sábado, 30 de outubro de 2010

O LÚDICO E A PSICOPATOLOGIA ADOLESCENTE: UM ESTUDO DE CASO



O LÚDICO E A PSICOPATOLOGIA ADOLESCENTE: UM ESTUDO DE CASO

Nadja C. Kinzel

Resumo:

Alicerçada em um referencial teórico pós-estruturalista e tomando por base autores como M. Foucault e J. Lacan, esta pesquisa têm como foco demonstrar a importância da atividade lúdica enquanto auxiliar no tratamento de adolescentes psicopatológicos. Alguns objetivos nortearam este trabalho, e, estes se referem aos seguintes fatores: o discurso que permeia a doença mental, o período denominado adolescência; o sentido da atividade lúdica tanto a pacientes neuróticos quanto á psicóticos, bem como às suas famílias. Com caráter qualitativo, participante, esta pesquisa foi realizada em forma de estudo de caso no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Serviço de Recreação Terapêutica, com uma adolescente de 14 anos (P.) encaminhada pelo Hospital Presidente Vargas, com passagem pelo Hospital São Pedro, por agressividade, impulsividade e ideação suicida, internada por três meses pelo Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência, atendida por uma equipe multidisciplinar.
Algumas observações podem ser relatadas ao final da internação: P. refletia toda uma sintomática familiar onde mantinha uma relação simbiótica com sua mãe (A. 36a). A atividade lúdica auxiliou P. a passar de infans a sujeito, sendo esta essencial ao seu tratamento. Era através de atividades lúdicas como modelagem em argila, jogos e, principalmente, pinturas, que P. se expressava. Nota-se também como estas atividades proporcionaram a P. uma possibilidade de inserção no mundo das pessoas tidas como “normais”. À mãe, além de auxiliar no estabelecimento de papeis, proporcionou uma fonte de sustento financeiro e um suporte que a auxiliou no período da internação.

Apresentação:
Cada vez mais se vê adolescentes em internações psiquiátricas pelas mais diversas psicopatologias e, raramente vê-se alguma espécie de tratamento específico á esses jovens.
Com essa pesquisa pretendo demonstrar que essas internações podem obter um maior sentido com a inclusão de atividades lúdicas no tratamento. Torna-se indispensável também analisar o que é a doença mental enquanto fenômeno culturalmente construído, ou seja, que discursos permeiam esse cenário e que efeitos eles produzem nos sujeitos.  Algum outro objetivo se pretende alcançar, como descrever o que é esse período tão tumultuado chamado adolescência, além de suas características; bem como a adolescência psicopatológica, dentro de uma visão sistêmica. Por último então tentarei demonstrar como as atividades lúdicas auxiliam no tratamento de adolescentes psicopatológicos, tanto neuróticos quanto psicóticos, bem como as famílias desses jovens.
Apresento então um estudo de caso que ilustra a fundamentação teórica por mim utilizada realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre durante meu estágio no Serviço de Recreação Terapêutica.

1 Fundamentação teórica
1.1 Doença Mental: Seus Discursos e Efeitos
“Aquilo pelo que o louco torna-se louco, isto é, também aquilo pelo que, a loucura não sendo ainda dada, ele pode se comunicar com a não-loucura [...] ele escapa a si mesmo e a sua verdade de louco resumido-se numa região que não é nem verdade nem inocência, com o risco da falta, do crime ou da comédia [...]. A loucura só é possível a partir de um momento um distante, mas muito necessário, em que ela se arranca a si mesmo no espaço livre de sua não-verdade, constituindo-se com isso como verdade”. (FOUCAULT, 1972, p. 507)
Foucault (1972) em sua obra “A História da Loucura” analisa historicamente como nasceu o discurso psiquiátrico hoje imperante, demonstrando como foi se configurando como um problema de razão, de moralidade, de normatização e de disciplinarização
Na Idade Média, os loucos vagavam livremente pelas cidades e pelos campos. A loucura ainda não era um problema social. No século XVII ocorre surgimento das primeiras instituições que deles se ocupariam sendo locais de assistência, dos quais a medicina não se ocupava. No século XVIII, contudo, o discurso médico tratou de se ocupar dos loucos, ocorrendo então o “nascimento” da doença mental, outorgando-lhes o título de doentes mentais, sendo feita então uma distinção entre loucura e “erros morais”. A loucura passa a ser doença mental e caracterizada como um “fenômeno que se passa dentro do próprio sujeito” (FISCHER, 1999, p. 45). Inicia-se a produção de uma verdade sobre a doença.
