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domingo, 1 de junho de 2008

O que é extensão universitária?


Publicado em Integração ensinoÛpesquisaÛextensão, III(9):148-9, maio/97.

O que é extensão universitária?

Oberdan Dias da Silva

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1. A obrigatoriedade constitucional da extensão
O artigo 207 da Constituição Brasileira dispõe que "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".
Ensino, pesquisa e extensão constituem as três funções básicas da Universidade, as quais devem ser equivalentes e merecer igualdade em tratamento por parte das instituições de ensino superior, pois, ao contrário, estarão violando esse preceito constitucional.

2. O entendimento inadequado do termo extensão
A palavra extensão, nesse contexto, implica em estender-se, em levar algo a algum lugar, ou até alguém.
No meio universitário, por vezes se confunde o termo "extensão" com "cursos de extensão universitária". Os cursos de extensão universitária, geralmente acadêmicos e com pequena carga-horária, destinam-se a complementar conhecimentos em áreas específicas. Já as atividades de extensão, dever constitucional das universidades, são bastante amplas, complexas e não se confundem com "cursos de extensão".
Um curso de extensão, ou vários cursos de extensão, podem estar inseridos dentro das atividades de extensão universitária da Instituição, mas não ensejam que extensão seja apenas "cursos de extensão universitária".

3. O que é extensão universitária?
A extensão universitária é, na realidade, uma forma de interação que deve existir entre a universidade e a comunidade na qual está inserida. É uma espécie de ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade. Funciona como uma via de duas mãos, em que a Universidade leva conhecimentos e/ou assistência à comunidade, e recebe dela influxos positivos como retroalimentação tais como suas reais necessidades, seus anseios, aspirações e também aprendendo com o saber dessas comunidades. Ocorre, na realidade, uma troca de conhecimentos, em que a universidade também aprende com a própria comunidade sobre os valores e a cultura dessa comunidade. Assim, a universidade pode planejar e executar as atividades de extensão respeitando e não violando esses valores e cultura. A universidade, através da Extensão, influencia e também é influenciada pela comunidade, ou seja, possibilita uma troca de valores entre a universidade e o meio.

4. Possibilidade de socialização do conhecimento
Por meio da extensão, a universidade tem a oportunidade de levar, até a comunidade, os conhecimentos de que é detentora, os novos conhecimentos que produz com a pesquisa, e que normalmente divulga com o ensino. É uma forma de a universidade socializar e democratizar o conhecimento, levando-o aos não universitários. Assim, o conhecimento não se traduz em privilégio apenas da minoria que é aprovada no vestibular, mas difundido pela comunidade, consoante os próprios interesses dessa mesma comunidade.

5. Possibilidade de colaboração com a nação
A universidade vai até a comunidade, ou por vezes, pode receber pessoas da comunidade em seu campus, prestando-lhes serviços, assistência, auscultando-lhes os anseios e as necessidades. A universidade coleta dados e informações, realiza estudos e pesquisas, visando a bem atender à comunidade.
Portanto, a universidade ao comunicar-se com a realidade local, regional ou nacional tem a possibilidade de renovar constantemente sua própria estrutura, seus currículos e suas ações, criativamente, conduzindo-os para o atendimento da verdadeira realidade do país.

6. Possibilidade do ensino-aplicação (prática)
As atividades de extensão bem planejadas, bem estruturadas e bem executadas permitem à universidade socializar e democratizar os conhecimentos dos diversos cursos e áreas, e também preparar seus profissionais, não somente com a estratégia do ensino-transmissão, mas complementando a formação com a estratégia do ensino-aplicação.
Um velho provérbio chinês datado de 4 mil anos A.C. já expressava:
"Se decoro, esqueço,
se vejo, lembro-me
se faço, aprendo."
A experiência tem demonstrado a atualidade desse provérbio, e que o verdadeiro aprendizado acontece realmente com o relacionamento da teoria com a prática, ou seja, além do estudo, vendo e fazendo.
É na extensão que os universitários das áreas da saúde, engenharia, administração, psicologia, direito, social e tantas outras, vão entender e fundamentar os conceitos e teorias aprendidos nas atividades de ensino, consolidando e complementando o aprendizado com a aplicação. Daí um dos grandes méritos da extensão - permitir a efetivação do aprendizado pela aplicação. Essa aplicação, evidentemente, deve ser planejada e acompanhada por professores e profissionais das respectivas áreas do conhecimento, da própria Universidade.

