quinta-feira, 11 de abril de 2019

Karma e os Quatro Princípios da Era de Kali

Karma e os Quatro Princípios da Era de Kali

passarosNanda-nandana Dasa

Para evitarmos a degradação do mundo, bem como avançarmos espiritualmente, há quatro princípios fundamentais a serem seguidos, com benefícios imediatos para todos.

Para começarmos a tirar o máximo proveito de nossa vida espiritual, temos que aprender quais atividades causam mais prejuízo ao nosso karma e criam as reações mais densas. Atividades piedosas ou religiosas, bem como ações realizadas para ajudar outros, conferem bons resultados futuros àqueles que as fazem. Esses resultados podem ser experienciados como nascimento em uma família rica e aristocrática ou sendo belo, inteligente, talentoso, saudável, gozador de uma situação confortável e assim por diante. Em decorrência de atividades ímpias, o sujeito talvez tenha que sofrer reações miseráveis, como ser doente, feio, carente de instrução, nascer em uma família pobre ou um país assolado por conflitos bélicos, não ter comida o suficiente etc. Mesmo neste planeta, podemos ver que certas áreas são como o inferno, ao passo que outras se assimilam ao paraíso. As pessoas podem sofrer misérias infernais ou desfrutar de prazer celestes – onde somos colocamos depende de nosso karma.
Ao longo da literatura védica, podem-se encontrar prescrições para atos virtuosos e alertas contra atividades pecaminosas. Atividades pecaminosas são de diferentes tipos, a saber, físicas, mentais e verbais. A Manu-samhita (12.5-9) explica: “Cobiçar a propriedade alheia, pensar dentro do coração o que é indesejável e aderir a falsas [ideologias] são os três tipos de ações mentais pecaminosas. Abusar de outros através de mentiras, diminuir os méritos alheios e falar inutilidades são os três tipos de ações verbais nocivas. Pegar o que não lhe foi dado, ferir sem a sanção da lei e ter relações ilícitas com a mulher alheia são os três tipos de atos corpóreos perversos.”
Diferentes partes da literatura védica descrevem em detalhes os resultados que são produzidos a partir de atividades específicas. Conhecer isso é encorajado pelos Vedas, dado que, mediante isso, pode-se entender a seriedade da lei do karma, para a qual inexiste escapatória. “Em decorrência de apego aos objetos dos sentidos, e em decorrência da não execução de seus deveres, os tolos e os mais baixos da humanidade obtêm os nascimentos mais vis. Sobre em quais ventres essa alma individual entra neste mundo e em consequência de que atos, aprende amplamente as particularidades disso e a ordem dos nascimentos.” (Manu-samhita 12.52-53)
Depois desse verso da Manu-samhita, há uma longa lista de diferentes nascimentos que são obtidos devido à realização de certos atos. Apresentaremos apenas um exemplo a seguir: “Homens que se deleitam em causar dor se tornam animais carnívoros; aqueles que comem alimentos proibidos, vermes; ladrões, criaturas que consomem sua própria espécie.” (Manu-samhita 12.59)
Podemos ver, desta forma, quão implicadoras podem ser algumas ações. Como isso funciona é explicado resumidamente nestas palavras: “Com qualquer disposição mental que alguém realize uma ação, ele colhe seu resultado em um corpo futuro possuidor dessa mesma qualidade”. (Manu-samhita 12.81)
Isso significa que, se queremos desfrutar de determinado sentimento ou atividade que não é condizente com a conduta humana, talvez não sejamos qualificados para a vida humana. Portanto, na hora da morte, podemos ser forçados a entrar novamente em espécies inferiores, nas quais poderemos desfrutar das atividades que são próprias daquela espécie particular de vida.
Se, por exemplo, somos cruéis e afeitos ao consumo de carne, podemos nascer como um tigre, que desfruta de sangue caçando outros animais. Isso é natural para o tigre. Contudo, o tigre talvez não consiga sempre pegar sua presa, razão pela qual pode ficar com fome por dias. Quando de fato captura a criatura, no entanto, o tigre serve como um elemento necessário no equilíbrio ecológico da natureza para ajudar a impedir a superpopulação de vários tipos de animais. A natureza funciona de maneira neutra, e toda espécie animal tem um propósito específico. É assim que as diferentes variedades de entidades vivas agem como convenientes servos da natureza. Portanto, se somos seres humanos que agem pecaminosamente ou sem a devida responsabilidade humana, as leis da natureza nos colocarão em um nascimento inferior, no qual não seremos uma perturbação para o restante da natureza. Ao contrário, seremos servos humildes ao agirmos de acordo com os instintos que são naturais às espécies em que nasçamos. Isso não é meramente um tipo de punição, mas também misericórdia, haja vista que, se trabalhamos nossas propensões animalescas enquanto em formas subumanas, então, ao entrarmos na espécie humana, seremos capazes de utilizá-la de modo apropriado. O perigo é que, uma vez nas formas inferiores de vida, talvez demorem muitas vidas antes de novamente se ter um novo nascimento humano. Caso, entretanto, nossas atividades nesta vida humana sejam excessivamente atrozes e abomináveis, nós não apenas teremos um nascimento baixo, senão que também seremos submetidos a condições infernais. Assim como, de alguma forma, nascemos neste planeta, podemos muito facilmente nascer em sistemas planetários infernais – tudo depende de nosso karma, ou o que desejamos e merecemos.
Em consequência do bom karma, pode-se ir para o céu, e, em consequência do karma negativo, pode-se ir para o inferno, mas, quando o bom ou mau karma se esgota, o indivíduo retorna a este sistema planetário intermediário de modo a começar tudo mais uma vez. Com a evidência védica de céu e inferno, fica claro que ambos existem dentro deste universo. A existência em ambas as regiões, por conseguinte, é temporária. “Meu caro rei Parikshit, na providência de Yamaraja, há centenas e milhares de planetas infernais. Os indivíduos impiedosos que mencionei – bem como os que não mencionei – têm todos de entrar nesses vários planetas de acordo com o grau de sua impiedade. Quem é pio, em contraste, entra em outros sistemas planetários, a saber, os planetas dos semideuses. Malgrado isso, tanto os piedosos quanto os ímpios são novamente trazidos para a Terra depois que os resultados de suas atividades piedosas e ímpias se exaurem”. (Srimad-Bhagavatam 5.26.37)
A fim de garantirmos que não seremos forçados a entrar em um nascimento inferior e a fim de purificarmo-nos de quaisquer atos pecaminosos que tenhamos cometido consciente ou inconscientemente, “penitências têm sempre que ser realizadas visando a purificação, dado que aqueles cujos pecados não foram expiados nascem com marcas infames.” (Manu-samhita 11.54)
Tal penitência para purificação do karma se baseia em manter controle sobre os próprios sentidos, corpo e mente. Isso é encorajado em toda era e em toda filosofia religiosa e é uma meta que todos, cedo ou tarde, têm que tomar para si. “O estudo do Veda, prática de austeridades, obtenção de verdadeiro conhecimento, a subjugação dos órgãos, não violência e serviço ao guru são os melhores meios para o auferimento da bem-aventurança suprema. Caso perguntes se, entre todos esses atos virtuosos, algum é considerado o mais eficaz para a obtenção da suprema felicidade por parte do homem, a resposta é que o conhecimento da alma é considerado o mais excelente de todos, visto que é a primeira de todas as ciências e visto que a imortalidade é alcançada através disso. Entre os seis tipos de ações enumeradas acima, a realização de atividades ensinadas no Veda tem que ser tida como o que existe de mais eficaz para garantia da felicidade neste mundo e no próximo.” (Manu-samhita 12.83-86)
Essa é uma descrição parcial do importante processo de como as pessoas podem se purificar de qualquer mau karma que tenham acumulado e obter a felicidade em sua próxima vida. Contudo, nesta era de Kali, há quatro princípios especialmente recomendados que têm que ser seguidos para a purificação, a saber, veracidade, austeridade, limpeza e misericórdia. Podem parecer muito simples, e de fato são quando comparados às regras que yogis e ascetas tinham que seguir anos atrás. Todavia, simplesmente seguir esses quatro princípios é considerado um feito colossal para as pessoas médias desta era. O motivo disso é que são ligados aos quatro tipos de atividades a que as pessoas desta era mais são viciadas. Por conseguinte, se alguém pode seguir esses princípios, fará grande progresso espiritual, além de evitar algumas das reações cármicas mais densas, as quais implicam o sujeito em muitos ciclos futuros de nascimentos e mortes.
