| 11 Setembro 2013
Artigos - Cultura
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Em
1979 o governo João Figueiredo promulgou a Lei da Anistia. Durante um
debate que estendeu-se à toda a nação a tal "Anistia Ampla, Geral e
Irrestrita" virou realidade.
Decantada
em verso e prosa (como Elis Regina em "O Bêbado e a Equilibrista ", de
Bosco e Blanc, ou a versão de "No Woman, No Cry" de Gilberto Gil) a
anistia do governo militar permitiu a volta de centenas de exilados e
auto-exilados ao país.Todo o país aguardou, festivamente e recebeu mesmo
de braços abertos todos aqueles que "partiram num rabo de foguete" de
modo a fechar de uma vez a chaga da divisão havida nos anos 60 e seguir
em frente.
Infelizmente
não aconteceu nada disso, pelo contrário. Começava aí o capítulo mais
marcado da decadência da cultura no país. Decadência que foi não foi
somente cultural, mas política e econômica.
Economicamente,
o modelo adotado durante o regime militar, de perfil
fascista/socialista em que um Estado forte "comanda" a economia criando
toda a infra-estrutura e sendo dono de boa parte da indústria de base,
dava sinais de esgotamento. A inflação comia o poder dos salários, como
Beth Carvalho anunciava: "depois que inventaram o tal cruzeiro, eu trago
um embrulhinho na mão, e deixo um saco de dinheiro" (Saco de Feijão).
Nos 80, década tida como "perdida", a inflação atingiria os dois dígitos
mensais. Na política, o modelo de bi-partidarismo, com Arena e MDB
também se esgotava. Com a volta dos anistiados chegaria mesmo ao fim,
dando lugar a um pluripartidarismo de araque, em que somente as legendas
de esquerda proliferaram.
Nada disso poderia ter tido êxito se não houvesse uma desconstrução cultural cuidadosamente planejada em ação.
O
motivo era simples: nem todos que voltaram, como o Fernando Gabeira,
por exemplo, o fizeram para retomar suas vidas, viver e redescobrir o
país. Nada disso, voltaram mesmo para "acertar contas" com seus algozes
dos anos 60. Começava aí a guerrilha cultural - um dos flancos mais
"modernos" da causa esquerdista, herdada diretamente dos protestos de
Maio de 1968 (por isso Zuenir Ventura refere-se a ele como "O ano que
não terminou") - em que o "movimento" se reagrupava e entrava num
momento de análise dos erros e acertos.
Desta auto-análise saíram as conclusões do fracasso dos anos 60:
- O movimento foi elitista e intelectual, nunca atingiu o povão;
- O conservadorismo, principalmente da classe média, que obrigou o exército a agir para resguardar a democracia;
- O exército, claro, a instituição que tirou-os do destino quase alcançado.
Para
o primeiro caso, os "intelectuais" do partido escolheram um menino do
povo - Luís Inácio da Silva, o Lula, líder de um movimento grevista
inédito desde os anos 60 - a quem poderiam doutrinar para ser seu
agente.
Para
o terceiro, a única alternativa seria criminalizar os que impediram a
vitória nos ano 60. Para isso mesmo a própria Lei da Anistia teria de
ser revogada. Mas isso só poderia ser feito com o poder nas mãos... Por
isso nada foi feito durante algum tempo.
Para
o segundo, a tarefa era mais árdua e de longo prazo. Teria de ser
combatida seguindo os passos de Antonio Gramsci. Desarmar os inimigos
por dentro. Deslocar o eixo do senso comum. Para isso teriam de dominar
os "formadores de opinião" do país. Nada que os manuais de tomada
comunista já não conhecessem: obter o apoio do "beautiful people", dos
intelectuais, promover os amigos, companheiros de viagem e idiotas úteis
a formadores de opinião. Criar o "primeiro casal de coelhos". E depois a
coisa se reproduziria por si mesma.
As
décadas seguintes correram céleres a partir destas premissas. A "queda"
do comunismo em 1989 forneceu a cortina de fumaça ideal. Não se lutava
mais a favor do comunismo, mas contra uma potência mundial hegemônica e
perigosa. A formação do Foro de São Paulo fortaleceu ainda mais os
"vingadores" do continente, unindo-os a partir de Cuba. Ao meio da
década dos 90, com a adoção do "politicamente correto", introduzido sob
os auspícios do governo FHC, a dominação acelerava-se.
Mas
eis que em 1996, alguém consegue perceber o que se passa lança o seu
"J'accuse": "O Imbecil Coletivo" de Olavo de Carvalho. "Fomos
descobertos", devem ter pensado. Olavo foi combatido, debatido e
sobreviveu incólume. Em terra de cego quem tem olho é rei? Não no
Brasil.
À
surpresa inicial e aos primeiros anúncios de primeira página sobre os
debates acerca do livro ou de seu autor - que já proliferavam nos
cadernos de cultura dos principais jornais do país - foi lançada uma
"fatwa" (parecida com aquela lançada contra Salman Rushdie pelos "Versos
Satânicos"): ninguém poderia debater com Olavo, ninguém deveria citar
Olavo, muito menos respondê-lo. Olavo de Carvalho deveria ser
solenemente ignorado.
Olavo
tentou, neste meio tempo, unir o que poderia ser a resistência contra a
tomada avassaladora da esquerda no país, como setores do exército, dos
liberais e dos conservadores. Não resultou.
Ao
mesmo tempo, mesmo com a proliferação dos cursos que promovia em
diversos locais no país (tenho o privilégio de ter sido um dos
organizadores do curso em Porto Alegre, em 2004 e 2005), Olavo começou a
ser combatido "por dentro", perdendo seu lugar como colunista em vários
veículos importantes do país. Em 2005 deixa o país para um auto-exílio
nos Estados Unidos.
A
esta aparente vitória de seus retratores, começa uma tímida reação: o
Seminário de Filosofiam como o Curso Online de Filosofia, e o
True-Outspeak. Com este último, Olavo conseguiu expandir a sua
influência a níveis imagináveis.Em 2013, um "olavette" de peso foi
incluído à lista, e causa furor: João Woerdenbag, o Lobão. Ex-Blitz,
famoso apoiador de campanhas do PT, Lula e etc., descobre a pólvora e
lança um petardo. Com o nome de "Manifesto do Nada Na Terra do Nunca",
espanta aos próceres da esquerda pelo conteúdo e enfurece-os pelas
entrevistas onde cita Olavo de Carvalho.
Neste
mesmo ano de 2013, enfim, é lançado um livro - que nem é inédito, pois
trata-se de um "the best of" do Olavo, com os melhores textos publicados
em diversos jornais e revistas do país entre 1997 e 2012 - "O Mínimo
Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota", organizado pelo jovem
aluno Felipe Moura Brasil. Sem publicidade, sem investimento em
divulgação, é alçado aos primeiros lugares em vendas em todos as listas
importantes do país.
À
isso, somem-se as dezenas de entrevistas que o autor concedeu aos
mesmos veículos que tentaram ostracizá-lo no passado, para imensa
satisfação do seu público.
Estas reações, por espontâneas e marcantes, fazem concluir-me duas coisas:
-
O Brasil ainda tem esperança, apesar de tudo. Há uma nova geração que
percebe a verdade, mesmo depois de décadas de doutrinação, e que vai em
sua busca.
- E sim, a cultura parece ter voltado de seu exílio ao país.
Luis Afonso Assumpção é engenheiro e edita o blog Nadando Contra Maré Vermelha.
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/14504-o-sucesso-do-qminimoq-a-volta-do-exilio-da-alta-cultura.html
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