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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Economia e Negócios Educação.


As escolas do PIB

Pesquisa revela que 77% dos
executivosde grandes empresas
saíram das faculdades particulares

Murilo Ramos



Antonio Milena
Vera, gerente do Sheraton: ela sempre se sentiu uma igual entre colegas vindos da escola pública

Uma pesquisa feita pela Franceschini Análises de Mercado com mais de 1.000 executivos mostra uma face surpreendente das instituições privadas de ensino superior. Segundo o levantamento, realizado nas maiores empresas do país com sede no Estado de São Paulo, 77% dos profissionais que ocupam postos de alto e médio escalão – presidência, diretoria e gerência – formaram-se em faculdades particulares. Os executivos não vieram apenas de tradicionais e renomados estabelecimentos, como a Fundação Getúlio Vargas e as unidades da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Os dirigentes empresariais de alto escalão ouvidos pelos pesquisadores estudaram também em escolas de reputação menos estabelecida. No total eles são egressos de duas centenas de instituições privadas. "Sabemos por experiência que as particulares vêm melhorando e formando bons alunos, mas queríamos uma comprovação numérica desse avanço de qualidade. Por isso encomendamos a pesquisa", diz Gabriel Mário Rodrigues, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). Embora o estudo tenha sido centrado em São Paulo, o Semesp acredita que os resultados são representativos do que ocorre no resto do país.

O levantamento mostra que ex-alunos das universidades privadas estão igualmente espalhados nos altos postos na indústria, no comércio e no setor de serviços. Os dados causaram espanto a Claudio de Moura Castro, economista, especialista em educação superior e articulista de VEJA. "Não esperava desempenho tão bom. Muitas das melhores escolas particulares estão funcionando há pouco tempo e é surpreendente que os resultados já estejam aparecendo", diz Moura Castro. A pesquisa, não por acaso, mostra que a penetração dos ex-estudantes de escolas privadas no mercado de trabalho é tanto maior quanto mais jovem for o executivo. Outro dado relevante está na predominância dos alunos de faculdades particulares em quase todos os campos. Só na área química eles aparecem em número inferior. Em campos de estudo mais tradicionais, como economia, direito, administração de empresas e engenharia, os executivos egressos das instituições privadas em postos de comando já são maioria.

Renato Chaui
Campus da PUC de São Paulo: levantamento mostra que as escolas pagas já venceram o preconceito


A pesquisa de campo encomendada pelo Semesp traz diversas revelações intrigantes. Uma delas parece uma simples constatação aritmética. Como as escolas privadas formam 65% dos universitários brasileiros, nada mais natural que eles ocupem também a maioria dos postos no mercado de trabalho. Mas, como nota Moura Castro, essa simples correlação esconde uma realidade bem mais complexa. Como os mercados estão saturados, a presença de alunos de estabelecimentos de ensino particular em postos de comando numa taxa superior à dos formandos (77% contra 65%) é sinal de que as escolas privadas podem estar mais focadas do que as públicas. Outra constatação interessante é o fato de que o diploma original do candidato pode ter algum peso na contratação, mas não na condução de sua carreira. "O preconceito em relação à escola privada praticamente desapareceu nas empresas", diz Mailson da Nóbrega, economista, ex-ministro da Fazenda e sócio de uma das principais consultorias do país, a Tendências. Mailson se formou numa das escolas particulares pioneiras do Distrito Federal, o Centro Universitário de Brasília (Ceub), na década de 70. "Talvez o mais importante seja o esforço de cada um", observa Mailson. "O primeiro diploma não conta muito. O decisivo mesmo é a pessoa investir a vida toda na própria educação", concorda Alcides Amaral, ex-presidente do Citibank no Brasil, que se formou em jornalismo na Faculdade C&aac Tendências. Mailson se formou numa das escolas particulares pioneiras do Distrito Federal, o Centro Universitário de Brasília (Ceub), na década de 70. "Talvez o mais importante seja o esforço de cada um", observa Mailson. "O primeiro diploma não conta muito. O decisivo mesmo é a pessoa investir a vida toda na própria educação", concorda Alcides Amaral, ex-presidente do Citibank no Brasil, que se formou em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, fez brilhante carreira de banqueiro e, recentemente, voltou a escrever para jornais.

A gerente de relações públicas do imponente hotel Sheraton de São Paulo, Vera Campacci, cursou artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e relações públicas na Anhembi Morumbi. Vera também enfatiza a idéia de que o ponto de partida raramente define o potencial final da pessoa no mercado de trabalho. Ela conta que nunca se intimidou diante da concorrência dos alunos dos estabelecimentos públicos e lembra que ficava irritada com estudantes que já se consideravam vencedores apenas pelo fato de ter freqüentado uma universidade pública. "O mais importante da profissão você aprende no dia-a-dia, independentemente de onde se tenha formado." O engenheiro José Dário Dal Piaz Júnior, por seu lado, acredita que ter estudado em uma escola da pequena cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí, o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), não o colocou em desigualdade de condições diante de concorrentes que vieram de uma faculdade pública. Dal Piaz, que já passou pelas gigantes IBM e Ericsson, formou-se em engenharia de telecomunicações e hoje é vice-presidente do Yankee Group, empresa multinacional de consultoria que faturou globalmente 200 milhões de dólares no ano passado.

