Em muitos textos, a má colocação de vírgulas pode gerar duplo sentido e alterar o significado do que se queria dizer. Há casos até em que a má virgulação resulta em significado oposto ao pretendido.
Em parte por isso, deve-se esquecer a noção algo primária de que a vírgula serve apenas para marcar pausas. Porque, com essa noção, se o escriba estiver com soluço ou tiver tendência ao balbuceio e à tartamudez, também conhecida como gagueira, estará inclinado a usar vírgulas a mancheias. O que não ficará bem. A vírgula serve, sim, para marcar pausas, mas relaciona-se, sobretudo, com o modo como se distribuem os componentes da oração. O que explica, por exemplo, que construções como "Sim, senhor." e "Não, senhor." sejam marcadas na escrita por vírgulas que não correspondem a pausas reais na fala, como aponta Celso Cunha em sua Gramática da Língua Portuguesa (Fename, 1982).
Portanto, em caso de dúvida, melhor seguir um conselho que causará arrepios a muitos sábios: não se usa vírgula. Menos mal a vírgula esquecida do que a abundosa. Salvo se sua falta for catastrófica, desastre algo raro.
Proibição 1
Jamais se separa por vírgula o sujeito (sublinhado nos exemplos abaixo) do predicado verbal, mesmo que o núcleo, modificado por adjuntos, esteja distante do verbo
Para descobrir o sujeito pergunta-se ao verbo: o que ou quem.
O consultório daquele cirurgião plástico açougueiro no extremo oposto de minha rua foi fechado pela polícia.
1. O que foi fechado? Sujeito: o consultório (núcleo do sujeito).
O padre procurado pela justiça e o filho dele mantinham a igreja caça-níqueis em funcionamento.
2. Quem mantinha a igreja caça-níqueis? Sujeito: o padre e o filhote (sujeito composto por dois núcleos).
Muito melhor do que cassar aquele político seria forçá-lo a devolver o dobro do que afanou.
3. O que seria melhor do que cassá-lo? Sujeito: forçá-lo a devolver a bufunfa em dobro.
Proibição 2
A vírgula jamais deve separar o verbo de seus complementos (grifados)
- O Luís come empadinhas engorduradas (compl.) todos os dias.
- O Edgar gostou muito daquela garota robusta. (compl.)
- Elas responderam a eles (compl.) que não voltariam (compl.)
- À mulher e aos filhos (compl.) ele disse que não voltaria mais (compl.).
- Deu aos senadores (compl.) a garantia de que não os denunciaria (compl.).
Com aposto
Usa-se vírgula com aposto explicativo (grifado). O aposto explica ou especifica um termo da frase. Pode ser nome próprio ou não; quando explicativo, é seguido de vírgula se começar a frase; no meio do texto, vem entre vírgulas.
- Aposto explicativo (grifado): Grande poeta popular, Vinícius deixou obra extensa. Tímido e introvertido, Luiz Fernando Verissimo escreve com leveza e bom humor. Luciano Pavarotti, grande tenor italiano, morreu em 2007.
- O aposto especificativo (grifado) rejeita vírgulas: O presidente Lula apoiou o pacote; Avenida São João; Rua Breves.
Ao interromper
Usa-se virgula em interrupções de frase, intercalações ou termos explicativos (grifados)
- Ela, muito surpresa, concordou com ele.
- A decisão do Senado, supõe-se, será uma glória.
- Aquele senador, um cadáver político, usará todos os recursos, até inimagináveis, para se salvar.
Com vocativo
Usa-se vírgula com vocativo. O vocativo é uma interpelação ou chamado da pessoa com quem se fala. Aparece no início, no meio ou no fim da frase, sempre separado por vírgulas, às vezes precedido de "ó" (grifados):
- Deus meu, por que me abandonaste?
- Vejo que está grudado à cadeira, senador, para vergonha nossa.
- "Ó Fulô, ó Fulô, / Vem me ajudar, ó Fulô / Vem abanar meu corpo / Que eu estou suada, Fulô!" (de Essa Nega Fulô, de Jorge de Lima.)
Com a conjunção E
A conjunção e raramente é antecedida de vírgula porque em geral une idéias; é necessária quando liga orações com sujeitos diferentes (grifados):
- Ela falou sem parar por muito tempo, e eles ficaram ouvindo desanimados. ?
- A loja distribuiu roupas, sapatos, jóias, e o resto?será doado a instituições de caridade.
De jornais:
- "Tenho rendimento tributável exclusivamente na fonte e minha mulher, renda do trabalho assalariado."
- "O jornal publicará a carta de protesto e a repórter incompetente que escreveu a reportagem com erros dará a última palavra."
Falta a vírgula antes do "e" nos dois casos. Deveria ser, portanto:
- "Tenho rendimento tributável exclusivamente na fonte, (vírgula) e minha mulher, renda do trabalho assalariado."
- "O jornal publicará a carta de protesto, (vírgula) e a repórter incompetente que escreveu a reportagem com erros dará a última palavra."