“O grande médico do asilo – seja ele Leuret, Charcot ou Kraepelim – é ao mesmo tempo aquele que pode dizer a verdade da doença pelo saber que dela têm, e aquele que pode produzir a doença em sua verdade e submetê-la, na realidade, pelo poder que sua verdade exerce sobre o próprio doente” (FOUCAULT, 1997 p.122)
Pode-se questionar se ela – a doença mental – não é o próprio “hospital” que implica uma forma de controle onde o sujeito não consegue na doença um fenômeno cultural. (MELLO, 2002). Ou seja, até que ponto não é o próprio hospital, com seus padrões de normatização, de vigilância e esquadrinhamento, que produz a doença mental!?
Por certo que existe a doença mental, o que se questiona aqui é o sentido que a loucura, ou a doença mental tem na vida dos sujeitos, ou muito mais, nas diversas instâncias sociais que atravessam e perpassam o cenário contemporâneo.
No período renascentista havia as famosas Stultifera Navis, ou a Nau dos Loucos, uma espécie de barco que navegava entre uma cidade e outra, com inúmeros loucos ali “perdidos”, confiados a marinheiros que se ocupavam do “destino” destes sujeitos.
Parafraseando Focault, pergunto se esta Nau dos Loucos existiu somente no período da Renascença. Será que hoje ainda não encontramos essas Naus?
Metaforizando penso que essas Naus hoje se figuram nas atuais internações psiquiátricas, pois seria incorreto compará-las ás internações passadas. A Nau dos Loucos e a Internação psiquiátrica atual contêm intenções muito parecidas. Talvez a maior delas seja de proteger o louco – ou o doente mental – dele mesmo! Tanto na internação quanto nas Naus, ele é colocado no interior do exterior e inversamente.
Nos dois casos, há um caráter de exclusão e de enclausuramento. De tornar invisível àquilo que é visível. De esconder o que não pode ser escondido. Principalmente, de mascarar aquilo que está posto.
Enfim, é certo que existam doenças mentais que provocam dor e sofrimento, mas também é certo que existe um discurso socialmente construído que permeia esse cenário, e seus efeitos, ainda são devastadores. Discurso produzido culturalmente e tomado como um regime de verdade.

1.2 A Adolescência.                                                                 
A adolescência é uma fase, na vida do ser humano, extremamente complexa. É onde conflitos são reeditados e onde surgem outros novos. É uma fase de descobertas, incertezas, angústias e alegrias. Também uma fase de brigas, muitas delas internas e externas. Período também de importantes aquisições e intensas perdas, principalmente um período de alterações físicas e emocionais e de perda da congruência entre o conceito que o adolescente tem de si mesmo.
Contudo não se pode perder de vista que a adolescência também foi produzida culturalmente.  Existe um fenômeno biológico (que pode ser definido como puberdade) durante este período, mas os acontecimentos subjetivos ocorrem devido a forma com que as sociedades ocidentais se organizaram. Obviamente não se pode ter uma visão estruturalista ou teleológica deste fato, sendo que este período é cambiante, móvel.
Podemos começar a falar sobre adolescência (enquanto fenômeno cultural) no âmbito de sua imagem corporal: Imagem essa que está intimamente ligada à inscrição feita pelo Outro no imaginário. Quando somos crianças precisamos dessa demanda do Outro para podermos nos constituir como sujeitos, ou seja, necessitamos dessa inscrição no imaginário, estar preso à demanda (aos desejos, às vontades, ao ego) desse Outro para que possamos formar nossa identidade. E isso acontece no momento em que conseguimos agressivizar essa relação descobrindo que o corpo (meu) não esta aí só para o prazer do Outro, mas para o prazer próprio também. Esse processo vai até o fim do Édipo, onde então, (nos sujeitos tidos como “normais”) essa incessante busca pelo reconhecimento do Outro é apaziguada. Na adolescência, esse processo volta com força total, pois é nesse período que reeditamos todos os conflitos (inclusive este) da nossa infância (1ª.). Se, na infância estamos construindo uma imagem, na adolescência precisamos reconstruí-la, desconstruindo-a. Na imagem da criança estão presentes a onipotência, a dependência, o prazer das vivências parciais da sexualidade e os vínculos edipianos em seus vários níveis de satisfação. Na adolescência, todas essas características precisam ser desconstruídas para poder ser construída, então, uma imagem adulta real. Desta forma, o jovem sofre com a perda dessa onipotência, tendo que elaborar uma “castração simbólica, ou seja, poder perder as relações infantis e iniciar sua reconstrução num mundo de sujeito, de portador de sua própria independência e vontade, sem que a perda se configure num ataque real ao corpo” (RAPPAPORT, 1981, p. 17) para se firmar como sujeito. Essa castração simbólica engloba a sexualidade, a separação dos pais (geralmente intermediada por ídolos), bem como o luto dos pais da infância, do corpo infantil e da identidade e papel infantil. Trata-se aí, da recusa do mundo adulto e da tentação da regressão até a fascinação última do retorno ao seio materno e do adormecimento mortal. O mal-estar da adolescência vem da separação, da ruptura, da quebra. É um trabalho de luto. (CORDIÉ, 1996).
