sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Pedagogia empresarial


Pedagogia empresarial

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Pedagogia empresarial designa as atividades de estímulo ao desenvolvimento profissional e pessoal realizadas dentro das empresas. O termo foi cunhado pela professora Maria Luiza Marins Holtz.

A Pedagogia e a Empresa fazem um casamento perfeito. Ambas tem objetivo semelhante em relação às pessoas, principalmente nos tempos atuais.

Uma Empresa sempre é a associação de pessoas, para explorar uma atividade, liderada pelo empresário, pessoa empreendedora, que dirige e lidera aquela atividade com o fim de atingir ideais e objetivos também definidos.

A Pedagogia é a ciência que estuda e aplica doutrinas e princípios visando um programa de ação em relação à formação, aperfeiçoamento e estímulo de todas as faculdades da personalidade das pessoas, de acordo com ideais e objetivos definidos.

Tanto a Empresa como a Pedagogia agem em direção à realização de ideais e objetivos definidos, no trabalho de provocar mudanças no comportamento das pessoas. Esse processo de mudança provocada, no comportamento das pessoas em direção a um objetivo, chama-se aprendizagem e aprendizagem é a especialidade da Pedagogia e do Pedagogo[1].

As responsabilidades do pedagogo empresarial incluem:

  • Conhecer as soluções para as questões que envolvem a produtividade das pessoas humanas, o objetivo de toda Empresa.
  • Conhecer e trabalhar na direção dos objetivos particulares da Empresa onde trabalha.
  • Conduzir as pessoas que trabalham na Empresa, dirigentes e funcionários, na direção dos objetivos definidos, humanos e empresariais.
  • Promover as condições necessárias (treinamentos, eventos, reuniões, festas, feiras, exposições, excursões), para o desenvolvimento integral das pessoas, influenciando-as positivamente (processo educativo), com o objetivo de otimizar a produtividade.
  • Aconselhar, de prefêrencia por escrito, sobre as condutas mais eficazes das chefias para com os funcionários e destes para com as chefias, a fim de favorecer o desenvolvimento da produtividade empresarial.
  • Conduzir o relacionamento humano na Empresa, através de ações, que garantam a manutenção do ambiente positivo e agradável, estimulador da produtividade.

A formação do Pedagogo Empresarial é oferecida em cursos de especialização e mestrado, por diversas instituições de ensino superior. Os cursos são reconhecidos pelo Ministério da Educação - MEC.

Várias empresas instituiram programas de treinamento e desenvolvimento de pessoas, o processo pode ser através da criação de uma Universidade Corporativa.

Referências

  1. Maria Luiza Marins Holtz. Lições de Pedagogia Empresarial (PDF).

Fonte: Ministério da Educação - MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/resolucao12001.pdf

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Quer saber mais?

http://www.pedagogiaempresarial.com.br/
http://www.mh.etc.br/pedagogia_empresarial.html
http://www.fast.br/fastportal/index.php?option=com_content&task=view&id=44&Itemid=109




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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O apartheid educacional

O apartheid educacional
Para Claude Carpentier, especialista francês em educação e diversidade, discurso humanista em voga na Unesco mascara um ideário que só faz aumentar o fosso entre ricos e pobres

Claude Carpentier
Envolvido com as questões do ensino pós-apartheid na África do Sul há mais de 12 anos, Claude Carpentier, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Picardie Jules Verne, na França, acredita que o ideário neoliberal, cada vez mais presente nas políticas educacionais, cria atualmente um senso de justiça peculiar no que diz respeito às questões sociais. "Garante-se o mínimo e não se igualam as condições", resume o autor de, entre outros, A escola na África do Sul - Entre os fantasmas do apartheid e as limitações para avançar, não publicado no Brasil. Em visita a São Paulo, para uma série de eventos, entre eles a Roda de Conversa da ONG Ação Educativa, Carpentier conversou com a subeditora Beatriz Rey, e concedeu a entrevista a seguir.

O senhor desenvolveu um programa de cooperação científica na África do Sul sobre o sistema escolar e as heranças do apartheid. O que foi, na prática, essa experiência?
A primeira vez que fui à África do Sul foi em 1996. Desde então, fui a quatro ou cinco missões científicas lá. Em 1997, estudei as mudanças nos conteúdos escolares para o ensino de história depois do apartheid. Retornei em 2002 para participar de um colóquio franco-sul africano, quando fiz uma palestra. No ano passado, iniciei uma parceria com Michael Cross, da Universidade de Witwatersrand, de Johannesburgo, para pesquisar a trajetória dos estudantes negros das camadas desfavorecidas que ingressavam pela primeira vez numa universidade. Isso porque, obviamente, desde o fim do apartheid, todos podem ingressar nas mesmas universidades. Na prática, esse programa de cooperação científica envolvia intercâmbio com universidades: pesquisadores iam da África do Sul para a França e vice-versa.

Como está o quadro da educação na África do Sul?
Costumo usar a metáfora do copo metade vazio e metade cheio para falar da educação lá. Depois do apartheid, que acabou em 1991, o principal objetivo dos líderes de governo era acabar com as desigualdades e as seqüelas que restaram no sistema educacional. Muitas medidas foram tomadas para resolver a questão do financiamento das escolas. Por exemplo, o Estado passou a bancar recursos suplementares para as escolas mais desfavorecidas, mas, em contrapartida, as famílias têm de pagar uma espécie de mensalidade para as escolas.

Mas não são escolas públicas?
Na realidade, na África do Sul o ensino público não é verdadeiramente público. As mensalidades são um jeito de selecionar quem entra na escola. O financiamento provém de duas frentes: das famílias e do governo. As famílias pagam mensalidades, cujo valor varia de acordo com o que o conselho de administração do próprio estabelecimento determina. Nas escolas que recebem um público socialmente favorecido, a mensalidade é mais elevada. A parte do financiamento que é pública acontece por compensação: as escolas mais pobres recebem mais dinheiro, já que os pais não podem arcar com as altas mensalidades. Mas, na realidade, não há compensação verdadeira, pois as mensalidades pagas nas escolas ricas são bem mais consideráveis que a diferença do subsídio público entre as escolas ricas e as pobres. Em 1994, as escolas sul-africanas foram divididas em cinco grupos, que variam de acordo com o grau de pobreza. O Q1, por exemplo, representa os 20% de escolas mais pobres, e o Q5, as 20% mais ricas. Depois de 2007, entretanto, as escolas mais pobres (Q1 e Q2) foram dispensadas das mensalidades. O poder público estipulou uma determinada soma para a escolarização de uma criança e assegurou o pagamento desse valor integral (550 rands, a moeda local). As escolas que continuam nas fatias Q3, Q4 e Q5 continuam cobrando as mensalidades.

