sábado, 21 de fevereiro de 2009

Uma caracterização sobre distúrbios de aprendizagem


Uma caracterização sobre distúrbios de aprendizagem

Lourdes P.de Souza Manhani, Regina Célia T.Craveiro, Rita Cássia A.Rodrigues, Rose Inês Marchiori
agosto/2006

Introdução

Nas literaturas sobre aprendizagem, muito se tem discutido sobre distúrbios versos dificuldade de aprendizagem, ficando claro que não são sinônimos.
Sem pretensão de esgotar o assunto, apresentamos uma revisão bibliográfica na visão de diversos autores sobre as terminologias adotadas.
No Brasil, foi ( Lefèvre:1975) que introduziu o termo distúrbio de aprendizagem como sendo:
síndrome que se refere à criança de inteligência próxima à média, média ou superior à média, com problemas de aprendizagem e/ou certos distúrbios do comportamento de grau leve a severo, associados a discretos desvios de funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), que podem ser caracterizados por várias combinações de déficit na percepção, conceituação, linguagem, memória, atenção e na função motora”.
Após esta data, muito se tem discutido e abordado sobre o assunto, visto a importância no contexto da aprendizagem, surgindo diversos trabalhos e outras definições sobre o assunto.
Conforme (Fonseca: 1995) distúrbio de aprendizagem está relacionado a um grupo de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica. Já a dificuldade de aprendizagem é um termo mais global e abrangente com causas relacionadas ao sujeito que aprende, aos conteúdos pedagógicos, ao professor, aos métodos de ensino, ao ambiente físico e social da escola.
Já em (Ciasca e Rossini: 2000) as autoras defendem que a dificuldade de aprendizagem é um déficit específico da atividade acadêmica, enquanto o distúrbio de aprendizagem é uma disfunção intrínseca da criança relacionada aos fatores neurológicos.
Os fatores neurológicos citados pelos autores, significa que essas dificuldades estão relacionadas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas que se referem as disfunções no sistema nervoso central. Não podemos também deixar de considerar que as dificuldades de aprendizagem muitas vezes podem ocorrer concomitantemente com outras situações desfavoráveis, como: alteração sensorial, retardo mental, distúrbio emocional, ou social, ou mesmo influências ambientais de qualquer natureza.
Diante de todo o contexto envolvendo distúrbios de aprendizagem, é necessário que muito se reflita acerca de como podemos contribuir na aprendizagem dessas crianças. Uma conclusão prévia que já nos atrevemos a traçar é de que não é prudente inserirmos todas as crianças com distúrbio de aprendizagem num mesmo grupo. Para melhor distinção entre os distúrbios de aprendizagem, é evidente que devemos tomar como base as manifestações mais evidentes que produzem impacto no desempenho da criança. Há pelo menos dois grupos que se distinguem pelo quadro que apresentam. Enquanto num podemos encontrar crianças com um quadro de deficiência mental, sensorial (visual, auditiva) ou motora, resultem de retardo mental, afecções neurológicas ou sensoriais, de outro lado, ou outro grupo de crianças que apresentam como manifestação os problemas escolares decorrentes de alterações de linguagem cuja inteligência, audição, visão e capacidade motora estão adequadas, sendo, então, o quadro de distúrbio de aprendizagem decorrente de disfunções neuropsicológicas que acometem o processamento da informação, resultando em problemas de percepção, processamento, organização e execução da linguagem oral e escrita.
Uma das questões fundamentais nesse contexto é detectar as manifestações desses distúrbios. A princípio parece-nos óbvio que alguns casos é perfeitamente perceptível, porem é relevante e necessário que saibamos como podem aparecer as manifestações de distúrbio de aprendizagem.
Alguns autores já abordaram o assunto de uma forma que nos fica evidente como os sintomas aparecem ou são manifestados.
Um dos autores que trata esse assunto de uma forma bastante clara é Lerner (1989), que descreveu as manifestações da seguinte forma:

  • Distúrbios da atenção e concentração que retrata os comportamentos das crianças com e sem hiperatividade e impulsividade;
  • Problemas receptivos e de processamento da informação diz respeito à competência lingüística, como as atividades de escrita, distinção de sons e de estímulos visuais, aquisição de léxico, compreensão e expressão verbal;
  • Dificuldades de leitura manifestada pela aquisição das competências básicas relacionadas a fase de decodificação, como sendo a compreensão e interpretação de textos, as dificuldades de escrita e presença de erros ortográficos em gera.
  • Dificuldades na matemática, que se revelam na aquisição da noção de números, no lidar com quantidades e relações espaços-temporais e problemas de aquisição e utilização de estratégias para aprender, manifestados na falta de organização e utilização de funções metacognitivas, comprometendo o sucesso na aprendizagem.

Definições sobre Aprendizagem:
- Aprendizagem é a aquisição de conhecimento ou especialização; faz-nos ignorar todo processo oculto existente no ato de aprender;
- Mudança permanente de comportamento, resultado de exposição a condições do meio ambiente;
- Um processo evolutivo e constante, que implica uma seqüência de modificações observáveis e reais no comportamento do indivíduo, de forma global (físico e biológico), e do meio que o rodeia, onde esse processo se traduz pelo aparecimento de formas realmente novas compromissadas com o comportamento.
Tanto na visão neurológica como em diversas correntes psicológicas, a aprendizagem, apresenta pontos comuns e com significados intrínsecos, que convergem para o fato de que tudo aquilo que se sabe, o homem deve aprendê-lo, porém, é na escola que há um vínculo integrativo da sociedade, cuja principal forma de ação é sobre o indivíduo em seu desenvolvimento global, direta e abrangentemente, visando à maior possibilidade de renovação e liberdade.
O aprendiz é concebido como um manipulador inteligente e flexível que busca a informação e trata de organizá-la, integrá-la, armazená-la e recuperá-la, de forma ativa e ajustada às estruturas cognitivas de que dispõe internamente.
Prestar atenção, compreender, aceitar, reter, transferir e agir são alguns dos componentes principais da aprendizagem. Todavia, se isso não ocorrer, com o aprendiz, implica que há nessa criança um Distúrbio de Aprendizagem.