Knobel (apud RAPPAPORT, 1981) confirma a adolescência como semipatológica e descreve, então, a “Síndrome da Adolescência Normal”. Sintetizando suas características surge:
Busca de si mesmo e identidade; Tendência grupal, Necessidade de intelectualizar e fantasiar; Crises religiosas (desde o ateísmo até o misticismo); Deslocação temporal (pensamento adquire as características do pensamento primário); Evolução manifesta (auto-erotismo – heterossexualismo adulto); Atitude social reivindicatória (tendências anti-sociais); Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta (dominada pela ação); Separação progressiva dos pais; Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo.
Para Bohoslasky (1971) a identidade é gerada sob três pontos: grupos, processos de identificação e esquema corporal e se traduz numa série de antíteses: o sentimento de quem se é e de quem não se é; quem se quer e quem não se quer ser; quem se crê que deva ser e quem se crê que não deva ser; quem se pode ser e quem não se pode ser; quem se permite ser e quem não se permite ser, da totalidade das quais surgirá, ou não, uma síntese.
Sobre a questão, coloca Knobel: o sentimento de identidade implica a noção de um ego que se apóia na continuidade e semelhança das fantasias inconscientes referidas primordialmente às semelhanças corporais, às tendências e afetos em relação aos objetos do mundo interno e externo e às ansiedades correspondentes ao funcionamento específico em qualidade de intensidade dos mecanismos de defesa e ao tipo particular de identificação assimiladas, resultantes dos processos de introjeção e projeção. (1992, p. 32).
A demanda do adolescente à família é paradoxal: “compreendam-me sem me entender, não me façam perguntas, mas respondam-me e não me peçam nada”. (CORDIÉ, 1996, p. 199).
Para poder, então, constituir uma identidade própria, o adolescente “rompe” com seus pais e tudo que lhes diga respeito, num nível mais superficial, ou seja, aparentemente, pois um adolescente “normal” retém a capacidade de descrever em profundidade as pessoas mais importantes de sua vida, inclusive seus pais [...] têm interesses sociais e culturais, sistemas de valores e ambições intelectuais que vão além de necessidades narcisistas imediatas. (KERNBERG, 2000, p. 34).
Com essa busca desesperada por uma identidade própria aparece então, um sentimento peculiar chamado alienação. Kernberg (2000) afirma que a crise de identidade do adolescente é uma perda da correspondência entre um senso subjetivo e identidade do ego e o ambiente psicossocial objetivo, sendo o sentimento da alienação parte desse processo (normal) no adolescente. O grupo se torna um “suporte” para o adolescente conseguir construir sua identidade, pois a uniformidade de um grupo proporciona a segurança de se saber que é. Knobel (apud RAPPAPORT, 1981) diz que há um processo de super-identificação maciça, onde todos se identificam com cada um, além de terem normas e costumes próprios muitas vezes em completo desacordo com os padrões adotados pela família.

1.2.1 A Psicopatologia na Adolescência
Osório (1982) propõe que a psicopatologia na adolescência existe quando, nos sintomas, há: intensidade, persistência, significado regressivo e polimorfismo sintomático. Ou seja, basicamente o que diferencia um adolescente normal de um adolescente com psicopatologia são essas quatro variáveis, porém não se pode perder de vista a importância do contexto cultural e social no qual o adolescente está inserido. A ênfase aqui, entretanto se dará sob uma perspectiva dinâmica.
Contudo, um fator de extrema importância que merece atenção é a família deste adolescente, pois este, quando adoece psiquicamente na grande maioria dos casos reflete toda uma sintomática familiar. Se, a descrição da psicopatologia pode ser assim resumida, a etiologia destas não. Por certo que existam outros fatores como pré-disposição genética, falhas neurológicas, condições sócio-econômicas etc. que influenciam na manifestação (ou não) da doença, mas geralmente este púbere representa a ponta de cima de um iceberg.
Como se sabe, um iceberg encontra-se com sua maior parte submersa no oceano e, apenas um pequeno fragmento emergido, cujo qual está exposto a todas as interperes da natureza. Porém, quando se olha para o iceberg, enxerga-se somente este fragmento e não raro este é tomado como sendo o iceberg inteiro. Para conseguir olhá-lo como um todo, deve-se enxergar além do que se vê, ou seja, olhar além do que está posto. Com o adolescente psicopatológico é assim que funciona. Ele é somente este fragmento que sofre ao mesmo tempo em que protege e sustenta toda uma família desestruturada. Protege porque enquanto ele é foco do problema, o que está submerso não precisa emergir! Sustenta porque na grande maioria das vezes, a doença vira gozo.