Como se caracteriza o ensino privado na África do Sul?
Tradicionalmente, o ensino privado não é desenvolvido ali. Proporcionalmente, não é como no Brasil. Representa cerca de 10% do sistema educacional sul-africano. As famílias mais favorecidas estudam nas escolas para as quais elas pagam mensalidade. É um meio de ficar longe da população pobre e negra. Hoje, não há mais discriminação racial, mas há um processo de diferenciação social muito forte. A África do Sul se tornou um país como os outros no que diz respeito à educação: assegura-se o mínimo de acesso e freqüência. Ouvi a campanha eleitoral de um político do Estado da Bahia, que assegurava um objetivo: cada criança devia saber ler e escrever. Assegurar esse mínimo não leva os alunos ao ensino superior. É um mínimo que não resolve a questão da diferença social.

O senhor considera que o Nordeste brasileiro vive uma condição parecida com a da África do Sul?
Não conheço a realidade do Nordeste tão bem quanto conheço a da África do Sul. Constatei diferenças significativas entre a Bahia, que conheço mais, e o sul do país, no que diz respeito ao acesso, desempenho escolar e freqüência. Considero que isso acontece devido aos diferentes tipos de colonização. E isso não é tão diferente do que a África do Sul vive hoje. Ela também é resultado de diferentes colonizações e povoamentos, e isso se reflete nas estatísticas escolares e revela realidades bem diferentes de uma população para outra.

De todos os países, qual o senhor considera que tem o sistema educacional que funciona melhor, no que diz respeito à qualidade?
É uma pergunta bem difícil. Há indicadores que mostram que os sistemas educacionais do norte da Europa, em países como a Dinamarca, a Noruega e a Suécia, são os menos desiguais e os que provocam menos desigualdades. Mas tudo é relativo. Em geral, os sistemas que obrigam o aluno a optar por uma carreira o mais tarde possível, seja no ensino técnico ou no ingresso em uma universidade, são os que provocam mais igualdade. É o que apontam algumas pesquisas.

Qual o melhor caminho para o ensino médio: o ensino técnico ou a preparação para a universidade?
Na França, o aluno pode optar pelo ensino técnico com 12 ou 13 anos, e depois deixar a escola com 15. O que acontece é que eles competem, no mercado de trabalho, com outros estudantes que fazem o ensino médio até os 18 anos, e depois ingressam no ensino superior. Os alunos que fizeram a opção muito cedo pela profissão estão num nível totalmente desfavorável em relação aos outros que são mais qualificados. Acredito que, se a perspectiva maior é a formação dos alunos e a sua garantia no mercado de trabalho, o melhor caminho é levar todos até o mesmo ponto e depois deixá-los escolher entre o ensino técnico e a universidade.

E o currículo escolar? Qual margem deve haver para a ação dos docentes?
Quanto mais você descentraliza os conteúdos, mais abre portas para desigualdades. Porque nas escolas pobres o conteúdo oferecido será sempre mais fraco, quando comparado com as escolas mais ricas, que terão dinheiro para investir em formação de professores, por exemplo. Acredito que um país deve ter um certo nível de exigência nacional. A França tem uma tradição forte de compromisso do poder público para assegurar que toda a população tenha uma formação igualitária, do ponto de vista do conteúdo. O que está acontecendo ultimamente é que o sistema educacional está sofrendo pressão por algumas formas de neoliberalismo, para que esses conteúdos sejam fragmentados. O objetivo é a criação de pólos de excelência em alguns lugares.

Sobre a incorporação dos conteúdos afro-brasileiros no currículo escolar, o que isso significa para o sistema educacional brasileiro?
A introdução desses conteúdos num país como o Brasil é simplesmente indispensável e evidente. Mas é importante que sejam vistos como parte de uma história comum do Brasil, não apenas dos afro-descendentes ou dos indígenas. É uma questão de identidade. Não é só interesse de uns ou de outros, mas dos brasileiros vistos como um país. A história do Brasil é essa. Todos os brasileiros são contemplados com esses conteúdos.

Como o senhor enxerga a questão da bonificação de desempenho?
É uma mistificação e uma grande farsa. Com essa prática, as escolas acabam criando mecanismos para expelir os alunos ruins. O objetivo é aumentar a média, já que alunos com desempenho ruim não rendem notas altas. São os efeitos perversos dessa política, que cria uma concorrência entre as escolas. Todos os países que aplicaram essa medida passaram por esse processo: concorrência, escolas que expelem alunos ruins, que vão procurar outras escolas, que ao recebê-los têm suas médias reduzidas. Essa política contribui com a 'guetização' da educação. É um processo perigoso. Você acaba criando um sistema educacional com várias velocidades. Se você é diretor de uma escola que caminha nesse processo, vai ter todo interesse em contratar os melhores professores e em abrigar os melhores alunos. Uma política democrática é o contrário disso. Você tem de dar mais dinheiro aos estabelecimentos que são menos favorecidos.

Qual é o papel da escola hoje, no sentido de não criar essas desigualdades?
Normalmente, o papel da escola é compensatório. É o de dar mais aos que têm menos. Isso se você tem como objetivo democratizar o ensino e ter uma sociedade mais igualitária.

Quais as maiores lições dos sistemas de ensino sul-africano e francês?
As lições não variam de um país para outro. A lógica de desenvolvimento das políticas educacionais tende a ser a mesma no âmbito mundial, apesar dos diversos contextos socioeconômicos. O que se expressa nessas políticas são os mesmos movimentos. A questão da bonificação por desempenho, por exemplo, reflete-se mundialmente e é resultado de uma lógica neoliberal introduzida nos sistemas educacionais. A diferença de um país para outro é a resistência do local ou não. Tenho a impressão de que o Brasil está entrando na mesma lógica. Os partidários dessa política neoliberal divulgam a crença de que essas medidas vão dar resultados positivos em longo prazo e que vão reduzir as desigualdades. A lógica é a do progresso. Mas o que constatamos nos países em que esse tipo de política foi implantada é que as desigualdades estão aumentando. Se você ler os grandes textos da Unesco e de outras instituições internacionais, perceberá uma retórica de "educação para todos". Uma análise superficial desse discurso mostra um fosso entre essa retórica humanista, mais de esquerda, e as políticas neoliberais em obra. A Revolução Francesa pregava igualdade para todos. Hoje, prega-se o mínimo para todos. O que se lê nas instituições internacionais é uma filosofia de assegurar o mínimo às bases em educação, saúde e nas questões sociais em geral. É o que acontece com o Bolsa-Família, programa do governo federal brasileiro. A mentalidade é: os ricos não podem ser impedidos de viver em mansões com piscinas, desde que os pobres tenham uma refeição por dia e não morram de fome. Que sociedade estamos construindo com esse princípio de justiça que garante o mínimo e não iguala as condições?