Também devemos nos lembrar de que regulações como yamas e niyamas, que são delineadas no processo de yoga, não são regras que visam suprimir nosso estilo ou limitar nosso envolvimento com coisas que gostaríamos de fazer, tampouco se destinam a nos forçar a adotar hábitos que nos são artificiais ou anormais. São, na verdade, um estado natural de ser para aqueles que são autorrealizados espiritualmente. Uma vez que a pessoa se ilumine, elevar-se-á ao nível de percepção em que essas qualidades se manifestarão automaticamente em seu caráter. Caso isso não aconteça, evidencia-se o quanto o sujeito permanece apegado ao prazer sensual ou absorto em consciência materialista.
Veracidade
O primeiro princípio é o da veracidade, que se traduz em ser honesto, aberto e franco, sem mentiras, enganações ou roubos. Portanto, a regra mais importante a se seguir para preservar a veracidade é não se envolver com jogos de azar. Isso significa não se envolver com possibilidades desnecessárias de ganhar algo sem esforço. Jogar inclui apostar em jogos ou corridas, envolver-se em atos ilegais ou imorais ou até mesmo investir em especulações financeiras dúbias ou questionáveis. Caso você ganhe dinheiro ou lucre de alguma forma, pode ser que você experimente uma sensação muito prazerosa. Quando, porém, você começa a perder o seu dinheiro, você é tomado de ansiedade. Logo a mente se absorve por completo em nada além de fazer planos para conseguir dinheiro através de quaisquer meios necessário. Em semelhante situação, você se desequilibra mental e emocionalmente, tornando-se incapaz de fazer boas escolhas, e quando você fica desesperado por dinheiro, ninguém pode confiar em você inteiramente. E se você perde todo o seu dinheiro ou se seu negócio vem a falir, você talvez perca também seus amigos. Algumas pessoas ficam tão desorientadas quando perdem seu dinheiro ou negócio que pensam em suicídio ou realmente se matam. Tais situações devem ser evitadas através do afastamento de jogos ou de riscos desnecessários.
nao se envolver com jogos de azarA regra mais importante a se seguir para preservar a veracidade é não se envolver com jogos de azar.
Mantendo a mente pacífica e contente com o que você consegue através de meios honestos, a veracidade se torna algo fácil de se obter. Quando você não tem nada a esconder, você pode ser realmente honesto e digno de confiança, em consequência do que a mente fica pacífica e pronta para cultivar conhecimento espiritual. Se a mente fica excessivamente agitada com pensamentos de especulações comerciais, não há chance de a pessoa se sentir contente ou feliz, o que dizer de desenvolver consciência espiritual. E ocupar-se em mentir, roubar ou enganar produz reações cármicas danosas, que se tornam obstáculos definitivos no desenvolvimento material ou espiritual.
Veracidade também significa conhecer a verdade, e o Vedanta-sutra explica que a Verdade Absoluta é a fonte a partir da qual tudo mais emana. Por conseguinte, para ser veraz, o sujeito deve conhecer a Verdade Última, como explicada na literatura védica, e explicá-la a outros, permitindo que todos se beneficiem dessa maneira.
A Prática de Austeridades
Austeridade significa muitas coisas. Significa, é claro, ser austero e não se entregar aos ditamos dos sentidos. É similar a estar em uma dieta em que não se pode atender os anseios da língua, senão que é preciso distinguir com inteligência entre o que é bom e o que não é bom comer a fim de alcançar a meta, seja perder peso, seja permanecer saudável. Para fazer isso, a pessoa tem ter algum entendimento de que não é apenas o corpo, mas, sim, que é a consciência interna e que pode controlar os sentidos e tolerar as várias demandas corpóreas e dificuldades sem se perturbar. A austeridade sobre a qual falamos também significa ser grave, sóbrio, mentalmente equilibrado e determinado a progredir, especialmente no âmbito espiritual. Dar-se à companhia de pessoas de igual mentalidade pode ajudar significativamente nesse empreendimento. A melhor regra a se seguir para permanecer austero é a completa evitação de drogas.
Drogas dizem respeito a qualquer coisa que perturbe a condição física normal da pessoa, bem como sua estabilidade mental. Tais coisas incluem cocaína, heroína, LSD, maconha, bebidas alcóolicas, cigarros, café etc. A cafeína no café estimula o sistema nervoso e pode fazer o sujeito sentir-se nervoso, irritado e facilmente agitado. E todos nós sabemos os malefícios do tabaco no corpo.
As substâncias intoxicantes definitivamente fazem as pessoas perderem seu senso de austeridade. Quando alguém se droga, ainda que levemente, começa a pensar em termos de confortos corpóreos e adota a atitude de que, “se é prazeroso, faça”. Se alguém fica excessivamente intoxicado, pode começar a fazer muitas coisas displicentes que normalmente não faria. Ou o indivíduo pode se ver como melhor do que de fato é. Na manhã seguinte, após uma noite arruinando-se, talvez sequer se lembre do que fez. Talvez esteja mais preocupado com simplesmente conseguir uma aspirina para melhorar sua dor de cabeça.
se é prazeroso façaQuando alguém se droga, ainda que levemente, começa a pensar em termos de confortos corpóreos e adota a atitude de que, “se é prazeroso, faça”.
O uso de intoxicantes não apenas gera mau karma em decorrência do deliberado mau uso do corpo e da mente, como também abre caminho para a realização de mais atos tolos, que criarão karmasainda piores. Poderíamos discutir muitos problemas que as pessoas têm devido ao uso de drogas ilícitas e de álcool e devido a dirigirem embriagadas, mas todos nós já ouvimos sobre isso antes. Em geral, as pessoas recorrem a drogas ilícitas e bebidas alcóolicas como uma muleta ou um escape em razão de não serem capazes de lidar com a vida como ela é. Pode ser que queiram uma alternativa, mas tais prazeres baratos e efêmeros pioram tudo, dado que se tornam dependentes de tais meios baixos para a obtenção de prazer ou para a evitação de sofrimento. Intoxicar-se causa muitas reações, com as quais se tem de lidar quer nesta vida, quer na próxima.
Algumas pessoas dizem precisar de certas drogas para ajudar em sua percepção espiritual, mas as supostas visões espirituais que as pessoas dizem ter sob o efeito do LSD e de outras drogas psicodélicas não são de modo algum espirituais. Essas drogas talvez mostrem que existem diferentes níveis de consciência, mas não podem realmente levá-lo lá. É como, apesar de poder olhar para dentro da janela de uma casa, não ser capaz de entrar. Psique significa “mente”, e o uso de substâncias psicodélicas é algo muito longe de entrar no stratum espiritual. Tais experiências associadas a drogas acontecem dentro da mente ou em um nível sutil, mas não tocam a alma. Portanto, as drogas podem ser um grande obstáculo para alguém que quer progredir espiritualmente porque mantém o sujeito atraído a permanecer nos níveis mental e físico de consciência. Também podem criar dependências químicas, o que é perigoso por várias razões. Muito embora o sentimento experimentado durante a intoxicação de certas drogas possa fazer o sujeito pensar que se trata de algo espiritual, trata-se simplesmente de uma ilusão para aqueles que querem ser enganados.
Recomenda-se a todo aquele que está tentando progredir espiritualmente nesta vida que se submeta à penitência e austeridade de evitar todo tipo de intoxicante. É claro que, se alguém não é muito avançado espiritualmente, isso pode parecer uma tarefa difícil. No entanto, quanto mais avançadas as pessoas se tornam em seu entendimento e em suas práticas espirituais, mais toda forma de intoxicação se torna desprezível. Intoxicação de nenhum tipo será algo tentador para alguém crescendo em força espiritual e interior. Afinal, o mundo da intoxicação significa literalmente envenenar o corpo e a mente com toxinas. Que tipo de pessoa permanecerá atraída por isso caso lhe seja ofertada uma forma superior de prazer e felicidade? Semelhante felicidade espiritual é obtida mantendo a mente e os sentidos sob controle, e não cedendo a seus caprichos ou permitindo que enlouqueçam mediante intoxicação. Quanto mais austero alguém se torna, mais determinado será, e os obstáculos que um dia foram grandes problemas deixarão de ser qualquer tipo de ameaça. Esse é o começo do qualificar-se a fim de perceber a felicidade interior natural.