Mas o que é Distúrbio de Aprendizagem?
Designam-se crianças que apresentam dificuldades de aquisição de matéria teórica, embora apresentem inteligência normal, e não demonstrem desfavorecimento físico, emocional ou social.
Segundo essa definição, as crianças portadoras de distúrbio de aprendizagem não são incapazes de aprender, pois os distúrbios não é uma deficiência irreversível, mas uma forma de imaturidade que requer atenção e métodos de ensino apropriados. Os distúrbios de aprendizagem não devem ser confundidos com deficiência mental.
Considera-se que uma criança tenha distúrbio de aprendizagem quando: a) Não apresenta um desempenho compatível com sua idade quando lhe são fornecidas experiências de aprendizagem apropriadas; b) Apresenta discrepância entre seu desempenho e sua habilidade intelectual em uma ou mais das seguintes áreas; expressão oral e escrita, compreensão de ordens orais, habilidades de leitura e compreensão e cálculo e raciocínio matemático.
Além disso, costuma-se considerar quatro critérios adicionais no diagnóstico de distúrbios de aprendizagem. Para que a criança possa ser incluída neste grupo, ela deverá: a) Apresentar problemas de aprendizagem em uma ou mais áreas; b) Apresentar uma discrepância significativa entre seu potencial e seu desempenho real; c) Apresentar um desempenho irregular, isto é, a criança tem desempenho satisfatório e insatisfatório alternadamente, no mesmo tipo de tarefa; d) O problema de aprendizagem não é devido a deficiências visuais, auditivas, nem a carências ambientais ou culturais, nem problemas emocionais.

Principais distúrbios de aprendizagem:

1- Dislexia
Refere-se à falha no processamento da habilidade da leitura e da escrita durante o desenvolvimento, é um atraso no desenvolvimento ou a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito. São de três tipos: visual, mediada pelo lóbulo occipital fonológica, ediada pelo lóbulo temporal; e mista, com mediação das áreas frontal, occipital, temporal e pré-frontal.

2- Disgrafia
Falha na aquisição da escrita implicando uma inabilidade ou diminuição no desenvolvimento da escrita.

3- Discalculia
Falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e símbolos matemáticos.

Diagnósticos de distúrbios de aprendizagem
O processo de diagnosticar é como levantar hipóteses. Uma boa hipótese ou teoria explica uma grande quantidade de dados observáveis que são originados de diferentes níveis de análise.
O diagnosticador apresenta vantagens importantes que compensam. Uma delas é que ele possui muito mais dados sobre um sujeito do que geralmente um pesquisador tem sobre todo o grupo de sujeitos.
Para diagnosticar deve haver:

  • Sintomas apresentados;
  • O histórico inicial do desenvolvimento;
  • Histórico escolar;
  • O comportamento durante os testes;
  • Os resultados dos testes;

Como diagnosticadores e terapeutas, é importante ter um bom domínio de quais características caem em qual categoria (algumas são típicas da espécie e outras são únicas do indivíduo).
Embora um bom clínico deva estar consciente e fazer uso dos atributos únicos de um paciente, o processo científico na compreensão e no tratamento dos distúrbios mentais dependem de como eles apresentam variação “moderada”, diferenciando características de grupos dentro de nossa espécie. Se assim, não for, o trabalho com saúde mental se reduz apenas a tratar os problemas que cada um enfrenta na vida ou a recriar o campo para cada indivíduo único.
Outra crítica pressupõe um único modelo de causalidade física para todos os distúrbios comportamentais. A maioria dos diagnósticos não fornece uma explicação para todos os aspectos do paciente. Eles permitem tratamento e identificação eficiente, e a pesquisa sobre um dado diagnóstico pode levar a identificação precoce ou a prevenção. Podem contribuir para pesquisa básica em desenvolvimento humano.
Finalmente, o diagnóstico em si pode ser terapêutico para pais e pacientes, porque um diagnóstico acurado fornece uma explicação para os sintomas que perturbam o paciente e um foco para os esforços que os pais e a criança já estão fazendo para aliviar os sintomas.

Diagnóstico diferencial
Os diagnósticos são um emaranhado de situações associadas, que dependem de algumas poucas restrições de peso e de muitas restrições mais leves. Nem todos os pacientes com determinados distúrbios apresentam os sintomas característicos. Ex: Nem sempre um autismo têm estereotipias motoras ou aversão à fixação do olhar, embora sejam sintomas freqüentes do autismo. Estes sintomas oferecem evidências para este diagnóstico, mas sua ausência não viola uma restrição de peso. A tomada de decisão diagnóstica envolve a ponderação da adequação de diferentes diagnósticos competitivos às restrições de peso e às leves, fornecidas pelos dados.
Um outro componente importante no processo de diagnóstico é o reconhecimento de que isto é um processo e de que as decisões diagnósticas não são possíveis até que haja dados suficientes.
Como há poucas restrições de peso em diagnósticos, diagnósticos duplos (ou triplos) são possíveis e mesmo desejáveis. Crianças com distúrbios de aprendizagem têm freqüentemente um segundo diagnóstico psiquiátricos co-morbido, que pode ou não estar etiologicamente separado dos distúrbios de aprendizagem. No modelo o “espaço diagnóstico” é definido por duas dimensões, uma para distúrbios de aprendizagem e a outra para distúrbios psiquiátricos. A finalidade do diagnóstico é encontrar o ponto neste espaço bidimensional que melhor se ajuste ao funcionamento cognitivo e emocional presente do paciente.
Não se supõe que os dois eixos tenham diferentes implicações etiológicas, com os distúrbios de aprendizagem sendo mais orgânico e os distúrbios emocionais mais “ambientais”. Ao contrário, todos os diagnósticos em cada eixo são conceitualizados como resultado do funcionamento alterado do sistema nervoso central (SNC), sendo estas alterações causadas por certa mistura de influências genéticas e ambientais, em que influências ambientais se referem a fatores de riscos tanto neuro-evolutivos, como ferimento na cabeça, quanto à história de aprendizagem social da criança.
Uma parte importante e às vezes negligenciada da avaliação da criança com distúrbios de aprendizagem é o fornecimento de um feedback ou retorno aos pais, a profissionais e à criança que é o paciente.

