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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Avaliação do Ensino Médio? Algumas reflexões sobre o Enem e as avaliações externas



Avaliação do Ensino Médio? Algumas reflexões sobre o Enem e as avaliações externas

Alguns pontos me chamaram a atenção em relação ao Enem e vou destacá-los a seguir. Os pontos abaixo talvez tenham um aspecto mais crítico, no entanto, não se deseja aqui apontar que A ou B não está fazendo um bom trabalho. O Enem e as análises que foram feitas sobre ele têm os seus aspectos positivos, assim como alguns avanços ocorreram na Educação brasileira nos últimos anos, mas apenas nos debruçando sobre os problemas que poderemos avançar.
  • Por que tantos veículos da mídia tentam mostrar uma diferença de qualidade entre escolas particulares e públicas maior do que ela realmente é? Como seria o resultado das escolas particulares se elas atendessem um alto percentual de alunos com pais com baixa escolaridade e que possuem poucos insumos educacionais em casa?
  • Por que não reconhecemos as limitações de determinadas avaliações e não procuramos verificar de fato o que elas podem apontar? Sabe-se, por exemplo, que a evolução dos alunos brasileiros em avaliações externas foi impactada positivamente pela cultura de avaliações. Isto é, com o aluno já estando acostumado a fazer provas extensas e a ser avaliado ele rende melhor em uma avaliação desse tipo. Muitas vezes esse aspecto é comemorado por especialistas. Claro que esse é um fenômeno positivo e importante, já que para o ingresso ao Ensino Superior será exigido do aluno saber lidar com avaliações com características semelhantes, no entanto, o que realmente importa saber é se o nível de aprendizado dos alunos melhorou, onde melhorou e porque melhorou. Dizer também, por exemplo, que a média do Enem pode cair caso um maior percentual de alunos faça a prova nos próximos anos é reconhecer que os resultados desse ano superestimam o nível de aprendizado dos alunos do Brasil. Por que não dizer isso claramente?
  • Por que não há uma divulgação maior em relação às certificações que o Enem fornece a maiores de 18 anos que obtêm mais que 400 pontos em cada uma das quatro áreas do conhecimento avaliadas? Vejo que tendo essa missão de certificar o Enem talvez devesse ter algumas modificações, mas dada a barreira que é apresentada a pessoas que não possuem o Ensino Médio completo não me parece razoável não fazer com que uma informação que poderia auxiliar tantas pessoas chegue a toda a sociedade.
  • Se grande parte dos estudiosos concordam que o Enem não é capaz de avaliar o Ensino Médio por que se buscam com base em dados tão simples inferências sobre a qualidade das escolas brasileiras que não são possíveis de se fazer de forma adequada? Detalhando mais algumas informações é possível fazer algumas análises, mas apenas apontando que a média subiu 10 pontos isso não me parece possível.
  • Por que algumas análises de algumas avaliações educacionais ficam na mesmice de dizer que “os resultados apontaram que o Brasil está evoluindo, mas em um ritmo lento”? Embora muitas pessoas que eu respeito e admiro façam essa leitura, peço que me desculpem, mas nenhuma avaliação pode nem deve apontar só isso. A pequena evolução nos níveis de aprendizado dos alunos brasileiros apontada, por exemplo, nos resultados da Prova Brasil, é um diagnóstico que poderia muito bem ser feito sem uma avaliação externa. Seria de se estranhar se os resultados mostrassem algo diferente dado o que vemos acontecendo na Educação brasileira. As avaliações ao meu ver servem para esmiuçar onde estão os problemas, poder identificar quais sistemas educacionais estão funcionando, que tipo de política pública provocou um efeito positivo, etc. Com uma academia que pouco influencia políticas públicas e com a não divulgação de dados importantes como, por exemplo, os microdados da Prova Brasil 2009, estamos longe de utilizarmos adequadamente as informações que uma avaliação em larga escala permite que sejam extraídas.
  • Se os resultados do Pisa 2009 mostram que os países que mais evoluíram no Pisa conseguiram isso graças à evolução de seus piores alunos e a promoção de uma maior equidade, como queremos estimar a nossa evolução nos próximos anos com base em uma avaliação em que a maioria dos alunos mais vulneráveis e com menor nível de aprendizado não fez a prova?
Nos próximos posts vou começar a apresentar algumas análises sobre o Enem desenvolvidas para matéria da Revista Época que chegou às bancas hoje. As análises mostram que as escolas que mais precisam ser diagnosticadas não são, e como o perfil dos alunos que fazem o Enem é muito distinto do perfil dos alunos que estão no Ensino Médio. As escolas que têm menor participação são as que têm mais alunos atrasados e vulneráveis socialmente, notas mais baixas, etc. Não podemos dizer que uma prova que de certa forma ignora essas escolas e alunos avalia o Ensino Médio.

fonte; http://estudandoeducacao.com/2011/09/17/avaliacao-do-ensino-medio-algumas-reflexoes-sobre-o-enem-e-as-avaliacoes-externas/

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