sexta-feira, 12 de março de 2010

Depressão: Tipos

Depressão: Tipos

Nessa página: Episódio Depressivo, Depressão Recorrente e Distimia.
| Depressão |

Para utilidade do leitor leigo é importante saber que o paciente com Depressão pode ser entendido de 2 maneiras: ou ele É deprimido ou ele ESTÁ deprimido. Antigamente quendo a pessoa estava deprimida, isso é, estava com depressão geralmente ocasionada por uma vivência traumática, dizia-se que ele tinha uma Depressão Reativa, ou Exógena. Quando, ao contrário, o paciente era deprimido, ou seja, já tinha tido outras crises depressivas anteriores, com ou sem motivo desencadeante, dizia-se que tinha uma Depressão Endógena.
Hoje em dia a classificação das Depressões é mais sofisticada, sendo minuciosamente abordada pelas duas classificações mais conhecidas; a Classificação Internacional de Doenças, 10a. Revisão (CID.10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4ª revisão, da American Psychiatry Association (DSM.IV).
A Depressão, genericamente considerada, está classificada dentro dos Transtornos Afetivos. Segundo a CID.10, Transtornos Afetivos são aqueles nos quais a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou afeto, como uma Depressão (com ou sem ansiedade associada) ou uma Euforia. Esta alteração do humor em geral se acompanha de uma modificação do nível global de atividade, e a maioria dos episódios destes transtornos tendem a ser recorrentes e pode estar relacionada com situações ou fatos estressantes.
O DSM.IV classifica a Depressão dentro dos Transtornos do Humor e também baseia a classificação nos episódios depressivos. Na prática clínica sugerimos, didaticamente, que a Depressão seja considerada de duas maneiras: Típica e Atípica. As Depressões Típicas seriam aquelas que se apresentam através dos Episódios Depressivos, consoante às classificações internacionais (DSM.IV e CID.10) e Depressões Atípicas aquelas que se manifestam predominantemente através de sintomas ansiosos (Pânico, Fobia ...) e somáticos.
Saber se um estado depressivo típico é Leve, Moderado ou Grave é apenas uma questão da intensidade com a qual se apresentam os Episódios Depressivos. Saber também se o momento depressivo é uma ocorrência única na vida da pessoa ou, ao contrário, se ele se repete, dependerá da freqüência com que se apresentam esses Episódios Depressivos.
Como se vê, o que define o tipo da Depressão são as características dos Episódios Depressivos. Assim, para saber se a Depressão em pauta é simplesmente um quadro depressivo ou se é uma fase depressiva do Transtorno Afetivo Bipolar, é necessário saber se os  Episódios Depressivos são uma ocorrência única no curso da doença ou se coexistem com Episódios de Euforia.
Na Depressão, embora o juízo crítico esteja freqüentemente conservado, as vivências do paciente são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas pessimistas. A interpretação da realidade assume caráter alterado, de acordo com a intensidade da Depressão: poderá simplesmente se apresentar como idéias falsas, nos casos mais leves ou, nos casos mais graves como delírio franco.
Na psicomotricidade do deprimido percebemos inibição geral das funções, lentidão, pobreza da fala e dos movimentos, ombros caídos e andar com sacrifício, desleixo nos cuidados com a higiene pessoal, abandono de si próprio. Nos casos mais graves podemos ter posturas de negativismo, como se a pessoa estivesse numa espécie de catatonia (apatia intensa e até paralisação psicomotora.
Alguns deprimidos podem salientar apenas sintomas somáticos (físicos) ao invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, e outras queixas somatomorfas. Para estes, talvez, seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso. Também em crianças e adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma de um humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido.
Outros pacientes podem apresentar irritabilidade aumentada, como por exemplo, crises de raiva, explosividade, sentimentos exagerados de frustração, tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando os outros. O que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são sintomas atrelados predominantemente à afetividade, normalmente sem severo prejuízo da crítica. A perda de interesse ou do prazer está quase sempre presente em algum grau. Os pacientes podem relatar menor interesse por passatempos, não se importam mais com coisas antes importantes, enfim, falta-lhes prazer para atividades anteriormente consideradas agradáveis, incluindo a atividade sexual.
Aproximadamente 50% dos pacientes com Distúrbio Depressivo Maior têm seu primeiro Episódio Depressivo antes dos 40 anos e a maioria destes surtos não tratados duram de 6 a 13 meses. Tratados, a maioria dos episódios dura cerca de 3 meses.
EPISÓDIO DEPRESSIVODevido ao fato dos estados depressivos se acompanharem, com muita assiduidade, de sintomas somáticos, a existência ou não destes sintomas faz parte da classificação, assim como também a presença de sintomas psicóticos, como vimos acima. Segundo a CID.10 a classificação dos Episódios Depressivos ficaria assim:
F32 - EPISÓDIO DEPRESSIVO
F32.0 - Episódio Depressivo Leve
F32.00 - Episódio Depressivo Leve sem Sintomas Somáticos
F32.01 - Episódio Depressivo Leve com Sintomas Somáticos
F32.1 - Episódio Depressivo Moderado
F32.10 - Episódio Depressivo Moderado sem Sintomas Somáticos
F32.11 - Episódio Depressivo Moderado com Sintomas Somáticos
F32.2 - Episódio Depressivo Grave sem Sintomas Psicóticos
F32.3 - Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos
A pessoa pode, com 50% de chance, apresentar apenas um Episódio Depressivo durante sua vida. Trata-se de uma ocorrência geralmente relacionado a alguma vivência traumática ou a alguma condição médica geral, como por exemplo, alterações da tiróide, estresse pós-cirúrgico, etc. Entretanto esse Episódio Depressivo pode se repetir periódicamente, caracterizando assim o Transtorno Depressivo Recorrente. Abaixo, figura ilustrando um Episódio Depressivo único.
Episódio Depressivo
Os Episódios Depressivos podem proporcionar perturbações do sono. Comumente, esses problemas se manifestam sob a forma de insônia. A insônia da Depressão costuma ser intermediária, caracterizada por despertar durante a noite com dificuldade para voltar a dormir. No caso da insônia ser terminal há um despertar muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente.
A insônia inicial, quando há dificuldade para adormecer, é a mais incomum na Depressão pura (sem ansiedade). Menos freqüentemente alguns pacientes reagem à depressão com sonolência excessiva (hipersonia), na forma de episódios prolongados de sono noturno ou de sono durante o dia. Ocasionalmente a razão pela qual o indivíduo busca tratamento pode ser esta perturbação do sono.
Muito marcante também é a apatia durante a crise depressiva. A diminuição da energia física e mental é comum e se traduz por cansaço e fadiga crônicos, muitas vezes responsáveis por inúmeros exames de sangue a que se submetem os pacientes. O deprimido pode relatar fadiga persistente sem esforço físico compatível e as tarefas mais leves parecem exigir mais esforço que o habitual.
Também pode haver diminuição na eficiência para realizar tarefas. A pessoa deprimida pode queixar-se, por exemplo, de que as coisas levam o dobro do tempo habitual para serem feitas.
Na Depressão também é muito freqüente um certo prejuízo na capacidade de pensar, de concentrar-se ou de tomar decisões. Os depressivos podem se queixar de enfraquecimento de memória ou mostrar-se facilmente distraídas.
A produtividade ocupacional costuma estar também prejudicada, notadamente nas pessoas com atividades acadêmicas ou profissionais intelectualmente exigentes. Em crianças deprimidas pode haver uma queda abrupta no rendimento escolar como resultado da dificuldade de concentração.
Durante o Episódio Depressivo, freqüentemente existem pensamentos sobre morte. Trata-se, não apenas da ideação suicida típica mas também da preferência em estar morto ainda que não propositadamente. Em pessoas menos gravemente deprimidas, tais pensamentos costumam ser uma crença de que seria preferível estar morto à conviver com este sofrimento e, nos casos mais severos, pensamentos recorrentes sobre cometer suicídio.
Nos idosos, as dificuldades de memória podem ser a queixa principal, confundindo o diagnóstico com os sinais iniciais da demência. Este quadro de prejuízo da memória e outros sinais que poderiam confundir a depressão com demência recebe o nome de Pseudo Demência Depressiva.
Nestes casos, soma-se à lentidão dos processos psíquicos um exagerado desinteresse, dando a falsa impressão de que a pessoa não está tendo consciência absoluta da realidade. Na realidade, o que o idoso deprimido tem é um grande desinteresse em lembrar fatos e em participar dos eventos cotidianos.
Uma porção significativa das mulheres relata uma piora dos sintomas depressivos alguns dias antes do início do período menstrual. O sucesso do tratamento da chamada Tensão Pré-Menstrual (TPM) com antidepressivos é hoje um indício da labilidade afetivas de parte expressiva dessas pacientes.
A duração de um Episódio Depressivo Maior é variável. Quando não-tratado o Episódio Depressivo costuma durar 6 meses ou mais, não importando a idade de início. Na maioria dos casos, existe a remissão completa dos sintomas, retornando o funcionamento ao nível normal, mas não sem severo sofrimento e/ou outros prejuízos vivenciais.