Limpeza Interna e Externa
Como diz o ditado, “a limpeza está perto da divindade”, e, dentro de nossa temática, isso não significa apenas manter a casa limpa e organizada e banhar-se diariamente, senão que também significa manter a mente límpida e livre de pensamentos inúteis e baixos. Não é possível permanecer em um caminho espiritual, tentando se livrar do karma, enquanto a mente está sempre fazendo planos para gratificar os sentidos. E o tipo mais intenso de gratificação sensorial é a vida sexual. Para muitos, o pensamento sobre sexo é um fato muito motivador. Muitíssimas músicas são compostas descrevendo as glórias do sexo e a tração entre os sexos. Muitas atividades são baseadas no prospecto de encontrar alguém com quem desfrutar de afeição e sexo. Com efeito, a sociedade moderna gira em torno dessa avidez por sexo.
O problema com esse tipo de meditação sexual é que, quanto mais alguém pensa nisso, mais anseia dedicar-se a isso, em consequência do que mais adere ao conceito corpóreo de vida. Para aqueles que são sérios quanto ao caminho espiritual, semelhante meditação tem que ser reduzida ao mínimo, se não evitada completamente. Pensar em sexo e buscar por outros com o objetivo de satisfazer os próprios desejos não é um caminho para manter a mente e o coração limpos. Por conseguinte, deve-se controlar a mente através da devida meditação espiritual e através da evitação do sexo ilícito. Isso não significa que não se deva ter nenhum envolvimento com sexo, senão que, caso isso seja preciso, o melhor é casar-se e criar uma família íntegra em consciência espiritual. De outro modo, simplesmente se permanece como um animal buscando comer, dormir, acasalar-se e defender-se.
coração limposBuscar por outros com o objetivo de satisfazer os próprios desejos não é um caminho para manter a mente e o coração limpos.
A vida humana começa quando o indivíduo se pergunta quem ele é e dá início à busca por respostas. Se alguém permanece interessado apenas nas propensões animalescas, como o sexo, então, muito embora possa estar em uma forma humana, ele faz mau uso da mesma e não é nada mais do que um animal refinado de duas pernas.
Na Bhagavad-gita (7.11), Sri Krishna diz: “Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos”. Entende-se, portanto, que o sexo pode ser utilizado de uma maneira espiritual caso esteja de acordo com os princípios religiosos. Contudo, o sexo ilícito, que é o sexo fora do casamento, com o marido ou mulher de outrem ou para fins irrisórios, como simplesmente experienciar a sensação de formigamento dos genitais, gera um karma muito negativo, para não falar das muitas doenças que podem ser contraídas em decorrência de semelhante conduta frívola. Tais enfermidades são uma maneira da natureza nos aconselhar a sermos cuidadosos, mas muitos não ouvem e várias doenças se espalham pela sociedade em razão disso.
Ademais, quando há sexo ilícito, facilmente pode haver crianças indesejadas. Crianças indesejadas e sem amor crescem um ambiente desarmônico e frequentemente desenvolvem uma mentalidade igualmente desarmônica e áspera. Podemos facilmente ver isso na sociedade contemporânea, mas também encontramos a causa disso mencionada na Bhagavad-gita (1.40-41): “Quando a irreligião é preeminente na família, as mulheres da família se poluem, e da degradação feminina, vem progênie indesejada. Um aumento de população indesejada decerto causa vida infernal tanto para a família quanto para os destruidores da tradição familiar.”
“Destruidores da tradição familiar” diz respeito àqueles que advogam o abandono dos padrões religiosos e morais em prol da dita liberdade de ocupar-se em sexo ilícito e outras atividades frívolas. Portanto, homens e líderes irresponsáveis que promovem a promiscuidade sexual na sociedade ou tentam tirar vantagem de mulheres independentes também têm que compartilhar as consequências da quebra dos valores morais da sociedade. “Pelas más ações daqueles que destroem a tradição familiar e, deste modo, originam crianças indesejadas, todas as espécies de projetos comunitários e atividades para o bem-estar da família entram em colapso.” (Bhagavad-gita 1.42) Assim, a prática de limpeza mental e física evitará preventivamente que as pessoas se impliquem nesse tipo de problema. Como alguém que viveu em Detroit, vi os males e as dificuldades que podem surgir da geração de filhos indesejados em consequência de sexo ilícito.
Apontemos, no entanto, que os ensinamentos védicos nunca recomendaram a mera repressão dos desejos sexuais. Isso não é muito efetivo porque as pessoas sempre terão tais desejos a menos que experimentem um despertar espiritual superior. Tal gosto superior vem de um estágio elevado de prática espiritual em yoga e do processo védico de autorrealização espiritual. Quando alguém alcança esse nível superior de consciência e continua progredindo dessa maneira, os desejos sensuais gradualmente caem, como folhas mortas de uma árvore, até que a ideia de prazer sexual se torna insignificante. A pessoa, então, facilmente se eleva acima desses desejos básicos. Além disso, nessa plataforma de experiência espiritual, pode-se entrar em níveis de autorrealização que transcendem o alcance de quem permanece absorto em sexualidade. A pessoa, deste modo, experiencia uma bem-aventurança interior, como descrito no capítulo quatro, que em muito supera o que se pode sentir no prazer sexual.
Mostrar Misericórdia
O quarto princípio que alguém tem que seguir no esforço por livrar-se do acúmulo de mau karma e para o avanço espiritual é ser misericordioso. Misericórdia significa mais do que “ser bonzinho”. Misericórdia significa ser amável para com todas as entidades vivas, incluindo os animais, as aves, os insetos etc., e não apenas os seres humanos. Isso porque a entidade viva, dependendo de sua consciência, pode obter um corpo material em qualquer uma das 8.400.000 espécies de vida. Por conseguinte, para desenvolver e manter a qualidade da misericórdia, a pessoa tem que seguir o princípio de não comer carne. Isso inclui não comer carne, peixe, ovos ou insetos. Deste modo, aqueles que são sérios quanto ao caminho espiritual mantêm-se livres de muitíssimas reações cármicas desnecessárias. É claro que aqueles que não se importam comem caprichosamente qualquer coisa que queiram, independente de quão baixo possa ser fazê-lo.
Afirma-se que o consumo de carne é, com efeito, a forma mais grosseira de ignorância espiritual. O ponto é que matar outras entidades vivas para o prazer da língua é uma atividade cruel e egoísta a qual exige que a pessoa seja quase completamente cega para a realidade espiritual do ser vivo situado dentro do corpo. Isso também faz com que o sujeito conserve um coração frio e seja menos sensível em relação ao bem-estar e aos sentimentos alheios.
estimaçãoNossa compaixão deve incluir todos os seres vivos, e não apenas seres humanos e cães de estimação.
Ademais, como previamente explicado, de acordo com a lei do karma, qualquer dor que causemos a outros teremos de experimentá-la no futuro. Diante disso, um homem sábio não quer machucar nem mesmo um inseto, o que dizer de matar um animal a fim de saborear carne e sangue. Segundo as referências védicas, a reação pecaminosas de matar um animal é recebida por seis tipos de participantes, a saber, (1) aquele que mata o animal, (2) aquele que defende ou divulga o consumo de carne, (3) aquele que transporta a carne, (4) aquele que manuseia ou empacota a carne, (5) aquele que prepara ou cozinha a carne, e (6) aquele que a come.
A reação pecaminosa compartilhada por esses seis participantes do abate animal é bastante severa. Com efeito, a Bíblia compra a matança de vacas a matar um homem: “Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem.” (Isaías 66.3) Também se explica no Sri Chaitanya-charitamrita (Adi-lila, 17.166): “Matadores de vacas são condenados a aprodrecerem em vida infernal por tantos anos quantos forem os pelos do corpo da vaca.” Alguém inteligente tentará evitar esse destino.
