A ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA
INTRODUÇÃO
A palavra matemática é capaz de desencadear em nós sentimentos dos mais contraditórios, desde o arrepio de horror até o mais sublime suspiro de paixão. Este sentimento pode ser resgatado através da nossa história escolar e de nossas representações, nos trazendo lembranças vinculadas com a matemática, sempre e ainda muito presentes.
Para alguns, tais lembranças aparecem de uma forma não muito positiva, quem sabe até para a maioria. Para outros, não trazem nenhuma lembrança mais marcante. E para uma minoria evidenciam o mestre, o professor de matemática, em seu labor buscando um outro lado da matemática: dentre aquele emaranhado de símbolos, regras e propriedades, o verdadeiro significado e a sua importância como área de conhecimento.
Uma breve histórico da matemática
A Matemática só entrou na escola no final do século XVIII, com a Revolução Industrial. Curiosamente, perpetuou-se desde então um equívoco ao qual pode ser creditada boa parte do fracasso no ensino. Entenda os motivos acompanhando a cronologia abaixo:
Século XVIII - Até então, as Ciências eram reservadas aos filósofos. A Revolução Industrial, a administração e os sistemas bancários e de produção passaram a exigir mais do cidadão. A Matemática chega às escolas, mas currículo e livros didáticos são criados com base na formalização e no raciocínio dedutivo do grego Euclides (séc. III a.C.). A obra é crucial para compreender a matemática, mas inadequada para aulas no Ensino Básico.
Século XX - Durante as guerras mundiais, a matemática evolui e adquire importância na escola, mas continua distante da vida do aluno. Mais crianças chegam às salas e cresce a aura de dificuldade; o rendimento cai. A disciplina passa a ser o principal motivo de reprovação. Mesmo assim, a formalização persiste.
Até a década de 30, na Inglaterra, os livros didáticos eram traduções diretas da obra de Euclides. Pós-guerra Com a Guerra Fria e a corrida espacial, os norte-americanos reformulam o currículo a fim de formar cientistas e superar os avanços soviéticos. Surge a Matemática Moderna, uma boa idéia mal encaminhada. Ela se apóia na teoria dos conjuntos, mantém o foco nos procedimentos e isola a geometria. É muita abstração para o estudante do Ensino Fundamental — e a proposta perde força em apenas uma década.
Anos 70 - Começa o Movimento de Educação Matemática, com a participação de professores do mundo todo organizados em grupos de estudo e pesquisa. Ocorre a aproximação com a Psicopedagogia. Especialistas descobrem como se constrói o conhecimento na criança e estudam formas alternativas de avaliação. Matemáticos não ligados à educação se dividem entre os que apóiam e os que resistem às mudanças.
1997 a 1998 - São lançados no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais para as oito séries do Ensino Fundamental. O capítulo dedicado à disciplina é elaborado por integrantes brasileiros do Movimento de Educação Matemática. Segundo os especialistas, os PCN ainda são o melhor instrumento de orientação para todos os professores que querem mudar sua maneira de dar aulas e, com isso, combater o fracasso escolar.
3.2 Aspecto Pedagógico – O Guia do Livro Didático: uma ferramenta para o professor
O Guia do Livro didático é elaborado para o professor. Com a sua experiência de sala de aula, ele sabe bem que um material de apoio didático de qualidade faz grande diferença no processo de ensino-aprendizagem. O Ministério da Educação realiza a avaliação dos livros didáticos e dicionários apresentados para análise. O resultado traduz-se no Guia que é a síntese de um criterioso processo de avaliação e assegura a qualidade da escolha das obras que o professor e seus alunos irão usar.
O professor e sua escola têm autonomia plena para fazer suas opções. O Guia é, na realidade, instrumento de participação de milhares de professores na definição o material a ser adquirido pelo Ministério e utilizado por alunos e educadores nas escolas públicas brasileiras.
As orientações contidas no Guia sobre as principais características dos livros, coleções e dicionários é um material de consulta a ser usado sempre que necessário. O Guia pode, ainda, atuar como aliado em outras ocasiões, mesmo após a escolha das obras.
O Guia de Livros Didáticos, em cada um de seus volumes, é composto de duas partes: a primeira fornece os princípios, os critérios gerais e específicos das áreas e as fichas detalhadas que orientaram o trabalho dos especialistas na avaliação dos livros. A segunda oferece as resenhas das obras aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático para o ano.