Aspectos psicopedagógicos
As causas mais freqüentes para as dificuldades de aprendizagem:
1- Escola
Além da instituição escola, estão incluídos nestes item os fatores intra-escolares como inadequação de currículos, de programas, de sistemas de avaliação, de métodos de ensino, e relacionamento professor - aluno. Vale salientar a necessidade de diferenciar com uma especial atenção, as crianças com dificuldades de aprendizagem das crianças com dificuldades escolares. Para elas essas últimas revelam a incompetência da instituição educacional no desempenho de seu papel social e não podem ser consideradas como problemas dos alunos.
É comum vermos professores usando material de ensino desestimulante, desatualizado, totalmente desprovido de significado para muitas crianças, sem levar em consideração suas diferenças individuais. O aluno não se envolve no processo de ensino-aprendizagem e fica mais difícil a assimilação de conhecimentos.
2- Fatores intelectuais ou cognitivos.
3- Déficits físicos e ou sensoriais.
4- Desenvolvimento da linguagem.
5- Fatores afetivos-emocionais.
6- Fatores ambientais (nutrição e saúde).
7- Diferenças culturais e ou sociais.
8- Dislexia.
9- Deficiência não verbais.

Numa criança com DA o desenvolvimento se processa mais lentamente do que em outra criança, especialmente na área da atenção seletiva. Não considere essas crianças defeituosas, deficientes ou permanentemente inaptas. Podem aprender!
Procure uma forma de ensino. Não procure algo que esteja errado na criança. É provável que seu método de ensino e a forma de aprendizagem pela criança estejam em defasagem. Nem a criança nem o professor devem ser responsabilizados por isso, mas o professor pode ser responsável se não tentar algo mais.

Conclusões e considerações finais
Ao nos depararmos com quadros de crianças com distúrbios de aprendizagem, nos surge a preocupação em que nós professores podemos contribuir para que esse aluno, mesmo diante de suas dificuldades possa aprender? A esse questionamento refletimos sobre o papel da escola e a inter-relação com a família.
Consideremos que o papel da escola deveria ser o de desenvolver o potencial de cada um, respeitando as características individuais do aluno e sempre procurando reforçar os pontos fracos e auxiliando na superação dos pontos fracos, evitando dessa forma que as dificuldades que as crianças possuem na sejam motivos para serem excluídas no processo de aprendizagem e muito menos possam ser rotuladas ou discriminadas.
Outro fator que muito colabora no papel da escola, é a família, pois permite a troca de experiência entre pais e professores. É muito importante que haja uma integração entre os ambientes (escola e família) para se compor o quadro de uma forma real e objetiva. Tanto os pais quanto os professores precisam entender que as dificuldades que a criança possua não é culpa de ninguém, e que se tiver um trabalho em conjunto todos serão beneficiados, principalmente a criança.
Temos que ter em mente que não há criança que não aprenda, o que ocorre é que algumas aprendem de modo mais rápido, outras não, mas sem sombras de dúvida, chega-se a conclusão que independentemente da via neurológica utilizada, o sucesso escolar de crianças com distúrbios de aprendizagem possa ser uma associação de fatores que envolvam ambiente adequado + estímulo+ motivação + organismo, possibilitando que o professor na sua árdua tarefa de lidar com as mais diferentes adversidades saiba que antes de tudo, ser necessário saber avaliar, distinguir e principalmente querer mudar, respeitando cada criança em seu estado de desenvolvimento.

Referências Bibliográficas

  • CIASCA, S.M. & ROSSINI, S.D.R.: Distúrbio de aprendizagem: mudanças ou não? Correlação de uma década de atendimento. Temas sobre desenvolvimento, 8(48): 11-16, 2000.
  • FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
  • LEFRÈVE, AB. ( Coord. ) Disfunção Cerebral Mínima. São Paulo: Editora Sarvier, 1975.
  • CIASCA, Sylvia M. Distúrbio de Aprendizagem: Proposta de Avaliação Interdisciplinar. S.P: Casa do Psicólogo, 2003. Pp 19 – 29.
  • LERNER, J. Learning disabilities: theories, diagnosis and teaching strategies. Boston: Houghton Mifflin Comp., 1989.
  • PENNINGTON, Bruce F. Diagnóstico de Distúrbios de Aprendizagem. S.P: Pioneira, 1997. Pp 34 – 40. Cap.3, Parte I.

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Fonte: http://www.abpp.com.br/artigos/58.htm

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A contribuição dos contadores de histórias na reeducação de dificuldades da linguagem oral


A contribuição dos contadores de histórias na reeducação de dificuldades da linguagem oral

(Story Tellers´ contribution in the reeducation of the oral language difficulties)
fevereiro/2007

Resumo
O objetivo deste artigo é demonstrar que a contação de histórias pode promover, por meio da correção lingüística, a reeducação de formas inadequadas da expressão oral de uma criança que não possui estímulos ou modelos de comunicação adequados.

Summary
The objective of this article is to show that story telling could promote, by the linguistic correction, a reeducation of the child’s unsuitable forms in the oral expression that have not correct stimulus or models of communicationt.

Unitermos
Contação de histórias; linguagem oral; reeducação; correção lingüística.

Keywords
Story telling; oral language; reeducation; linguistic correction.