 Quadro 1 - Critérios DSM-IV para Episódio Depressivo Maior
 A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas é:
(1) humor deprimido ou;
(2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor.
(1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável
(2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados
(4) insônia ou hipersonia quase todos os dias
(5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
(6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias
(7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente)
(8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo).
D. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.

TRANSTORNO DEPRESSIVO RECORRENTECom esse nome a CID.10 classifica os transtornos depressivos que se caracterizam pela ocorrência repetida de Episódios Depressivos, correspondentes à descrição do quadro acima. Os Episódios Depressivos aparecem periodicamente, por exemplo, cada ano, cada dois anos... Eles podem ser desencadeados por alguma vivência traumática mas, via de regra, surgem sem uma causa vivencial aparente.
Esse transtorno pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados por um ligeiro aumento de humor e da atividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um Episódio Depressivo, e por vezes, podem ser precipitados por um tratamento com medicamentos antidepressivos.
As formas mais graves do Transtorno Depressivo Recorrente apresentam numerosos pontos comuns com os conceitos da fase depressiva de um transtorno que era chamado, antigamente, de Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), ou de Melancolia, assim como de Depressão Vital ou Depressão Endógena por outros autores. Assim sendo, repetindo apenas com finalidade didática, aquilo que a CID.10 chama de Transtorno Depressivo Recorrente Grave é sinônimo de Psicose Maníaco-Depressiva (PMD) fase depressiva, Melancolia, Depressão Vital ou Depressão Endógena.
O primeiro Episódio Depressivo do Transtorno Depressivo Recorrente pode ocorrer em qualquer idade, da infância à senilidade, podendo ter um início agudo ou insidioso, durando de algumas semanas a alguns meses. Depois do surgimento de um segundo Episódio Depressivo, a chance de um terceiro é em torno de 90%, caracterizando assim o Transtorno Depressivo Recorrente. Abaixo, esquema ilustrando a sucessão de Episódios Depressivos, com ou sem vivências causadoras.
Trastorno Afetivo Recorrente
O risco de ocorrência de um episódio de euforia (maníaco) não pode jamais ser completamente descartado em um paciente com um Transtorno Depressivo Recorrente, qualquer que seja o número de Episódios Depressivos apresentados. Entretanto, em caso de ocorrência de algum Episódio Maníaco em portadores de Transtorno Depressivo Recorrente, autoriza a mudar o diagnóstico para Transtorno Afetivo Bipolar. Abaixo esquema ilustrativo do Transtorno Afetivo Bipolar.
Transtorno Bipolar
As classificações do Transtorno Depressivo Recorrente são:
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos
Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão
Outros transtornos depressivos recorrentes
Transtorno depressivo recorrente sem especificação
A Depressão costuma estar junto com a maioria dos transtornos emocionais. Ora a Depressão aparece como um sintoma de determinada doença, ora apenas coexiste junto com outros estados emocionais, outras vezes aparece como causa desses transtornos.
Para entender a Depressão "doença", devemos antes entender a Afetividade e, em seguida os Transtornos Afetivos. Em muitas outras situações a Depressão se encontra presente, às vezes de forma típica outras vezes dissimulada.

 Quadro 2 - Critérios DSM-IV para Transtorno Depressivo Recorrente
 A. Presença de dois ou mais Episódios Depressivos Maiores
Nota: Para serem considerados episódios distintos, deve haver um intervalo de pelo menos 2 meses consecutivos durante os quais não são satisfeitos os critérios para Episódio Depressivo Maior.
B. Os Episódios Depressivos Maiores não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
C. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco. Nota: Esta exclusão não se aplica se todos os episódios tipo maníaco, tipo misto ou tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou tratamento ou se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral.
Especificar (para episódio atual ou mais recente):
Especificadores de Gravidade/Psicótico/de Remissão.
Crônico.
Com Característica Catatônicas.
Com Características Melancólicas.
Com Características Atípicas.
Com Início no Pós-Parto.
Especificar:
Especificadores Longitudinais de Curso (Com e Sem Recuperação Entre Episódios).
Com Padrão Sazonal.
Em geral a Depressão aparece como um sintoma presente em quase todos neuróticos, tanto em sua forma típica, com tristeza, choro, desinteresse, etc., quanto em sua forma atípica com somatizações, pânico, ansiedade, etc. As neuroses, apesar de apresentarem uma sintomatologia variada e característica próprias de cada tipo, quase todas apresentam os sintomas depressivos graus variados. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo, por exemplo, além de apresentar todos os sintomas neuróticos (ansiedade, angústia, Depressão, fobias, etc.) apresenta com destaque os pensamentos obsessivos e/ou atitudes compulsivas (de evitação, etc.), fato que justifica sua classificação.
O Transtorno Afetivo (ou Depressivo) da Personalidade era uma classificação mais antiga, hoje não se fala mais assim, embora deva-se ter em mente o conceito deste transtorno. Para facilitar o entendimento desse antigo Transtorno Depressivo da Personalidade, digamos que dele fazem parte as pessoas portadoras de um traço de personalidade de mais sensibilidade, mais melancólico e depressivo. Esse conceito se identifica perfeitamente com aquilo que chamamos hoje de Distimia.
Trata-se, como dissemos, de uma maneira de sentir a realidade com tonalidade afetiva depressiva e melancólica sem que, necessariamente, seja considerado uma doença franca continuada. Portanto, não há aqui um severo prejuízo das qualidades de vida social ou ocupacional em grau suficiente para se atribuir um caráter patológico, porém a depressão aparece como uma forte característica existencial dessas pessoas. Hoje, a denominação mais correta para esta afetividade depressiva solidamente atrelada à personalidade e sem características limitantes da vida é o chamado Transtorno Afetivo Persisistente do tipo Distimia.

