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segunda-feira, 26 de maio de 2008
A PEDAGOGIA DO ERRO
A PEDAGOGIA DO ERRO
Todos erramos, em qualquer momento, em muitas circunstâncias.
Errar faz parte do crescimento, faz parte da construção do nosso conhecimento. Ninguém consegue abarcar a totalidade da realidade que o cerca, com um só relance do olhar. Até chegar à essência das coisas, dos factos, dos conceitos, é necessário debruçarmo-nos várias vezes sobre cada uma delas.
O conhecimento constrói-se errando várias vezes. As competências adquirem-se errando várias vezes. Hoje erra-se aqui nesta fase do conhecimento, amanhã erra-se um pouco mais além e é assim, passo-a-passo, que vamos construindo a pirâmide do nosso conhecimento.
Evidentemente que há várias formas de cometermos erros. O aluno pode cometer erros, estando a fazer um esforço por não os cometer, ou o aluno comete erros não estando minimamente preocupado em deixar de os cometer. São duas atitudes completamente diferentes.
Gosto fundamentalmente do aluno que comete erros e que está preocupado, esforça-se por deixar de os cometer. O outro aluno tem, primeiro que tudo, de mudar de atitude e querer construir o seu conhecimento. Essa, é outra tarefa, diferente, a realizar pelo professor.
Não há ensino sem erro. Nem é nada estimulante o ensino sem haver erro e sem a consequente actuação de superação do mesmo. Penso que o ensino em que se cometem vários erros durante a aprendizagem, para além de estimulante para o professor, é muito útil para o aluno.
Porquê?
Quando há dúvidas numa matéria, quando se cometem erros, essas situações obrigam o professor a voltar a explicar o assunto utilizando geralmente estratégias diferentes, utilizando vias diferentes, utilizando novas ideias, novos conceitos. Este processo alarga necessariamente a visão que o aluno terá dos problemas, os conceitos ficarão mais solidamente retidos. Penso que a generalidade dos professores gosta desta acção do ensino-aprendizagem: o professor explica → o aluno tem dúvidas → o professor volta a explicar → o aluno elimina as dúvidas.
O caminho faz-se caminhando!
Aquilo que o professor geralmente não gosta é de voltar a explicar os assuntos a alunos distraídos, a alunos que não fazem nenhum esforço para aprender. Essa não é a atitude correcta do aluno! Claro que o professor acaba por explicar várias vezes o mesmo assunto, para alunos interessados e alunos desinteressados ou distraídos.
Quando o aluno diz que não compreendeu um determinado assunto, o professor nunca sabe, à partida, se o aluno não compreendeu porque não esteve com atenção, se não compreendeu porque tem falta de pré-requisitos, se não compreendeu porque o professor explicou mal ou porque o assunto é um pouco complicado, relativamente aos conhecimentos normais.
Esse é também um aspecto que o professor tem de ponderar em cada momento, para decidir se deve voltar a explicar do mesmo ‘ponto de partida’ ou um pouco mais atrás, ou até introduzindo algumas ideias que os alunos deviam saber, mas eventualmente não sabem. Tudo isto acontece em tempo real e o professor tem de dar uma resposta rápida e objectiva à situação. É por isso que ensinar é simultaneamente gratificante e, por vezes, difícil.
Ensinar a alunos interessados, mesmo que não sejam nenhuns ‘crânios’, é sempre um prazer, é uma actividade aliciante. Essa parte da profissão é efectivamente agradável. Os grandes problemas, desgastantes, que o professor tem de resolver, não têm, no entanto, a ver propriamente com o acto de ensinar, mas sim com a indisciplina que existe frequentemente nas turmas.
No ensino, temos sempre alguns alunos que dizem frequentemente ‘não percebi nada’. Temos outros que ‘dizem sempre que sim, com a cabeça’. Temos outros que nunca dizem nada. Temos os restantes, frequentemente a maioria, que aqui e ali vão pondo algumas dúvidas sobre a matéria.
PedagogiaDoErro JMatias 20/12/2006
Perante esta plêiade de alunos, o que é que podemos dizer!
Bom, os que nunca percebem nada são geralmente alunos que não se esforçam minimamente por compreender os assuntos. Estão à espera que alguém lhes abra o cérebro e lhes meta lá dentro os ‘byte de informação’, como se faz num disco rígido.
Os alunos que ‘dizem sempre que sim, com a cabeça’ enganam muito. Há alguns deles que de facto percebem as matéria e, nesses casos, o sim quer dizer sim; há, no entanto, alunos destes que não percebem a maior parte das coisas mas gostam de mostrar ao professor que estão a perceber ou que estão com atenção. Portanto, é preciso estar atento .
Os alunos que não dizem nada, pode ser por timidez, por feitio ou porque estão a perceber e não necessitam de se manifestar. Um aluno que está quieto, concentrado, parecendo estar atento, geralmente está. O estar quieto é geralmente sinal de concentração.
A maioria dos alunos põe geralmente questões aos professores, aqui e ali. Nem sempre percebem o resto das matérias explicadas, mas escolhem criteriosamente os temas a questionar.
Às vezes, acontecem situações em que os alunos não percebem um dado assunto à primeira, nem à segunda, o que deixa o professor atónito, sem perceber no momento porque é que os alunos não percebem – é essa a diferença entre ensinar e aprender. Esse é um problema que o professor tem de resolver na altura, tentando compreender a razão de tal facto; essa ocorrência pode querer dizer que há algum assunto que não foi, anteriormente, explicado pelo professor, estando ele convencido do contrário.
Os erros cometidos pelo aluno não são geralmente graves, a não ser que ele os cometa quando está a realizar trabalhos práticos laboratoriais ou oficinais, ligando aparelhagem à rede eléctrica, colocando em risco a sua integridade física ou a da aparelhagem eléctrica. Nas aulas teóricas, o único risco que corre é o de não aprender convenientemente um dado assunto.
Portanto, o aluno não tem de ter medo de cometer erros, no geral, durante o seu processo de aprendizagem. É normal, é humano, é salutar. Ele só tem é de se esforçar para ultrapassar os erros naturais! E, sem esforço, não se vai a lado nenhum! PedagogiaDoErro JMatias 20/12/2006
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