Quais são os principais desafios da educação brasileira?
De maneira geral, para melhorar a educação, precisamos lutar contra a pobreza, que é fonte da desigualdade. É por conta da pobreza que as crianças têm de sair da escola para trabalhar e sustentar suas famílias. Dei uma volta pelo bairro de Higienópolis, em São Paulo, e vi crianças nas ruas. É claro que a maioria das crianças brasileiras não tem as mesmas condições de vida, não freqüenta as mesmas escolas e não tem as mesmas possibilidades que essas.


- Há saídas para o problema
- Duplo endereço
- Desde o império
- Mão dupla

Fonte: REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 140

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Avaliar para crescer



Índice da edição 138 - dez/2000

Avaliação

Avaliar para crescer

No ambiente escolar, a avaliação só faz sentido quando serve para auxiliar o estudante a superar as dificuldades

Paola Gentile
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Masao Goto Filho

Cristiane Ishihara, professora de Matemática da 5ª série no Colégio Assunção, em São Paulo

"Dar provas, corrigi-las e entregá-las não é mais suficiente para mim. Preciso saber onde estou falhando para planejar o que e como ensinar"

Notas fechadas, boletins entregues, diários de classe arquivados. Missão cumprida? Não para Cristiane Ishihara, professora de Matemática das 5ªs séries no Colégio Assunção, em São Paulo. Como faz ao final de cada bimestre, ela vai pegar as anotações que fez em sala de aula, os resultados dos exames e os questionários que a turma responde após as provas. Tudo com um objetivo: avaliar o próprio desempenho. "Dar provas, corrigi-las e entregá-las não é mais suficiente para mim. Preciso saber onde estou falhando para planejar o que e como ensinar", afirma. Cristiane está dando o primeiro e mais importante passo rumo a um sistema de avaliação escolar justo e motivador. Culpar o aluno pelas notas baixas, o desinteresse ou a indisciplina nem passa pela cabeça dela. "Basta que alguns tenham ido mal nas provas para eu saber que preciso mudar de didática ou reforçar conteúdos".

Ao rever seu trabalho, Cristiane mostrou que está mesmo no caminho certo. "Não interessa o instrumento utilizado. Pode ser prova, chamada oral, trabalho em grupo ou relatório. O importante é ter vontade de mudar e usar os resultados para refletir sobre a prática", explica o consultor e educador Celso Vasconcelos. Para ele, de nada adianta selecionar novos conteúdos ou métodos diferentes de medir o aprendizado se não houver intencionalidade — palavra que ele define, em tom de brincadeira, como "a intenção que vira realidade". "Enquanto os alunos se perguntam o que fazer para recuperar a nota, os professores devem se questionar como recuperar a aprendizagem", aconselha.

Mas por que mudar se tudo está correndo bem? O professor ensina, o aluno presta atenção e faz a prova. Se foi bem, aprendeu. Se foi mal, azar — é preciso seguir com o currículo. Esse sistema, cristalizado há séculos, deposita nos conteúdos uma importância maior do que eles realmente têm. Até os anos 60, 80% do que se ensinava eram fatos e conceitos. A prova tradicional avaliava bem o nível de memorização dos alunos. Hoje, essa cota caiu para 30%. Além de fatos e conceitos, os estudantes devem conhecer procedimentos, desenvolver competências. E a mesma prova escrita continua a ser aplicada...

Se a missão da escola ao raiar do século XXI é desenvolver as potencialidades das crianças e transformá-las em cidadãos, a finalidade da avaliação tem de ser adaptada, certo? "Na minha opinião, seu principal papel deve ser ajudar o aluno a superar suas necessidades a partir de mudanças efetivas nas atividades de ensino", define Vasconcelos. "O ideal é que ela contribua para que todo estudante assuma poder sobre si mesmo, tenha consciência do que já é capaz e em que deve melhorar", diz Charles Hadji, professor e diretor do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Grenoble, na Suíça (leia entrevista na segunda página).

É consenso entre os educadores que o aprendizado, na sala de aula, não se dá de forma uniforme. Cada um de nós tem seu ritmo, suas facilidades e dificuldades. Afinal, somos pessoas distintas. O que complica bastante a vida do professor, que passa a ter de avaliar cada aluno de um jeito. "Sim, todos merecem ser julgados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas", afirma o espanhol Antoni Zabala, especialista em Filosofia e Psicologia da Educação e professor da Universidade de Barcelona. "Não dá para fugir", continua ele. "É essencial atender à diversidade dos estudantes."

Ele dá um exemplo. "Que altura deve pular um jovem de 11 anos?" A resposta é: "Depende..." Depende de sua potência motora, de suas capacidades físicas e emocionais, das experiências anteriores e do treinamento, do interesse pela atividade e muito mais.

Por isso, alguns saltam 80 centímetros. Outros, 1 metro. Poucos, 1,20 metro. "Se estabelecemos uma altura fixa, excluímos os que não conseguirem chegar lá no dia em que a habilidade for medida". Da mesma forma, "quanto" deve saber uma criança? A resposta também é depende. De sua história, dos conhecimentos prévios, da relação com o saber e de incontáveis outros fatores. E não existe ninguém mais capacitado do que o professor para saber "quanto" essa criança domina (ou tem a obrigação de dominar) em termos de conteúdos, conceitos e competências.

O papel do desejo

Quando a escola não leva isso em conta, o estrago é inevitável. Estudos realizados pela pesquisadora Kátia Smole sobre o impacto da avaliação na auto-estima do aluno mostram que os boletins baseados no desempenho em provas têm apenas uma função: classificar a garotada em "bons" ou "maus", o que tem cada vez menos utilidade. "O pressuposto de que existe uma inteligência padrão está ultrapassado", avalia. Segundo ela, o que acaba ocorrendo são desvios no objetivo maior da escola, que é ensinar. Ao sentenciar que uns são mais e outros, menos, o saber fica em segundo plano. "O jovem valoriza a nota, não o aprendizado", exemplifica. "Em vez de se relacionar com o mundo, ele só vai querer aprender em troca de prêmio (a nota) e, nesse ambiente, só sobrevive quem se adapta ao toma lá, dá cá."

