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Passados
mais de cinco séculos desde a invenção de Gutenberg que revolucionou o
processo de produção de livros, uma nova transformação em curso impacta o
mercado editorial: são as publicações em meio digital. Dessa vez, a
tecnologia atinge ainda a maneira como as obras são armazenadas, criando
as chamadas bibliotecas digitais. A força do meio eletrônico para a
publicação de livros se mostra tão premente que, em dezembro passado,
uma resolução da Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior
(Conaes) permitiu às instituições de ensino superior disponibilizar em
ambiente virtual pelo menos um dos livros da bibliografia básica de cada
disciplina dos cursos oferecidos.
De acordo com o presidente da
Conaes, Sérgio Roberto Kieling Franco, a expressão "pelo menos um"
significa que os demais livros também podem ser digitais - normalmente
três obras compõem a bibliografia básica exigida para cada disciplina.
"O que a resolução quer sinalizar é que não adianta, para este
indicador, a instituição ter um acervo digital e este não atender à
bibliografia básica. É por isso que existem outros indicadores de
avaliação do MEC", explica Franco.
O presidente da Conaes alerta,
no entanto, que a possibilidade de oferecer aos alunos uma biblioteca
virtual não descarta a manutenção do acervo físico pela instituição.
Uma
possibilidade vislumbrada com a nova resolução é poder atingir um
número maior de alunos e facilitar o acesso deles ao acervo das
instituições. Embora na maioria dos casos não haja limite de consultas
simultâneas às bibliotecas virtuais, Sérgio Franco alerta que as
instituições devem estar atentas aos contratos desse serviço.
"Pretendemos acompanhar isso e evitar que o uso do acervo virtual não
seja restritivo, porque se assim for, torna-se muito pior que o acervo
físico", destaca Franco.
De modo geral, para a adoção de uma
biblioteca virtual, a instituição assina um contrato de serviço com uma
empresa especializada no fornecimento deste tipo de tecnologia,
disponibilizando senhas de acesso para seus estudantes.
Na
biblioteca digital, o aluno não tem hora para "retirar" livros e pode
ler quantas publicações quiser, sem ter de se preocupar com data de
devolução. Na maioria das plataformas, não é possível baixar o material
no computador, apenas acessá-lo remotamente. O número de cópias também é
limitado por leis de direitos autorais. Outras vantagens são os
recursos interativos como vídeos e fotos, que ampliam a experiência do
leitor.
Entre as empresas que oferecem o serviço está o Grupo
Pearson, editora especializada em conteúdos digitais para a educação,
que possui uma linha de negócios específica chamada de Biblioteca
Virtual Universitária (BVU). Desde 2005, época do lançamento do projeto,
a BVU passou a ser utilizada por 92 instituições de ensino superior e
mais de dois milhões de usuários que a acessam diariamente, segundo o
diretor de Negócios de Ensino Superior e Idiomas da Pearson Brasil,
Laércio Dona. Tendência virtual Na
Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy (Unigranrio), o
sucesso do livro virtual é tanto, que uma pesquisa interna realizada
pela instituição demonstrou que 95% dos 25 mil alunos preferem utilizar o
material on-line como fonte de pesquisa. Segundo o diretor de Avaliação
e Regulação da Unigranrio, Herbert Martins, o número de acessos à
biblioteca virtual só cresce, chegando a 178 mil em 2011. "Mas isso não
quer dizer que o aluno tenha deixado de lado a biblioteca física, ela
continua sendo utilizada, principalmente em períodos que antecedem as
provas, para o estudo em grupo, por exemplo", diz.
É também
justamente em época de prova que as instituições e, especialmente, os
alunos enfrentam um problema muito comum: a falta de livros. "A
biblioteca física acaba não suprindo esta demanda. Então manter a
biblioteca virtual disponível é uma vantagem muito importante", conta
Martins.
