quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um novo leitor

 Um novo leitor
Instrumento de avaliação permite oferecer o acervo de livros em meio digital para ampliar o acesso de estudantes às publicações
Edinaldo Andrade

 
Passados mais de cinco séculos desde a invenção de Gutenberg que revolucionou o processo de produção de livros, uma nova transformação em curso impacta o mercado editorial: são as publicações em meio digital. Dessa vez, a tecnologia atinge ainda a maneira como as obras são armazenadas, criando as chamadas bibliotecas digitais. A força do meio eletrônico para a publicação de livros se mostra tão premente que, em dezembro passado, uma resolução da Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Conaes) permitiu às instituições de ensino superior disponibilizar em ambiente virtual pelo menos um dos livros da bibliografia básica de cada disciplina dos cursos oferecidos.

De acordo com o presidente da Conaes, Sérgio Roberto Kieling Franco, a expressão "pelo menos um" significa que os demais livros também podem ser digitais - normalmente três obras compõem a bibliografia básica exigida para cada disciplina. "O que a resolução quer sinalizar é que não adianta, para este indicador, a instituição ter um acervo digital e este não atender à bibliografia básica. É por isso que existem outros indicadores de avaliação do MEC", explica Franco.

O presidente da Conaes alerta, no entanto, que a possibilidade de oferecer aos alunos uma biblioteca virtual não descarta a manutenção do acervo físico pela instituição.

Uma possibilidade vislumbrada com a nova resolução é poder atingir um número maior de alunos e facilitar o acesso deles ao acervo das instituições. Embora na maioria dos casos não haja limite de consultas simultâneas às bibliotecas virtuais, Sérgio Franco alerta que as instituições devem estar atentas aos contratos desse serviço. "Pretendemos acompanhar isso e evitar que o uso do acervo virtual não seja restritivo, porque se assim for, torna-se muito pior que o acervo físico", destaca Franco.

De  modo geral, para a adoção de uma biblioteca virtual, a instituição assina um contrato de serviço com uma empresa especializada no fornecimento deste tipo de tecnologia, disponibilizando senhas de acesso para seus estudantes.

Na biblioteca digital, o aluno não tem hora para "retirar" livros e pode ler quantas publicações quiser, sem ter de se preocupar com data de devolução. Na maioria das plataformas, não é possível baixar o material no computador, apenas acessá-lo remotamente. O número de cópias também é limitado por leis de direitos autorais. Outras vantagens são os recursos interativos como vídeos e fotos, que ampliam a experiência do leitor.

Entre as empresas que oferecem o serviço está o Grupo Pearson, editora especializada em conteúdos digitais para a educação, que possui uma linha de negócios específica chamada de Biblioteca Virtual Universitária (BVU). Desde 2005, época do lançamento do projeto, a BVU passou a ser utilizada por 92 instituições de ensino superior e mais de dois milhões de usuários que a acessam diariamente, segundo o diretor de Negócios de Ensino Superior e Idiomas da Pearson Brasil, Laércio Dona.
Tendência virtual
Na Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy (Unigranrio), o sucesso do livro virtual é tanto, que uma pesquisa interna realizada pela instituição demonstrou que 95% dos 25 mil alunos preferem utilizar o material on-line como fonte de pesquisa. Segundo o diretor de Avaliação e Regulação da Unigranrio, Herbert Martins, o número de acessos à biblioteca virtual só cresce, chegando a 178 mil em 2011. "Mas isso não quer dizer que o aluno tenha deixado de lado a biblioteca física, ela continua sendo utilizada, principalmente em períodos que antecedem as provas, para o estudo em grupo, por exemplo", diz.

É também justamente em época de prova que as instituições e, especialmente, os alunos enfrentam um problema muito comum: a falta de livros. "A biblioteca física acaba não suprindo esta demanda. Então manter a biblioteca virtual disponível é uma vantagem muito importante", conta Martins.