3.3 Comparação das Avaliações dos Livros Didáticos de Matemática
Com base no Guia de Livros Didáticos e na análise pessoal, será apresentada uma comparação entre duas coleções de matemática, de 2a série, em que ambas trabalham com a operação da divisão.
Coleção Convivendo com a matemática
Juliana Sosso Editora Atual
Pela análise do Guia a coleção é recomendada por que os conteúdos são expostos em linguagem clara e abrangem os tópicos normalmente estudados nessa etapa da formação escolar. Esses conteúdos, além disso, são retomados e aprofundados progressivamente ao longo dos volumes da obra.
Há articulação com outras áreas do conhecimento e com situações do cotidiano – o que favorece a formação da cidadania. A obra também apresenta diferentes tipos de representação e explora a diversidade de linguagens.
O cálculo mental, as estimativas e o uso da calculadora estão presentes em muitas atividades da obra, o que contribui para uma formação atualizada do aluno.
Convivendo com a matemática – 2a série
Conteúdos abordados nesse volume:
• Números e operações: usos dos números; sistema de numeração decimal; § De zero a mil;
§ Comparando quantidades;
§ Resolvendo problemas;
§ Trabalhando com tabelas;
§ Adição, subtração, multiplicação e divisão
Espaço e Forma;
§ Figuras Geométricas;
§ Localização;
§ Sólidos Geométricos; § Vistas;
§ Mosaicos;
§ Simetria:
§ Caminhos
Grandezas e Medidas;
§ Trabalhando com centímetro;
§ Trabalhando com o relógio:
§ Metro e centímetro;
§ Trabalhando com o calendário;
§ Quilômetro e quilograma;
Análise geral do Livro Didático: Convivendo com a Matemática
A obra contempla os blocos de conteúdos – números e operações, grandezas e medidas, espaço e forma – e a seleção dos tópicos matemáticos em cada um desses campos é adequada para as séries iniciais do Ensino Fundamental, de acordo com o PCN de matemática.
A distribuição dos conteúdos é também apropriada e segue o modelo de ensino em espiral, no qual os tópicos são retomados e aprofundados ao longo da coleção e algumas vezes dentro de um mesmo volume. Um ponto forte da obra é a articulação entre os tópicos matemáticos e entre o conhecimento a ser adquirido e o conhecimento prévio do aluno.
Observa-se diversidade tanto de representações matemáticas quanto de enfoques associados aos conceitos e procedimentos abordados. A freqüente exploração da Matemática no cotidiano assegura uma adequada contextualização sociocultural dos conteúdos tratados. No entanto, as ligações com a história da Matemática são muito pouco presentes.
Há também inúmeras instâncias em que é favorecida a prática interdisciplinar, por meio de atividades envolvendo Geografia, Ciências, Língua Portuguesa, entre outras áreas do conhecimento.
Quanto à metodologia de ensino-aprendizagem, observa-se, de maneira geral, preocupação com a formação de conceitos, habilidades e atitudes com participação ativa do aluno. Estimula-se o envolvimento do aluno na resolução das atividades propostas, bem como o trabalho em equipe, a troca de idéias com os colegas e a socialização das discussões. Além disso, há bastante cuidado em equilibrar o tratamento conceitual com os algoritmos e procedimentos. No entanto, em algumas instâncias, pode ser apontada uma sistematização precoce dos conteúdos matemáticos, que limita o papel do aluno na atribuição de significados a esses conteúdos.
As atividades propostas favorecem o desenvolvimento da capacidade do aluno para explorar, estabelecer relações, generalizar, argumentar, tomar decisões, criticar, utilizar diferentes estratégias na resolução de problemas, expressar e registrar idéias e procedimentos. Além disso, a obra contém situações-problema que envolvem questões abertas ou desafios, propõem a seleção, a organização e a interpretação de dados, demandam a realização de cálculo mental, de cálculos por estimativas e propõe exercícios com nenhuma solução ou várias soluções e a formulação de problemas. Há também inúmeras atividades que estimulam a utilização de jogos, de materiais concretos e da calculadora.
No entanto, muitos exercícios de fixação requerem apenas a aplicação de regras e procedimentos, exigindo o mesmo padrão de resposta e raciocínio.
A linguagem empregada na obra é, em geral, apropriada para o aluno a que se destina.
Coleção:Viver e aprender
Iracema Mori Editora Saraiva
O Guia do Livro Didático de 2004 coloca que a coleção apresenta variedade de enfoques e significados para os conteúdos trabalhados, principalmente com relação aos números e operações.
Valoriza o conhecimento prévio do aluno, além de se utilizar de resoluções de problemas integradas ao cotidiano. Utiliza-se de uma linguagem clara e de propostas que incluem desafios.
