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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dificuldades de Aprendizagem (Psicopedagogia).



Dificuldades com a Aprendizagem

Sonia Maria Gomes de Sá Küster
Pedagoga, Psicopedagoga


Antes de enfocarmos a dificuldade, se faz necessário falar sobre o processo de aprendizagem. Como este processo acontece ? Quando e por que surgem as dificuldades? A que estão relacionadas? Enfim, sem conhecermos este processo, fica difícil detectarmos a dificuldade propriamente dita.
De acordo com a Epistemologia Convergente, proposta por Jorge Visca, o ser humano aprende ininterruptamente do seu nascimento em diante.
Visto que esta teoria fundamenta-se na assimilação recíproca das contribuições das escolas piagetianas, psicoanalíticas e da psicologia social, podemos dizer que a aprendizagem é uma variável dependente dos aspectos afetivos, cognitivos e sociais que acontecem simultaneamente em virtude de um processo de retroalimentação constante.
Visca salienta a importância da protoaprendizagem (primeiro nível de aprendizagem) para o posterior desenvolvimento, uma vez que neste nível o aprendiz configura uma pré-condição para o nível seguinte. Este “nível de aprendizagem é construído em virtude da interação entre a organização biológica do bebê e a mãe ou quem cumpre este papel, vale dizer, o agente maternante” (Visca, 1999).
Esta relação com o agente maternante é influenciada pelo meio, constituído pelo pai, irmãos, avós, ... como também pelas experiências vivenciais que o aprendiz contactua. Pode-se concluir que a protoaprendizagem se prolonga até aproximadamente 2 anos de idade, quando o aprendiz termina a conduta puramente motriz e começa a função simbólica ou semiótica, caracterizada pela capacidade de representação de objetos e eventos.
O segundo nível de aprendizagem por que passa o aprendiz é denominado deuteroaprendizagem, caracterizado pela interação e trocas de experiências alcançadas no nível da protoaprendizagem e o meio familiar. Inicia-se no momento em começa a função simbólica caracterizada pelas cinco condutas descritas por Piaget: imitação diferida, jogo simbólico, desenho, imagem mental e linguagem falada – até o momento que a criança começa a sofrer as influências da comunidade, quando estabelece um conceito de mundo. Este conceito de mundo será influenciado pelas relações com os irmãos, com os avós e com os objetos naturais e culturais.
Neste nível muitas vezes o aprendiz inicia sua vida escolar com o ingresso na pré-escola. Nestas instituições as experiências por que passam continuam mantendo um caráter doméstico, propiciando um desenvolvimento harmônico e rico em experiências mediadoras, que estarão estimulando um amadurecimento tanto motor, quanto afetivo e cognitivo. Na pré-escola como o nome bem define, o aprendiz se encontra no meio do caminho entre a aprendizagem que se realiza na família e na escola primária.
O terceiro nível de aprendizagem nomeado de aprendizagem assistemática é caracterizado pelas interações que o aprendiz alcançou na deuteroaprendizagem e a comunidade restrita a que está inserido. Os contatos que mantém com a comunidade que lhe propiciam uma aprendizagem a partir da experiência vivida neste meio, como por exemplo o contato com o significado da escrita e do dinheiro em ações como acompanhar os pais ao supermercado, panificadora, etc. Portanto, cabe a nós enquanto integrantes de uma comunidade restrita, estimular uma interiorização de modelos adequados e condizentes com nossa sociedade e realidade. Tais estímulos implicam em conhecimentos, atitudes e destreza diante das situações do dia a dia.
O quarto e último nível de aprendizagem denominada sistemática é caracterizado pela capacidade em estabelecer trocas com as instituições educativas desde o 1º grau até o pós-doutorado, englobando as aprendizagens instrumentais, de conhecimentos fundamentais, de aquisições transculturais, de formação técnica e de aperfeiçoamento profissional, cada vez mais necessário nos dias atuais.
A partir do conhecimento do processo de aquisição da aprendizagem, o especialista em psicopedagogia consegue detectar que situações podem estar influenciando negativamente este processo, ou que mecanismos o aprendiz está utilizando que podem estar dificultando sua aprendizagem.
Quando recebemos a criança no consultório com uma dificuldade, é importante observamos e analisarmos o sistema familiar, escolar e social em que está inserida, além do seu próprio processo de aprendizagem, para podermos detectar o que pode estar obstaculizando esta aquisição.
