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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Entrevista. Vestibular afasta "vida inteligente", diz MEC.


Vestibular afasta "vida inteligente", diz MEC
FOLHA DE S. PAULO, 01/09/2008


Fim do vestibular e uma base curricular unificada nacional são as medidas que a secretária de educação Básica do MEC, Maria do Pilar, aponta como essenciais para melhorar a qualidade do ensino médio no país. Esse nível de ensino é considerado pelo governo federal o mais problemático de todo o sistema (não há indicativos de melhora em exames federais como o Saeb e são altos os índices de evasão e repetência). Leia abaixo a avaliação da secretária -professora licenciada em história- sobre a EDUCAÇÃO média, que será debatida nesta semana em seminário da Unicef, na Argentina.


FOLHA - Como a sra. analisa a situação do ensino médio no país?

MARIA DO PILAR - Das três etapas da EDUCAÇÃO básica, o médio é o que possui o maior desafio. No infantil, já há um modelo de oferta, falta construir creche.

No fundamental, estão mais organizados o currículo, as avaliações e a correção do fluxo (estudantes cursando a série esperada para suas idades). No médio, ainda precisamos discutir o que os jovens têm de estudar. Digo sempre aos reitores das universidades: não vai existir vida inteligente no ensino médio enquanto houver vestibular na forma atual.

O currículo tende a se ajustar a essa prova, que é seletiva e excludente. E de decoreba.

Depois, precisa dar aula de reforço a esses universitários, porque o vestibular selecionou mal. Parece coisa de doido. As faculdades aprovam os meninos com uma quantidade grande de conteúdo, mas com pouca elaboração [de raciocínio].

No ano passado, em reunião do Consed [conselho dos secretários estaduais de EDUCAÇÃO] sobre experiências de ensino médio, ficou claro que nenhum país analisado tem 12 disciplinas obrigatórias como aqui.

Geralmente há uma base comum, que se resume a língua materna, literatura, matemática e história. Os alunos compõem o restante do currículo, com base no que querem fazer adiante. No Brasil, estudam física nos três anos, química, biologia, sociologia... É um acúmulo sem muito sentido para eles.


FOLHA - Mas as disciplinas não são obrigatórias?

PILAR - Não, as diretrizes curriculares são apenas linhas gerais. Mas a escola não tem coragem de radicalizar, porque tudo aquilo cai no vestibular. Conclusão: nem todos os jovens entram na faculdade e não fazemos uma formação aprofundada do adolescente.


FOLHA - O que deve ser feito?

PILAR - Em relação ao acesso à universidade, existem outras formas fora o vestibular. Há a experiência, por exemplo, da Universidade de Brasília, com o Programa de Avaliação Seriada, que avalia ano a ano os alunos.

Há o ENEM, que muitas universidades usam como seleção. Mas antes do vestibular, temos de entender quem é o sujeito de 15 a 17 anos no Brasil em 2008. Não podemos pensar em modelos do século passado.

Os meninos decoram física e química, mas não sabem a história do pensamento científico.


FOLHA - Qual a proposta do MEC?

PILAR - Mexer radicalmente no currículo e discutir com coragem o acesso à universidade.

Queremos chegar em fevereiro de 2009 com uma base curricular nacional. Hoje temos a diretriz curricular, mas cada Estado pode trabalhar de uma maneira. Faz sentido no regime federativo, mas algumas coisas precisam ser mais diretivas. É um processo que discutimos com toda as partes.


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