Mas existe uma conseqüência mais nefasta: tirar da criança a vontade de aprender. Afinal, só existe motivação quando há desejo. O aluno que não valoriza o saber não tem motivos para cobiçá-lo. "O antigo sistema forma pessoas submissas e intolerantes. Quem não consegue atender à expectativa do professor e da sociedade acaba marginalizado", analisa Kátia.

Antoni Zabala apresenta exemplos bem práticos — e recheados de comparações com fatos do dia-a-dia — para ajudar a desatar esse grande nó. "O professor deve ser um misto de nutricionista e cozinheiro", diz ele. "O primeiro preocupa-se em elaborar refeições saudáveis e o outro quer pratos apetitosos. No planejamento da aula, devemos agir como nutricionistas, pensando nas competências que o aluno deve desenvolver. Na classe, precisamos atuar como cozinheiros, propondo atividades interessantes e que possam ser executadas com prazer."

Na sua opinião, a avaliação completa envolve quatro etapas, tantas quantas uma dona-de-casa executa ao fazer compras. "Ela vê o que tem na despensa, lista o que falta, estabelece objetivos — como preparar refeições balanceadas — e vai ao mercado", descreve. "Lá, ela começa uma série de observações, que podem mudar os rumos da tarefa original. Se um produto estiver muito caro, a saída será buscar outro ponto de venda. Se estiver estragado, terá de ser substituído por outro de semelhante valor nutritivo."

Traduzindo para a sala de aula, o professor precisa de objetivos claros, saber o que os alunos já conhecem e preparar o que eles devem aprender — tudo em função de suas necessidades (avaliação inicial). O segundo passo é selecionar conteúdos e atividades adequadas àquela turma (avaliação reguladora). Periodicamente, ele deve parar e analisar o que já foi feito, para medir o desempenho dos estudantes (avaliação final). Ao final, todo o processo tem de ser repensado, de forma a mudar os pontos deficientes e aperfeiçoar o ensino e a aprendizagem (avaliação integradora). Clique aqui para conhecer um exemplo muito objetivo de como fazer isso, com estratégias específicas para vários conteúdos, tendo como ponto de partida o estudo da Bacia Amazônica.

A primeira pergunta que professores, coordenadores e diretores devem fazer é: Com que objetivo vamos avaliar? Para formar pessoas ou futuros universitários? Para classificar e excluir alunos ou para ajudá-los a aprender? Para humilhá-los com suas dificuldades ou incentivá-los com suas conquistas? É importante frisar que não existe resposta certa ou errada. Ela está no projeto pedagógico de cada escola. Se a opção é selecionar os melhores e excluir os outros, então a melhor saída é a boa e velha prova. Caso o compromisso seja no sentido de incentivar o aluno a enfrentar desafios, então a conversa muda de rumo.

Infelizmente, não existe uma fórmula mágica. Ao contrário. "A escola ideal, que atenda à formação de cada um individualmente, não existirá nunca. Mas estabelecer que esse é o horizonte aumenta as chances de acertar o caminho", acredita Zabala. Celso Vasconcelos também entende que o sistema tradicional não atende aos objetivos da escola do terceiro milênio, mas acha que é possível democratizá-lo. "Se a nota for dinâmica e servir como indicadora da situação do aluno naquele momento, ela pode apontar rumos a seguir".

Idéias de mestre

"Enquanto os alunos se perguntam o que fazer para recuperar a nota, os docentes devem sempre se questionar sobre a melhor maneira de questionar sobre a melhor maneira de recuperar a aprendizagem"

Celso Vasconcelos
Íntegra da entrevista

"O professor tem de ser um misto de nutricionista e cozinheiro para elaborar refeições saudáveis e pratos apetitosos, ou seja, desenvolver atividades prazerosas e eficientes"

Antoni Zabala
Íntegra da entrevista

"É preciso romper definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes"

Luiz Carlos de Menezes

Incentivo ao aprender

É justamente o que faz Cristiane Ishihara. Ela criou um jeito próprio de melhor aproveitar o exame. Dias depois de aplicá-lo, ela o distribui novamente, em branco, e pede que cada aluno responda, para cada problema proposto, se:

fez e está seguro de que aprendeu;

fez, mas não está seguro de que tenha aprendido;

fez, mas tem certeza de que errou por ter-se confundido na resolução;

fez, mas tem certeza de que errou porque não aprendeu;

se não fez, qual o motivo.

"Essa foi a maneira que encontrei de colocar a prova a serviço dos estudantes", explica. Depois de tabular as respostas, ela detecta as dificuldades gerais da turma e as específicas de um determinado grupo, além do nível de segurança de cada um em relação aos conteúdos. Se a maioria apresentou deficiência, Cristiane ensina tudo de outra maneira. Se alguns não aprenderam, ela prepara exercícios para ser trabalhados em casa ou na sala de aula.

De mestre a parceiro

Esse método é elogiado por especialistas. "A dificuldade do aluno deve mesmo ser encarada como um desafio pelo professor", endossa Luiz Carlos de Menezes, físico, educador e um dos autores da matriz de competências do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "O importante é que a avaliação esteja fundamentada, explicando claramente aqueles tópicos em que o estudante avançou e quais ele ainda precisa trabalhar." Sem esquecer, é claro, de mostrar como isso pode ser feito.

Dessa maneira, o educador se torna um parceiro, que quer e vai ajudar: "É preciso romper definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes." Assim como Zabala e Vasconcelos, Menezes encara a prova com muitas restrições, pois ela geralmente é centrada na memorização e no uso de algoritmos e foca conteúdos científicos com dia e hora marcada para acontecer.

É por isso que muitos apontam o professor de Educação Infantil como um modelo a ser seguido. Todos os dias, ele oferece atividades diferentes e criativas para reter a atenção das crianças, orienta todo o trabalho, que geralmente é feito em grupo, e observa. Observa muito, e aí está o segredo. A cada dois ou três meses elabora um relatório para os pais, enumerando os pontos em que o aluno avançou e os que precisam ser trabalhados, tanto no que diz respeito a conhecimentos como a atitudes (conheça experiência do Colégio Pueri Domus na página 3).