Podemos começar a entender agora o quão negro é o futuro de alguém que possui ou administra algo como um comércio que vende hambúrgueres ou cachorro-quente. Ele não é apenas responsável pelos animais que são mortos, cozinhados e então vendidos pelo seu estabelecimento, senão que também é responsável por aqueles que ele contrata para ajudá-lo.
Por exemplo, digamos que alguém inicie uma loja para venda de frango frito e dê seu nome ao estabelecimento: Frango Frito do Pedrinho. Ele contrata pessoas para trabalharem na empresa e procura bons fornecedores de frango para fritar e vender aos consumidores finais. Seu negócio se mostra lucrativo e, deste modo, começa a estabelecer uma rede de lojas. Ele contrata mais pessoas, anuncia nacionalmente seu negócio e vende franquias. Todas as pessoas envolvidas, desde os empregados até os divulgadores, são responsáveis pela criação de um grande negócio de venda de frangos mortos para pessoas que os comem. As pessoas que os estão comendo poderiam ficar satisfeitas comendo outra coisa, mas, pela conveniência ou pela propaganda, convenceram-se de que o Frango Frito do Pedrinho é o melhor.
É claro que ninguém se importa com as galinhas. A verdade, no entanto, é que são criadas em espaços tão abarrotados que não podem sequer se mover apropriadamente, e bicam-se umas às outras e sofrem de muitas doenças. Quando as galinhas são levadas para abate, são penduradas de ponta-cabeça e cortam-se suas gargantas para drenas o sangue. Enquanto algumas vezes apenas parcialmente mortas, são escaldadas em água fervente e, em seguida, depenadas e preparadas para serem despedaçadas. Os baixos padrões dos abatedouros, que frequentemente ignoram regulações federais, resultam na embarcação de carcaças que podem ter ficado no chão por algum tempo e terem sido contaminadas por fezes de roedores, baratas, sujeiras e ferrugem. As galinhas que o Pedrinho compra para suas lojas é apenas uma pequena porcentagem dos bilhões de aves abatidas todos os anos apenas no Brasil, junto de milhões de mamíferos.
Há quem diga, é claro, que é preciso comer carne para se obter proteínas. A carne animal pode ser uma fonte de proteínas, mas é uma pobre fonte de vitaminas, minerais e carboidratos. Eles ignoram o fato de que abundam proteínas em alimentos como sementes, castanhas, arroz, milho, farinha integral e produtos lácteos, como leite e queijo. Além disso, um punhado de amêndoas cruas, ou seja, cerca de dez, pode fornecer tanta proteína quanto trezentos gramas de carne, além de ser mais facilmente assimilada pelo corpo. A carne que é comida não é sempre completamente digerida dado que os humanos, que são considerados herbívoros, produzem ácidos estomacais vinte vezes mais fracos do que aqueles encontrados em carnívoros. Os carnívoros também têm um trato intestinal apenas três vezes o comprimento de seu corpo para permitir que a carne, que se decompõe rapidamente, passe sem demora. Os seres humanos têm um trato intestinal doze vezes o comprimento de seu corpo. Em virtude disso, um pedaço de cadáver levará mais tempo para passar e rapidamente estará decomposto, criando muitos resíduos venenosos dentro do corpo. Essas toxinas exigirão mais dos rins e ampliarão as chances de câncer e pressão alta. Eis por que, a pacientes que sofrem de câncer do cólon ou de pressão alta, a maioria dos médicos recomenda a abstenção de carne vermelha.
O consumo de carne também amplia a quantidade de gordura saturada no corpo, gordura essa que causa um acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias. Isso aumenta o potencial para problemas como infarto, endurecimento das artérias e derrame. Tais considerações não incluem todas as substâncias químicas usadas na carne, o que amplia consideravelmente as chances de doenças no corpo, sobretudo quando combinadas com coisas como cerveja, vinho e outras bebidas e álcool.
Infelizmente, não são muitas pessoas que pensam sobre essas coisas, e o negócio do Pedrinho continua prosperando. Todavia, conforme o tempo passa, esse empreendedor exitoso envelhece, adoece e, por fim, morre. Ele administrou seu império de venda de galinhas mortas muito bem, e o mesmo continuará por muitos anos após sua partida. Os estabelecimentos do Frango Frito do Pedrinho anunciam que muitos milhões de frangos são abatidos e vendidos todos os anos, graças ao trabalho duro do Pedrinho. Agora, porém, ele não está mais por perto para desfrutar dos lucros, senão que foi embora encontrar-se com seu destino.
É realmente muito lamentável que Pedrinho não conhecesse a lei do karma, pois terá de arcar com a maior parte da responsabilidade por todos os frangos que foram mortos, bem como os milhões de frangos que continuarão sendo mortos no futuro, em razão do negócio que ele começou. De acordo com a lei do karma, para sofrer a dor que ele causou em outros, ele está destinado a nascer de modo a ser similarmente abatido inumeráveis vezes. Em tal caso, é impossível saber quando ele novamente terá um nascimento humano. Seu futuro e o futuro de outros como ele é extremamente trevoso.
O único momento em que o consumo de carne pode ser considerado é quando é uma emergência e não há absolutamente nenhuma outra coisa se comer de modo a permanecer vivo. Em outras situações, não há razão para se comer carne quando tantos outros tipos de alimento estão prontamente disponíveis. É por isso que a Manu-samhita recomenda: “A carne jamais pode ser obtida sem ferir outras criaturas vivas, e ferir outros seres sencientes é danoso à obtenção da bem-aventurança celeste. Portanto, que haja abstenção do consumo de carne. Tendo considerado bem a origem repulsiva da carne e a crueldade envolvida em prender e matar seres corpóreos, que haja completa abstenção do consumo de carne.” (Manu-samhita 5.48-49)
Karma da Nação
Quando a maioria das pessoas em um país se influenciam pelo comercialismo e são viciadas às quatro atividades mais carmicamente nocivas – comer carne, intoxicar-se, fazer sexo ilícito e envolver-se com jogos de azar – haverá certamente reações a serem experimentadas no futuro. Essa é a lei universal. Não existe quantidade ou intensidade de planejamento econômico, corrida armamentista, arranjos na agricultura ou mesmo previsão do tempo que possa ajudar a evitar reações cármicas inesperadas.
Entendendo a lei do karma e aderindo aos quatro princípios que são especialmente recomendados para esta era – a saber, veracidade, limpeza, austeridade e misericórdia –, o povo de um país certamente se tornará forte, possuidor de bom caráter moral, interessado no bem-estar alheio e terá um estado mental firme bem como um destino mais grandioso do que de qualquer outra nação. Todos nós queremos tornar o nosso país e este mundo um lugar melhor, e há um método que nos permitirá isso, o qual estamos revelando neste texto. Porém, é preciso entendermos que é fundamental aplicarmos o método e não apenas nos atermos aos planejamentos óbvios, como fazem os políticos, consultores econômicos, o poder judiciário etc. Existe o aspecto sutil se desenrolando, o qual é determinado pelas decisões e atividades de todo e cada indivíduo. Em razão disso, aqueles que dedicam parte do seu tempo para entender a lei do karma e tentam se conduzir apropriadamente por certo podem ser entendidos como sujeitos que estão trabalhando por um futuro melhor, não apenas para si mesmos, mas para um país melhor e, com efeito, por um mundo melhor.
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fonte: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/karma-e-os-quatro-principios-da-era-de-kali/

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Ajamila e os Mensageiros da Morte

Ajamila e os Mensageiros da Morte

Ajamila-Mensageiros-Morte
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Como uma segunda chance mudou a história de um homem.

Existiu, certo tempo atrás, um jovem brahmana de nome Ajamila, que era o reservatório de todas as boas qualidades e boa conduta. Ele era manso e humilde, sempre veraz, bem versado nas escrituras védicas e muito puro.