Essa questão familiar envolve tanto a estrutura neurótica quanto a estrutura psicótica. Nesta última, porém, não é raro acontecer o primeiro surto durante a adolescência. Quando isso acontece, ocorre que o sujeito já tinha uma estrutura psicótica e que pela pressão que a adolescência impõe de “se abandonar uma estrutura que funcionava até aí e colocar-se frente à outra realidade” (CORDIÉ, 1996, p. 202), esta se manifestou.
Crianças com uma estrutura psicótica podem crescer sem que isso apareça, por exemplo, crianças dóceis e obedientes, sujeitadas ao desejo e a demanda do Outro, que repetem a fala dos pais (e estes se orgulham disso!!), porém não conseguem separar-se da mãe, ou até mesmo brincar de faz de conta. Até então, a falha não aparece.
Ele (o psicótico) “aprendeu” a ser como todo o mundo, ele se construiu um tipo de eu fictício fabricado a partir de identificações em espelho nos quais é freqüente encontrar um pequeno outro que faz a função de duplo. Lacan salienta que a perda desse duplo (o que geralmente ocorre na adolescência) pode ser a origem de um surto psicótico. (CORDIÉ, 1996, p. 206)
Enfim, em todos os casos de psicopatologia adolescente – desde as mais brandas, às mais severas é indispensável o tratamento também da família.

1.3 O Lúdico no Tratamento Psiquiátrico
Por certo que o brincar – especialmente o espontâneo – é por excelência possuidor de um valor terapêutico, principalmente na constituição do sujeito enquanto tal. A simbolização e a capacidade de brincar surgem com o interdito paterno, ou seja, através da Lei, da metáfora paterna. É por isso que a criança psicótica não brinca, ou melhor, não simboliza, não é capaz de “fazer de conta”, pois a metáfora paterna está foracluída. A importância do brincar é, sem dúvida inquestionável à constituição do sujeito desejante. Com relação à adolescência, penso que a atividade lúdica neste período é igualmente importante. Se partirmos da premissa que “a crise da puberdade golpeia com suas repercussões, todo e absolutamente cada um dos níveis prévios de estruturação subjetiva, retomando-os, deslocando-os para outro nível, para outro patamar do desenvolvimento simbólico” (RODULFO, 1990, p. 136), o lúdico ou o brincar aqui novamente fazem-se necessários.
Um exemplo a ser dado é o próprio “fort-da”. Na puberdade, este é ressignificado. Se, o bebê brinca de estar perto e estar longe de seu carretel para dar conta da angústia causada pela separação do grande Outro, na adolescência este entre-jogo reaparece no registro do par familiar/extrafamiliar. Ele desaparece e aparece não somente em relação à família, mas a todas categorias familiares que organizavam sua vida no simbólico. A identificação com grupos de iguais e as atividades desempenhadas por estes são um exemplo desse desaparecimento e aparecimento em relação à família (RUDOLFO, 1990). É um grande passo em direção à independência, sendo esta possível somente através da dependência e posterior internalização desta.
O adolescente está num período que não é a infância e não é a fase adulta, ou seja, ele está em um entre-lugares. Para eles, a brincadeira enquanto tal já não tem mais sentido – até porque ele precisa elaborar o luto de perda de infans - bem como as coisas da vida adulta ainda lhe parecem um tanto distante. O que ocorre é que, “todas as coisas que parecem povoar o espaço da vida do adulto (trabalho, política, decisões e escolhas), a adolescência as toma e as torna suas, o que produz uma mutação nelas, sutilmente penetradas, enquanto brincadeiras, pelo processo primário”. (RODULFO, 1990, p. 139).
Jerusalinski diz que a dialética entre o brincar e a realidade é que “a realidade está no que se brinca, mas não que o que se brinca está na realidade” (1999, p. 47) e esta afirmação aplica-se também a adolescentes. Este, quando brinca, também promove uma certa dilatação da borda do Real, tornando-o mais próximo do Imaginário o do Simbólico, além de gerar um espaço onde aparecem elementos como o Objeto Transicional (significante da falta do Outro) e o Outro encarnado, afinal, durante este período, não deixa de haver uma incessante busca de reunificação sob algum significante. Antigas funções são colocadas agora, em outro nível. “Assim como uma criança [...] narra, com desenhos ou brinquedos, sua vida imaginária, com todas as suas alternativas, o adolescente o faz extraindo, arrancando semas e mitemas das jazidas ideológicas do adulto.” (RODULFO, 1990, p. 138).