A seqüência lógica dos tópicos é feita de forma apropriada. Os conteúdos são tratados com grande diversidade de enfoques.
Viver e Aprender – 2a série
Conteúdos abordados nesse volume:
• Sistema de Numeração Decimal:
§ Trabalhando com números até 999; § Antecessor e sucessor;
§ Trabalhando com a ordem;
§ Trabalhando com os ordinais:
• Noções de Geometria:
§ Trabalhando com figuras planas;
§ Trabalhando com sólidos
§ Fazendo medições : palmo e centímetro • Medidas:
§ Trabalhando com medidas de comprimento e de tempo • Operações:
§ Adição;
§ Subtração;
§ Multiplicação; § Divisão;
Análise geral do Livro Didático: Viver e Aprender
Embora o Guia coloque que a disposição dos conteúdos seja de forma adequada, ela coloca-se de forma fragmentada, primeiramente é visto o sistema de numeração, depois as noções de geometria, as medidas e depois as operações, de forma que os conteúdos não se interagem entre si. O livro coloca de um patamar fácil para o mais complexo, que é a divisão, assim colocado por ele.
Sua coleção busca o aprofundamento de muitos assuntos ao longo dos volumes, que são indicados para cada série dos ciclos. Muitas vezes um assunto quando plausível é aprofundado no mesmo volume.
A coleção não explora a utilização da calculadora e nem o seu uso, nessa unidade não foi encontrado nenhum exercício que fizesse menção ao uso.
O livro oferece muitas relações com outras disciplinas, ora um tanto forçada e fora, ora muito bem aproveitada.
As atividades propostas e as situações-problemas buscam trabalhar com a capacidade do aluno em explorar, fazer relações, generalizar, argumentar e refletir sobre o cotidiano e sobre o que está sendo questionado, buscando ampliar o vocabulário matemático. Porém, muitas vezes o livro enfoca muito a questão da fixação, em relação a tabuada, e as contas montadas para o treino mecânico das operações.
Já em relação a parte da história da matemática o livro faz muitas relações e explora essa contextualização. Assim como podemos constatar nas amostras abaixo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil, MEC. Coordenação-Geral de Estudos e Avaliação de Materiais. Projetos de avaliação de livros didáticos de 1o a 8o série. Disponível em site www.mec.gov.br/fundamental.
Brasil, MEC. Coordenação-Geral de Estudos e Avaliação de Materiais. Projetos de avaliação de livros didáticos de 1o a 8o série. Disponível em site www.mec.gov.br/fundamental.
Brasil. Programa Nacional do Livro Didático 2004: matemática e ciências, Volume 2 – 1o a 4o série. Ministério da Educação. Brasília,2003.
Editora Cortez, de Bárbara Freitas, Wanderley F. da Costa e Valéria R. Motta.Tese de doutorado do Prof. Dr. Jairo de Araújo Lopez
Fórum de discussões. Disponível em: http://www.novaescola.abril.com.br/online.
LEITE, LUIA H. ALVES. Pedagogia de projetos: uma nova proposta de renovação
pedagógica. São Paulo – SP 2001.
LIMA, REGINA C. V. e PINTO, GERUSA R. O dia-a-dia do professor. Editora Fapi. Belo
Horizonte – MG, 2003.
LORENZONI, IONICE. Livro didático: 75 anos de história. Brasil, MEC. Disponível em
site www.mec.gov.br/fundamental. PARRA, CÉLIA. Didática da matemática.
PELUSO, MARÍLIA L.; BALABAN, D. Fórum de discussões. Disponível em: http://www.novaescola.abril.com.br
PRADO, RICARDO. Os bons companheiros. Revista escola no140, março de 2001. Ed. Abril, São Paulo – SP; Reportagem de capa.
RENATO A. SILVA é Mestrando em Educação - Fundação Ibero-Americana - Florianópolis - Graduado em Matemática pela Universidade São Francisco - Itatiba - Especialista em Modelagem Matemática pela Universidade São Francisco - Jundiaí - Aluno Especial em Filosofia da Matemática pela Unicamp - Máster Business International - Florida Chirstian University - Orlando USA – Membro da Conferência Estadual de Educação Tecnológica – ANET. Atualmente é professor titular da Universidade Padre Anchieta - UNIANCHIETA - Jundiaí, nos cursos de Engenharia da Produção, Publicidade e Propaganda, COMEX, MBA em Logística e Pós-Graduação em Engenharia da Qualidade.
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