DISTIMIAConceitualmente entende-se como Distimia uma depressão crônica, com sintomatologia não suficientemente grave para podermos classificá-la como Episódio Depressivo ou Transtorno Depressivo Recorrente. A característica essencial do Transtorno Distímico é um humor cronicamente deprimido que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias e por pelo menos 2 anos. Na Distimia as pessoas se auto-definem como tristes ou "na fossa", geralmente são mau humoradas, amargas, irônicas e implicantes. Abaixo, esquema ilustrativo da Distimia.
Distimia
Em geral os pacientes distímicos vêm a si próprios como desinteressantes ou incapazes e, embora experimentem períodos de dias ou semanas de normalidade afetiva, durante os quais referem como estando bem, na quase maioria do tempo queixam-se de fadiga, desânimo, desinteresse e apatia, tendência à tristeza, dificuldade no relacionamento e na adaptação ambiental. Os Transtornos de Ajustamento com características depressivas prolongadas freqüentemente estão associadas à este tipo de personalidade.
É comum que este transtorno seja marcado por uma depressão desproporcional que se apresenta depois de alguma experiência dolorosa, embora essa experiência prévia não seja obrigatória. A distinção entre este transtorno e outros quadros depressivos mais incisivos, como é o caso do Episódio Depressivo ou Transtorno Depressivo Recorrente, não deve se basear apenas no grau da depressão mas, principalmente, na constatação de outras características relacionadas ao comportamento e a performance sócio-ocupacional do paciente.

 Quadro 3 - Critérios DSM-IV para Distimia
A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros, por pelo menos 2 anos. Nota.: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, e a duração deve ser de no mínimo 1 ano.
B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características:
(1) apetite diminuído ou hiperfagia
(2) insônia ou hipersonia
(3) baixa energia ou fadiga
(4) baixa auto-estima
(5) fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões
C. Durante o período de 2 anos (1 ano, para crianças ou adolescentes) de perturbação, jamais a pessoa esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de 2 meses a cada vez.D. Ausência de Episódio Depressivo Maior durante os primeiros 2 anos de perturbação (1 ano para crianças e adolescentes); isto é, a perturbação não é melhor explicada por um Transtorno Depressivo Maior crônico ou Transtorno Depressivo Maior, Em Remissão Parcial.Nota: Pode ter ocorrido um Episódio Depressivo Maior anterior, desde que tenha havido remissão completa (ausência de sinais ou sintomas significativos por 2 meses) antes do desenvolvimento do Transtorno Distímico. Além disso, após os 2 anos iniciais (1 ano para crianças e adolescentes) de Transtorno Distímico, pode haver episódios sobrepostos de Transtorno Depressivo Maior e, neste caso, ambos os diagnósticos podem ser dados quando são satisfeitos os critérios para um Episódio Depressivo Maior.E. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para Transtorno Ciclotímico.F. A perturbação não ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Psicótico crônico, como Esquizofrenia ou Transtorno Delirante.G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo).H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.Especificar se:
Início Precoce: se o início ocorreu antes dos 21 anos.

Início Tardio: se o início ocorreu aos 21 anos ou mais. Com Características Atípicas.
Para os distímicos os fatos da vida são percebidos com muita amargura e são mais difíceis de suportar, de forma que as vivências desagradáveis são ruminadas por muito tempo e revividas com intensidade, sofrimento e emoção. Já as vivências mais agradáveis passam quase desapercebidas, são fugazes e esquecidas com rapidez.
Na Distimia as sensações de doenças graves ou enfermidades mortais dificilmente são removíveis pela argumentação médica mas, por outro lado, as opiniões leigas depreciativas são enormemente valorizadas. Ao serem medicados, tais pacientes, normalmente "preferem" perceber os efeitos colaterais dos medicamentos aos efeitos terapêuticos pretendidos.
O prejuízo no funcionamento social e profissional é a razão que normalmente leva o paciente a procurar ajuda: há desinteresse, perda da iniciativa, capacidade de concentração diminuída, perda da libido, memória prejudicada, fadiga e cansaço constante, vulnerabilidade a outras doenças, diminuição da auto-estima, inibição psíquica generalizada, perda da capacidade de sentir prazer pelas coisas da vida, insegurança, pessimismo, retraimento social, tendência ao isolamento, choro fácil, insônia, ansiedade e angústia.
Em crianças, nas quais, como sempre, os fenômenos depressivos se apresentam de forma atípica, o Transtorno Distímico pode estar associado com Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (antiga Hipercinesia), Transtornos de Ansiedade e Transtornos de Aprendizagem. A Distimia infantil acarreta um comprometimento do desempenho escolar e da interação social. Em crianças, na prática clínica, muitas vezes encontramos apenas Hiperatividade, baixo rendimento escolar e rebeldia como sinais da Distimia.
Geralmente, tanto as crianças quanto os adolescentes com Transtorno Distímico, mostram-se irritáveis, ranzinzas, pessimistas, deprimidos e podem ter redução da auto-estima e fraco desempenho social. Na idade adulta, as mulheres estão duas a três vezes mais propensas a desenvolver Transtorno Distímico do que os homens.
O Transtorno Distímico é mais comum entre os parentes biológicos em primeiro grau de pessoas com Transtorno Depressivo Maior (ou Transtorno Depressivo Recorrente, pela CID.10) do que na população geral. O Transtorno Distímico tem um curso crônico, insidioso e precoce, iniciando-se comumente na infância, adolescência ou início da idade adulta. As pessoas com Transtorno Distímico em geral têm uma probabilidade maior para desenvolver um Transtorno Depressivo Maior sobreposto à Distimia.

Veja continuação de Depressão:
- Depressão: o que é isso?
- Depressão: Sintomas
- Depressão: Causas
- Depressão: Fisiopatologia
- Depressão: Curso e Evolução
para referir:
Ballone, GJ - Depressão, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em em 2005.



