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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CIÊNCIA E TECNOLOGIA.

Além dos limites
Robôs, programas de voz, mouse com sensor e bengala
falante ajudam a superar deficiências físicas e visuais

Henrique Fruet

VirTouch dá a sensação de que o monitor tem relevo

Ele vai varrer e aspirar o chão da casa, lavar a louça, preparar as refeições e fazer a barba do dono, tornando-se literalmente seu braço direito e esquerdo. Projetado pela Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, o Flexibot vai auxiliar deficientes físicos em tarefas impossíveis de cumprir sem os movimentos dos membros. Comandado por um pequeno motor, o robô rasteja pela casa como uma minhoca e seus braços mecânicos se acoplam a conectores instalados na parede. É assim que ele consegue obter os comandos necessários para executar tarefas como lavar o banheiro ou apanhar um livro na estante. O primeiro protótipo da invenção deve estar pronto até o final do ano.

Jeff Miller

Sensor na língua aponta qual direção tomar...

Inovações tecnológicas como o robô-enfermeiro ajudam cada vez mais a melhorar a qualidade de vida de quem está privado dos movimentos ou da visão. A lista de produtos é grande e inclui desde programas que ajudam deficientes visuais a navegar pela internet até bengalas digitais e mouses que não dependem da mão para funcionar. O mercado consumidor não é pequeno. A Organização Mundial de Saúde estima que um entre dez habitantes do planeta tem algum tipo de deficiência física ou motora. No Brasil, isso representa mais de 16 milhões de pessoas. No mundo todo, somam meio bilhão de seres humanos.

Staffordshire University

... e o robô Flexibot executa as tarefas cotidianas em casa

Elo social – Há casos em que o acesso à tecnologia é a única forma de comunicação com o mundo exterior. O melhor exemplo é o físico inglês Stephen Hawking. Portador de esclerose degenerativa lateral, doença progressiva que o atou a uma cadeira de rodas, Hawking perdeu a fala em 1985. Desde então, usa um computador que opera com um único dedo para escrever livros, criar fórmulas físicas e preparar palestras, que profere com a ajuda de um sintetizador de voz grudado à cadeira.

Reuters

Hawking se comunica utilizando um só dedo e o PC

O som emitido por máquinas também ajuda um grupo de brasileiros. A Rede Saci, entidade ligada à Universidade de São Paulo e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), oferece gratuitamente no site www.saci.org.br um programa que faz o PC ler em voz alta as frases e a descrição das fotos que aparecem na tela. Logo que o software é acionado, vem a pergunta em alto e bom som: “O que deseja?”, seguida de menus sonoros para o usuário responder de viva voz. O mesmo acontece no HomePageReader, programa de comando de voz da IBM que finalmente ganha versão em português em junho, por R$ 345. O software tem manual em braile e alterna idiomas automaticamente, possibilitando a navegação nos sites escritos em português, inglês e outros sete idiomas.

Ricardo Giraldez

Adenilson reconquistou o emprego após a paralisia

Um bom aliado dos softwares de voz é o mouse da empresa israelense VirTouch. Com pinos de metal que sobem e descem de acordo com a cor que aparece sob o cursor que corre pela tela, ele permite que os usuários tenham a sensação tátil daquilo que é exibido no monitor – como se páginas da internet tivessem relevo e pudessem ser tocadas com o mouse. O programa ajuda os deficientes visuais a “ler” palavras escritas em braile e no alfabeto convencional, além de ter a sensação tátil dos contornos de fotos ou mapas. O problema é o preço: US$ 5 mil.

Dentro de cinco anos, até a boca ajudará quem não consegue enxergar. Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos EUA, projetam um sistema em que 144 minúsculos condutores elétricos – eletrodos – são grudados na língua e conectados a uma câmera digital. O dispositivo emite choques elétricos na língua, indicando qual a direção certa para evitar a colisão com obstáculos. Um sistema mais simples foi criado por três alunos de 17 a 19 anos do curso técnico de eletricidade da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. A bengala dotada de uma espécie de sonar identifica objetos e orienta o dono por meio de frases como “cuidado” ou “vá mais para a direita”.

O TrackIR ajuda a navegar na internet

Recomeço – A deficiência nos braços e mãos foi definitiva para o vendedor de autopeças paulistano Adenilson Paula de Souza, 18 anos. No começo do ano passado, ele lesou a coluna vertebral depois de capotar o carro numa estrada. Sem mobilidade nas pernas, Adenilson recupera lentamente o movimento dos braços. “O computador incentivou minha melhora”, diz o jovem adepto de um programa da Rede Saci feito para deficientes físicos. O programa faz o PC reproduzir no monitor um teclado virtual sobre o qual uma seta passa continuamente. Para digitar textos e enviar e-mails, Adenilson move a mão que aciona um botão quando o cursor está sobre a tecla desejada. O esforço do jovem não foi em vão. Seu antigo chefe ofereceu-lhe o emprego de volta, dessa vez numa função administrativa.

Outra solução para quem só tem movimentos do pescoço para cima é o TrackIR, vendido por US$ 100 no site www.naturalpoint.com. O sistema permite que o deficiente mova a seta do mouse com a cabeça. Para isso, gruda na testa um adesivo metalizado que reflete os raios infravermelhos emitidos por um dispositivo apoiado sobre o monitor. O aparelho identifica para onde o usuário aponta a cabeça e move o cursor na mesma direção. Para dar um clique, basta parar a seta sobre o objeto desejado por mais de cinco segundos. Depois, é só navegar por onde quiser. Sem limites.



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