A experiência com os livros digitais também foi positiva na PUC-PR, uma das pioneiras do Estado na utilização de uma biblioteca virtual, ainda em 1998. Na época, a instituição contava apenas com publicações em língua inglesa e periódicos on-line.

A coordenadora do Sistema de Bibliotecas da PUC-PR, Heloisa Anzolin, é defensora dos livros eletrônicos, mas tem ressalvas quanto ao uso exclusivo das bibliotecas virtuais. As razões, segundo ela, são bem simples. "Nem tudo o que a gente precisa existe em formato eletrônico ainda. Muitos livros de bibliografia básica, por exemplo, não são encontrados no formato digital", assevera.
Mais interatividade
Tal problema, porém, não representa uma barreira ao crescimento das bibliotecas virtuais, já que cresce rapidamente o lançamento de publicações digitais. No caso da BVU da Pearson, a oferta de publicações tem sido constantemente ampliada por meio de parcerias firmadas com editoras. Atualmente, a empresa conta com mais de dois mil títulos adotados como bibliografia básica e que cobrem mais de 40 áreas de conhecimento, como administração, marketing, engenharia, economia, direito, letras, história, geografia, jornalismo, computação, educação, medicina, enfermagem, psicologia, psiquiatria, gastronomia, turismo e outras - todos em português.

Herbert Martins adianta que novos serviços estão por vir, com a Biblioteca Virtual Universitária sendo preparada para oferecer outros recursos ainda mais interativos. "Nela o estudante pode digitar uma palavra qualquer e o próprio sistema vai trazer todos os títulos que existem dentro do acervo. A pesquisa também fica bem mais rápida. Ferramentas de anotações ainda permitem escrever observações no livro e uma nova versão possibilitará até enviar um trecho do livro para os amigos ou mesmo postar material no Twitter ou Facebook", conta Dona.

Os benefícios da biblioteca virtual
para a instituição...- Economia no valor investido para a compra de acervo para a biblioteca física.
- Maior número de títulos das bibliografias básica e complementar disponíveis.
- Integração e suporte aos programas de educação a distância da instituição, atendendo ao decreto n° 5.622 do MEC.
- Atualização permanente do acervo da biblioteca (inclusão mensal de novas edições e lançamentos).
- Segurança contra fotocópias ou replicações ilegais.
- Número ilimitado de acessos simultâneos.

... e para o estudante- Flexibilidade de acesso via internet na faculdade, em casa ou no trabalho.
- Disponibilidade do acervo 24 horas por dia, sete dias por semana.
- Consulta a múltiplos textos com facilidade.
- Existência de recursos de anotações eletrônicas que permitem gravar comentários em seu perfil.
- Descontos na compra da versão impressa dos livros disponíveis na biblioteca virtual universitária.
- Impressão de até 50% do conteúdo do livro com preço de fotocópia.

História do livro
Em 1455 a prensa móvel de Gutenberg imprimiu o primeiro livro: uma bíblia escrita em latim. Na época, o inventor e gráfico alemão enfrentou a resistência dos copistas, já que o sistema de impressão criado por ele colocava "em risco" a atividade desses profissionais. De fato não demorou muito para que a prensa se popularizasse e passasse a ser largamente utilizada, transformando a forma como os livros eram produzidos e, principalmente, comercializados. Agora, mais uma vez o livro e a maneira como nos relacionamos com a leitura passa por uma transição, com a popularização das publicações digitais. Esse mercado ganhou força principalmente devido à massificação da internet e das redes de banda larga. Soma-se a isso a produção cada vez mais crescente de tablets, dispositivos portáteis que permitem a leitura dos livros digitais, entre outras inúmeras funções. No entanto, a expectativa é de que o livro eletrônico não substituirá definitivamente o tradicional. Isso porque, para muitos, nada substitui o prazer de folhear uma boa publicação, fazer marcações ou até mesmo sentir aquele cheirinho gostoso de livro novo.
- Portas para a inovação
- Muito além da vigilância
- Mais próximo do mercado
- Onde está o aluno?

fonte http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=12925

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