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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Karma e Reencarnação

reincarnation


O sofrimento humano é um dos mistérios mais constrangedores da religião. Por que pessoas inocentes sofrem? Por que Deus permite o mal? Deus não pode fazer nada ou Ele escolhe não fazer? E se Ele decide não fazer, isso significa que é cruel? Ou simplemente indiferente?
A Vedanta tira o problema da jurisdição de Deus e firmemente o entrega a nós.  Não podemos culpar nem Deus nem um demônio. Nada nos acontece pelo capricho de algum agente externo: somos nós mesmos os responsáveis pelo que a vida nos traz; todos estamos colhendo os resultados de ações anteriores, nesta vida ou em vidas passadas. Para entender melhor isso precisamos primeiro entender a lei do karma.
A palavra karma vem do verbo sânscrito kri, fazer. Apesar de karma significar ação, significa também o resultado da ação. Qualquer ação que tenhamos feito ou qualquer pensamento que tenhamos tido criaram uma impressão, tanto em nossas mentes quanto no universo ao redor de nós. O universo nos devolve o que demos a ele: “Colhemos o que plantamos”, disse Cristo. Bons pensamentos e ações criam bons efeitos, maus pensamentos e ações criam efeitos maus.
Impressões mentais
Sempre que realizamos alguma ação e sempre que temos algum pensamento, uma impressão – um tipo de marca sutil – é criada na mente. Essas impressões ou marcas são conhecidas como samskaras. Algumas vezes somos conscientes desse processo de impressão; mas, com a mesma frequência deixamos de ser. Quando ações e pensamentes se repetem, as marcas se tornam mais profundas. A combinação dessas “marcas” – samskaras – cria nosso caráter individual e também influencia fortemente nossos pensamentos e ações subsequentes.  Se sentimos raiva com facilidade, por exemplo, criamos uma mente raivosa predisposta a reagir com raiva em vez de agir com paciência ou compreensão. Da mesma forma que a água ganha força quando se dirige a um canal estreito, também as marcas na mente criam canais de padrões de comportamento que se tornam extraordinariamente difíceis de resistir ou reverter. Mudar um hábito mental arraigado torna-se literalmente uma batalha morro acima.
Se nossos pensamentos predominantes são de bondade, amor e compaixão, nosso caráter reflete isso e esses mesmos pensamentos retornarão a nós cedo ou tarde. Se enviamos pensamentos de ódio, raiva ou mesquinhez, esses pensamentos também voltarão a nós.
Nossos pensamentos e ações agem mais como bumerangues do que como flechas – eles acabam encontrando o caminho de volta. Os efeitos do karmapodem vir imediatamente, mais tarde na vida ou em uma outra vida; o que é absolutamente certo, contudo, é que em algum momento aparecerão. Até que se alcance a liberação, vivemos e morremos nos limites da lei do karma, o grilhão da causa e do efeito.
Reencarnação
O que acontece na morte se não atingimos a liberação?
Quando uma pessoa morre, somente o corpo físico “morre”. A mente, que contém as impressões mentais da pessoa, continua após a morte do corpo. Quando a pessoa renasce, é um novo corpo físico acompanhado pela antiga mente com as impressões ou “marcas” das vidas anteriores que “nasce”. Quando o ambiente favorece, esses samskaras manifestam-se outra vez na nova vida.
Felizmente, esse processo não continua eternamente. Quando atingimos a realização de Deus ou autorrealização, a lei do karma é transcendida, o Ser abandona sua identificação com o corpo e mente e reconquista sua liberdade, perfeição e bem-aventurança originais.
Um universo absurdo?
Quando analisamos friamente o mundo a nossa volta, ele não parece fazer muito sentido. Se julgarmos pelas aparências, pode parecer que muitas pessoas escaparam do laço do destino: muitas pessoas más morreram em paz em suas camas. Pior do que isso, pessoas boas e nobres sofreram sem causa aparente, e tiveram sua bondade retribuída com ódio e tortura. Pensem no Holocausto; pensem no abuso de crianças.
Se olharmos apenas a superfície, o universo parece absurdo no melhor dos casos, e perverso no pior. Mas isso acontece porque não estamos olhando profundamente; estamos apenas vendo o período desta vida, não as vidas que a precederam nem as vidas que poderão vir. Quando vemos uma calamidade ou um triunfo, estamos apenas vendo uma imagem congelada de um filme muito, muito longo. Não podemos ver nem o começo nem o final do filme. O que com certeza sabemos, contudo, é que cada um, não importa o quão depravado possa ser, terminará, no curso de muitas vidas e sem dúvida de muito sofrimento, por realizar sua própria natureza divina. Esse é o inevitável final feliz do filme.
Karma = fatalismo?
A lei do karma não faz da Vedanta uma filosofia fria e fatalista?
De forma alguma.
A Vedanta confere poder pessoal e, ao mesmo tempo, profunda compaixão. Primeiro, se criamos – por nossos próprios pensamentos e ações – a vida que estamos tendo hoje, temos também o poder de criar a vida que teremos amanhã. Quer gostemos ou não, quer queiramos ou não assumir a responsabilidade, isso é o que estamos fazendo a cada passo do caminho. A Vedanta não nos autoriza a por a culpa em qualquer outra coisa: cada pensamento e ação constrói nossa experiência futura.
A lei do karma implica então que devemos ser indiferentes em relação aos outros pois, afinal, eles apenas estão obtendo o que merecem?
Definitivamente, não. Se o karma de uma pessoa a faz sofrer, temos uma oportunidade para aliviar aquele sofrimento de qualquer forma que nos for possível: agindo assim cria-se bom karma. Não precisamos ser indevidamente heroicos, mas podemos sempre oferecer uma ajuda ou ao menos uma palavra gentil. Se escolhermos não fazer o que quer que esteja em nosso limitado alcance para suavizar a dor dos que estão à nossa volta, estamos delineando um mau karma para nós mesmos. Na verdade, estamos apenas nos machucando.
A unidade é a lei do universo, e essa verdade é a real raíz de todos os atos de amor e compaixão. O Atman, meu verdadeiro Ser, é o mesmo Espírito que habita em todos; não pode haver dois Atmans. A consciência não pode ser dividida; é todo-penetrante. Meu Atman e seu Atman não podem ser diferentes. Por essa razão, a Vedanta diz: ame o seu próximo como a si mesmo pois o seu próximo É você mesmo.
http://www.vedanta.org.br/?page_id=364

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