INTRODUÇÃO
No passado os contadores eram os responsáveis por transmitir a história e a cultura do seu povo aos mais novos. Hoje, o contador não se encontra mais imbuído dessa função. Sua responsabilidade está mais voltada para o divertimento das crianças. Por acreditar que o trabalho do contador pode ir muito além da diversão ― e não que ela não seja importante, por que é ―, pretende-se demonstrar neste artigo como a contação pode provocar, por meio da correção lingüística, a reeducação de formas inadequadas da expressão oral da criança, isso sem desconsiderar a importância do lúdico que essa atividade representa.

A Linguagem Oral
A linguagem oral é o primeiro contato das crianças com o mundo lingüístico. Ao iniciar o processo de alfabetização, a criança já possui um vasto contato com este universo, adquirido por meio da convivência com os falantes que a cerca.
Entretanto, algumas palavras podem ter sido pronunciadas de maneira inadequada de acordo com a grafia ou a norma padrão. Um adulto, por exemplo, pode dizer /pileumunia/ ao invés de pneumonia e a criança, que convive com este adulto, achará que a primeira pronúncia é a correta.
Existem cinco categorias de alterações:

  1. Omissão: quando não há produção de som (ex.: /eite/ para leite);
  2. Substituição: quando há substituição de um som por outro (ex.: /sapéu/ para chapéu);
  3. Distorção: quando um som é alterado, não sendo emitido perfeitamente;
  4. Transposição: quando a ordem de articulação dos sons é alterada (ex.: /soverte/ para sorvete);
  5. Adição: quando sons são acrescidos a um vocábulo (ex.: /parato/ para prato).

Esses distúrbios são caracterizados por alterações na articulação dos sons (fonemas) da fala, por falhas na colocação, no tempo, na direção, na pressão, na programação e na integração dos movimentos da articulação. Como resultam na ausência ou inadequação da produção dos sons da fala, essas alterações trazem um comprometimento no grau de inteligibilidade, pelo falante, do anunciado emitido. Dessa forma, a criança que apresenta dificuldade na linguagem oral pode ter problemas da escrita e até mesmo dificuldade de relacionar-se ou integrar-se em seu grupo. Se não conseguem entendê-la, normalmente será alvo de gozações ou de exclusão do grupo, o que poderá refletir no rendimento escolar.
Pode-se dizer, então, que determinadas crianças pronunciam algumas palavras de maneira inadequada, segundo a língua padrão, por três razões:
1) Ambiental: falta de estímulos ou modelos adequados de comunicação;
2) Orgânica: tais como, alterações nos órgãos periféricos (ouvido, estruturas fono-articulatórias) e alterações no sistema nervoso central;
3) Emocional: imaturidade emocional e distúrbios da personalidade.
Este artigo abordará somente a primeira razão, por entender que no caso das outras a intervenção de um fonoaudiólogo e um psicólogo, respectivamente, auxiliaria na solução das inadequações lingüísticas.
Portanto, o objetivo deste artigo é demonstrar que a contação de histórias pode promover a reeducação de formas inadequadas da expressão oral de uma criança que não possui estímulos ou modelos de comunicação adequados para tal.

METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em duas fases: uma fase exploratória e outra de intervenção.
Na fase exploratória utilizou-se a observação participante para a coleta de dados. Com base nesses dados, pôde-se perceber quais vocábulos eram pronunciados de maneira inadequada pelas crianças, com mais freqüência. A professora da série selecionada para a realização deste trabalho, também contribuiu com a coleta, pois apontou algumas palavras que poderiam oferecer alguma dificuldade na fala, baseada na experiência como educadora infantil. Nesta fase, a pesquisadora selecionou histórias específicas que enfatizassem as formas inadequadas da expressão oral que deveriam ser reeducadas. Em uma história poderia ser trabalhada mais de uma dificuldade.
A segunda fase, de intervenção, que durou seis meses, foi realizada em uma sala de primeira série. Dividiu-se o processo de intervenção em cinco momentos: contação de histórias, correção lingüística, atividade para reforçar a correção, reconto da história e, por fim, a produção de um desenho livre referente ao conto.
Em seguida, fazia-se um breve comentário sobre a história, para estimular as crianças a se expressarem oralmente. Por meio de desenhos ou mímicas, a pesquisadora desenhava algumas palavras (aquelas que ela trabalharia) e as crianças diziam o nome do desenho. Ele, então, escrevia o vocabulário da maneira como as crianças haviam pronunciado. Depois das palavras escritas no quadro, a pesquisadora retirava de uma caixa as mesmas palavras, agora escritas de maneira correta, e as lia com as crianças. Era lido uma palavra por vez. Depois que elas entendiam como era a pronúncia correta, a pesquisadora colava-as na parede. Essas palavras permaneciam ali até a próxima contação, ou seja, por uma semana.
A terceira etapa desse processo, atividade para reforçar a correção lingüística, era sempre bastante divertida para as crianças, e poderia ser realizada por meio de música, elaborada especialmente para essa finalidade, e jogos, como telefone sem fio e mímica. Tanto os jogos quanto as mímicas enfatizavam a pronúncia correta das palavras trabalhadas naquele conto.
A hora do reconto era um momento em que a pesquisadora pedia para as crianças prestarem atenção na pronúncia daquelas palavras que haviam aprendido, pois já conheciam a história a ser contada.
Logo após o reconto, a pesquisadora solicitava a produção de um desenho livre a respeito do que a criança havia achado de mais importante no conto. Esses desenhos ficavam expostos na parede da sala durante alguns dias.
Na semana seguinte, quando a pesquisadora trabalharia outras palavras, ela relembrava a pronúncia das palavras vistas na última contação, bem como o enredo da história e recomeçava o processo desde o início.