Adolescentes neuróticos de uma forma geral costumam apresentar este quadro. Brandas ou mais severas, as neuroses nos adolescentes apresentam significativa melhora com a inclusão do lúdico no tratamento. Justamente porque o brincar visa “buscar o eu (self) por meio de suas experiências criativas” (NETTO, 2002, p. 20), alguns jovens preferem pintura, outros modelagem, outros jogos de tabuleiro, bem como peças de montar/encaixar, “playmobil”, sucata, desenho, recorte e colagem, quebra-cabeça, entre tantas outras opções.  É notório como o lúdico é capaz de auxiliar no tratamento destes sujeitos, pois por via do processo secundário, atuam no processo primário auxiliando na (re)organização de algo que não está bem.  Há uma gama de atividades que podem ser oferecidas ao paciente, e o que não se pode perder de vista é que ele deve ter o direito a escolha. Cada paciente é único, e conseqüentemente, o manejo com cada um também deveria ser. Logicamente, é preciso um pouco de bom senso na questão da escolha da atividade, por exemplo, se o adolescente “escolher” ficar o tempo inteiro na frente do videogame, a função terapêutica da recreação se esvai. A intervenção é necessária e muitas vezes, o jovem só “descobre” o prazer da atividade lúdica com alguém as propondo.

1.3.1 O Lúdico e a Psicose.
A descrição acima citada não se faz verdadeira quando temos um sujeito com estrutura psicótica, pois esta, não muda. A estrutura é fixa. A brincadeira, neste adolescente, jamais alcançara o nível de “fazer de conta”, pois nem quando a criança chegou algum dia a simbolizar. Sobre a questão da psicose, digo que por mais “controlada” que esteja a doença, certas atividades lúdicas jamais serão por ele desempenhadas. Por certo que atividades que exigem a lógica (ou melhor, o pensamento lógico-matemático) são excelentes a esses sujeitos, inclusive é uma grande contribuição que pode se dar para que o convívio na sociedade seja possível. Em casos de severidades patológicas, atividades possíveis são as referentes a trabalhos simples (como os próprios de uma casa; lavar louça, varrer, cozinhar etc.), bem como estimulação através de jogos com regras dança, música e até mesmo a pintura. Penso que a melhor forma de contribuir com a inclusão social destes sujeitos é através da atividade lúdica. Estas atividades não necessariamente são as chamadas brincadeiras simbólicas, pois é possível promover jogos, brinquedos e divertimentos a psicóticos, especialmente àqueles que tem um grau “mais leve” da doença.
Jogos com bolas, “resta-um”, diversos jogos de tabuleiro, xadrez, pintura, desenho, entre outros são alternativas que podem ser oferecidas. Essas atividades se tornam terapêuticas a partir do momento que se tenha alguma intenção com elas.
Ao se propor desenhos a estes jovens, por exemplo, temos em mente tentar fazer com que alguma coisa do Real se ancore no simbólico, para que um sentido apareça em seus delírios. Dito em outras palavras, para que os objetos “a” que retornam no exterior como perseguidores (olhar, falar, ouvir etc.) possam vir a se tornar fantasmas.(Cordié, 1996)
Outra importante contribuição que o lúdico pode oportunizar ao adolescente psicótico é da “(re)descoberta” do que Lacan denomina de suplência, ou seja, uma atividade que contenha algum tipo de investimento passional por parte do sujeito. Quando “encontrada”, possivelmente (ou não) será repetitiva e estereotipada, sendo geralmente atividades de áreas que não tocam na posição subjetiva do sujeito, como por exemplo, a matemática, a física etc. Muitas vezes, é essa suplência que pode fazer com que o psicótico “brilhe” (CORDIÉ, 1996). A paixão mais modesta em nossos pacientes tem esse papel de suplência da função paterna que lhes permite uma base. Esse tipo de investimento que pode ir da defesa de uma causa humanitária a uma inserção banal no mundo do trabalho, contribui para fazer algo social e permite a esses sujeitos viver “como todo mundo” em uma comunidade humana que teria tendência a excluí-los. (CORDIÉ, 1996, p. 175)

1.3.2 O Lúdico e as Famílias do Adolescente Psicopatológico.
Concebemos o ato de brincar como esse espelho simbólico (e não simplesmente imaginário) que transforme o grande em pequeno, o pequeno em grande, a criança em adulto, os pais em pequenos, as crianças em pais, o traumático em dramático, o medo dos monstros em personificar (corporificar) os monstros do medo, o sofrimento corporal em uma cena de ficção. (LEVIN, 1997, p. 255).
Quando um adolescente interna em um hospital (geral ou psiquiátrico) por alguma psicopatologia, geralmente a doença está em tal grau de descontrole que a convivência entre os membros da família fica extremamente comprometida. Jerusalinski (1999) diz que a internação é estação final da doença mental.