7. A aplicação sistêmica do ensino-pesquisa-extensão na busca da qualidade
O artigo 207 da Constituição, ao afirmar que "...as universidades obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão", é bastante sábio. Sábio porque obriga que as universidades sejam conduzidas, associando e integrando as atividades de ensino, extensão e pesquisa de maneira que se complementem, para bem formar seus profissionais universitários. Veja-se: A universidade é detentora do conhecimento e o transmite, por meio do ensino, aos educandos. Por meio da pesquisa aprimora os conhecimentos existentes e produz novos conhecimentos. Pelo ensino, conduz esses aprimoramentos e os novos conhecimentos aos educandos. Por meio da extensão, pode proceder a difusão, socialização e democratização do conhecimento existente, bem como das novas descobertas à comunidade. A Extensão também propicia a complementação da formação dos universitários, dada nas atividades de ensino, com a aplicação prática.
Assim, forma-se um ciclo onde a pesquisa aprimora e produz novos conhecimentos, os quais são difundidos pelo ensino e pela extensão, de maneira que as três atividades tornam-se complementares e dependentes, atuando de forma sistêmica.

8. A interdependência entre ensino-pesquisa-extensão
O ensino precisa da pesquisa para oxigená-lo, aprimorá-lo e inová-lo, pois, ao contrário, corre o risco da estagnação. O ensino necessita da extensão para levar seus conhecimentos à comunidade e complementá-los com aplicações práticas. A extensão precisa dos conteúdos, educandos e professores do ensino para ser efetivada. A extensão necessita da pesquisa para diagnosticar e oferecer soluções para problemas diversos com os quais irá deparar-se, bem como para que esteja constantemente atualizando-se. Por sua vez, a pesquisa prescinde dos conhecimentos detidos pelo ensino, como base de partida para novas descobertas. Além disso, a pesquisa depende do ensino e da extensão para difundir e aplicar sua produção, e assim, indicar-lhe os novos rumos a seguir.
Portanto, ensino, pesquisa e extensão são atividades interdependentes, complementares e precisam ter valorações equivalentes no sistema universitário. A qualidade e o sucesso dos profissionais formados pelas universidades, dependem, diretamente, do nível de desenvolvimento, equilíbrio e harmonia entre essas três áreas da Universidade. É difícil conceber universitários bem formados sem a influência dessa formação sistêmica interdependente e complementar que deve ser propiciada pelo ensino, pesquisa e extensão.

9. Tipos de ações que caracterizam a extensão
Dentre outras, podem ser destacados os seguintes tipos de ações extensionistas:
· Cursos, palestras e conferências;
· Cursos de ensino a distância;
· Cursos de verão, ou sazonais;
· Cursos por correspondência;
· Colônia de férias;
· Viagens de estudo;
· Campus avançados;
· Associações de ex-alunos;
· Aciso ¾ Ações Cívico-Sociais;
· Apresentações musicais, teatrais e feiras;
· Campanhas orientativas e assistenciais;
· Programas e eventos culturais e esportivos;
· Universidades volantes;
· Escolas e hospitais flutuantes, etc.

10. Vantagens da extensão
1. Difusão e socialização do conhecimento detido pela área de ensino;
2. Difusão e socialização dos novos conhecimentos produzidos pela área de pesquisa;
3. Conhecimento da realidade da comunidade em que a universidade está inserida;
4. Possibilidade de diagnosticar necessidades de pesquisas e outras ações;
5. Prestação de serviços e assistência à comunidade;
6. Fornecimento de subsídios para o aprimoramento curricular e criação de novos cursos;
7. Fornecimento de subsídios para o aprimoramento da estrutura e diretrizes da própria universidade na busca da qualidade;
8. Facilita a integração ensino-pesquisa-extensão;
9. Possibilita a integração universidade-comunidade;
10. Possibilita a comunidade universitária conhecer a problemática nacional e atuar na busca de soluções plausíveis.

11. Conclusão
As atividades de extensão universitária, tão imprescindíveis à formação do universitário quanto o ensino e a pesquisa, precisam merecer por parte das universidades particulares, maior atenção e apreço. As universidades particulares não podem prescindir da extensão, pois sem ela estarão divorciadas das comunidades onde estão inseridas, além de estarem alijadas de instrumentos e condições capazes de propiciar, aos novos profissionais, uma formação integral consolidada.


Diretor do Centro de Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu de 1994 a julho de 2001.
Palestra proferida no II Simpósio Multidisciplinar "A Integração Universidade-Comunidade", em 10 de outubro de 1996. Voltar

http://ecientificocultural.com/ECC2/artigos/oberdan9.html
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