Um dia, ao ser assim solicitado por seu pai, Ajamila foi para a floresta a fim de pegar frutas, flores e grama. Assim é um pai que tem a qualidade de brahmana: ele adora o Senhor e manda o filho organizar algumas flores e frutas para que sejam oferecidas no serviço ao Senhor. Qual é a vantagem de nascer em uma família de brahmanas? Os outros têm que estudar para conhecer essas coisas, mas quem nasce em semelhante família pode aprender vendo o comportamento dos pais, podem aprender automaticamente. Essa é a vantagem.
Assim, de acordo com as instruções de seu pai, o garoto foi buscar na floresta os artigos solicitados. E o que ele viu no caminho?
A Degradação de Ajamila
No caminho de volta para casa, se deparou com um homem de classe baixa e muito luxurioso que abraçava e beijava uma prostituta. Ambos estavam bêbados, e o homem ria, cantava e se divertia sem qualquer constrangimento. Os olhos da prostituta giravam devido a estar alcoolizada, e suas roupas estavam frouxas no corpo. Quando Ajamila a viu, os desejos luxuriosos em seu coração despertaram, e, em ilusão, caiu sob o controle deles.
Ajamila vê a prostituta e o homem degradado.
Lembrando-se das instruções das escrituras, Ajamila tentou não contemplar a mulher. Ele se esforçou por controlar seus desejos luxuriosos com a ajuda de seu conhecimento e de seu intelecto, mas fracassou. A menos que alguém seja muito forte em conhecimento, paciência e comportamento corpóreo, mental e intelectual adequados, refrear os desejos luxuriosos é extremamente difícil.
Assim, após ver um homem abraçando uma jovem mulher e fazendo praticamente tudo o que se exige da vida sexual, mesmo um brahmana plenamente qualificado não pôde controlar seus desejos luxuriosos. Não exatamente qualificado; se o fosse, não teria caído. Ele, em verdade, estava no estágio neófito. Se estou no estágio neófito, caso eu veja alguém se entregando a atividades luxuriosas ou sexuais, naturalmente meu desejo sexual também desperta, e eu naturalmente me inclino a isso. Ajamila era um praticante, ainda exercitando samadamasatyamsaucam… Essas são as qualificações de um brahmanaSama significa ter a mente equilibrada, livre de perturbações e de qualquer ansiedade. Dama quer dizer controle dos próprios sentidos. Satyam significa que você não deve comprometer a verdade por algum interesse pessoal. Saucam, por sua vez, significa ser limpo, interna e externamente.
Ajamila estava tentando praticar essas qualidades, mas não conseguiu ter domínio sobre si mesmo. Ele era um jovem de cerca de vinte anos quando isso aconteceu. Devido à força da vida materialista, manter o autocontrole é extremamente difícil para quem não está sob a especial proteção da Suprema Personalidade de Deus através do serviço devocional.
Assim derrotado, Ajamila perdeu todo o bom senso que tinha e, nos dias que se seguiram, não fazia nada além de pensar na prostituta. Pouco tempo depois, então, aceitou-a como uma criada em sua casa e abandonou todos os princípios de um brahmana.
O dinheiro que havia herdado de seu pai, Ajamila passou a gastar comprando vários presentes com o intuito de agradar a prostituta. Ele até mesmo abandonou sua esposa bela e jovem, que vinha de uma família muito respeitável. Assim, Ajamila passou sua longa vida quebrando irresponsavelmente todas as regras e regulações das escrituras sagradas. Ele se tornou sujo e viciado em atividades proibidas. Vivendo de maneira extravagante, mantinha sua família molestando outros, através de fraudes, jogos de azar e furtos.
Mundo afora, existem muitos exemplos onde, mesmo uma pessoa pura, deixando-se atrair por uma prostituta, gasta todo o dinheiro que herdou. A caça por prostitutas é tão abominável que o desejo de contato sexual com esse tipo de mulher pode arruinar o caráter da pessoa, destruir sua posição elevada e corroer todo o seu dinheiro. Portanto, o sexo ilícito é estritamente proibido. Deve-se ficar satisfeito com a esposa obtida através do matrimônio legal, pois mesmo um leve desvio trará prejuízo. O grihastha [chefe de família] consciente de Krishna deve sempre lembrar-se disso. Ele sempre deve viver satisfeito com sua única esposa e ficar em paz simplesmente cantando o mantraHare Krishna. Caso contrário, a qualquer momento, poderá cair de sua posição, como exemplifica o caso de Ajamila.
O Filho Mais Amado
Com a idade de oitenta e oito anos, Ajamila já tivera dez filhos com a prostituta. O filho mais novo de Ajamila, um bebê chamado Narayana, era naturalmente muito querido tanto ao pai quanto à mãe. As palavras balbuciadas da criança e movimentos desajeitados eram muito agradáveis aos olhos do idoso Ajamila, que sempre cuidava do menino e desfrutava das atividades dele.
Narayana é um nome de Deus, em consequência do que, mesmo sem a intenção, o idoso estava sempre falando o santo nome do Senhor. Embora ele estivesse se referindo a seu filho, e não ao Narayana original, Ajamila estava se purificando porque o santo nome de Narayana é muito poderoso. Caso, de alguma maneira, a mente de alguém se sinta atraída pelo santo nome de Krishna (tasmat kenapy upayena manah krishne niveshayet), ele estará no caminho da liberação.
A Suprema Personalidade de Deus é bondoso com a alma condicionada. Embora esse homem tivesse se esquecido por completo de Narayana, ele estava chamando seu filho, dizendo: “Narayana, por favor, venha comer esse alimento.” “Narayana, por favor, venha beber esse leite.” Portanto, de alguma forma, ele estava apegado ao nome Narayana. Isso se chama ajnata-sukriti, piedade obtida sem conhecimento. Embora estivesse chamando seu filho, inconscientemente estava pronunciando o nome de Narayana, e o santo nome da Suprema Personalidade de Deus tem tamanha potência transcendental que o cantar desse homem estava sendo computado e registrado.
Sempre cuidando de seu filho e chamando por seu nome, Ajamila não estava ciente de que sua vida agora estava esgotada.
Os Mensageiros da Morte
Na hora de sua morte, Ajamila viu três personalidades estranhas, com atributos corpóreos deformados, faces retorcidas e ferozes, e cabelos arrepiados. Eram eles os Yamadutas, servos de Yamaraja, o senhor da morte, e haviam vindo a fim de levar Ajamila para a morada de seu mestre. Executam-se atividades pecaminosas com o corpo, com a mente e com as palavras, daí terem sido em três os mensageiros de Yamaraja que vieram levar Ajamila.
Quando Ajamila os viu, ficou extremamente desorientado e, devido a seu apego por seu filho, que estava brincando um pouco perto dali, chamou alto e choroso pelo nome da criança: “Narayana!”
Imediatamente, os Vishnudutas, os servos do Senhor Supremo, conhecido como Vishnu, ou Narayana, chegaram ao local. Eles ouviram o santo nome de seu mestre partindo da boca do moribundo Ajamila. Com vozes retumbantes, os mensageiros do Senhor Vishnu ordenaram que os Yamadutas parassem e, deste modo, salvaram Ajamila da morte.
Os mensageiros do Senhor Vishnu vieram porque Ajamila cantara o santo nome de Narayana. Eles não analisaram o motivo pelo qual ele estava cantando. Enquanto cantava o nome de Narayana, Ajamila, em verdade, estava pensando em seu filho, mas bastou-lhes ouvir Ajamila cantar o nome do Senhor para que os mensageiros do Senhor Vishnu, os Vishnudutas, viessem protegê-lo. Esse cantar foi suficiente para limpar Ajamila de todas as atividades pecaminosas.
Os Vishnudutas chegam em socorro de Ajamila.
Com relação a isso, Srila Vijayadhvaja Tirtha comenta que anena putra-sneham antarena prachinadrista-balad udbhutaya bhaktya bhagavan-nama-sankirtanam kritam iti jnayate: “Ajamila cantou o nome de Narayana devido ao seu apego excessivo ao seu filho. Entretanto, devido à sua boa fortuna de que, no passado, prestara serviço devocional a Narayana, ele aparentemente cantou o santo nome em pleno serviço devocional e sem ofensas.”