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Transtornos AfetivosEugenio Horácio Grevet e Lais Knijnik em artigo publicado pela Revista AMRIGS, em 2001, falam do diagnóstico de depressão maior e distimia. Vejamos um resumo do trabalho deles:
"Os transtornos do humor são uma categoria diagnóstica que engloba os Transtornos Bipolar do Humor (mania, hipomania, depressão bipolar, estados mistos e ciclotimia) e os Transtornos Unipolares (Depressão Maior e Distimia). Neste trabalho eles abordam a Depressão Maior e a Distimia. O humor de um indivíduo é caracterizado pela expressão verbal de sentimentos que refletem seu estado emocional interior. O afeto diz respeito à expressão não verbal destes estados emocionais. Os estados de humor normais são a alegria, a tristeza, a raiva e o medo.
As patologias do humor são aquelas que alteram de maneira constante estes estados emocionais. Quando um indivíduo apresenta alteração de longa duração numa destas dimensões, podemos defini-lo como um portador de doença afetiva. De modo geral, podemos classificar os estados patológicos como sendo os seguintes:
1) Alterações do humor que passem da alegria normal para a euforia patológica ou da irritação normal para a irritação patológica são classificadas como episódios maníacos ou hipomaníacos.
2) Alterações do humor que passem do medo normal para o medo patológico caracterizam os episódios de ansiedade.
3) Alterações do humor que passam da tristeza normal para a depressão patológica são classificadas como Episódios de Depressão Maior ou Distimia.
Os transtornos depressivos são considerados um grande problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde. São freqüentes e afetam, pelo menos, 20% das mulheres e 15% dos homens ao longo de suas vidas. Causam muito sofrimento e incapacidade.
A depressão é responsável pela maior parte dos suicídios, sendo que 2/3 de todos os suicídios são cometidos por portadores de depressão. É também a doença crônica que provoca maior incapacidade para o trabalho, com exceção do infarto do miocárdio.
Os aspectos da atividade normal que são afetados incluem as relações maritais e pessoais, o relacionamento com os filhos, a saúde física, a capacidade de trabalhar, de manter amizades, entre outros.
Além de estarem junto com outros quadros psiquiátricos, os transtornos depressivos freqüentemente acompanham também doenças físicas, como artrite, hipertensão arterial, lombalgia, diabete e problemas cardíacos. Quando isso ocorre, geralmente há um pior prognóstico para ambos problemas.
Nem sempre é fácil reconhecer um quadro depressivo. A maioria dos sintomas físicos dos pacientes que buscam atendimento  ambulatorial, público ou privado, não está associada a processo orgânico de doença. O diagnóstico mais comum em cuidados primários é o de não-doença.
Quanto maior o número de sintomas físicos clinicamente inexplicáveis apresentados por um paciente, maior a chance de ele ter um diagnóstico atual de ansiedade ou depressão e uma incapacitação significativa no seu funcionamento social e profissional.

Um levantamento que investigou os diagnósticos psiquiátricos na população urbana de Porto Alegre publicado em 1992 por Busnello e colaboradores apresentou os Transtornos Afetivos (do Humor) como o terceiro grupo diagnóstico mais freqüente, vindo após os transtornos de uso de substâncias e de ansiedade. Os levantamentos epidemiológicos demonstram risco aumentado para depressão e sintomas depressivos em indivíduos que relatam acontecimentos negativos de vida.
As mulheres apresentam uma prevalência de 2:1 em relação aos homens. A idade média encontra-se entre os 20 e os 40 anos. Os separados e divorciados estão mais propensos a sintomas e quadros depressivos do que os solteiros e casados. Há um achado considerável de história familiar de transtornos de humor em indivíduos afetados, especialmente em parentes de 1o grau, assim como história familiar de suicídio e alcoolismo. No entanto, a transmissão genética de depressão não está determinada como a do transtorno bipolar tipo I.
A associação de experiências precoces de vida e aparecimento posterior de um transtorno depressivo tem interessado os estudiosos. A perda parental antes da adolescência, assim como um ambiente familiar disfuncional e com muitas privações são fatores de risco já estabelecidos, apesar das dificuldades metodológicas para documentar tais fatores, que variam subjetivamente
."

Grevet EH, Knijnik L - Diagnóstico de Depressão Maior e Distimia, Revista AMRIGS, Porto Alegre, 45 (3,4): 108-110, jul.-dez. 2001.
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Lucas Spanemberg e Mario Francisco Juruena têm um artigo interessante sobre Distimia, “Distimia: características históricas e nosológicas e sua relação com transtorno depressivo maior.” Vejamos trechos:
A prevalência da distimia é de aproximadamente 3 a 6% da população em geral, sendo uma das condições mais comumente encontradas na prática médica. Esses pacientes não procuram ajuda ou suportam por um longo período seus sintomas e geralmente consultam médicos clínicos com queixas mal definidas, como mal-estar, letargia e fadiga.
Cerca de 50% desses pacientes não serão reconhecidos pelos clínicos, e a maioria vai apresentar uma série de comorbidades. Assim como o transtorno depressivo maior (TDM), a distimia é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, e também é mais comum em pessoas solteiras. Quando casadas essas pessoas têm relacionamentos insatisfatórios. Também são poliqueixosas e insatisfeitas com a vida.
A etiologia da distimia é complexa e multifatorial, estando envolvidos mecanismos etiológicos biológicos e psicológicos. Esses fatores múltiplos – hereditariedade, predisposição, temperamento, fatores de vida, estressores biológicos, gênero, etc. – convergem na produção da desregulação do sistema de recompensa. Eventos de vida estressantes na infância são muito freqüentes.
Como a distimia está associada a um aumento da utilização dos serviços de saúde e também ao aumento do consumo de drogas psicotrópicas, enormes custos financeiros podem ser atribuídos a esse transtorno. A diminuição da produtividade no trabalho e um aumento do risco de hospitalização e de doenças físicas (como aumento do risco de doenças cardiovasculares e respiratórias) também incrementam o custo econômico e social dessa patologia, tornando-a um problema de saúde pública que precisa ser identificado de forma mais eficiente.
A grande taxa de comorbidade com outras doenças psiquiátricas (cerca de 77% dos distímicos terão comorbidades psiquiátricas) torna ainda mais importante o diagnóstico da distimia para o manejo adequado das psicopatologias comórbidas.