Mas como olhar atentamente e conhecer bem cada estudante, se as classes têm 30 ou 40 deles e o professor tem duas ou três aulas por semana com diversas turmas, que mudam todos os anos? Já imaginou propor atividades diferentes de acordo com o nível de aprendizado e, ainda por cima, fazer um relatório personalizado no final de cada bimestre?

Sim, é possível fazer isso. A saída mais eficiente, dizem os especialistas, é propor trabalhos em grupo, que permitem observar melhor as atitudes individuais e coletivas. Menezes sugere ainda que se dê prioridade a estudos do meio, com propostas de atividades variadas, nas quais todos tenham a chance de explorar suas potencialidades. Um bom exemplo disso é o Colégio Lourenço Castanho, que organiza viagens com finalidades didáticas (leia sobre na página4).

Outro consenso é a importância da auto-avaliação. Ela está diretamente ligada a um dos objetivos fundamentais da educação: aprender a aprender. É óbvio que o próprio aluno tem as melhores condições de dizer o que sabe e o que não sabe, se um determinado método de ensino foi ou não eficaz no seu aprendizado e de que maneira ele acredita que pode compreender determinados conteúdos com mais facilidade. Para isso, basta conversar com a turma, de forma sincera e direta, ou fazer questionários onde todos possam expor livremente suas críticas e sugestões. Quanto mais freqüentes forem essas conversas mais rapidamente aparecerão os problemas e, o que realmente importa, as respectivas soluções. Para caminhar nessa direção, as escolas da rede municipal de João Monlevade, em Minas Gerais, estão se reinventando (página 5 desta reportagem).

"Disciplinas, espaço e tempo devem ser instrumentos da educação, não seus carrascos", resume Zabala. E você? Gostou do que leu nessa reportagem e quer transformar sua escola? Ouça o conselho de Zabala. "Se você quer mudar as formas de avaliar, parabéns. O passo mais importante para a mudança acaba de ser dado."

Que saber mais?

Contatos

Colégio Lourenço Castanho, R. Bueno Brandão, 283, CEP 04509-021, São Paulo, SP, tel. (11) 3842-2151

Escola Emilie de Villeneuve, R. Madre Emilie de Villeneuve, 331, CEP 04367-090, São Paulo, SP, tel. (11) 5563-8588

Escola Pueri Domus, R. Verbo Divino, 993-A, CEP 04719-001, São Paulo, SP, tel. (11) 5182-2155

Secretaria Municipal da Educação de João Monlevade, Av. Getúlio Vargas, 4798, CEP 35930-008, João Monlevade, MG, tel. (31) 3859-2094

Bibliografia

Avaliação Desmistificada, Charles Hadji, 136 págs., Ed. Artmed, tel. (51) 330-3444, 21 reais

Avaliação da Aprendizagem: Prática de Mudança, Celso Vasconcelos, 120 págs., Ed. Libertad, tel. (11) 5062-8515, 18 reais

Avaliação: Superação da Lógica Classificatória e Excludente, Celso Vasconcelos, 120 págs., Ed. Libertad, 18 reais

Como Trabalhar Conteúdos Procedimentais em Aula, Antoni Zabala, 198 págs., Ed. Artmed, 34 reais

A Prática Educativa, Antoni Zabala, 224 págs., Ed. Artmed, 36 reais

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0138/aberto/mt_246908.shtml

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As crianças e a aprendizagem


As crianças e a aprendizagem

Essas perguntas são feitas entre os educadores há bem pouco tempo.
Antigamente, acreditava-se que as crianças aprendiam apenas recebendo informações de um professor. O professor explicava, ditava regras, mostrava figuras. A criança ouvia, copiava, decorava e devia aprender. Quando não aprendia, culpava-se a criança (desatenta, irresponsável) ou falta de "jeito" do professor.
Atualmente existem outras idéias sobre aprendizagem. Elas são o produto do trabalho de certos educadores e psicólogos que têm procurado responder as perguntas apresentadas no início deste texto. O campo de estudo desses pesquisadores chama-se Psicologia Cognitiva (piscologia é a ciência que estuda o pensamento e as emoções; a palavra cognitiva refere-se ao conhecimento).
Os conceitos da Psicologia Cognitiva aplicam-se ao conhecimento e à aprendizagem em geral e naturalmente valem para o conhecimento matemático. Essas idéias não negam completamente as idéias antigas sobre o aprendizado. É possível aprender recebendo informações, treinando e decorando regras. Mas, dessa maneira, a compreensão daquilo que se aprende costuma ser bem pequena. E esta é a diferença: o que se procura através da Psicologia Cognitiva é favorecer o aprendizado com compreensão.
Vamos exemplificar esta última afirmação. Experimentemos mostrar a uma criança duas bolachas iguais, uma inteira e a outra partida em quatro pedaços. Quase todas as crianças de cinco anos de idade vão dizer que as quantidades de bolacha não são iguais. Muitas vão achar que há maior quantidade na bolacha em pedaços. Já as crianças mais velhas reconhecerão facilmente que as quantidades são iguais.
Esse exemplo mostra um fato comum: em certos estágios do pensamento as crianças pensam que a disposição das partes altera a quantidade. Por isso, para as crianças pequenas, pode parecer que a quantidade de bolacha aumenta se ela for partida em pedaços.

Os pesquisadores da Psicologia Cognitiva também elaboraram idéias sobre o que é aprender. Eles declaram que aprender com compreensão é um processo pessoal, que acontece dentro da cabeça de cada um. Esse processo exige que o aprendiz pense por si próprio.
Assim, para a Psicologia Cognitiva, simplesmente receber informações de um professor não é suficiente para que o aluno aprenda com compreensão, porque, nesse caso, a criança fica passiva, não pensa com a própria cabeça.
A Psicologia estudou também quais objetos ou atividades ajudam a aprender. Ela tem mostrado que o pensamento e o aprendizado da criança desenvolvem-se ligados à observação e investigação do mundo. Quanto mais a criança explora as coisas do mundo, mais ela é capaz de relacionar fatos e idéias, tirar conclusões; ou seja, mais ela é capaz de pensar e compreender.
Por exemplo, as crianças que tiveram oportunidade de praticar relações comerciais (compras, pagamentos, trocas) costumam ser mais capazes de resolver problemas matemáticos envolvendo esses assuntos do que crianças que não tiveram tais experiências.