A pesquisa do Semesp reflete também um momento de expansão sem igual do ensino privado. A cada semana, surge uma faculdade particular no Brasil. As mais de 1.000 instituições de ensino superior privado recebem cerca de 120.000 novos alunos por ano. É muito? Pode ser quando se considera que o mercado de trabalho está saturado pelas baixas taxas de crescimento da economia brasileira nos últimos anos. Mas é pouco quando se lembra de que apenas 12% da população brasileira em idade universitária está matriculada em faculdades. É uma taxa rala mesmo quando se compara o Brasil com seus vizinhos na América Latina. Proporcionalmente à população, a Bolívia forma o dobro de universitários a cada ano. A Argentina diploma quatro vezes mais. Sem a participação das escolas privadas, o desempenho brasileiro nessa área seria calamitoso. De cada dez alunos que ingressam no ensino superior no Brasil, sete têm como destino as instituições privadas.

Do ponto de vista da qualidade, o ensino oferecido com a chancela de "público" já não tem aquela aura dourada do passado. O Ministério da Educação fechou o cerco sobre as escolas privadas e colocou-as num rígido programa de aumento de qualidade que deu resultados excelentes. Com salários e condições de trabalho melhores, as escolas particulares têm atraído em ritmo crescente os bons professores das universidades públicas. De acordo com estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 19% dos doutores em direito formados até 1994 trabalham em universidades privadas. Quando se apura o número de doutores que se formaram depois de 1995 e lecionam em escolas privadas, esse índice sobe para 40%. "A cobrança em cima desses professores na escola privada é maior, porque os alunos estão tirando dinheiro do bolso e exigem qualidade", lembra Moura Castro.

Liane Neves
Sala de anatomia da Universidade Luterana do Brasil: as escolas privadas ainda são fracas em pesquisa


Para os estudantes, outra vantagem óbvia das faculdades particulares é que elas são menos atingidas por greves de longa duração. Como resultado do aperto do Ministério da Educação sobre as escolas privadas e da própria dinâmica do mercado, algumas faculdades já possuem até laboratórios e equipamentos mais modernos que os das escolas do governo. Essa diferença há alguns anos era abismal. Um exemplo dessa superação muito citado pelos especialistas é o Ibmec Educacional, que tem unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. O instituto cobra uma das mais altas mensalidades do mercado educacional, em torno de 1.200 reais, mas oferece ambiente de estudo em que há um computador por aluno – contra, por exemplo, um para cada grupo de trinta alunos na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP). O Ibmec conseguiu nota A no Exame Nacional de Cursos, o popular Provão, em todos os anos em que seus alunos se submeteram à avaliação do governo. Aliás, quando se examina esse quesito, o do desempenho no Provão, as escolas privadas têm avançado. Segundo Moura Castro, tomadas como um todo elas podem se considerar niveladas com as escolas públicas – embora algumas poucas instituições particulares tenham recebido notas desabonadoras e tenham sido fechados diversos cursos fantasmas no país. As escolas privadas atraem críticas também por ser um negócio que ainda depende de subsídios e isenções do governo federal e do estadual. Em razão disso, dizem os críticos, as escolas deveriam organizar-se de modo a gastar também com pesquisas, dar mais bolsas a estudantes carentes e oferecer cursos que custam caro, como o de medicina. Em parte eles têm razão, mas está claro que aquela imagem mercantilista antiga de ser apenas fábricas de diplomas está cada vez mais distante das instituições superiores privadas.

"Talvez o que as escolas particulares estejam demostrando é que as universidades públicas têm de estar mais próximas da iniciativa privada. Não podem ficar presas somente ao mundo acadêmico," diz Paulo Renato Souza, ministro da Educação. Claro que uma discussão a respeito no Brasil tem poucas chances de escapar do preconceito que cerca o setor privado em suas investidas na educação. O mesmo olhar de desconfiança ocorre com relação aos hospitais particulares. Saúde e educação são considerados por boa parte da classe pensante brasileira como feudos públicos. Mas a experiência vitoriosa do ensino privado começa a deixar lições também para a escola pública. "Enquanto as escolas particulares são atentas, ágeis em montar cursos para atender à demanda do mercado profissional, as universidades públicas precisam ultrapassar uma série de entraves para promover mudanças", diz a pesquisadora Eunice Durham, da USP. "Isso torna todo processo modernizador moroso e burocrático."

SENHORES ESTUDANTES

Algumas das personalidades destacadas no campo econômico e empresarial do país estudaram em escolas privadas, que são mais dinâmicas para abrir cursos novos, contratar com bons salários os melhores professores e preparar os alunos para atender às demandas do mercado

André Valentin
Sabastião Moreira/AE
Germano Luders
Mario Rodrigues

José Dário Dal Piaz Júnior
Do interior de Minas para o Yankee Group

Mailson da Nóbrega
Ex-ministro passou pelo Ceub, em Brasília
Luiz Fernando Furlan
Formado pela PUC, hoje comanda a Sadia
Alcides de Souza Amaral
Ex-presidente do Citibank estudou na Faculdade Cásper Líbero



Fonte: http://veja.abril.com.br/200302/p_100.html
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