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sábado, 26 de abril de 2008

Escola cidadã.



Escola cidadã: O que é mesmo isto?

Acredito que nunca se pronunciou tanto a palavra cidadania como nos últimos tempos. Até parecem aqueles chavões, que volta e meia aparecem, fazem sucesso, ou não, e somem com a mesma rapidez com que surgiram. No entanto, tem-se a impressão de que a intenção e a dimensão que acompanham esta palavra são grandes demais. E isto não é difícil de se perceber. Quando lemos jornais e revistas encontramos, sem muito esforço, alusões a este tema. A televisão e o rádio em suas programações, criam até espaços especiais para tratar deste assunto. Lógico que não citarei os sindicatos, as ONGs, associações diversas e a própria Igreja. O objetivo deste artigo é atentar para a novidade: Escola e Cidadania. A novidade não é do ponto de vista da teoria, mas do ponto de vista da prática. Por muito tempo se refletiu, dentro da escola, sobre cidadania. E agora, num ato de coragem, ousadia e compromisso social, a escola vem tentando, e com relativo sucesso, fazer acontecer a cidadania. Claro que hoje há possibilidades pedagógicas e curriculares que facilitam e motivam. Vale a pena ressaltar que os PCNs são, para a escola, a grande ferramenta que possibilita, com o uso adequado dos temas transversais, romper os limites dos muros da escola, na busca de oferecer ao educando e ao professor (inclua-se muitas vezes os pais...) a prática da teoria.

Assim a escola fica mais próxima da realidade. Em conseqüência podemos e devemos fazer comparações de realidades. Ao obtermos o resultado, não resta outra alternativa senão criarmos projetos que envolvam todos da comunidade educativa, para então, encurtarmos as possíveis distâncias.

Há, no momento histórico que estamos vivendo, um interesse grande, por parte de muitos educandos e professores, de participação em projetos sociais.

É neste momento que a escola, organizada, pode fazer acontecer o grande resgate da cidadania.

Temos hoje muitos órgãos, associações, instituições e centros comunitários atendendo a crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, não podemos dizer que com isso a cidadania destes atendidos é real. E a escola pode e deve se fazer presente contribuindo para que na promoção de cada indivíduo, o sentido pleno da cidadania se estabeleça.

Quem ganha e quem perde....

Não resta a menor dúvida: todos ganham. A escola por ser fiel ao seu papel; o educando por adquirir autonomia e criticidade, responsabilidade e organização; a comunidade por sentir-se mais integrada.

Ganham, ainda, os pais por perceberem os filhos envolvidos com projetos que os tornam mais humanos, e com possibilidades de adotarem novos valores para a sua vida. E quem sabe, pais participando de projetos juntamente com os filhos.

Ganham os professores, pois agora o conhecimento, que antes se transformava, quase todo, em pó (de giz), tem significado especial para continuidade do serviço à cidadania.

Cada um que já fez esta experiência pode acrescentar a esta lista os benefícios advindos da decisão de tornar a escola uma possibilidade ímpar na vida dos educandos.

Resta dizer quem perde. Se pegarmos ações isoladas, é quase imperceptível, mas quando somamos..... Perde a miséria, a monotonia, o comodismo, o analfabetismo, a falta de oportunidades....

Dentre muitas, algumas dicas que costumam dar certo...

“...em tudo que fazemos, mostramos se somos, e se queremos que o outro seja cidadão”.

Dentro da escola.

Grêmio estudantil: Grupo representativo dos alunos, que eleito promove ações, culturais e de solidariedade. São chapas que apresentam para todos os alunos suas propostas, e submetem-se a uma eleição. A novidade neste trabalho, é que as chapas que tem se destacado são aquelas que buscam ter um maior envolvimento com as causas sociais e atividades que desenvolvam o senso de cidadania.

Preparação pré-vestibular: Alunos de escolas públicas procuram cursos que os ajudem a competir num vestibular. Esta atividade é uma boa oportunidade para os professores da própria escola assumirem como voluntários, e contribuírem assim com aqueles que não têm condições de pagarem um cursinho. Esta experiência já tem dado bons frutos, e tem crescido muito.

Reciclagem: Muitas escolas têm acordado para a educação ambiental. É incrível como o resultado destes projetos ajuda na fixação de conteúdos de diversas disciplinas. O interessante que neste projeto inclui-se não só alunos e professores, como também os pais. Tudo é questão de organização; não sem antes vontade. Se a escola conseguir elaborar um bom projeto poderá coletar dados importantes até mesmo para uma reeducação alimentar; é um projeto que vai longe....