RESULTADOS E CONCLUSÃO
Pode-se dizer que os resultados obtidos após a intervenção foram satisfatórios. Foi possível perceber que houve uma reeducação na pronúncia dos vocábulos trabalhados pela pesquisadora. Dito de outra forma, a hipótese inicial proposta por este artigo foi confirmada, na medida em que a contação de história promoveu a reeducação de formas inadequadas de expressão oral das crianças que não possuíam estímulos ou modelos de comunicação adequados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LURIA, Alenxander Romanovich. Pensamento e linguagem: as últimas coerências de Luria. Tradução: Diana Myriam Lichtenstein e Mário Cardoso. Artes Médicas: Porto Alegre, 1987.
FORTKAMP, Clarice. A oralidade e escritura ma literatura infantil: referencial teórico para o contador de histórias. Dissertação de Mestrado em Literatura − Universidade Federal de Santa Catarina, 2001.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz; a literatura medieval. Tradução de Amalio Pinheiro e Jerusa Pires. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Cidália Sant’ Ana, PUC Minas, Belo Horizonte - MG

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Fonte:

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Metodologia Cientifica. Técnica de Entrevista.



Objetivo
Levar ao conhecimento dos alunos um dos métodos clássicos empregados na pesquisa social: a entrevista.
Estratégias pedagógicas
Leitura teórica, planejamento, elaboração e aplicação de pesquisas de campo.

Aula 1
Aula expositiva com o objetivo de apresentar aos alunos a importância da metodologia na elaboração de uma pesquisa social:

1) A metodologia é parte integrante de qualquer pesquisa científica e pode ser entendida como um conjunto de técnicas que permitem apreender vários aspectos dos objetos que desejamos investigar.

2) A sociologia e a história, por exemplo, desenvolveram uma série de metodologias de pesquisa cujo objetivo é investigar a realidade social. A entrevista tem importância fundamental e pode ser considerada uma das mais importantes técnicas de pesquisa social. Algumas características da técnica de entrevista são:

a) a entrevista pode ser concebida como uma técnica de mediação, que visa a transferência de informação do entrevistado para o entrevistador;
b) a preparação de um bom questionário exige do pesquisador conhecimento prévio do tema ou do objeto de pesquisa;
c) as informações obtidas mediante entrevistas são consideradas importantes, pois fornecem respostas adequadas ao que se deseja conhecer.
Aula 2
Adequação da metodologia ao tipo de pesquisa social:

1) A metodologia empregada na pesquisa social depende do objeto de estudo que se deseja investigar. Uma pesquisa social pode enfatizar dois objetivos básicos: a descrição ou a explicação sistemática:

a) um bom exemplo de pesquisa de caráter descritivo é o Censo elaborado sob coordenação do Estado e aplicado à sociedade com a finalidade de obter informações sobre as características demográficas da população. A pesquisa censitária visa a obtenção de informações que se relacionam a fatos concretos, como: nível de emprego, escolaridade, saúde, etc. As pesquisas censitárias são realizadas mediante elaboração de um questionário que contém perguntas sobre as informações que se deseja obter. Depois de coletadas, as informações são sistematizadas.

b) outro exemplo de pesquisa descritiva é a realizada em época de eleições, com o objetivo de conseguir informações relativas às preferências do eleitorado. Neste caso, o questionário é bem mais simples e o grau de dificuldade para sua aplicação é bastante baixo. Ademais, não há necessidade de se aplicar o questionário a todos os eleitores, pois existem técnicas de amostragem que permitem fazer projeções a partir de um número específico de entrevistas.

c) a pesquisa explicativa, por outro lado, trabalha com o cruzamento de informações ou dados que se referem a variáveis ou categorias sociológicas (por exemplo: comportamentos, atitudes, valores ou características prevalecentes em determinados segmentos e grupos sociais, como classe social, religião, residência na cidade ou no campo, etc.). Quando o pesquisador examina prováveis relações entre duas ou mais variáveis, ele busca, quase sempre, apresentar explicações causais para determinado fenômeno social.

Aula 3
Condições para uma boa entrevista:

# O pesquisador deve compreender que a realização de entrevistas é um processo social com certo grau de complexidade. Abaixo são fornecidas algumas dicas importantes para que as entrevistas tenham êxito:

a) as informações que se deseja obter devem ser compreensíveis para os entrevistados; ou seja, as perguntas contidas no questionário devem respeitar as condições cognitivas (grau de consciência e conhecimento) dos indivíduos que estão sendo entrevistados;
b) o pesquisador deve se assegurar de que o entrevistado está em condições de fornecer as informações requeridas; ou seja, o entrevistador deve esperar o momento mais oportuno e propício para o entrevistado responder aos questionamentos.
c) o pesquisador deve estar motivado para a realização do trabalho de campo, de modo que a aplicação dos questionários e a abordagem dos entrevistados sejam feitas com bastante educação e respeito.

Aulas 4, 5 e 6
Aprendendo a construir um objeto de pesquisa e a fazer uma pesquisa de campo com o emprego da técnica da entrevista:

1) O professor deve incentivar os alunos no sentido de que elaborem uma pesquisa social a partir da construção de um objeto de estudo e de uma metodologia adequada ao que se deseja investigar.

2) A sugestão é elaborar uma pesquisa social de caráter explicativo, examinando a relação entre o grau de escolaridade e o interesse por assuntos políticos. A questão principal da pesquisa seria: o grau de escolaridade dos indivíduos influencia o interesse por assuntos políticos?

# Primeira etapa - planejamento da pesquisa: o docente deve auxiliar os alunos na pesquisa teórica que discutirá a relação entre o grau de instrução e a disposição ou motivação por assuntos políticos.

#
Segunda etapa - categorizar o que se entende por assuntos políticos: ordenar, em categorias, quais elementos servirão para medir o interesse dos indivíduos por assuntos políticos. Alguns exemplos: leitura de notícias políticas exibidas em jornais impressos ou outros meios de comunicação; filiação a um partido político; participação nos assuntos da comunidade através de associações de bairro; freqüência de participação nas eleições e acompanhamento das atividades do representante político; e outros itens que podem ser mencionados. O grau de importância concedido a cada um desses elementos depende da pesquisa teórica.