Veja mais alguns trechos do trabalho de Spanemberg e Juruena:
Sintomas da DistimiaO perfil do transtorno distímico revela tendência a um predomínio dos sintomas sobre os sinais (depressões mais subjetivas que objetivas), outra diferença em relação ao TDM. Serretti et al., num estudo com 512 distímicos, sem Transtorno Depressivo Maior comórbido, encontraram sintomas cognitivos e emocionais como mais característicos do que sintomas vegetativos e psicomotores. Baixa auto-estima, anedonia (perda do prazer), fadiga, irritabilidade e baixa concentração estavam presentes em mais da metade dos pacientes. Logo, não se destacaram as perturbações acentuadas do apetite e da libido nem se observou agitação ou retardo psicomotor.
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O conceito de Transtorno de Personalidade se encaixa no conceito da Distimia
Os padrões essenciais do Transtorno Distímico habitualmente incluem tristeza, falta de alegria de viver e preocupação com a inadequação. O transtorno é melhor considerado como uma depressão de baixa intensidade, flutuante e duradoura, vivenciada como parte do self habitual e representando uma intensificação dos traços observados no temperamento depressivo (forma subliminar).”
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O mesmo paciente pode apresentar mais de um tipo de Depressão
Continuam Sparemberg e Juruena: “Alguns autores têm apresentado importantes contribuições sobre o assunto. Angst & Merikangas, num estudo longitudinal de 15 anos de seguimento com 591 indivíduos, investigaram a aplicação dos critérios diagnósticos para categorias liminares (Transtorno Depressivo Maior e Distimia) e subliminares de depressão. As principais conclusões após o término do seguimento reforçam a idéia de um espectro depressivo. A prevalência de categorias de depressão liminares e subliminares foram similares, com  aproximadamente 17% da população, em geral reunindo critérios para alguma categoria depressiva ao longo do tempo. Poucos sujeitos com depressão reuniam critério para somente um subtipo depressivo após 15 anos – isto é, havia poucos subtipos ‘puros’.

Spanemberg L, Juruena MF - Distimia: características históricas e nosológicas e sua relação com transtorno depressivo maior. Rev. Psiquiatr. RS, 26(3): 300-311, set./dez. 2004.

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quinta-feira, 11 de março de 2010

TRIO GESTOR

 

 

Gestão Escolar

DiretorGestão da aprendizagem
Edição 006 | Fevereiro/Março 2010

Como atua o trio gestor

Saiba como três redes de ensino se estruturaram para garantir o perfeito encaixe do trabalho de supervisores, diretores escolares e coordenadores pedagógicos

Amanda Polato (gestao@atleitor.com.br), colaborou Paula Nadal
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=== PARTE 1 ====
=== PARTE 2 ====
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=== PARTE 4 ====
Redes grandes? Formação com multiplicadores

O gigantismo de redes de ensino como a estadual paulista é um problema: como diminuir a distância entre o centro das decisões e as escolas situadas em localidades distantes - e atender todas da mesma maneira? De que forma fazer com que as políticas públicas cheguem a todas as 5.463 unidades? Há três anos, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo se reestruturou para fortalecer o papel dos supervisores de ensino (hoje são 1.546 supervisores, distribuídos em 91 diretorias). "Um supervisor deve cuidar de no máximo cinco escolas para que todos tenham uma agenda de visitas regulares", afirma Valéria Souza, coordenadora de projetos da Secretaria. Ela conta que a rede sempre contou com supervisores, porém até recentemente o papel deles era fiscalizador. "Queremos um profissional propositivo e facilitador do trabalho do coordenador e do diretor."

O foco do trio gestor tem sido a formação: o supervisor cuida dos coordenadores e diretores, que, por sua vez, formam os professores (veja infográfico abaixo). O diretor pode - e deve -- participar dos horários de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), mas seu principal papel é garantir que a formação ocorra, reservando espaços e horários e providenciando materiais. O coordenador é o responsável pelas ações pedagógicas e tem a função de relatá-las ao diretor, explicando as que deram bons resultados e indicando o que precisa ser melhorado. Os resultados são discutidos e levados ao supervisor, que ajuda a pensar estratégias para superar os problemas.


Formação multiplicadora
Para dar conta do gigantismo da rede, o estado de São Paulo optou por vários tipos de formação: ela pode ser presencial ou a distância, feita diretamente pela Secretaria ou pelas diretorias de ensino. Coordenadores, diretores e supervisores de uma região também se reúnem para a troca de experiências.

Clique para ampliar
Baixe o infográfico em tamanho legível

Elianeth Dias Kanthack Hernandez, supervisora da diretoria de ensino de Assis, a 440 quilômetros de São Paulo, monta um plano de ação de acordo com as necessidades das quatro escolas que estão sob sua responsabilidade: "Priorizo as que têm mais dificuldades". Sirley Tronco, diretora da EE Professora Noemia Garcia Ciciliato, em Florínea, a 40 quilômetros de Assis, é uma das diretoras que conta com o apoio de Elianeth. "Agora fazemos diagnósticos mensais para ver como os alunos têm avançado", destaca. Flávia Viana de Lima Pignataro, coordenadora da escola, diz que segue o trabalho dos professores e registra tudo para compartilhar com os outros profissionais do trio gestor. Todas as semanas, ela se reúne com a supervisora para falar sobre a formação dos professores e receber orientações.
Quer saber mais?
CONTATOS
Instituto Avisa Lá

Instituto Chapada
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Secretaria Municipal de Educação de Ibitiara, R. Bela Vista, s/n, 46700-000, Ibitiara, BA, tel. (77) 3647-2406
Secretaria Municipal de Educação de Joinville, R. Itajaí, 390, 89201-090, Joinville, SC, tel. (47) 3431-3000
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sábado, 6 de março de 2010

Remédios para o professor e a Educação


Remédios para o professor e a Educação

O alívio para problemas como estresse e dores musculares - as maiores causas de afastamento da sala de aula - está nos mesmos fatores que garantem um ensino de qualidade

Amanda Polato (Amanda Polato), colaboraram Arthur Guimarães e Brígida Rodrigues

Foto: Carlos Piratininga e ilustração Cássio Bitencourt
 

O trabalho deve ser fonte de realização e prazer, mas pode causar sofrimento e enfermidades. Pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope feita em 2007 com 500 professores de redes públicas das capitais revelou que mais da metade dos entrevistados sofre de estresse. Entre as queixas freqüentes estão dores musculares, citadas por 40% deles. Preocupa também o fato de 40% terem declarado sofrer de forma regular alguma doença ou mal-estar. Esse mal-estar docente, tão comum, ganhou até definição do pesquisador espanhol José Manuel Esteve: "Algo que sabemos que não vai bem, mas não somos capazes de definir o que não funciona e por quê". 

Nos casos mais sérios, os sintomas acabam afastando os profissionais da sala de aula. No estado de São Paulo a maior rede do país, com 250 mil professores, são registradas 30 mil faltas por dia. Só em 2006 foram quase 140 mil licenças médicas, com duração média de 33 dias. O custo anual para o governo estadual chega a 235 milhões de reais - correspondente ao valor a ser destinado pelo Ministério da Educação (MEC) para construir, mobiliar e equipar 330 escolas de Educação Infantil em 2008. 

O problema se repete pelo país e faz com que as doenças de quem leciona tornem enfermo o sistema de ensino. "Em todas as redes o absenteísmo preocupa porque os prejuízos para o aprendizado são muito grandes", diz Cleuza Repulho, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e consultora de Educação Básica do MEC. 