Visto que Ajamila era filho de um brahmana, teve o costume de adorar Narayana em sua juventude, visto que em toda casa de brahmana acontece a adoração a Narayana. Assim, embora o contaminado Ajamila estivesse chamando por seu filho, ele, ao concentrar sua mente no santo nome de Narayana, recordou-se do Narayana que adorara muito fielmente quando jovem.
Embora os servos de Yamaraja tenham dentro de sua jurisdição todos os seres vivos envolvidos com pecados, os mensageiros de Vishnu são capazes de punir até mesmo o próprio Yamaraja caso ele cometa alguma espécie de injustiça com um devoto de Vishnu, o Senhor Supremo.
Como Ajamila cantara o santo nome de Narayana, os Vishnudutas não apenas chegaram imediatamente ao local como também ordenaram de imediato que os Yamadutas não tocassem nele. Falando com voz de autoridade, os Vishnudutas ameaçaram punir os Yamadutas se estes se atrevessem a arrancar a alma de Ajamila de seu coração.
De acordo com as atividades pecaminosas de Ajamila, ele estava dentro da jurisdição de Yamaraja, o juiz supremo designado para avaliar os pecados das entidades vivas. Quando os Yamadutas foram assim proibidos de cumprir sua missão, ficaram muito surpresos, pois ninguém dentro dos três mundos jamais os havia impedido de executar o seu dever.
Os Yamadutas exclamaram: “Quem são vocês, prezados, que ousam desafiar a jurisdição de Yamaraja? De quem vocês são servos? De onde vieram e por que estão nos proibindo de tocar Ajamila? Vocês devem estar cientes de que este homem, Ajamila, não expiou os seus pecados. Em consequência de sua vida pecaminosa, temos que o levar até a corte de Yamaraja para ser castigado. De acordo com a extensão de seus atos pecaminosos, ele será punido e, deste modo, purificado.”
Os Yamadutas continuaram: “Seus olhos são exatamente como pétalas de flores de lótus. Vestidos em roupas de seda amarela, decorados com guirlandas de lótus, e usando elmos muito atrativos sobre a cabeça e brincos em suas orelhas, vocês parecem muito jovens e viçosos. Seus quatro longos braços estão decorados tanto com arcos e aljavas quanto com espadas, maças, búzios, discos e flores de lótus. Com extraordinária luminosidade, sua refulgência dissipou a escuridão deste lugar. Então, senhores, digam por que nos trazem essa proibição.”
Os Yamadutas Respondem os Enviados do Senhor Supremo
Os abençoados mensageiros do Senhor Vishnu, os Vishnudutas, disseram: “Se vocês são realmente servos de Yamaraja, devem nos explicar o significado dos princípios religiosos e as características da irreligião.”
Esta pergunta que os Vishnudutas fizeram aos Yamadutas é muito importante. Ao servo cabe conhecer as instruções de seu mestre. Os servos de Yamaraja alegaram estar cumprindo suas ordens, e, portanto, os Vishnudutas, com muita inteligência, lhes pediram que explicassem as características dos princípios religiosos e irreligiosos.
Os Yamadutas responderam: “Aquilo que os Vedas prescrevem constitui dharma, princípios religiosos, e o oposto disto é irreligião. Os Vedas são diretamente a Suprema Personalidade de Deus, Narayana, e são autogerados. Foi Yamaraja quem nos disse isso.”
Os servos de Yamaraja responderam de maneira bem adequada. Eles não inventaram princípios de religião ou irreligião. Ao contrário, explicaram o que lhes transmitiu uma autoridade
Na verdade, dharma não é inventado por Narayana. Como se afirma nos Vedasasya mahato bhutasya nihsvasitam etad yad rig-vedah iti: os preceitos de dharma emanam da respiração de Narayana, a entidade viva suprema. Narayana existe eternamente e respira eternamente, e, portanto, dharma, os preceitos de Narayana, também existem eternamente.
Continuaram os mensageiros de Yamaraja: “Em proporção à quantidade de ações religiosas ou irreligiosas que alguém pratica nesta vida, na vida seguinte ele terá de desfrutar ou sofrer a mesma equivalência das reações do seu karma.”
Como se declara na Bhagavad-gita (14.18):
urdhvatit gacchanti sattva-stha
madhye ti
shthanti rajasah
jaghanya-guna-v
ritti-stha
adho gacchanti tamasah
“Aqueles que agem no modo da bondade são promovidos aos sistemas planetários superiores para tornarem-se semideuses, aqueles que agem de modo comum e não cometem excessivos atos pecaminosos permanecem dentro deste sistema planetário intermediário, e aqueles que executam ações pecaminosas abomináveis têm que despencar rumo à vida infernal.”
Os mensageiros de Yamaraja disseram ainda: “Podemos ver três diferentes variedades de vida, que são consequentes à contaminação dos três modos da natureza. Portanto, conhecem-se as entidades vivas como pacíficas, inquietas ou tolas; felizes, infelizes ou com um pouco dessas duas características; religiosas, irreligiosas ou semirreligiosas. Podemos deduzir que, na próxima vida, essas três espécies de naturezas materiais continuarão exercendo suas ações.”
As ações e reações dos três modos da natureza material são visíveis nesta vida. Por exemplo, algumas pessoas são muito felizes, outras são muito aflitas e algumas sentem uma mistura de felicidade e tristeza. Isso decorre do fato de que, no passado, elas se associaram com os modos da natureza material: bondade, paixão e ignorância. Como essas variedades são visíveis nesta vida, podemos presumir que, de acordo com sua associação com os diferentes modos da natureza material, as entidades vivas, também em suas próximas vidas, serão felizes, infelizes ou terão um pouco dessas duas características. Portanto, a melhor conduta que alguém pode tomar é desvincular-se dos três modos da natureza material e permanecer sempre transcendental à contaminação deles. Isso é possível somente quando ele se ocupa completamente em serviço devocional ao Senhor. Como Krishna confirma na Bhagavad-gita (14.26):
mam cha yo ‘vyabhicharena
bhakti-yogena sevate
sa gunan samatityaitan
brahma-bhuyaya kalpate
“Aquele que se ocupa em pleno serviço devocional, que não cai em nenhuma circunstância, transcende de imediato os modos da natureza material e, então, chega à plataforma espiritual.” A menos que alguém esteja completamente absorto em servir o Senhor, sujeita-se à contaminação dos três modos da natureza material e, portanto, tem que passar por infelicidade ou uma mistura de felicidade e infelicidade.
Os servos de Yamaraja disseram, então: “Assim como a pessoa adormecida age de acordo com o corpo manifesto em seus sonhos e aceita-o como sendo ela própria, do mesmo modo, alguém se identifica com o seu corpo atual, o qual adquiriu devido às suas ações religiosas ou irreligiosas, que praticou no passado, e é incapaz de conhecer suas vidas passadas ou futuras.”
Um homem se ocupa em atividades pecaminosas porque não sabe o que, na sua vida passada, fez para obter este corpo atual que é materialmente condicionado e que está sujeito às três misérias. Como Rishabhadeva afirma no Srimad-Bhagavatam (5.5.4), nunam pramattah kurute vikarma: o ser humano que está enlouquecido pelo gozo dos sentidos não hesita em agir pecaminosamente. Yad indriya-pritaya aprinoti: em troca de simples gozo dos sentidos, ele executa ações pecaminosas. Na sadhu manye: isto não é bom. Yata atmano ’yam asann api kleshada asa devah: devido a essas ações pecaminosas, receberá outro corpo no qual deverá sofrer assim como, em seu corpo atual, sofre devido a suas atividades pecaminosas passadas. Convém que se saiba que alguém que não tem conhecimento védico sempre age em ignorância do que fez no passado, do que está fazendo no presente e do que sofrerá no futuro. Ele jaz em completa escuridão. Portanto, o preceito védico diz que tamasi ma: “Não permaneça na escuridão.” Jyotir gama: “Tente chegar-se à luz.” A luz, ou ilu­minação, é o conhecimento védico, do qual alguém pode achegar-se quando se eleva ao modo da bondade ou quando transcende o modo da bondade ocupando-se em serviço devocional ao mestre espiritual e ao Senhor Supremo. Descreve isso o Svetasvatara Upanishad (6.23):
yasya deve para bhaktir
yatha deve tatha gurau
tasyaite kathita hy arthah
prakashante mahatmanah
“Àquelas grandes almas que têm fé inabalável no Senhor e no mestre espiritual, todo o conteúdo do conhecimento védico lhes é automa­ticamente revelado.” Os Vedas prescrevem que tad-vijnanartham sa gurum evabhigacchet: a fim de tornar-se devoto do Senhor, a pessoa deve aproximar-se de um mestre espiritual que conheça todos os Vedas e deve fielmente receber orientação dele. Então, o conheci­mento dos Vedas lhe será revelado. Quando o conhecimento védico lhe for revelado, sairá da escuridão da natureza material.