#
Terceira etapa - determinar quem serão os entrevistados: qualquer pesquisa exige que se estabeleçam parâmetros de análise. Neste caso em particular, a sugestão é que se trabalhe com três graus de escolaridade: nível primário, nível secundário e nível superior. Os alunos devem entrevistar determinado número de indivíduos que se enquadrem nas condições dos graus de instrução mencionados. Como sugestão, a pesquisa poderia abranger 90 (noventa) indivíduos. Os alunos devem formar três grupos, e cada grupo ficará encarregado de entrevistar 30 indivíduos que estudaram até o primário, 30 indivíduos que estudaram até o secundário e 30 indivíduos que possuem formação superior.

- Observação: O docente deve auxiliar os alunos na elaboração de um breve questionário. Abaixo, veja um modelo de questionário:

1) Nome do entrevistado
2) Idade
3) Grau de instrução
4) Profissão
5) Exerce ou já exerceu alguma atividade política? Sim ( ) Qual?_____, Não ( )
6) Com qual freqüência você acompanha (lê, assiste, ouve) notícias sobre assuntos políticos? Sempre ( ), Às vezes ( ), Nunca ( ).
7) Você é filiado a algum partido político? Sim ( ), Não ( ).
8) Vota nas eleições? Sim ( ), Não ( ).
9) Recorda-se do candidato para quem votou nas últimas eleições? Sim ( ), Não ( ). Quem?_________________________________________
10) Se votar não fosse obrigatório, você continuaria a votar? Sim ( ), Não ( ), Por quê?__________________________________________
11) Você acha que a democracia é o melhor regime político para o Brasil? Sim ( ), Não ( ), Por quê?______________________________

Aula 7
Finalização da pesquisa:

1) Sistematização dos dados obtidos.
2) Discussão sobre as dificuldades da realização da pesquisa.
3) Discussão sobre os resultados.

Fontes bibliográficas
Pesquisa Social: teoria, método e criatividade, de Maria Cecília de Souza Minayo (organizadora). Editora Vozes, 1996.

História oral, como fazer, como pensar, de José Carlos Sebe B. Meihy e Fabíola Holanda. Editora Contexto, 2007.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/planos-aula/metodologia-pesquisa-entrevista.jhtm

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Conteúdo de um questionário
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - METODOLOGIA CIENTÍFICA
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Algumas consciderações sobre Educação à Distância. ( meus artigos).



Muitos estudantes que adotam a educação á distância, não conseguem aproveitar todos os recursos que ela oferece. Na Ead o aluno é autônomo e busca o conhecimento. É comum vermos as pessoas reclamando que esta matéria é chata, que isso e aquilo outro. Mas muitas vezes eles não querem ir além do pensamento mediano. Estas pessoas vivem reclamando, que isso eu não posso. E limitam, eles mesmos, e aos outros. Apesar de tudo isto há, os que mergulham de cabeça nesta experiência, e participam com seus feedbacks e opiniões. Este procedimento faz crescer a eles mesmos e a própria instituição na qual fazem parte.
Não diga que você não consegue, não diga que esta matéria é chata, se supere. Vá além da mesmice.
Você merece, veja este vídeo abaixo e reflita.

Educação Especial

dancorinto


E se você optou por um curso Ead veja este vídeo.

Você está pronto para treinamento via e-Learning?
jcm357


João C. Maria, aluno pedagogia 7º módulo Unopar Virtual unidade Campinas 2.


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Teoria do desenvolvimento mental e problemas da educação


Teoria do desenvolvimento mental e problemas da educação

Fonte: El texto que sigue se publicó originalmente en Perspectivas: revista trimestral de educación

comparada (París, UNESCO: Oficina Internacional de Educación), vol. XXIV, nos 3-4, 1994,

págs. 773-799.

©UNESO: Oficina Internacional de Educación, 1999

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Tradução e resumo: Vera Lúcia Camara Zacharias

Se fosse necessário definir o caráter específico da teoria de Vygotsky mediante uma série de palavras chaves, seria preciso que fossem mencionadas ao menos as seguintes: sociabilidade do homem, interação social, signo e instrumento, cultura, história e funções mentais superiores. E, se fosse necessário organizar essas palavras em uma única expressão, poderíamos dizer que a teoria de Vygotsky é uma "teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores", ainda que ela seja mais conhecida com o nome de "teoria histórico-cultural".

Para Vygotsky o ser humano se caracteriza por uma sociabilidade primária. Henri Wallon expressa a mesma idéia de modo mais categórico: "Ele (o indivíduo) é geneticamente social". (Wallon, 1959)
Na época de Vygotsky este princípio não passava de um postulado, uma hipótese puramente teórica. Porém, atualmente, pode-se afirmar que a tese de uma sociabilidade primária, e, em parte, geneticamente determinada, possui quase um estatuto de fato científico estabelecido como resultado da convergência de duas correntes de investigação: por um lado, as investigações biológicas, como as relativas ao papel que desempenha a sociabilidade na antroprogênese; por outro lado, as recentes investigações empíricas sobre o desenvolvimento social da primeira infância que demonstram amplamente a tese de uma sociabilidade primária e precoce.
A sociabilidade da criança é o ponto de partida das interações sociais com o meio que o rodeia. Os problemas de interesse da psicologia da interação social são atualmente bastante conhecidos e, por esse motivo, nos limitaremos aqui a mencionar brevemente algumas particularidades da concepção de Vygotsky. Por origem e por natureza o ser humano não pode existir nem experimentar o desenvolvimento próprio de sua espécie como uma ilha isolada, tem necessariamente seu prolongamento nos demais; de modo isolado não é um ser completo.
Para o desenvolvimento da criança principalmente na primeira infância, o que se reveste de importância primordial são as interações assimétricas, isto é, as interações com os adultos portadores de todas as mensagens da cultura. Nesse tipo de interação o papel essencial corresponde aos signos, aos diferentes sistemas semióticos, que, do ponto de vista genético, tem primeiro uma função de comunicação e logo uma função individual: começam a ser utilizados como instrumentos de organização e de controle do comportamento individual.
Este é precisamente o elemento fundamental da concepção que Vygotsky tem da interação social: no processo de desenvolvimento desempenha um papel formador e construtor.
Isso significa simplesmente que algumas das categorias de funções mentais superiores (atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e conceitual, emoções complexas, etc.) não poderiam surgir e constituir-se no processo do desenvolvimento sem a contribuição construtora das interações sociais.