A experiência com os livros digitais também foi positiva
na PUC-PR, uma das pioneiras do Estado na utilização de uma biblioteca
virtual, ainda em 1998. Na época, a instituição contava apenas com
publicações em língua inglesa e periódicos on-line.
A
coordenadora do Sistema de Bibliotecas da PUC-PR, Heloisa Anzolin, é
defensora dos livros eletrônicos, mas tem ressalvas quanto ao uso
exclusivo das bibliotecas virtuais. As razões, segundo ela, são bem
simples. "Nem tudo o que a gente precisa existe em formato eletrônico
ainda. Muitos livros de bibliografia básica, por exemplo, não são
encontrados no formato digital", assevera. Mais interatividade Tal
problema, porém, não representa uma barreira ao crescimento das
bibliotecas virtuais, já que cresce rapidamente o lançamento de
publicações digitais. No caso da BVU da Pearson, a oferta de publicações
tem sido constantemente ampliada por meio de parcerias firmadas com
editoras. Atualmente, a empresa conta com mais de dois mil títulos
adotados como bibliografia básica e que cobrem mais de 40 áreas de
conhecimento, como administração, marketing, engenharia, economia,
direito, letras, história, geografia, jornalismo, computação, educação,
medicina, enfermagem, psicologia, psiquiatria, gastronomia, turismo e
outras - todos em português.
Herbert Martins adianta que novos
serviços estão por vir, com a Biblioteca Virtual Universitária sendo
preparada para oferecer outros recursos ainda mais interativos. "Nela o
estudante pode digitar uma palavra qualquer e o próprio sistema vai
trazer todos os títulos que existem dentro do acervo. A pesquisa também
fica bem mais rápida. Ferramentas de anotações ainda permitem escrever
observações no livro e uma nova versão possibilitará até enviar um
trecho do livro para os amigos ou mesmo postar material no Twitter ou
Facebook", conta Dona.
Os benefícios da biblioteca virtual |
para a instituição...- Economia no valor investido para a compra de acervo para a biblioteca física. - Maior número de títulos das bibliografias básica e complementar disponíveis. - Integração e suporte aos programas de educação a distância da instituição, atendendo ao decreto n° 5.622 do MEC. - Atualização permanente do acervo da biblioteca (inclusão mensal de novas edições e lançamentos). - Segurança contra fotocópias ou replicações ilegais. - Número ilimitado de acessos simultâneos.
... e para o estudante- Flexibilidade de acesso via internet na faculdade, em casa ou no trabalho. - Disponibilidade do acervo 24 horas por dia, sete dias por semana. - Consulta a múltiplos textos com facilidade. - Existência de recursos de anotações eletrônicas que permitem gravar comentários em seu perfil. - Descontos na compra da versão impressa dos livros disponíveis na biblioteca virtual universitária. - Impressão de até 50% do conteúdo do livro com preço de fotocópia. |
História do livro |
Em
1455 a prensa móvel de Gutenberg imprimiu o primeiro livro: uma bíblia
escrita em latim. Na época, o inventor e gráfico alemão enfrentou a
resistência dos copistas, já que o sistema de impressão criado por ele
colocava "em risco" a atividade desses profissionais. De fato não
demorou muito para que a prensa se popularizasse e passasse a ser
largamente utilizada, transformando a forma como os livros eram
produzidos e, principalmente, comercializados. Agora, mais uma vez o
livro e a maneira como nos relacionamos com a leitura passa por uma
transição, com a popularização das publicações digitais. Esse mercado
ganhou força principalmente devido à massificação da internet e das
redes de banda larga. Soma-se a isso a produção cada vez mais crescente
de tablets, dispositivos portáteis que permitem a leitura dos livros
digitais, entre outras inúmeras funções. No entanto, a expectativa é de
que o livro eletrônico não substituirá definitivamente o tradicional.
Isso porque, para muitos, nada substitui o prazer de folhear uma boa
publicação, fazer marcações ou até mesmo sentir aquele cheirinho gostoso
de livro novo. |
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