Intertextualidade
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Grosso modo, pode-se definir a intertextualidade como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.
Na publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci. Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).
Tipos de intertextualidade
Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:
Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.
Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.
Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica.
Pastiche - uma recorrência a um gênero.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque emplica em recrição de um texto.
Referência e alusão
Exemplo
Para ampliar essa discussão, vale trazer um exemplo de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de Os Lusíadas de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (canto paralelo), como o poema “Madrigal Melancólico” de Manuel Bandeira, do livro Ritmo Dissoluto, que seguramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:ASSIM COMO BANDEIRAO que amo em tinão são esses olhos docesdelicadosnem esse riso de anjo adolescente.O que amo em tinão é só essa pele acetinadasempre pronta para a carícia renovadanem esse seio róseo e atrevidoa desenhar-se sob o tecido.O que amo em tinão é essa pressa loucade viver cada vão momentonem a falta de memória para a dor.O que amo em tinão é apenas essa voz leveque me envolve e me consomenem o que deseja todo homemflor definida e definitivaa abrir-se como boca ou feridanem mesmo essa juventude assim perdida.O que amo em tienigmática e solidária:É a Vida!(Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p.37)
MADRIGAL MELANCÓLICOO que eu adoro em tinão é a tua beleza.A beleza, é em nós que ela existe.A beleza é um conceito.E a beleza é triste.Não é triste em si,mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.(...)O que eu adoro em tua natureza,não é o profundo instinto maternalem teu flanco aberto como uma ferida.nem a tua pureza. Nem a tua impureza.O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!O que eu adoro em ti, é a vida. (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p.83)
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Intertextualidade"
Categoria: Literatura
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Grosso modo, pode-se definir a intertextualidade como sendo um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/ contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.
Na publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci. Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).
Tipos de intertextualidade
Pode-se destacar oito tipos de intertextualidade:
Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra.
Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.
Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.
Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia,ou à crítica.
Pastiche - uma recorrência a um gênero.
Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque emplica em recrição de um texto.
Referência e alusão
Exemplo
Para ampliar essa discussão, vale trazer um exemplo de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de Os Lusíadas de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (canto paralelo), como o poema “Madrigal Melancólico” de Manuel Bandeira, do livro Ritmo Dissoluto, que seguramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:ASSIM COMO BANDEIRAO que amo em tinão são esses olhos docesdelicadosnem esse riso de anjo adolescente.O que amo em tinão é só essa pele acetinadasempre pronta para a carícia renovadanem esse seio róseo e atrevidoa desenhar-se sob o tecido.O que amo em tinão é essa pressa loucade viver cada vão momentonem a falta de memória para a dor.O que amo em tinão é apenas essa voz leveque me envolve e me consomenem o que deseja todo homemflor definida e definitivaa abrir-se como boca ou feridanem mesmo essa juventude assim perdida.O que amo em tienigmática e solidária:É a Vida!(Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p.37)
MADRIGAL MELANCÓLICOO que eu adoro em tinão é a tua beleza.A beleza, é em nós que ela existe.A beleza é um conceito.E a beleza é triste.Não é triste em si,mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.(...)O que eu adoro em tua natureza,não é o profundo instinto maternalem teu flanco aberto como uma ferida.nem a tua pureza. Nem a tua impureza.O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!O que eu adoro em ti, é a vida. (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p.83)
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