De acordo com sua associação com os modos da natureza mate­rial – bondade, paixão e ignorância –, a entidade viva obtém uma determinada classe de corpo. Exemplo de pessoa associada com o modo da bondade é o brahmana qualificado. Tal brahmana conhece o presente, o passado e o futuro porque consulta a literatura védica. Ele pode entender qual foi sua vida passada, por que está no corpo atual e como pode li­bertar-se das garras de maya e evitar de aceitar outro corpo material. Tudo isto torna-se possível àquele que se situa no modo da bonda­de. Geralmente, entretanto, as entidades vivas estão absortas nos modos da paixão e da ignorância.
Aquele que está em completa escuridão não consegue entender sua vida passada nem sua vida futura; ele está simplesmente interessa­do em seu corpo atual. Muito embora tenha um corpo humano, a pessoa no modo da ignorância e interessada unicamente em seu pre­sente corpo é como um animal, pois um animal, estando coberto pela ignorância, pensa que a meta última da vida e a felicidade con­sistem em comer o máximo possível. O ser humano deve receber edu­cação no sentido de entender sua vida passada e de como pode esforçar-se por uma melhor vida futura. Existe até mesmo um livro, chamado Bhrigu-samhita, que, de acordo com cálculos astrológicos, revela informações sobre as vidas passadas, presente e futuras. De alguma forma, a pessoa deve esclarecer-se acerca de seu passado, presente e futuro. Interessar-se somente por seu corpo atual e tentar satisfazer os sentidos ao máximo é próprio de uma pessoa absorta no modo da ignorância. Seu futuro é muitíssimo tenebroso. Na ver­dade, o futuro é sempre muito tenebroso para alguém que está mer­gulhado grosseiramente na ignorância. Especialmente nesta era, a sociedade humana está imersa no modo da ignorância, e, portanto, sem levar em consideração o passado ou o futuro, todos pensam que seu corpo atual é tudo.
Os Yamadutas disseram em seguida: “A tola entidade viva corporificada, incapaz de controlar seus sentidos e sua mente, toma atitudes que vão na direção contrária dos seus desejos, pois é forçada a agir de acordo com a influência dos modos da natureza material. Ela é como um bicho-da-seda que usa a sua própria saliva para criar um casulo no qual depois fica preso sem possibilidade de escapar.”
Por fim, concluíram: “Esse brahmana irresponsável levou toda a sua longa vida transgredindo todas as regras e regulações da escritura sagrada, vivendo extravagantemente e comendo alimentos preparados por uma prostituta. Portanto, ficou repleto de pecados, impuro e viciado em atividades proibidas. Ajamila não se submeteu à expiação. Portanto, devido à sua vida pecaminosa, temos que levá-lo à presença de Yamaraja para ser punido. Lá, de acordo com a quantidade dos seus atos pecaminosos, ele será castigado e, assim, se purificará.
Os Vishnudutas proibiram os Yamadutas de levar Ajamila a Yamaraja, e por isso os Yamadutas explicaram que levar tal homem até Yamaraja era a atitude correta. Como não se submetera à expiação de seus atos pecaminosos, Ajamila devia ser levado até Yamaraja para ser purificado. A punição imposta por Yamaraja é um processo para purificar os pecadores mais abomináveis. Portanto, os Yamadutas pediram aos Vishnudutas que não os impedissem de levar Ajamila a Yamaraja.
As Glórias do Nome de Deus
Os Vishnudutas disseram: “Oh! Quão doloroso é que a irreligião esteja se infiltrando numa assembleia onde se deveria manter a religião. Na verdade, aqueles que estão encarregados de primar pelos princípios religiosos estão desnecessariamente punindo uma pessoa que, não tendo pecados, não merece punição alguma.”
Os Vishnudutas acusaram os Yamadutas de violarem os princípios religiosos ao tentarem arrastar Ajamila até Yamaraja para que ele fosse punido. Yamaraja é o ministro apontado pela Suprema Personalidade de Deus para julgar os princípios religiosos e irreligiosos e punir as pessoas irreligiosas. Contudo, se pessoas que não têm pe­cados são punidas, toda a assembleia de Yamaraja contamina-se. Os Vishnudutas lamentaram-se devido a esses fatos muito deploráveis. Embora Ajamila não estivesse sujeito à punição, os Yamadutas insistiam em levá-lo a Yamaraja para ser castigado.
Os Vishnudutas disseram: “Ajamila já expiou todas as suas ações pecaminosas. Na verdade, ele expiou não apenas os pecados executados em uma vida, mas aqueles praticados em milhões de vidas, pois, em condição desamparada, ele cantou o santo nome de Narayana. Muito embora ele não tivesse cantado com pureza, cantou sem cometer ofensas e, portanto, agora tornou-se puro e apto à liberação.”
Os Yamadutas consideraram apenas a situação externa de Ajamila. Como ele fora extremamente pecaminoso durante toda a sua vida, julgavam que Ajamila deveria ser levado a Yamaraja e não sabiam que ele havia se livrado das reações de todos os seus pecados. Portanto, os Vishnudutas ensinaram que, pelo fato de ele ter cantado na hora da morte as quatro sílabas do nome de Narayana, livrou-se de todas as reações pecaminosas.
Os Vishnudutas continuaram: “Assim como o fogo reduz a cinzas a grama seca, do mesmo modo, o santo nome do Senhor, cantado quer consciente quer inconscientemente, fatalmente reduz a cinzas todas as reações das atividades pecaminosas de alguém. Se um indivíduo, ignorando a potência de certo remédio, toma esse remédio ou é forçado a tomá-lo, o remédio agirá de qualquer modo, porque sua potência independe do grau de compreensão do paciente. Da mesma forma, muito embora alguém desconheça o valor de cantar o santo nome do Senhor, quer ele cante consciente, quer cante inconscientemente, o canto será muito eficaz.”
Uma Segunda Chance
Os Vishnudutas libertaram o brahmana Ajamila das garras dos Yamadutas e, desta maneira, o pouparam da morte. Ajamila, agora livre do medo, caiu em si e de imediato ofereceu respeitos aos Vishnudutas, curvando sua cabeça até seus pés. Ele estava extremamente contente com a presença deles, visto que o haviam salvado dos Yamadutas. Quando os Vishnudutas viram que Ajamila estava tentando dizer algo, eles despareceram subitamente.
À medida que as pessoas se degradam, a duração de suas vidas diminui (prayenal­payushah). Porque agora Ajamila estava livre de todas as reações pecaminosas, prolongou-se a duração de sua vida, muito embora ele estivesse destinado a morrer imediatamente. Ao perceberem Ajamila tentando dizer-lhes algo, os Vishnudutas desapareceram para dar-lhe a oportunidade de glorificar o Senhor Supremo. Como todas as suas reações pecaminosas foram eliminadas, agora ele estava preparado para glorificar o Senhor. Na verdade, só pode glorificar o Senhor quem estiver completamente livre de todas as atividades pecamino­sas. Na Bhagavad-gita (7.28), o próprio Krishna confirma isto:
yesham tv anta-gatam papam
jananam punya-karmanam
te dvanda-moha-nirmukta
bhajante mam dri
ha-vratah
“Pessoas que agiram piedosamente em vidas anteriores e nesta vida, cujas ações pecaminosas estão completamente erradicadas e que estão livres da dualidade da ilusão, ocupam-se em servir-Me com determinação.” Os Vishnudutas deixaram Ajamila bem informado acerca do serviço devocional para que ele imediatamente pudesse capacitar-se a voltar ao lar, a voltar ao Supremo. Para aumentar seu anseio de glorificar o Senhor, eles desapareceram, de modo que, na ausência deles, ele sentisse saudade. Com espírito de saudade, a glorificação ao Senhor é muito intensa.