Conclusões importantes para a educação

Em primeiro lugar, nos encontramos ante uma solução original do problema da relação entre desenvolvimento e aprendizagem: inclusive quanto se trata de uma função em grande parte determinada pela herança (como ocorre com a linguagem), a contribuição do meio social (isto é da aprendizagem) prossegue tendo um caráter construtor e, portanto, não se reduz unicamente ao papel de ativador, como no caso do instinto, nem tão pouco a de estímulo ao desenvolvimento que se limita a acelerar ou retardar as formas de comportamento que aparecem sem ele.
A contribuição da aprendizagem consiste no fato de colocar à disposição do indivíduo um poderoso instrumento: a língua. No processo de aquisição este instrumento se converte em uma parte integrante das estruturas psíquicas do indivíduo (a evolução da linguagem). Porém, existe algo mais: as novas aquisições (a linguagem), de origem social, operam em interação com outras funções mentais, por exemplo, o pensamento. Deste encontro nascem funções novas, como o pensamento verbal.
Neste ponto nos encontramos com uma tese de Vygotsky que ainda não tem sido suficientemente assimilada e utilizada nas pesquisas, nem sequer na psicologia atual. O fundamental no desenvolvimento não constitui no progresso de cada função considerada em separado, mas sim, na mudança das relações entre as diferentes funções, tais como a memória lógica, o pensamento verbal, etc..., isto quer dizer, o desenvolvimento consiste na formação de funções compostas, de sistemas de funções, de funções sistemáticas e de sistemas funcionais.
A análise de Vygotsky sob as relações entre desenvolvimento e aprendizagem no que respeita à aquisição da linguagem nos leva a definir o primeiro modelo de desenvolvimento nestes termos: em um processo natural de desenvolvimento, a aprendizagem se apresenta como um meio que fortalece esse processo natural, coloca à sua disposição os instrumentos criados pela cultura que ampliam as possibilidades naturais do indivíduo e reestruturam suas funções mentais.
O papel dos adultos, enquanto representantes da cultura no processo de aquisição da linguagem pela criança e de apropriação de uma parte a cultura ( a língua), nos leva a descrever um novo tipo de interação que desempenha um papel determinante na teoria de Vygotsky. Com efeito, além da interação social, há nesta teoria uma interação com os produtos da cultura. Esses tipos de interação manifestam-se em forma de interação sóciocultural.
No conjunto das aquisições da cultura, ele centra sua análise naquelas que têm por objeto controlar os processos mentais e comportamentos do homem. Se trata dos diferentes instrumentos e técnicas (inclusive tecnologias) que o homem assimila e orienta face a si mesmo para influir em suas próprias funções mentais. Deste modo é criado um sistema gigantesco de " estímulos artificiais e exteriores" mediante os quais o homem domina seus próprios estados interiores. A cultura cria um número cada vez maior de poderosos auxiliares externos (instrumentos, aparatos, tecnologias) que apóiam os processos psicológicos.
Além dos auxiliares externos, existem os instrumentos psicológicos contidos nas obras culturais que podemos interiorizar. Tratam-se dos sistemas semióticos, procedimentos e técnicas conceituais dos meios de comunicação, operações e estruturas de caráter intelectual que se dão em todas as aquisições da cultura.
Esse enfoque pode ser explicado mediante o exemplo de um instrumento tal como a língua escrita. A língua escrita e a cultura livresca mudam profundamente os modos de funcionamento da percepção, da memória e do pensamento. Ao apropriar-se da língua escrita o indivíduo se apropria das técnicas oferecidas por sua cultura, e que, a partir deste momento, se tornam "técnicas interiores" ( Vygotsky utiliza aqui a expressão de Claparède).
Desta maneira, um instrumento cultural se instalada no indivíduo e se converte em um instrumento individual privado.
No miolo destas investigações se encontra a aquisição dos sistemas de conceitos científicos, a mais importante durante o período escolar. Segundo a concepção de Vygotsky o sistema de conceitos científicos constitui um instrumento cultural portador, por sua vez, de mensagens profundas e, ao assimilá-lo, a criança modifica profundamente seu modo de pensar.
O processo de aquisição dos sistemas de conceitos científicos é possível através da educação sistemática de tipo escolar. A contribuição da educação organizada e sistemática é, neste ponto, fundamental em comparação com a aquisição da linguagem oral, em que a aprendizagem desempenha um papel construtor mas que somente requer a presença de adultos que possuam a língua na qualidade de participantes das atividades comuns.
Fala-se neste caso de um segundo modelo de desenvolvimento. Vygotsky o denomina "desenvolvimento artificial": "Se pode definir a educação como o desenvolvimento artificial da criança [...] A educação não se limita somente ao fato de exercer uma influência nos processos de desenvolvimento, já que reestrutura de modo fundamental todas as funções do comportamento". (Vygotsky, 1982-1984, vol.I, p. 107).
O essencial é que a educação se converte em desenvolvimento, enquanto no primeiro modelo não era mais que o meio de fortalecer o processo natural; aqui, a educação constitui uma fonte relativamente independente do desenvolvimento.
A análise deste segundo modelo de desenvolvimento, denominado "desenvolvimento artificial", cujo exemplo característico é o processo de aquisição de sistemas de conceitos, levou Vygotsky a descobrir a dimensão metacognitiva do desenvolvimento. Com efeito, a aquisição de conhecimentos baseados em tal grau de generalização, a interdependência dos conceitos dentro de uma rede de conceitos que permite passar facilmente de um a outro, as operações intelectuais que podem ser executadas com facilidade e a existência de modelos exteriores da aplicação destas operações facilitam a tomada de consciência e o controle do indivíduo no que alude a seus próprios processos cognocitivos.
Assim, ainda na atualidade, a teoria de Vygotsky é a única a oferecer, ao menos em princípio, a possibilidade de conceituar cientificamente os processos metacognitivos, que permite vincular esta dimensão do desenvolvimento cognoscitivo em geral e explicar a origem desta capacidade do indivíduo para controlar seus próprios processos interiores.

