific literacy" and identify the relationship between this concept and the characteristics of a middle level professional knowledge. We conclude with a general reflection on personal valorization, technical education and "scientific literacy".

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* Professor visitante do Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará.


Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000300006

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FIRMEZA DE PROPÓSITO.


FIRMEZA DE PROPÓSITO

Luiz Carlos Baldan Gusmão



Uma das maiores causas do insucesso é a falta de atenção.

Uma das maiores causas de sucesso é a firmeza de propósito, sendo a firmeza de propósito uma opulência que tem o dom de superar a instabilidade.

Você já reparou quantas vezes fazemos uma coisa pensando em outra? E você já pensou quantos erros cometemos por não estarmos totalmente concentrados no que estamos fazendo? Como exemplo prático, observe no cantar da Japa-mala (entoar mantras para a meditação pessoal) onde está o nosso pensamento, verifique.

Prestar atenção, concentrar-se, buscar um objetivo, pensar no que está fazendo é um treino. E é um treino que exige muita dedicação e muito esforço. Não acredite na falsa idéia de que “você é assim mesmo” – sem capacidade de concentração – e que não pode mudar. Pratique Yoga para ter uma grande ajuda nesta batalha.

Para começar a se concentrar mais, o primeiro passo é pensar com seriedade no que se está fazendo. Cante bastante Japa-mala para treinar. Ambientes de muita brincadeira, pessoas que falam alto e que se movimentam o tempo todo podem dificultar a concentração. Assim, se você convive num ambiente que dificulta a concentração, tente mudá-lo. Diminua o volume do som, por exemplo. Mude sua mobília de posição ou mesmo s costumes cotidianos, se possível. Lembre-se que o barulho é o grande gerador de cansaço e o cansaço dificulta muito a concentração.

Tenha o hábito de conferir tudo. Isso treinará você a concentrar-se mais no que faz e evitará o retrabalho e a perda de tempo. Anote para não esquecer das coisas a fazer. Tenha o hábito de perguntar várias vezes até compreender bem alguma tarefa. Estude mais, busque conhecimento espiritual e levante para a vida.

Pessoas que cometem pequenos erros o tempo todo ficam com sua mente abalada. A falta de atenção é um dos fatores que mais impede uma pessoa de crescer espiritualmente e materialmente.

Pense nisso: Você tem hábito de cantar Japa-mala? Você tem hábito de buscar conhecimento espiritual? Você tem hábito de reler o que escreve? Você tem hábito de conferir se uma tarefa recebida foi bem compreendida por você antes de executá-la? Você procura um lugar mais silencioso para fazer tarefas que exigem concentração? Você se esforça para não ser uma pessoa dispersiva? Você está tirando o melhor proveito deste momento?

As pessoas com firmeza de propósito na busca do objetivo supremo com a mente estável e destinados a maior perfeição da vida espiritual, que é a renúncia à concepção de vida material, são resolutos.

Bg 2.41 "Aqueles que estão neste caminho são resolutos, e têm apenas um objetivo. Ó amado filho dos Kurus, a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações."

Fonte: http://www.mayapuryoga.com.br/partfirmeza.html

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