No caso da matemática parece ser mais difícil fazer a criança explorar o mundo à sua volta, porque as noções matemáticas nem sempre aparecem com clareza nas situações do cotidiano. Por isso, procura-se criar um mundo artificial que facilita a exploração pela criança.
Esse mundo artifical é constituído, em grande parte, por materiais concretos que a criança pode manipular, montar, etc. São objetos ou conjuntos de objetos que representam as relações matemáticas que os alunos devem compreender. Frisamos que as relações matemáticas não estão nos objetos em si. Elas podem se formar na cabeça da criança, desde que o material seja bem utilizado.
Exemplos desses materiais concretos são o ábaco e o material dourado, que já foram examinados por nós nos módulos anteriores. Eles são utilizados na aprendizagem das regras de nosso sistema de numeração e das técnicas operatórias, temas fundamentais da matemática nas séries iniciais do 1º grau.
Além do ábaco e do material dourado, existem muitos outros materiais que podem ser usados no aprendizado da matemática. Apesar da importância dos materiais na aprendizagem e da quantidade de escritos teóricos sobre eles, os materiais em si podem ser muito simples, facéis de construir e substituíveis (quando não se consegue obter um tipo de material, pode-se substituí-lo por outro, sem muita dificuldade).



Parece-nos necessário, porém, alertar o professor sobre alguns elementos importantes na utilização de materiais concretos.
Já dissemos que noções matemáticas se formam na cabeça da criança e não estão no próprio material. Dissemos ainda que o material favorece o aprendizado, desde que seja bem utilizado.
Vejamos o que significam essas duas afirmações, em termos práticos:
Primeiro, o material deve ser oferecido às crianças antes das explicações teóricas e do trabalho com lápis e papel. É preciso que os alunos tenham tempo e liberdade para explorar o material, brincar um pouco com ele, fazer descobertas sobre sua organização. Após algum tempo de trabalho livre, o professor pode intervir, propondo questões, estimulando os alunos a manifestarem sua opinião. Em resumo, são essenciais, neste início, a ação e o raciocínio do aluno, pois, como dissemos, é só ele mesmo que pode formar as noções matemáticas.
A partir da observação e manipulação, da troca de idéias entre alunos e entre estes e o professor é que as relações matemáticas começam a ser percebidas e enunciadas. O professor deve então, aos poucos, ir organizando esse conhecimento.
Para concluir, podemos dizer que a atitude adequada do professor, em relação ao uso do material concreto, decorre de ele conceder o ensino de matemática nas séries iniciais como um convite à exploração, à descoberta e ao raciocínio.

Fonte: http://educar.sc.usp.br/matematica/m4l2.htm

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

As doenças da educação


Há saídas para o problema
Depressão, distúrbios de voz e enfermidades osteomusculares: sob forte pressão social, o professor adoece muito. Reflete, mais do que tudo, os problemas da organização do trabalho
Rubem Barros

Dezembro. Ano letivo terminado ou em vias de sê-lo, hora de programar férias, vida familiar, viagens, convívio com os grupos de afinidade. Será mesmo? Ou é o momento de viver a angústia de saber se o contrato com a escola será renovado para o próximo ano, de sofrer pressões da chefia pela entrega das notas e dos alunos e familiares pelos conceitos que lhes serão atribuídos? Ao que parece, para os professores brasileiros das escolas públicas e privadas, por motivos inerentes a cada uma das redes, a descrição que envolve dúvida e tensão é mais próxima da realidade que a primeira, hoje quase um idílio natalino.
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As doenças da educação
Clique para ampliar (Ilustração: Alex Silva)


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É o que transparece quando se olha para a questão da saúde no ambiente escolar, marcado pelas queixas e pelo efetivo adoecimento de muitos professores. Identificado também por um imenso vazio no que diz respeito à instauração de políticas públicas que busquem, a partir da compreensão da atividade docente, valorizar processos e práticas que estimulem o cuidar-se e a construção de um espaço comum saudável, sob os aspectos físico e psíquico. E que leva os professores, muitas vezes, a abdicar do ato de educar, seja na busca de um ambiente em que haja menos pressão, seja por falta de comprometimento com seu ofício.

Se essa tônica de adoecimento em função da sobrecarga e da instabilidade do trabalho não é prerrogativa do universo da educação, nele ela se manifesta fortemente. Levantamento feito pela Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo em 2006 apontava a concessão de 139 mil licenças no ano, em um universo de 285 mil professores e funcionários, com 4,5 milhões de dias de trabalho perdidos. Nesse levantamento, aparecem como principais causas para a concessão das licenças os transtornos mentais (32,2%), as doenças do sistema osteomuscular (17,6%) e as do aparelho respiratório (7,4%), classificação em que, à falta de outra mais específica, imagina-se que estejam incluídas as doenças do aparelho fonador, que levam aos distúrbios de voz, comuns entre professores. O aparelho circulatório, principal causa de mortes entre a população em geral, veio a seguir, com 6,5%. Explicações adicionais sobre o documento poderiam elucidar, por exemplo, quais ocorrências se enquadram na categoria "lesões e envenenamentos" (6,8%), mas o assessor de imprensa da Secretaria, Marcelo Pawel, disse preferir esperar a conclusão de nova pesquisa e não indicou ninguém para explicar a que está disponível.

Estudo anterior, de 2003, encomendado pela Apeoesp, o sindicato estadual dos docentes paulistas, mostra a mesma prevalência de doenças, com pequenas mudanças na classificação: estresse (21,8%); problemas de voz (17,6%); tendinite (16,1%), bursite (8,7%); depressão (7,2%). O quadro mostra três áreas que trazem maior risco à prática docente: a da saúde psíquica, com ocorrência de estresse, depressão e síndrome de Burnout; do aparelho fonador, ligado ao uso sistemático da voz; e do aparelho osteomuscular, decorrente de questões posturais e do uso da lousa.

Dulcinea Rosemberg e Meri Gerlin, do Departamento de Ciências da Informação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), autoras do estudo Diálogos sobre readaptação profissional em educação, que integra o livro Trabalho e saúde do professor (Autêntica, 2008), enfatizam as mudanças no mundo laboral contemporâneo. Para as pesquisadoras, são necessários câmbios num cenário "caracterizado pela precarização das relações de trabalho, pela contínua perda dos direitos de proteção ao trabalhador, pelas instáveis formas de contratação, pelo baixo investimento em processos de educação permanente e pelos fracos vínculos que os trabalhadores estabelecem nos e com os seus espaços-processos de trabalho".

