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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

(Resumo). Guia Teórico do Alfabetizador.



Uma das mais importantes coleções voltadas ao público universitário é a "Princípios", que tem passado por cuidadosa reformulação desde o ano passado. Guia teórico do alfabetizador, de Miriam Lemle, professora de lingüística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mais um título que reaparece com novo visual e modificações em seu conteúdo.
"A edição atualizada não mudou nada na essência", diz a professora. "Abreviei alguns parágrafos que discutiam a idéia preconceituosa de que a língua falada pelos alfabetizandos é proibida de ser expressa por escrito."
Logo na introdução do Guia, a autora apresenta alguns conhecimentos básicos sobre a língua, essenciais para o trabalho nas classes de alfabetização. "O professor dessas classes é o que enfrenta, logo de saída, os maiores problemas lingüísticos, e todos de uma vez. O momento crucial de toda a seqüência da vida escolar é o da alfabetização."
Para Miriam, "a consciência de que existe uma língua escrita padrão deve ser tratada num segundo momento, depois de compreendidas as relações entre os sons da fala e as letras do alfabeto segundo as convenções ortográficas, que também podem ser utilizadas para transcrever uma linguagem diferente daquela considerada culta".
Encontro de lingüistas
A concepção desse Guia remonta a 1985. Há 20 anos, portanto, Miriam foi convidada para uma reunião do Mobral [Movimento Brasileiro de Alfabetização] com uma dezena de outros lingüistas de várias partes do Brasil.
Um deles encarregou-se da análise estatística dos erros de escrita mais freqüentes entre os alunos. "Eram coisas do tipo nullprantaçãonull, nullvortavanull, nullmuiénull, nullanénull ou nullfalanonull. Escritas representativas da pronúncia da língua em variedades regionais. Apareceram também muitos exemplos de falta de nullsnull final, como em nullas festanull, bem como generalizações de pessoas verbais, tipo nulleles faznull", descreve a professora.
Miriam chocou-se com o fato de nenhum dos lingüistas mencionar que esses erros nada mais eram que transcrições ortograficamente corretas das pronúncias regionais.
Durante a discussão do resultado das estatísticas de erros, Miriam teve vez para falar. Levou uma tabela com a correspondência entre os erros e as formas na língua padrão, realçou a regularidade fonológica das correspondências e concluiu que o melhor modo de encaminhar o ensino seria ajudando os alunos a tomarem consciência de que a língua falada no Brasil não é uma, mas sim várias. "Celso Luft e Antônio Houaiss gostaram muito, e me disseram que eu precisava escrever aquilo num livro para alfabetizadores", recorda-se.
"Confesso que não tive a pretensão de escrever para o público universitário. O Guia deve ser lido também por professores do primeiro ciclo do ensino fundamental. A alfabetização só é tema em faculdades de educação, e muito pouco em letras."
Caminho árduo
A autora do Guia teórico do alfabetizador defende que ainda há muito a fazer quando o assunto é alfabetização. O tema suscita debates acalorados e muita polêmica. A realidade brasileira aponta para dezenas de milhões de pessoas, os analfabetos funcionais, que entendem precariamente conjuntos elementares de palavras e tropeçam no processamento de estruturas sintáticas medianamente complexas.
"Infelizmente, a área de educação foi muito prejudicada por uma abordagem que virou moda, chamada whole language, em que se passou a priorizar a comunicação em geral e a deixar de lado a tecnologia da escrita e a terminologia da gramática. Isso foi um desastre em todas as partes do mundo", relata Miriam.
Boa parte da culpa do analfabetismo funcional, acredita a autora, vem "desse método comunicativo ou global ou construtivista". A professora está convicta de que um sistema ortográfico é um conjunto de convenções para a representação dos sons da fala. "Obrigar as crianças a atinarem sozinhas com as convenções é um disparate."

Miriam Lemle. Guia Teórico do Alfabetizador.Editora Ática

Fonte: http://www.atica.com.br/materias/?m=24

Este acima é o resumo para acessar a resenha clique aqui.

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