Possíveis aplicações da teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento mental para a pesquisa e a prática pedagógica

Em primeiro lugar esta teoria poderia, pois, ser utilizada com eficácia para melhor compreender os fenômenos educativos, e sobretudo o papel desempenhado pelo pelo desenvolvimento para elaborar pesquisas pedagógicas e procurar encontrar aplicações práticas.
Em segundo lugar, graças à teoria de Vygotsky introduziu-se na psicologia contemporânea, de modo direto ou indireto, todo um conjunto de novos problemas de investigação empírica que se revestem da maior importância para a educação: investigações sobre a sociabilidade precoce da criança que tem contribuído para uma melhor compreensão da primeira infância; as relações entre as interações sociais e o desenvolvimento cognoscitivo; as atuais investigações sobre a mediação semiótica, o papel que desempenham os sistemas semióticos no desenvolvimento mental e desenvolvimento da linguagem; são todas fortemente influenciadas pelas teses de Vygotsky, entre tantas outras.

Fonte: http://www.centrorefeducacional.com.br/vydesmen.htm



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Por que ser professor ?


Índice do especial FORMAÇÃO


MERCADO

Por que ser professor

A Educação é hoje prioridade no país e sobram vagas para quem quer lecionar. Benefícios como a estabilidade e a possibilidade de desenvolver um trabalho criativo são atrativos

Tatiana Fraga
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Tatiana Cardeal

“Sou privilegiada por estar na escola pública, fazendo um trabalho útil para a sociedade e ainda ter tempo para estudar diariamente”

Angélica Lourenço Pinto, 35 anos Professora Rede estadual, São Paulo, SP

“Ao se formar, um professor não fica muito tempo sem emprego.” A afirmação é de Ana Cléa Ayres, coordenadora de graduação da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). E não são raros também os que lecionam enquanto ainda estudam. Tal situação se explica pelo grande número de vagas no mercado. Faltam quase 250 mil educadores qualificados para atuar na rede pública de todo o Brasil, somente no segundo ciclo do Ensino Fundamental (da 5ª a 8ª série) e no Ensino Médio, situação que vem sendo chamada de “apagão”. Quem se prepara para essa carreira, contudo, encontra outros benefícios além da garantia de emprego, como estabilidade, no caso dos concursados, férias duas vezes por ano, período para trabalho pedagógico fora de sala remunerado e horário flexível.

“Hoje em dia, conciliar o trabalho com o estudo é um privilégio”, afirma Angélica Lourenço Pinto, 35 anos, que leciona na EE Professora Maria Jannuzzi Mascari, em São Paulo, SP. Há 15 anos no magistério – já atuou também na rede particular –, ela dá aula de manhã para uma turma de 4ª série. Por trabalhar em apenas uma escola, consegue se dedicar muito mais aos alunos e participar do trabalho da equipe.

Além de estar concluindo a especialização em Psicopedagogia, Angélica ainda dedica cerca de quatro horas por dia à leitura de textos passados pelos docentes e outros, que busca para aprimorar seu trabalho. “Estudo muito para ajudar os que estão com dificuldade de aprendizagem”, diz. “Ganho 1,5 mil reais mensais. Poderia cumprir mais uma jornada e receber o dobro, mas tenho outras prioridades, como a formação e o cuidado com minha fi lha.”

No que se refere especificamente ao dia-a-dia da profissão, o magistério oferece ainda outros incentivos. “Os profissionais têm autonomia para desenvolver sua atividade de forma criativa, principalmente na rede pública”, defende Ana, da Uerj. Esse é um benefício que poucas ocupações trazem e com uma compensação imediata: quando a turma aprende, logo se vê o resultado do trabalho. “Saber que os alunos na escola pública estão abertos ao conhecimento e que precisam de mim é o que me mobiliza a seguir essa profissão. Me sinto útil para a sociedade”, afi rma Angélica.

A professora está em sintonia com a importância que a Educação vem conquistando aos olhos da sociedade brasileira e também do governo, que tem implementado várias medidas de incentivo à qualidade do ensino dentro do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado em março. Cada vez mais, o setor é visto como imprescindível ao desenvolvimento econômico e social. “Está havendo uma febre pelo ensino no Brasil”, afi rma Mozart Ramos, do Conselho Nacional de Educação (CNE). “Infelizmente, tivemos de chegar ao fundo do poço para que isso acontecesse. Mas deixar de acreditar que o magistério é hoje um mercado promissor é deixar de acreditar no país.”

VANTAGENS DO MAGISTÉRIO

Abundância de vagas.

Férias duas vezes por ano.

Autonomia para desenvolver atividades.

Horário flexível.

Estabilidade de emprego para os concursados.


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/Esp_016/aberto/mt_especial_268533.shtml

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O Senhor da Morte Yamaraja e suas 4 cartas. Aproveita sua forma de vida humana. Cante Hare Krsna e seja feliz.

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