No estudo Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino em Vitória da Conquista (BA), realizado em 2001 junto aos docentes dos dez maiores colégios privados da cidade, um grupo de pesquisadores, a maioria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, levantou os aspectos considerados negativos pelos docentes, com impacto no desenvolvimento de seu trabalho. Ritmo acelerado e ritmo frenético de trabalho (67,9% e 54,9%, respectivamente), posição inadequada e incômoda do corpo e de cabeça e braços (65,4% e 53,4%), atividade física rápida e contínua (63,8%) e longos períodos de intensa concentração em uma mesma tarefa (51,9%) foram os principais. Entre as queixas mais freqüentes, dores nos braços, ombros, pernas, cansaço mental, dor de garganta.

No mesmo trabalho, um dado revela que muitos problemas podem estar se agravando por falta de cuidados preventivos: "apenas 28% dos professores realizavam os exames médicos periódicos previstos na legislação", referência à Norma Regulamentadora 7, do Ministério do Trabalho, que trata das obrigações do contratante na "promoção e preservação da saúde do conjunto de seus trabalhadores". Pela norma, a periodicidade mínima para os exames médicos é de dois anos. Mas, dependendo do risco inerente à profissão, ela pode ser menor do que anual.

Públicas: longe da idéia de RH
Se em muitas escolas privadas o problema é seguir a legislação básica de saúde, nas redes públicas, onde os professores são "fregueses contumazes" dos médicos peritos, existe um problema de origem na organização administrativa entre as esferas de trabalho, como aponta o médico perito e atual coordenador-geral de Seguridade Social da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Carneiro. Para ele, o fato de a perícia médica estar separada do órgão administrativo responsável pelas políticas dos recursos humanos contribui para a falta de ações que visem a saúde do trabalhador.

A psicanalista Sandra Almeida adverte: há aqueles que permanecem criativos e produtivos, mesmo sem condições ideais
Ou seja, a administração pública ainda parece distante da visão de que o trabalhador deve ter um rol variado de recompensas pelo seu trabalho. Restaram as antigas estruturas de atendimento ao servidor público, normalmente congestionadas e marcadas pela precariedade dos serviços. Com um acréscimo, no caso da educação: "fabricam-se coisas que são dadas como importantes em outras secretarias e isso é mandado para as escolas. Querem resolver todos os problemas da sociedade na escola - o trânsito, a família, diversas demandas sociais. Como se a escola fosse igual em todos os lugares e reproduzisse um modelo ideal de nação, pensado longe dela", reflete.

Para Carneiro, o que mais afeta a saúde no âmbito da educação é a organização do trabalho: as jornadas são muito longas, o número de alunos por classe é alto, há falta de material didático, alunos com dificuldades de aprendizagem e falta de infra-estrutura e meios para educá-los e, numa reação em cadeia, as chefias os pressionam cada vez mais.

Essa análise, assim como um dos antídotos para mudar esse quadro, é compartilhada pelos pesquisadores que tratam do tema. "Os docentes precisam ter um espaço de escuta institucional. É preciso democratizar as relações nas instituições. Pode-se substituir o giz, ter tratamento acústico, que são medidas importantes, mas isso não dá conta do problema. O cerne é a organização do trabalho", completa Carneiro.

Dulcinea Rosemberg, da Ufes, lembra que soluções paliativas, como a prescrição de readaptação (normalmente requisitada pelo próprio docente, que não agüenta mais desempenhar sua função), são respostas individualizadas para um problema que é coletivo/epidemiológico. "Além disso, não se trata apenas de indicar as situações que estão adoecendo os professores, mas também de pensar com eles um conceito de saúde que propicie novas normas de vida no trabalho", acrescenta.

Um dos meios para isso seria a criação de "espaços dialógicos", mas que não se contaminassem com o mesmo vírus da imobilidade presente às reuniões de ordem burocrática, diz a pesquisadora, que sugere a "composição de grupos cujos pares tenham objetivos comuns".

A parte e o todo
Mas, se ainda falta chegar a uma diagnose mais precisa, como aponta o médico especialista em saúde pública Herval Pina Ribeiro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para quem a maioria dos estudos disponíveis não tem rigor epidemiológico, pois em geral partem da análise de uma doença específica, e não das condições do trabalho, os caminhos para a saúde não são só coletivos.

Sandra Almeida, da UCB, lembra que o adoecimento resulta do entrelaçamento das condições individuais, das "configurações subjetivas singulares do sujeito" e da esfera organizacional. "Há sujeitos que não adoecem no exercício profissional, permanecendo criativos, produtivos e gratificados ao longo dos anos, embora suas condições de trabalho não sejam as melhores", diz, contrapondo a visão de que, com o quadro atual, não há saídas.

Por essa via, não há receituário de ações, apenas o imperativo da reflexão e do autoquestionamento sobre como vencer os desafios cotidianos que nos traz a lida com outros seres humanos, sobretudo aqueles com os quais se devem manter práticas educativas. Uma saída positiva encontrada para essa questão foi relatada pelos pesquisadores Maria do Socorro Mariano, da Universidade Tiradentes, e Hélder Muniz, da Universidade Federal Fluminense, no artigo Trabalho docente e saúde: o caso dos professores da segunda fase do ensino fundamental, publicado em 2006 na revista Estudos e Pesquisas em Psicologia, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

No trabalho, Socorro e Muniz discorrem sobre as estratégias defensivas encontradas por professores de uma escola da rede municipal de João Pessoa/PB. Para subverter um quadro de falta de material didático e indisciplina dos alunos, entre outras queixas, as docentes da escola descreveram suas estratégias de enfrentamento da questão. Elas iam desde a criação de momentos de descontração em que utilizavam o canto, as conversas e brincadeiras, a uma "regra de ofício" bastante enfatizada: o domínio da turma. Para chegar a ela, as docentes relatavam alguns pré-requisitos necessários: especialização técnica em relação à disciplina ministrada, com requalificação profissional constante, planejamento e preparo antecipado das aulas e boa exposição dos conteúdos em sala. "Ter esse domínio", relatam os pesquisadores, "significa menos angústia e maior controle da situação em sala de aula, com condições mais favoráveis de exercer a atividade de ensinar e de se relacionar com as alunos."

As intenções reveladas por professores, gestores escolares ou pela sociedade em geral em seus discursos, de dar prioridade à educação e à formação dos indivíduos como cidadãos, ganhariam muito se fossem alinhadas com atitudes coerentes. O choque entre discurso e ação, entretanto, parece produzir um ambiente de esquizofrenia coletiva. Coerência, criação de espaços compartilhados de elaboração e discussão de práticas e, sobretudo, disposição educativa parecem ser ingredientes sob medida para que outros meses de dezembro possam servir como fechamento de um ciclo e momento de reaver forças para janeiros vindouros.

