Meditação nas Escolas
Um dos maiores desafios da educação hoje é responder a posição de “trunfo indispensável à humanidade” na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social‖ (Delors, 1998). Este programa pretende apresentar uma nova proposta para a educação escolar que venha a dar conta também da educação do ser humano na sua dimensão emocional.
Para fundamentar a importância da dimensão emocional na formação de um ser humano, citamos o Projeto Genoma Humano (Correa, 2002). Este se diferencia da genética mendeliana ou clássica que estuda a correlação entre um único gene e um traço (cor dos olhos, por exemplo) ou uma doença (monogênica). A genômica, por sua vez, é o estudo direto de genes, de suas funções e interações simultâneas. A partir desse novo ponto de vista comportamento, inteligência, sentimento, resistência física e diferenças entre indivíduos e grupos tem sido objeto de muito investimento da pesquisa genômica. Como consequência dessa descoberta surge um novo conceito na neurociência (Llinás, 2002) denominado neuroplasticidade cerebral onde os alicerces das características humanas são o resultado da interação dos genes com o meio ambiente, intermediada pelas emoções.
Desse modo, amplia-se a importância de experiências carregadas de emoção uma vez que serão gravadas pelo cérebro gerando, assim, comportamentos. Torna-se, então, fundamental conhecermos nossa dinâmica emocional sob o risco de perdermos, também, o controle de determinados comportamentos e atitudes levando-nos a perder o contato com a civilidade, fato facilmente observado durante grandes eventos desportivos, sociais tornando-se, então, desafio educacional.
A escolha da experiência com a prática da meditação neste programa se preocupa em estar dissociada de qualquer religião, crença ou filosofia. Entende que apesar dessa prática estar normalmente associada à religiões orientais, sua origem não está endereçada à nenhuma região, religião ou povo específico. Trata-se de uma técnica laica.
Johnson (1990), depois de fazer um amplo levantamento em diversas culturas, encontrou descrições precoces do exercício da meditação. Situou a origem dos primeiros estados alterados de consciência em situações de indução espontânea como, por exemplo, sentar-se frente ao fogo e observar as labaredas por longas horas. Tal evento levava os envolvidos à exclusão de todos os outros estímulos sensoriais, tirando a consciência do observador da díade lutar ou fugir e levando-a a um estado de não ansiedade. Em virtude disso, podemos afirmar que, o ato de meditar é, na verdade, uma habilidade humana que ao longo do tempo foi abandonado por conta de um ritmo frenético de vida que visava cada vez mais produtividade mas que, no entanto, encontrou nas práticas religiosas, filosóficas e culturais de alguns povos ou épocas uma razão de existir.
A prática da meditação laica introduz um espaço mental entre a consciência e seus objetos desenvolvendo a atenção a esses conteúdos, interferindo na relação estímulo-resposta que configura respostas automáticas capazes de causar a regulação do comportamento e melhorando as relações interpessoais (Brown, Ryan, & Creswell, 2007).
Este programa atende as expectativas de uma educação que se pretende comprometida com o preenchimento das lacunas apontadas pelo Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Dellors (1996), no prefácio desse importante relatório alerta para uma preocupação que esta proposta pretende comtemplar.
“É necessário, pois, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal. Finalmente, e trata-se, também neste caso, de uma realidade permanente, a tensão entre o espiritual e o material. Muitas vezes, sem sequer se aperceber disso ou sem ter capacidade para o exprimir, o mundo tem sede de ideal ou de valores a que chamaremos morais, para não ferir ninguém. Cabe à educação a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e convicções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie de superação de si mesmo. Está em jogo — e aqui a Comissão teve o cuidado de ponderar bem os termos utilizados — a sobrevivência da humanidade. (p. 15-16)”
Sugestão para a próxima leitura: Página “Nova Consciência” e entenda os dez por cento da nossa capacidade cerebral.
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