O tema vem despertando a atenção de pesquisadores. Tufi Machado Soares, da Universidade Federal de Juiz de Fora, estudou o impacto das faltas na rede mineira e constatou que os alunos da 4ª série que tinham mestres assíduos alcançaram média 15 pontos maior que a dos demais em Língua Portuguesa no Programa de Avaliação da Educação Básica de 2002. 

"Todo mundo perde com os afastamentos. Mas é importante que o direito de estudar acompanhe o direito de ter condições para oferecer uma boa aula", defende Roberto Franklin de Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. Sem dúvida, o que não pode é a falta virar a única estratégia para lidar com as questões de saúde. "Entender o que causa as doenças ou contribui para que elas se manifestem requer olhar para a sociedade, para o sistema educacional como um todo e para a relação com o trabalho", avalia Iône Vasques-Menezes, da Universidade de Brasília.

MUDANÇAS NA REDE - Em Itupiranga, a diretora de ensino Rosanea apresenta as diretrizes para os coordenardores. Foto: J. Sobrinho
MUDANÇAS NA REDE Em Itupiranga, a diretora de ensino Rosanea apresenta as diretrizes para os coordenardores

Soluções para essa epidemia têm sido discutidas e colocadas em prática em diferentes níveis: secretarias criam programas de prevenção, escolas reorganizam processos e educadores buscam formas criativas de enfrentar as dificuldades do dia-a-dia. Todas elas, além de contribuir para o bem-estar e o desempenho do profissional, têm impacto positivo na qualidade da Educação. Os "remédios" prescritos -tanto no sentido de prevenção quanto no tratamento -são gestão, formação, organização do tempo, trabalho em equipe, relacionamento com os alunos, infra-estrutura, currículo e valorização social. Nenhum combate sozinho todos os sintomas, mas, associados, eles podem formar um coquetel eficaz para acabar com a situação de impotência diante de um sistema tão doente.

Apoio da direção traz segurança

Uma gestão democrática e participativa é capaz de alterar as condições de trabalho dentro da escola, como relatam Analía Soria Batista e Patrícia Dario El-Moor no livro Educação: Carinho e Trabalho (Ed. Vozes). Instituições com maior participação dos pais e da comunidade têm mais materiais de apoio ao ensino e são mais limpas, por exemplo, o que contribui para melhorar o bem-estar de quem ali leciona. 

A presença de diretores e coordenadores pedagógicos que dêem suporte efetivo equipe escolar e se co-responsabilizem pelos resultados do ensino é, igualmente, fator de aprimoramento das condições profissionais. Nesses profissionais estão as respostas para dificuldades que vão de questões pedagógicas a problemas de relacionamento. É o que mostra à pesquisa Saúde e Apoio Social no Trabalho, realizada em 2006 por Rodrigo Manoel Giovanetti, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. "O apoio social tem efeitos moderadores do estresse e da síndrome do esgotamento, além de promover satisfação e produtividade", explica Giovanetti. 

As investigações em escolas públicas levaram o pesquisador a concluir que, quando o diretor deixa de focar a atuação nas questões burocráticas, ele consegue tornar o dia-a-dia menos desgastante para todos. Por sua vez, os coordenadores, que também ocupam posição de liderança, têm papel fundamental no acompanhamento da prática em sala. Essa ação tem o poder de minimizar as angústias do docente diante das adversidades. 

Em Itupiranga, a 630 quilômetros de Belém, uma mudança na gestão da Educação foi implantada tendo como foco a qualificação dos coordenadores pedagógicos. Três anos atrás, nem todos os 440 professores podiam contar com a ajuda desses profissionais. Desde então há encontros quinzenais para que eles recebam formação continuada com supervisão do Programa Além das Letras, do Instituto Avisa Lá. De acordo com a diretora de Ensino Rosanea do Nascimento de Lucena, antes os coordenadores não conseguiam desempenhar sua principal tarefa: organizar atividades de estudo com a equipe. "A estratégia uniu a rede e deu um suporte de conteúdo para os educadores." 

Os resultados são vistos também de forma significativa na saúde do grupo. Ainda há casos de estresse e depressão entre os mais velhos, que contam com acompanhamento psicológico. "Os novos dificilmente têm problemas por sobrecarga ou frustração, já que recebem apoio à prática." 

Bem-estar para quem se prepara

Os conhecimentos sobre didática avançam; a necessidade de se manter atualizado com relação aos conteúdos é constante; as salas de aula estão se tornando inclusivas; a sociedade exige cada vez mais da escola; e, por fim, há um abismo entre a formação inicial e a prática do Magistério. A pressão e a ansiedade para se adequar a tudo isso muitas vezes dão origem a doenças, mal-estar e tensão. 

"O estresse aumenta quando a pessoa faz algo que não motiva. Por isso, temos investido em capacitação para dar melhor condição ao educador para se desenvolver e desempenhar sua função com prazer", afirma Marcos Monteiro, secretário-adjunto de Gestão do estado de São Paulo. Na rede paulista, na qual é altíssimo o absenteísmo por problemas de saúde, está sendo implantado um sistema de bonificação que terá entre os indicadores a assiduidade da equipe e o nível de aprendizagem dos alunos. 

De modo geral, os mais inexperientes não conseguem dar conta das situações cotidianas, e muito menos das imprevistas. "Eles tendem a controlar a turma com gritaria e ofensas", afirma Gisele Levy, que concluiu mestrado sobre o tema na Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano passado. Ela identificou que 70% dos quadros de cinco escolas de Niterói, a 20 quilômetros da capital fluminense, apresentavam sintomas da síndrome de burnout, caracterizada por exaustão física e emocional. Em início de carreira, muitos profissionais, de acordo com Gisele, se inibem e acabam dando aulas de forma mecanizada. Em situações como essa é improvável que os estudantes avancem. 

Quem encontra respostas adequadas aos dilemas da profissão consegue manter-se equilibrado e alcançar sucesso. Foi o que ocorreu com Liliane da Silva Oliveira Schanuel, de Petrópolis, a 68 quilômetros do Rio de Janeiro. Até 2006 ela trabalhava em uma escola em que não tinha ajuda para se aprimorar. Não dava para saber se eu estava indo no caminho certo. Era cansativo e estressante. Hoje ela dá aulas para a 3ª série na EM São José do Caetitu, onde a coordenação pedagógica é atuante. Lemos e debatemos sobre tudo o que nos cerca. O aprimoramento me trouxe tranqüilidade.