Em se tratando das neuroses, novamente cito aqui a metáfora do Iceberg, onde o adolescente doente é a ponta emergida e a família, todo o restante, submergida. Cada família possui a sua história, os seus significantes, os seus mitos familiares que formam inscrições, que subjetivam cada sujeito de uma maneira, que estruturam cada sujeito de uma forma. A neurose que envolve cada família acaba por eclodir no adolescente. Este, tido pela família como “bode expiatório”, acaba por acatar essa demanda, agindo e atuando enquanto tal. A questão aqui colocada em pauta é: adianta tratar o adolescente e não a família, sendo ele representante de toda uma problemática familiar? Penso que enquanto o adolescente estiver nesse período e morando na mesma casa que seus pais, a resposta é não. Não porque o adolescente pode vir a melhorar no período da internação, mas ao retornar, pode vir a piorar. Não adianta tratar só sintoma, pois a causa continua lá. E se um sintoma desaparece, outra possivelmente irá aparecer. Talvez por isso se veja internações que promovem um resultado satisfatório e o paciente acaba por re-internar no hospital, às vezes com os mesmos sintomas, às vezes com estes deslocados.
Nas internações psiquiátricas infanto-juvenis no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a mãe do adolescente, praticamente  interna junto com ele. E, sem receber atendimento médico, muitas vezes a recreação terapêutica e a atividade lúdica são o único recurso disponível a ajudá-la. Ajudá-la naquilo que se vê e se diz, e naquilo (e principalmente naquilo) que não se vê e não se diz.
Não raro, nos defrontamos com casos de adolescentes que jamais sofreram qualquer tipo de interdito (ou tiveram “limites”) incluindo o interdito da Função Paterna em que o discurso parental segue relativamente um certo padrão. Estas mães (e pais também) costumam dizer que “é impossível controlar esse guri/guria” ou então, “eu não posso com ele/ela”. É sabido que uma criança que “faz o que quer”,
se vê proibida com um pseudo-poder que não lhe pertence e fica sem saber o que fazer, pois atrás de uma atitude desafiante de agressividade e rebeldia é comum descobrir uma criança confusa e perdida como se quisesse dizer, através destas atitudes, para que os adultos a sua volta a controlem para que assim se sinta protegida. É como se a fraqueza dos adultos em não conseguir sustentar um “não” os torna inaptos para a tarefa de proteção. (SUKIENNIK, 1996, p. 56).
E como já foi dito, o adolescente está reeditando todo esse conflito infantil.
É, na recreação que, muitas vezes, estes pais começam a perceber a importância de um não ao seu filho, através de simples atividades lúdicas com a recreacionista impondo o limite ou o próprio jogo impondo este limite. Aliada à psicoterapia, as brincadeiras na sala da recreação promovem a progressiva melhora do púbere, deixando estes pais muito mais auto-confiantes. Logicamente, estas atividades inicialmente são feitas separadamente por mãe e filho, mas é de fundamental importância que progressivamente, estas atividades sejam desempenhadas conjuntamente. Os próprios vínculos afetivos estão abalados quando se chega na internação e, atividades desempenhadas em conjunto reforçam estes vínculos.
Contrariamente, pais que demonstram estar “saturado” de seus filhos e não conseguem enxergar nada de positivo nele, criticando-o o tempo inteiro, muitas vezes, é na recreação, que este quadro se inverte. No momento em que o adolescente começa a receber um reforço positivo pelas atividades que ele desempenha (que pode ir da mais simples a mais complexa), os pais começam também a enxergar este “outro lado”. Através do estímulo e do incentivo da recreacionista para que este jovem “brinque”, e da interação desta nas falas da mãe, demonstrando a ela que seu filho também tem “coisas boas” é que os vínculos afetivos voltam a se (re)estabelecer.

2 Metodologia
A presente pesquisa, de cunho qualitativo foi feita em forma de estudo de caso.
Foi utilizada a técnica de observação direta intensiva, participante.
Os instrumentos utilizados foram observações, análise de documentos (prontuário) e conversas informais. A pesquisa foi feita com uma paciente de 14 anos internada pelo serviço de psiquiatria da infância e da adolescência do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre).

3. Análise dos dados: Estudo de Caso.
Demonstrarei neste estudo de que forma a atividade lúdica é capaz de contribuir no tratamento psiquiátrico de uma adolescente, além de abrir uma possibilidade à inserção do mundo das pessoas tidas como “normais”. As atividades lúdicas contribuíram também a mãe desta paciente, pois além do estabelecimento de uma relação dual, proporcionaram uma descoberta de potencialidades manuais capazes de contribuir no sustento da família
O CASO: P. T. S. é uma menina de 14 anos, solteira, procedente de Alvorada – RS que chegou ao hospital no dia 21/07/2003. Veio encaminhada pelo HPV (Hospital Presidente Vargas) por impulsividade, agressividade e ideação suicida. O objetivo da internação: investigar transtorno do humor. Seus problemas atuais e ativos são: história de episódio depressivo psicótico, mau desempenho escolar, descontrole de impulsos, retardo mental leve e situação sócio-familiar complicada. Mora com a mãe A. (32) e com três irmãos (11, 10 e 8), filhos de uma segunda relação da mãe. No mesmo terreno mora a avó materna (46), tias maternas (15, 9 e 5), um tio e a bisavó (80). P. não conhece o pai (e vice-versa), pois A. engravidou com 16 anos de um amigo do noivo. A. não “notou” que estava grávida, descobrindo quando a bolsa rompeu-se. Quando P. tinha dois anos, A. uniu-se a um companheiro (com teve 3 filhos), que agredia fisica e verbalmente a ela e a P. Há mais ou menos um ano separou-se deste companheiro.
