Para educadora, pais devem ficar atentos a grade de atividades e ao espaço que o colégio oferece ao aluno
Não é fácil para os pais conciliar a vida profissional e pessoal. Colocar os filhos em tempo integral na escola, então, surge como uma opção prática para aqueles que trabalham durante o dia inteiro. De acordo com especialistas em educação ouvidos pelo iG , a decisão pode beneficiar a família inteira, mas os pais devem ficar atentos não só na escolha da escola, mas também na idade e momento ideal para colocar os filhos em colégios de tempo integral.
Maria Ângela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP, afirma que embora exista a oferta de escola de tempo integral para crianças de todas as idades, as muito pequenas podem ficar cansadas com o excesso de atividades.
“O ideal seria a criança ir para a escola a partir dos dois anos. Mas com os pais trabalhando fica difícil, então acabam colocando a criança na creche antes disso. Na minha avaliação, porém, até uns cinco ou seis anos a criança deveria ficar na escola somente meio período”, afirma.
Myriam Tricate, diretora geral do Colégio Magno/Mágico de Oz - que possui o ensino integral a partir do 2º ano do Ensino Fundamental – não concorda com a tese de uma idade mínima para ingressar no ensino de tempo integral. Para ela, o ideal é que até mesmo as crianças muito pequenas estudem em escolas de tempo integral. “Costumo dizer que, se fosse possível, gostaria que todos os alunos fizessem o integral” diz.
Segundo a diretora, estudo feito na escola mostra que as notas dos estudantes que frequentam a escola por mais horas costumam ser melhores. “O estudo costuma ser diferente no ambiente escolar. Aqui não tem interrupções e distrações que eles têm em casa, como uma visita surpresa, por exemplo”, afirma.
Sem massacrar
De acordo com Maria Ângela, os pais que procuram por uma escola em tempo integral devem ficar atentos com a grade de atividades que o colégio oferece. O espaço tem que ter atividades em que a criança possa sair no pátio, brincar, fazer esportes.
"Não pode ser uma alfabetização massacrante, ou seja, aquela escola em que as crianças são obrigadas a ficar o dia inteiro na cadeira lendo e escrevendo. Isso traz uma educação desinteressante e cansativa para os alunos", afirma.
No Colégio Magno, além das quatro horas normais de ensino, as crianças que fazem o integral têm duas horas de estudo e atividades diárias como esgrima, culinária, robótica e natação.
Maria Ângela diz ainda que os pais têm que prestar atenção na estrutura da escola, se as classes não estão lotadas, se os profissionais estão preparados e, principalmente, se há espaço para brincar. "A criança tem que sair da sala de aula e isso às vezes é um problema para o colégio que não tem estrutura, porque os alunos vão fazer barulho", conclui.
A coordenadora da educação infantil do Colégio Augusto Laranja, Thais Schulter Carneiro, diz ainda que os pais devem ficar atentos a filosofia da escola. “A educação é compartilhada , então essa filosofia tem que ficar muito bem alinhada para não haver problemas futuramente. Os pais devem perguntar à escola quais são as posições defendidas em diferentes questões e atentar para os mesmos valores, as mesmas metas e o mesmo conceito de educação”, afirma.
A relação com a família
Embora concorde que é doloroso para os pais deixarem a criança no colégio durante muitas horas, Myriam afirma que é preciso entender que a separação pode trazer benefícios para as crianças. “Se eu tivesse que falar qual é o ponto mais importante no ensino em tempo integral, eu diria que é a autonomia. O aluno aqui aprende a se virar sem os pais. Depois vem a convivência com outras pessoas e depois a aprendizagem”, afirma.
Myriam diz ainda que a relação na família costuma melhorar. "Eles têm menos desgaste de ficar indo de um lado para o outro para fazer atividades, é menos estressante. Até a alimentação melhora. Ele vai acabar comendo algo que não está acostumado em casa", diz.
Para Maria Ângela, os pais também devem atentar para as necessidades da criança fora do colégio. "Quando o aluno chegar em casa, os pais têm que dar atenção, não podem ignorar. Isso pode afetar a criança", diz.
Thais Schulter concorda e diz que a família precisa prestar atenção nos momentos em que estão juntos. “Pode acontecer de a família considerar que a escola já supre a necessidade de atenção, de brincadeiras e deixar de desenvolver esse lado importante também entre a família e a criança. Ou seja, é importante que os pais não esqueçam o papel deles na educação, pois essa parceria tem que existir sempre, independente da educação ser em período integral ou não”, completa.
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