UMA NOVA VIDA - Para pôr fim a depressão, Valéria, que leciona em Osasco diminuiu as aulas e aumentou o lazer. Foto: Emília Brandão
UMA NOVA VIDA Para pôr fim a depressão, Valéria, que leciona em Osasco diminuiu as aulas e aumentou o lazer

Para Rosilene Ribeiro, da Secretaria Municipal de Educação de Petrópolis, a formação continuada é tão importante quanto a inicial. "Ela é útil para transformar questões cotidianas da prática em objetos de análise e reflexão". Com doutorado concluído na área, Rosilene atesta: "Os docentes planejam e avaliam com maior segurança". Aulas mais bem preparadas têm impacto no desempenho da turma e, por conseqüência, na satisfação profissional. 


Horários para estudo e diversão

Uma boa forma de reduzir o cansaço físico e mental e ainda melhorar os resultados de aprendizagem dos estudantes é ter tempo para estudar, planejar e reunir-se com os colegas sem esquecer os momentos de lazer. De acordo com a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope, os professores gastam em média 59 horas por semana em atividades ligadas ao trabalho 50% desse tempo em sala de aula. Metade deles tem menos de seis horas por semana de lazer. Esses são os que mais apresentam sintomas de estresse como insônia e dores de cabeça freqüentes. 

Há três anos, Valéria Hengleluz, que leciona em duas escolas de Osasco, na Grande São Paulo, teve diagnóstico de depressão. O maior motivo, acredita, foi a carga pesada de trabalho -70 aulas semanais em até três turnos. Quando estava em casa, ela sentia que tudo melhorava. Mas, quando o momento de retomar as aulas se aproximava, ficava aflita. Em cinco ocasiões, chegou ao portão da escola e não conseguiu atravessá-lo. "Eu tinha uma sensação de perda total, me sentia inútil, achava que ia morrer." 

Valéria tirou licença médica e se afastou da EE Professor José Jorge e da escola particular em que lecionava. Para sair da crise e voltar a dar aulas, sua grande paixão, mudou a rotina: descansa mais, lê, assiste a filmes e faz caminhadas. "Antes eu quase não saía de casa. Agora, não recuso um convite para ir ao cinema." Ela definiu um limite de 40 aulas semanais de carga horária e, para se adaptar ao salário menor, reduziu as despesas pessoais. 

De acordo com Beatriz Cardoso, docente da Universidade de São Paulo e coordenadora executiva do Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo, a gestão do tempo não está só nas mãos do professor. Essa tarefa depende também das condições oferecidas a ele pela rede. "Nesse nível, deve-se, em primeiro lugar, optar pelo que potencializa a aprendizagem e, em segundo, considerar outras particularidades da rotina escolar", define Beatriz. E aí estão incluídas as horas de trabalho pedagógico remuneradas, essenciais para a qualidade da prática. 

O poder do apoio dos colegas 

Maria Elizabeth Barros de Barros, da Universidade Federal do Espírito Santo, estudou as estratégias encontradas pelos docentes a fim de promover a saúde o que, para ela, não é a ausência de doenças, mas a crença na possibilidade de acabar com o que faz sofrer. "O mais eficaz é apostar na boa relação entre os professores e construir o sentimento de grupo", aponta. 

Por sua importância, o trabalho em equipe é um tema que deveria ser mais valorizado pelos gestores na opinião de Beatriz Cardoso. "É preciso pensar em meios e condições para que ele seja o mais produtivo possível." Quando há momentos de conversa e atividades coletivas, os profissionais e suas ações ficam mais fortalecidos. "Quem tenta fazer algo diferente sozinho acaba não tendo o respaldo dos colegas ou a orientação dos mais experientes", diz Maria Elizabeth. Se a troca de informações se torna prioridade no dia-a-dia da escola, surge em cada um o sentimento de que suas idéias são úteis para a produção social. Dessa forma, a prática pedagógica também é enriquecida - e os alunos só têm a ganhar. 

Na EMEF Professora Altamira Amorim Mantesi, em Araraquara, a 277 quilômetros de São Paulo, o trabalho em equipe faz parte do cotidiano. "O planejamento fica bem melhor com a troca de experiências", conta Bia Pinto César, que leciona para o 5º ano. "Eu não gosto de preparar aulas baseada apenas em um livro ou uma fonte. É ótimo quando uma colega me mostra um material novo que eu não havia encontrado em minhas pesquisas. Isso faz toda a diferença na qualidade do ensino." 

Bia considera o momento também um grande alívio para as pressões e cobranças do dia-a-dia: "Tenho muito mais segurança. Sem esse diálogo constante com minhas companheiras, seria bem mais difícil". A pesquisadora Maria Elizabeth acredita que no ambiente escolar pode haver espaço para choro e queixas -que aliviam a tensão cotidiana -desde que isso se torne algo positivo. "A queixa deve se transformar em alternativas para enfrentar as adversidades. Só reclamar leva a mais mal-estar", ressalta. 

O melhor meio de manter a paz 

A dificuldade de relacionamento com crianças e jovens em classe é a maior queixa dos professores, como mostra a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope. A falta de disciplina foi citada como o principal problema em sala de aula por 46% dos entrevistados. Maristela Rautta, de São Miguel do Oeste, a 693 quilômetros de Florianópolis, teve muitos momentos de estresse exatamente por causa disso. No ano passado, a professora do Grupo Escolar Municipal São João Batista de la Salle encontrou uma turma de crianças de 7 anos muito agitada. Elas subiam nas mesinhas e brigavam constantemente entre si. "A relação com as crianças é condição para a docência. Se ela está deteriorada, como ensinar? Essa é uma das razões do grande mal-estar entre os educadores", explica Inês Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Para Yves de La Taille, da Universidade de São Paulo, o desrespeito é um fenômeno discutido no mundo todo e ultrapassa os limites da escola. "A ausência do senso moral, da idéia de que o outro existe e eu preciso respeitá-lo, é geral." Um dos caminhos, segundo ele, seria a escola discutir princípios de forma sistemática para que os alunos entendessem o porquê das regras. Maristela seguiu linha semelhante e encontrou uma solução para a indisciplina dentro da sala com o apoio da coordenadora, Clarisse Thums, e de toda a equipe. Ela estabeleceu regras, levou as crianças a discutir seus sentimentos em relação aos pais e à escola e a refletir sobre as atitudes de convivência.

REGRAS PARA TODOS - A indisciplina acabou na sala de Maristela, de São Miguel do Oeste, depois que atitudes foram discutidas. Foto:Silvano Caron
REGRAS PARA TODOS A indisciplina acabou na sala de Maristela, de São Miguel do Oeste, depois que atitudes foram discutidas
 

Além disso, Maristela também mudou sua forma de dar aulas - esse resgate da autoridade pelo conhecimento, segundo De La Taille, é outro ponto essencial nas relações entre estudantes e mestres. "Muitos alunos não avançavam no aprendizado, e alguns não estavam alfabetizados. Agora eu procuro desafiá-los o tempo todo. Hoje me sinto muito bem e uma profissional bem melhor", diz ela. 