HISTÓRIA PREGRESSA: Na 4ª. Série começou a fazer desenhos e falar sobre morte, diabo etc. As queixas da escola eram freqüentes (P. era “desligada”). É agressiva com os irmãos, ameaçou se matar com uma faca agride a mãe e esta bate nela (inclusive no rosto), A. não consegue controlá-la. P. não consegue organizar suas coisas, não quer tomar banho, nem pentear o cabelo. A. relata ainda episódios de risos e agitações. Ouvia vozes chamando seu nome, é desconfiada, envolve-se em brigas. Tem urinado na roupa, mente e às vezes, rouba dinheiro em casa. Pinta coisas fúnebres. Iniciou atendimento no ano de 2002 em Alvorada (tratamento psicofarmacológico), sendo em seguida encaminhada ao HPV, por uma tentativa de suicídio em abril de 2003. A. a leva “por conta própria” ao HSP (Hospital São Pedro) onde passa somente uma noite (A. denuncia maus-tratos à outros pacientes).
Continua atendimento ambulatorial ao HPV e em julho acorre a internação no HCPA.
A INTERNAÇÃO: No HCPA, a internação de adolescentes com transtornos psiquiátricos se dá no 5º. andar, ala sul. É uma unidade aberta que também atende pacientes da hematologia. O atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar onde estão presentes os seguintes serviços, sendo que cada um deles conta com um ou mais profissionais e estagiários: Psiquiatria da Infância e da Adolescência; Nutrição; Enfermagem; Clínica de Adolescentes; Serviço Social; Apoio Pedagógico; Psicologia; Recreação Terapêutica.
As decisões são tomadas em conjunto em reuniões semanais onde todos os serviços participam. A recreação terapêutica localiza-se no 8º. andar  desta instituição e é destinada não só aos pacientes da psiquiatria, mas também á pacientes crônicos, cirúrgicos e clínicos. A cada um destes pacientes, os objetivos da Recreação são diferenciados. De modo geral, pode-se dizer que esta tem como objetivo principal tornar a internação menos traumática ao paciente, contribuindo na humanização hospitalar.
Em primeiro momento, P. está lúcida (porém extremamente sonolenta), triste, com humor deprimido, com juízo crítico um pouco prejudicado, não aceitando a internação, ameaçadora e manipuladora com a mãe. A. mostra-se ansiosa e deprimida. Estava impregnada com a medicação, sendo a subida à recreação liberada no dia 21/07/2003, à tarde.
 Conheci P. no dia 22/07/2003 pela manhã. Meu primeiro contato com ela foi satisfatório,  estava com uma tia materna, a mãe havia ido para casa “resolver problemas”. Perguntei a ela o que gostava de fazer e o que não gostava, dizendo que nós não a obrigaríamos a fazer algo que não gostasse. Por saber de sua internação no HSP (Hospital São Pedro), tentei fazer com que P. adquirisse confiança na equipe, além de tentar estabelecer um vínculo, pois acredito que em nossa prática, é fundamental que se construa um vínculo com o paciente. P. estava “lenta” e praticamente não sorria ou mesmo respondia aos meus questionamentos (estava com excesso de medicação), disse-me apenas que gostava de pintar. Quase não olhava em meus olhos, porém mostrou-se uma menina meiga, com um belo sorriso. Permanecia sentada com a tia ou a mãe e, se não a chamássemos para participar de algum jogo, alguma atividade ou até mesmo uma roda de bate-papo, ela não o fazia. Demonstrava  uma enorme insegurança e dificilmente P. olhava nos olhos das pessoas.