Formação para cidadania: Muitas vezes queremos enquanto escola, fazer para fora, e esquecemos dentro. Têm escolas que programam junto com professores, aulas ou encontros de formação para seus funcionários. Isto se dá na forma de orientação ao uso indevido de drogas, orientação sobre sexualidade, formação política, formação para espiritualidade etc. Um funcionário bem instruído é um educador e um cidadão a mais.
Fora da escola

Visitações: Desde as séries menores, é importante que se façam estudos do meio, em locais ou instituições onde se possa apresentar a necessidade que temos de exercer, ou ajudar o outro a exercer a cidadania. Visitar, por exemplo, o projeto “SOS Mata Atlântica”, ou outro projeto de preservação da sua região, deve despertar o compromisso, não apenas com um relatório, mas com a causa. A visitação numa creche pode, de forma habilidosa, gerar o compromisso de um gesto concreto com a cidadania daquelas crianças que lá estão.

Engajamento: Muitos alunos de Ensino Médio, não querem mais visitas esporádicas, dizem já ter idade, que ‘são grandes’. Este é um grande passo que não podemos desmotivar. Outro dia ouvi de uma aluna: “Eu faço trabalho voluntário porque acho que posso ajudar outras pessoas a se sentirem melhor”. Quando perguntei, como havia conhecido aquela instituição, disse-me que foi por intermédio de uma amiga mais velha. Com isto nasceu a idéia de levar alguns alunos que demonstram interesse específico, seja para o trabalho com menores; grupos de alfabetização; moradores de rua; deficientes visuais etc. Com isso, a possibilidade de engajamento é bem maior. E com a vantagem, de ver aquele que já não é mais aluno continuando o trabalho.

Cada passo precisa ser pensado....

Talvez um bom início para a escola que queira ser uma escola cidadã seja:

Contemplar em seu Projeto Educativo a vontade, a intenção de ser escola cidadã.

Com isto, estou dizendo que ações isoladas, de uma ou outra área (ou grupo), talvez não tenham força de mobilização para iniciar, realizar e dar autonomia ao projeto. A direção, orientadores, professores, grêmio e associação de pais e mestres, enfim, todos devem ter claro o papel de cada um.

- Conhecer a realidade à sua volta e apresentá-la à comunidade educativa.

Fazer um levantamento, nas imediações, dos principais locais onde é possível desenvolver um trabalho protagonizado pelos educandos, isto é muito importante.

- Propor a esta mesma comunidade desafios, que comecem na sala de aula e continuem em locais escolhidos (creches, asilos etc.)

O ciclo do ensino aprendizagem, pode começar na sala de aula, aprendendo pela experiência de outros, ir para campo e fazer a própria experiência, voltar para sala e sintetizar a experiência que foi passada com a que foi vivida e agora apreendida. Com isto, o educando redimensiona conceitos e posturas, estando mais preparado para conviver. Aqui talvez seja bom lembrar dos quatro pilares da educação para o século XXI, segundo Jacques Delors, onde é necessário: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

- Dispor professores que orientem grupos de educandos nos projetos propostos.

É indispensável, se a escola acredita mesmo no trabalho, que ele seja orientado, e bem orientado. Para isto, se faz necessário ter educadores (a etimologia da palavra nos ajuda a entender o por quê), com experiência e vontade à frente de cada projeto.

Cada escola conhece a sua realidade, sabe perfeitamente as condições que têm para tocar um projeto que a caracterize como escola cidadã. Não se pode, no entanto, parar numa etapa onde o projeto se caracterize apenas por ser assistencialista, e com isso deixe de ser alimentado pela utopia.

...onde isto pode dar?

O trabalho desenvolvido fora da escola, traz para dentro da mesma, uma riqueza enorme de informações. Isto faz com que professores e alunos redescubram o valor da interdisciplinaridade. Muitas vezes sugere uma revisão no Projeto Educativo. Aponta para a necessidade de construção de um novo espaço de aprendizagem, com isto, novos métodos. Tudo, do ponto de vista do processo do tempo escolar do educando.

O mais importante vem agora: Como é gratificante, ver na escola um antigo aluno, que continua o trabalho de ser um agente de cidadania em outros locais, agora mais ligado à sua formação profissional. Muitas vezes, com outros amigos que ele conseguiu convencer pelo entusiasmo adquirido nas experiências que foram oportunizadas por uma escola que quis ser cidadã.

Se quisermos um mundo melhor, temos de capacitar a todos, para que sintam no que ele não está bom. Não bastam somente palavras, conselhos, indicação de leituras, estudo sobre pessoas que foram ou são exemplos.

É preciso mais.

É preciso que a cidadania do outro seja preocupação de cada um(a).

A cidadania é pessoal, intransferível, ninguém terá mais se o outro tiver menos. Ousaria dizer que temos de acreditar que todos a tenham, porém, nem todos podem exercitá-la.

É justamente neste ponto, que a escola cidadã faz a diferença, pois oportuniza experiências que marcarão vidas e passarão para a história, como contribuição na construção da nova sociedade, que quer ser mais justa e mais fraterna.

Amarildo Vieira de Souza- Professor de Educação Religiosa Escolar; coordenador do Curso de Pós Graduação em Ensino Religioso pela UNISAL; membro do conselho editorial da Revista Diálogo-Paulinas




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