PARA SABER MAIS

Educação, carinho e trabalho, de Wanderley Codo, Vozes, 2002;
Mal-estar na educação: o sofrimento psíquico de professores, de Sandra Conte de Almeida e Rosana de Aguiar, Editora Juruá, 2008;
Por uma psicologia do trabalho, de Wanderley Codo, Vozes, 2006;
Profissão professor - O itinerário profissional e a construção da escola, de Antonio Bolívar, Edusc, 2002
Psicodinâmica do trabalho - Contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho, de Dejours, Abdoucheli e Jayet, Atlas, 1994;
Trabalho e saúde do professor: cartografias no percurso, de Maria Elizabeth de Barros, Ana Heckert e Lílian Margoto (organizadoras), Autêntica, 2008.

Veja também:
Mão dupla
Desde o império
Cartografias no Percurso


- B de Bush
- É brincando que a gente aprende
- O apartheid educacional
- Duplo endereço

Fonte: REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 140

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Saberes diferentes

Saberes diferentes

Foto de barqueiro transportando duas pessoas
Em um rio largo, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro:

- Companheiro, você entende de leis?
- Não! Respondeu o barqueiro.

E o advogado compadecido:
- É uma pena, você perdeu metade da vida!

A professora muito social entra em conversa:
- Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
- Também não. Responde o remador.
- Que pena! - lamenta-se a mestre. Você perdeu metade da vida.

Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.
O canoeiro preocupado, pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! Respondem eles rapidamente.
- Então é uma pena.

E conclui o barqueiro
- Vocês perderam toda a vida!!!!

"Não há saber mais ou menos: há saberes diferentes." (Paulo Freire)

MORAL DA HISTÓRIA:

Valorize todas as pessoas com quem tem contato. Cada uma tem algo diferente para ensinar.

Fonte: http://www.senado.gov.br/sf/senado/portaldoservidor/jornal/jornal69/moral_historia.aspx

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domingo, 14 de dezembro de 2008

O QUE É LÍNGUA?


O QUE É LÍNGUA?

Ricardo Schütz
7 de fevereiro de 2008

WHAT IS LANGUAGE?

A language is a complete, complex, changing, arbitrary system of primarily oral symbols learned and used for communication within the cultural framework of a linguistic community. (Hector Hammerly, 26)


A language is the system of symbols with the most general meanings of any used by humans. These symbols are transmitted, usually as strings of sounds, one after another. They are used to communicate or store information, or even to design and think. The scientific study of the nature and structure of languages is called linguistics.

The symbols are words, and their meanings cover everything we humans deal with. Language is not perfect: it may not be good at describing the sensations we feel when riding a bike, but it's the best description we have. Music -- which is not language -- may be used to symbolize emotions, but without words music cannot tell you how to bake a cake.

When the symbols are transmitted only between locations in the brain, we are thinking in language. When the symbols are converted into sounds and the sounds are heard by others, we are talking or communicating. When the symbols are converted into bits in a computer or printed on paper, or when we write, we are storing information. (Thomas Eccardt)


O QUE É LÍNGUA?

Sob um aspecto técnico-analítico, línguas são sistemas de comunicação:
  • criativos;
  • arbitrários;
  • fundamentalmente orais, complementarmente gráficos;
  • compostos de símbolos com significados convencionalizados;
  • que ocorrem dentro de uma determinada comunidade ou cultura, estando a ela intrinsecamente ligados;
  • ao alcance de qualquer ser humano e assimilados intuitivamente por todos, de forma semelhante;
  • possuindo, diferentes línguas, entre si, características universais.

Quanto à sua essência, línguas são fenômenos inerentes ao ser humano e semelhantes a ele próprio: sistemáticos porém complexos, arbitrários, irregulares, mostrando um acentuado grau de tolerância a variações, repletos de ambigüidades, em constante evolução aleatória e incontroláveis.

Quanto à sua origem, línguas são habilidades criadas por sociedades humanas, fruto da interação de seus membros.

Quanto à sua função, línguas podem ser definidas como sistemas de representação cognitiva do universo através dos quais as pessoas constroem suas relações. (Como uma freqüentadora de nosso site colocou, sem ter citado entretanto a fonte.) É um reflexo criativo influenciado pela cultura de seus falantes. Língua é também o principal instrumento de desenvolvimento cognitivo do ser humano. Como Vygotsky sustentou, existe uma profunda interdependência entre linguagem e pensamento, um fornecendo subsídios ao outro. Palavras que não representam uma idéia são como uma coisa morta, da mesma forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.

Língua e pensamento são um reflexo criativo.
Language is a system of cognitive representation of the universe.
It is a creative reflection influenced by the culture of its speakers.

O QUE É FLUÊNCIA EM LÍNGUAS?

Fluência oral é o aspecto mais importante da habilidade lingüística. Refere-se à continuidade de produção oral e intelectual da pessoa e reflete sua capacidade funcional quando interage em ambientes da língua e da cultura em questão. Representa um grau inverso ao número de interrupções, idéias não concluídas, falta de clareza e constrangimentos causados por diferenças culturais. Embora dependa de habilidades específicas como pronúncia, familiaridade com estruturas gramaticais e vocabulário, pode também ser influenciada pelo grau de interferência da língua materna e falta de familiaridade com a cultura, bem como por fatores psicológicos como inibição, perfeccionismo (excessiva preocupação com a forma em detrimento do conteúdo), preconceito lingüístico, etc. A fluência é difícil de ser medida e qualquer método de avaliação será inevitavelmente subjetivo em grande parte.

BIBLIOGRAFIA

Brown, H. Douglas. Principles of Language Learning and Teaching. Prentice Hall Regents, 1994.
Eccardt, Thomas. The Museum of Human Language . Online. January 14, 2002.
Hammerly, Hector. Synthesis in Second Language Teaching. An Introduction to Languistics. Blaine, Wash.: Second Language Publications, 1982.
Vygotsky, L. S. Thought and Language. Cambridge, MA: The M.I.T. Press, 1985.

Fonte: Schütz, Ricardo. "O que é língua?." English Made in Brazil . Online. 14 de dezembro de 2008.

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Alexandre de Moraes pode será que pode ser PRESO por CRIME de TORTURA?

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