Boas condições, bom desempenho 

O espaço da escola afeta tanto o cotidiano dos professores quanto o dos alunos. A precariedade das condições físicas dificulta as aulas, tornando-as desgastantes e reduzindo a produtividade. Mobiliário inadequado ou classes sem boa ventilação, iluminação ou acústica podem causar ou agravar problemas de saúde, como os osteomusculares ou de voz. 

Rejane Cristina dos Santos, da EE Imaculada Conceição, em Pedro Leopoldo, a 46 quilômetros de Belo Horizonte, sofreu em razão das condições inadequadas do ambiente e do mau uso que fazia da voz falava alto e permanecia em contato com pó de giz por tempo demasiado. No ano passado, ficou completamente afônica durante 15 dias. Passado o susto, ela se valeu da criatividade para voltar à sala de aula: construiu painéis em que escreve com canetão e usa microfone. 

Iniciativas individuais como a de Rejane são relevantes, mas cabe aos gestores da rede e da escola cuidar da questão. Há oito anos, Joice Salete Silverio Pires, da EM Marumbi, em Curitiba, começou a acordar sem voz. O problema poderia ter se agravado se a diretora não a tivesse encaminhado ao programa municipal de qualidade vocal. Ela fez um tratamento fonoaudiológico e operou nódulos nas cordas vocais. "Depois disso, a prefeitura disponibilizou um microfone para eu usar em classe", conta Joice. Além de seu bem-estar, garantiu-se, assim, a qualidade do ensino que ela ministra.

NADA DE GRITOS E PÓ - Rejane, de Pedro Leopoldo, usa painéis que dispensam giz e microfone para curar os problemas de voz. Foto: Leo Drumond / Agência Nitro
NADA DE GRITOS E PÓ Rejane, de Pedro Leopoldo, usa painéis que dispensam giz e microfone para curar os problemas de voz

Também visando à aprendizagem, o Tocantins está definindo padrões de qualidade do ambiente escolar que incluem conforto acústico, ventilação, temperatura e iluminação adequadas e acessibilidade. "Criamos políticas para reduzir os riscos para alunos e professores, pensando em saúde e Educação de forma articulada", diz Maria Auxiliadora Rezende Seabra, secretária de Educação e Cultura. 

Um rumo para a prática 

Ter clareza sobre o que ensinar é condição para que os docentes executem bem sua função em classe. Apresentar esses conteúdos é papel das diretrizes curriculares. "Quando há referências e metas, apontando caminhos para os quais se deve ir o professor toma decisões com maior segurança e isso tem impacto na qualidade da Educação", afirma Neide Nogueira, da equipe responsável pela elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Com a certeza de ter as condições necessárias para desempenhar bem sua função, o educador sofre menos. 

Os PCNs foram elaborados com o objetivo de proporcionar uma formação ampla ao aluno, torná-lo alguém que põe o conhecimento em uso na vida social. Cada secretaria deve se apropriar dessas referências e adequá-las ao contexto local. "Cabe às escolas, por sua vez, criar um projeto pedagógico que defina priorida- des e ações", diz Neide. O ideal é que elas montem um currículo completo para que a equipe docente saiba a fundamentação teórica adotada, o histórico do ensino das disciplinas, os objetivos de aprendizagem de cada ciclo ou série, os conteúdos que devem ser trabalhados e as orientações didáticas. 

Para se tornar eficaz, no entanto, um currículo precisa ser elaborado com a participação de todos os envolvidos no processo educativo. Diretrizes definidas nos gabinetes e apenas apresentadas a quem deve segui-las trazem descontentamento e mais angústia. Preocupada em atualizar a proposta curricular que tinha até então, a equipe da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande decidiu estender a discussão a todos os gestores, às equipes técnicas e aos professores, o que deu origem a um novo documento, já em fase de consolidação. "Houve encontros e debates nas escolas, até com a comunidade e os estudantes, e um forte intercâmbio", conta Leusa de Melo Secchi, técnica da divisão de Educação Infantil da rede. Para ela, o mais significativo da experiência é poder socializar conhecimentos e dividir responsabilidades. A definição coletiva do trabalho dá a tranqüilidade de lecionar sabendo exatamente onde pisar. "Todos têm o compromisso com o que foi produzido e até com os possíveis erros." 

Satisfação vem com prestígio

RECEITA FINLANDESA - No país primeiro colocado no Pisa, os professores têm formação de qualidade e reconhecimento. Foto: Olivier Morin / AFP
RECEITA FINLANDESA No país primeiro colocado no Pisa, os professores têm formação de qualidade e reconhecimento

O apoio da sociedade aos educadores está diminuindo. É o que sente um terço dos professores brasileiros, segundo a pesquisa NOVA ESCOLA e Ibope. Isso acaba afetando seu bem-estar e seu desempenho em sala de aula. "A progressiva desqualificação e o não-reconhecimento social potencializam o sofrimento dos docentes", assinala Mary Yale Rodrigues Neves, da Universidade Federal da Paraíba. Quando se fala em valorização social, o sentido não deve ser apenas retórico, o que inclui homenagens e discursos em favor do Magistério. Essa é a opinião de Inês Teixeira, da UFMG: "A valorização tem de ser real. Profissional reconhecido é aquele que dispõe de boas condições de exercer sua função no dia-a- dia, salário compatível com o que se espera dele e políticas públicas que cuidem de sua formação e sua saúde". 

A Finlândia, o país com a melhor Educação do mundo segundo o Pisa, avaliação feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é um lugar em que a carreira docente está entre as mais concorridas e desfruta de grande prestígio. Lá, as principais apostas do sistema educacional são um currículo amplo e a formação docente. "A escola é o reflexo da sociedade na qual está inserida", conclui Inês Teixeira.

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CONTATOS 
EE Imaculada Conceição, R. Armando Filho, 80, 33600-000, Pedro Leopoldo, MG, tel. (31) 3662-1837 

EE Professor José Jorge, Av. Pinheiro, 70, 06184-300, Osasco, SP, tel. (11) 3695-0395 

EM Marumbi, R. Francisco Licnerski, 50, 81590-250, Curitiba, PR, tel. (41) 3364-1092 

EM São José de Caetitu, Estr. do Caetitu,1036, 25720-020, Petrópolis, RJ, tel. (24) 2221-3412 

EMEF Professora Altamira Amorim Mantesi, Av. Alziro Zazur, s/n°, 14806-323, Araraquara, SP, tel. (16) 3324-2887 

Grupo Escolar Municipal São João Batista de la Salle, Conjunto Habitacional São Luiz, s/n°, São Miguel do Oeste, SC, 89900-000, tel. (49) 3622-7114 

Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Tocantins, Pça. dos Girassóis,s/n°, 77001-910, Palmas, TO, tel. (63) 3218-1400 

Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, R. Oniceto Severo Monteiro, 460, 79002-949, Campo Grande, MS, tel. (67) 3314-3800 

Secretaria Municipal de Educação de Itupiranga, Av. 14 de Julho, s/n°, 68580-000, Itupiranga, PA, tel. (94) 3333-1234

 


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