Embora as afirmações dos Yamadutas encontrassem completo apoio nos princípios védicos, as afirmações dos Vishnudutas prevaleceram. Tendo ouvido a conversa entre os Yamadutas e os Vishnudutas, Ajamila agora era capaz de entender os princípios religiosos transcendentais referentes à relação entre o ser vivo e a Suprema Personalidade de Deus. Além disso, como Ajamila havia escutado a glorificação que fizeram a Deus, ele agora era um devoto perfeitamente puro e pôde, assim, recordar-se de todas as atividades pecaminosas que fizera no passado. Ele se arrependeu fortemente de tudo que fizera e começou a lamentar-se de suas atividades materialistas.
Um Novo Homem
“Oh! Que toda a condenação recaia sobre mim!”, disse Ajamila. “Agi tão pecaminosamente que degradei minha tradição familiar. Na verdade, abandonei minha casta, bela e jovem esposa para fazer sexo com uma prostituta degenerada, acostumada a beber vinho. Que toda a condenação recaia sobre mim!”
Esta é a mentalidade de alguém que está se tornando devoto puro. Quando, pela graça do Senhor e do mestre espiritual, ele se eleva à plataforma de serviço devocional, primeiramente lamenta-se de suas atividades pecaminosas passadas. Isso o ajuda a avançar na vida espiritual. Os Vishnudutas deram a Ajamila a oportunidade de tornar-se devoto puro, e cabe ao devoto puro deplorar suas atividades pecaminosas passadas, através das quais entregava-se ao sexo ilícito, à intoxicação, ao consumo de carne e aos jogos de azar. Ele não apenas deve abandonar seus maus hábitos passados, mas deve sempre lamentar-se de seus atos pecaminosos passados. Esse é o padrão de devoção pura.
“Meu pai e minha mãe estavam velhos e não tinham nenhum outro filho ou amigo que tomasse conta deles. Porque não cuidei deles, ambos viveram muitas dificuldades. Oh! Como um abominável homem de classe inferior, ou ingratamente os larguei nessa condição.”
Devido a seu envolvimento com uma prostituta, Ajamila abandonou todos os seus deveres. Lamentando isso, Ajamila agora considerava-se bastante caído.
Falou, então: “Agora está claro que, como consequência dessas atividades, um pecaminoso como eu tem que ser atirado em condições infernais, reservadas àqueles que quebraram os princípios religiosos e onde deverão sofrer misérias extremas… Certamente, sou muito abominável e desafortunado por ter imergido em um oceano de atividades pecaminosas. Contudo, devido às minhas atividades espirituais anteriores, pude ver aquelas quatro personalidades elevadas que vieram ao meu resgate. Agora, em decorrência da visita deles, sinto-me muitíssimo feliz.”
Ajamila prosseguiu: “Sou uma pessoa muito pecaminosa, mas, como obtive esta oportunidade, devo exercer pleno controle sobre a minha mente, vida e sentidos e devo sempre ocupar-me no serviço devocional para que não volte a cair na profunda escuridão e ignorância da vida material. Sendo uma alma muito degradada, caí vítima da energia ilusória e tornei-me como um cão dançarino, conduzido pela mão de uma mulher. Agora, abandonarei todos os desejos luxuriosos e me livrarei desta ilusão. Eu me tornarei um misericordioso amigo e benquerente de todas as entidades vivas e sempre estarei absorto em consciência de Krishna.”
Este deve ser o padrão de determinação para todas as pessoas conscientes de Krishna. Quem é consciente de Krishna deve livrar-se das garras de maya, e também deve ter compaixão de todas as outras pessoas que sofrem nessas garras. As atividades do movimento da consciência de Krishna destinam-se não apenas a nós mesmos, mas também aos demais. Esta é a perfeição da consciência de Krishna. A pessoa interessada em sua própria salvação não é tão avançada em consciência de Krishna como aquela que sente compaixão dos outros.
“Simplesmente porque cantei o santo nome do Senhor na companhia dos devotos, meu coração agora está se purificando. Portanto, não voltarei a cair vítima dos falsos encantos do gozo dos sentidos materiais. A partir de agora que me fixei na Verdade Absoluta, não me identificarei com o corpo. Abandonarei as falsas concepções de ‘eu’ e ‘meu’ e fixarei minha mente aos pés de lótus de Krishna.”
Aqui temos uma explicação lúcida de como a entidade viva torna-se vítima da condição material. Tudo começa com a falsa identificação do corpo com o eu. Portanto, a Bhagavad-gita tem início com a instrução espiritual de que a pessoa não é o corpo e de que ela está dentro do corpo. Essa consciência torna-se possível somente àquele que canta o santo nome de Krishna e sempre se mantém na companhia dos devotos. Esse é o segredo do sucesso. Portanto, enfatizamos que a pessoa deve cantar o santo nome do Senhor e manter-se livre das contaminações deste mundo material, especialmente das contaminações dos desejos luxuriosos de sexo ilícito, consumo de carne, intoxicação e jogos de azar. Com determinação, deve-se fazer o voto de seguir esses princípios e, então, salvar-se da condição miserável da existência material. O primeiro requisito é livrar-se do conceito de vida corpórea.
Por causa de um momento na companhia dos devotos do Senhor Supremo, Ajamila foi capaz de se desapegar, com determinação, da concepção material de vida. Livre de toda atração material, ele imediatamente partiu para a cidade de Haridwar, às margens do rio Ganges. Em Haridwar, Ajamila ficou em um templo de Vishnu, onde praticou bhakti-yoga, o processo do serviço devocional.
Ajamila Atinge a Perfeição da Vida
Ele controlou seus sentidos e aplicou completamente sua mente no serviço ao Senhor. Quando sua inteligência e sua mente se fixaram na forma do Senhor, Ajamila viu mais uma vez diante dele os quatro mensageiros celestiais de Vishnu. Reconhecendo-os como os mesmos que ele havia visto anteriormente, demonstrou-lhes respeito curvando-se perante eles.
Os Vishnudutas haviam se afastado por algum tempo para permitirem que Ajamila se tornasse fixo na meditação ao Senhor. Agora que a devoção dele havia amadurecido, retornaram para levá-lo para o mundo espiritual. Ao ver os Vishnudutas, Ajamila deixou para trás seu corpo material e recobrou seu corpo espiritual original, que era perfeitamente apropriado para um associado do Senhor. Este é o resultado da perfeição em consciência de Krishna: após deixar o corpo material, a pessoa é imediatamente transferida para o mundo espiritual em seu corpo espiritual original, para tornar-se um companheiro da Suprema Personalidade de Deus.
Em seu corpo espiritual, Ajamila vai de volta ao lar, de volta ao Supremo.
Acompanhado pelos Vishnudutas, Ajamila, então, embarcou em um aeroplano dourado, que o levou pelos céus diretamente para a morada do Supremo Senhor Vishnu, o esposo da deusa da fortuna. Embora estivesse destinado a ser levado para o inferno pelos Yamadutas, Ajamila foi salvo pelos Vishnudutas e pôde ir de volta ao lar, de volta ao Supremo, por ter cantado o santo nome do Senhor na hora de sua morte.
Na hora da morte, a pessoa certamente fica confusa em virtude de suas funções corpóreas estarem em desordem. Nessa hora, mesmo alguém que, ao longo de sua vida, tenha praticado cantar os santos nomes do Senhor pode ser que não consiga cantar o mantra Hare Krishna muito claramente. No entanto, tal pessoa recebe todos os benefícios de se entoar o santo nome. Enquanto o corpo esteja saudável, portanto, devemos cantar o santo nome do Senhor alto e com nitidez. Se alguém faz isso, é bastante possível que, mesmo na hora da morte, será capaz de cantar apropriadamente o santo nome do Senhor com amor e fé e retornar ao lar, retornar ao Supremo, sem qualquer dúvida.
Revisão de Prema-vardhana Devi Dasi.
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fonte: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/ajamila-e-os-mensageiros-da-morte/

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