A criança deve ser “olhada” como um todo, para podermos chegar nas “partes” e identificar as causas desta dificuldade.
Uma dificuldade de aprendizagem não é vista como patogenia e sim como um obstáculo que pode estar dificultando este processo.
Estes obstáculos são classificados por Jorge Visca como epistêmico, epistemofílico, epistemológico e funcional.
O obstáculo epistêmico refere-se a estrutura cognitiva do aprendiz, que deriva do nível de operatividade da estrutura cognitiva alcançada, ou seja ninguém pode aprender além do que sua estrutura cognitiva permite.
O obstáculo epistemofílico é utilizado para designar o vínculo afetivo que o aprendiz estabelece com os objetos e situações de aprendizagem. Um vínculo inadequado também possui a capacidade de impedir ou dificultar a aprendizagem.
O obstáculo epistemológico está relacionado ao meio cultural em que o aprendiz está inserido. Quando uma criança de um meio cultural desfavorecido é inserida em outro com melhores condições, poderá apresentar o que denominamos de obstáculo epistemológico. Crianças que acompanham os pais em países diferentes do seu de origem, poderão demonstrar uma dificuldade inicial de adaptação ao idioma e costumes, apresentando um obstáculo que Visca denomina de epistemológico.
Outro obstáculo que poderá estar dificultando o processo de aprendizagem é o funcional, que corresponde às diferenças de funcionalidade da estrutura do pensamento, como as desigualdades entre os aspectos figurativos e operativos, as formas de oscilações deste pensamento, a impossibilidade de usar certas justificativas, ... enfim, de que maneira o pensamento do aprendiz acontece.
Identificados os aspectos que poderão estar obstaculizando a aprendizagem, inicia-se o processo de modificação destes obstáculos, através da atuação do psicopedagogo.
Atuação esta que se diferencia na valorização do que o aprendiz traz e faz em situações de jogos de regras, na manifestação espontânea do fazer lúdico e na pesquisa e conseqüente construção de situações relacionadas com a leitura de mundo deste aprendiz. Trabalhamos com o que aprendeu e com o que sabe, valorizando o papel de aprendiz, buscando proporcionar novas e enriquecedoras aprendizagens.
Acreditamos em uma atuação que permita ao aprendiz perceber seu processo de aquisição da aprendizagem de forma significativa. Enfocamos as possibilidades de superação das dificuldades, trabalhando na zona de desenvolvimento proximal do aprendiz, estimulando o avançar de sua potencialidade.
A família e escola desempenham papéis fundamentais neste processo que deverá ser de parceria com o psicopedagogo. Contatos periódicos tanto com a família, como com a escola, possibilitam o repensar e redimensionar do trabalho psicopedagógico.
A Psicopedagogia não veio para substituir nenhuma ciência, nem para instrumentalizar formações deficientes, veio sim, para instigar os profissionais a pesquisa de novas práxis para as dificuldades do aprendiz, da instituição e da sociedade em geral.
Surgiu pela necessidade de profissionais das mais diversas áreas, que buscam respaldo teórico para intervir junto ao aprendiz ou instituição que apresenta dificuldade no processo de ensino aprendizagem. Esta busca nos levou a desenvolver uma formação que possibilite articular várias áreas de conhecimento, criando assim uma nova área de atuação.
A sincronicidade entre a teoria e a prática nos permite aprender como se aprende, interagindo com nossas próprias dificuldades de aprendizagem tentando entendê-las e transformá-las em crescimento profissional e pessoal.
A Psicopedagogia já tem seu espaço social reconhecido, assim como um o órgão de classe que reune profissionais preocupados com a formação e o exercício do Psicopedagogo. A Associação Brasileira de Psicopedagogia congrega e reune profissionais de diferentes formações, que pensam, registram, pesquisam e utilizam técnicas de trabalho que legitimam ainda mais uma práxis psicopedagógica.
Nossa preocupação com o exercício da reflexão, com a opção em que fazer, porque fazer, como fazer, para que e em que condições fazer é que legitimizam nossa profissão.

BIBLIOGRAFIA

RUBINSTEIN, Edith. Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

VISCA, Jorge & Florencia. El Esquema Evolutivo del Aprendizaje. Buenos Aires: Enrique Titakis Servicios Gráficos, 1999.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança na teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira, 1997.

Quer saber mais sobre este tema
entre,http://members.tripod.com/~Helenab/jan_hunt/distapr.htm

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