P. não demonstrava preocupação com a aparência e, por mais de uma vez foi a recreação sem tomar banho, com os cabelos desalinhados, vestindo o que quer que fosse. Até mesmo de pijama P. chegou a ir à sala. Os dias foram passando e a psiquiatra responsável por ela estava, gradualmente, diminuindo a medicação. P. foi ficando mais alerta e começou a pintar com tinta têmpera na recreação. Pintava desenhos sombrios onde predominavam tons escuros. (Fig 1; Fig 2)
No dia 31/07/2003, a medicação foi suspensa quase que completamente e, neste período P. mostrava –se muito mais alerta. Sorria, conversava com nós e também com alguns outros pacientes na sala, porém sempre com a cabeça baixa. No mesmo período, A. mostrava-se muito ansiosa e deprimida. A médica de P., inicia então o tratamento psicofarmacológico com anti-depressivos. Na recreação, A. iniciava alguns trabalhos manuais e abandonava-os antes mesmo de chegar a metade. P. mostrou-se uma menina com uma grande habilidade artísitca, porém sua auto-estima estava baixa e desvalorizava absolutamente tudo que fazia. Para ela, tudo estava feio, ou horrível e por algumas vezes, rasgou desenhos e pinturas. Era costume não assinar suas criações. Começamos então a propor outras atividades à P., como modelagem em argila, brincadeiras no computador e até mesmo algumas atividades manuais. Nestas últimas, P. não se doou muito, abandonando-a rapidamente. Mas no computador ela começou a “desenhar” com o Paintbrush (programa de computador) e, um dia, colocamos como proteção de tela do computador um desenho seu. P. mostrou-se orgulhosa, ao mesmo tempo que dizia ser horrível seu desenho. Ela também mostrou interesse por modelagem em argila, onde também mostrou-se habilidosa. Fez algumas peças, onde então, colocamos em cima do balcão da sala, para expô-las. Novamente, ao mesmo tempo em que demonstrava orgulho de enxergar suas criações “enfeitando” um ambiente, dizia-nos que eram horríveis. Além do enorme sentimento de desvalia e baixa auto-estima, P. comportava-se como uma criança, apresentando características e comportamentos próprios de uma infans. Neste período, deixou de pintar com motivos fúnebres, passou a pintar vulcões, vasos etc. No dia 06/08/2003, em uma reunião da equipe multidisciplinar do SPIA , decidimos então optar por uma espécie de “reforço positivo” destas habilidades artísticas. O serviço de psicologia havia terminado o teste de QI (Wisc), cujo resultado foi: QI total: 62 = retardo mental leve com potencial limítrofe. Na reunião, P. mostra-se mais alegre, responde aos questionamentos e sorri à equipe. No dia 08/08/2003, houve uma mudança no quadro médico e, outra médica assumiu o caso, o que deixou P. chateada, pois ela havia estabelecido um vínculo com essa médica. Neste período, P. passa então a agir de outra maneira, está eufórica, xinga a mãe, faz brincadeiras de muito mau gosto com a mãe ameaçando-a de inventar coisas a seu respeito. “Espalha” o boato de que a mãe queria “se deitar” com o secretário do posto de enfermagem. Começa a aparecer a dificuldade da mãe em impor limites à filha, tratando-a mais como irmã do que propriamente filha. Foram surgindo situações que exigiam da mãe algum posicionamento enquanto tal. No início, é nossa tarefa de intervir, demonstrando a A. que era possível impor algum limite. Porém, a proposta era que sem esquecer do afeto a mãe conseguisse intervir, assumindo o controle da situação, demonstrando o quão importante é A. assumir o papel que lhe cabe. A. então se queixava que não podia bater em P. no hospital e que ela aproveitava-se disso, por isso não conseguia “controlá-la”. Através da práxis lúdica, demonstramos que as palavras obtêm, na maioria das vezes, um efeito muito maior e mais positivo do que a violência física e que P. precisava tanto de afeto e de cuidados, quanto de contenção, porém era muito difícil A. posicionar-se como cuidadora, além de protetora, pois demonstrava uma necessidade de cuidado, talvez tão grande quanto de P. Acredito ser função nossa não ignorarmos um pedido deste porte a nós dirigido (inclusive verbalizado), sendo que tentamos então, proporcionar um espaço de acolhimento a essa mãe, sem jamais esquecer que o foco era a menina, mas A. também precisava de “ajuda”, pois era, tal qual P., desorganizada com suas coisas. Oferecemos a ajuda que nos cabia (através da atividade lúdica), fazendo com que A. percebesse a sua importância enquanto mãe à P., além de estimular e apreciar sua habilidade manual que era grande. Através do incentivo e da valorização de suas produções, conseguimos oferecer este espaço de acolhimento que A. necessitava. P. começa a pintar compulsivamente, chegando a quatro, cinco desenhos por turno (9:00 – 11:30 / 14:30 – 17:30). Mostra-se mais alegre na recreação, com alguns episódios de risos sem motivo aparente, uma coisa infantil, até pueril de sua parte. A. neste período já está tranqüila e inicia a confecção de bolsas de crochê. Compartilha experiências com outras mães (que também acompanham seus filhos internados pela psiquiatria) e no dia 18/08/2003 termina sua primeira bolsa, dando-a à P, que então passa a andar diariamente com esta bolsa pelo hospital. Neste período, a menina começa a questionar A. sobre seu pai biológico. A. decide telefonar para ele e contar a verdade. Na recreação, alternando períodos de euforia e depressão, P. em momento algum pedia qualquer material que fosse, esperando sempre que alguma de nós viesse oferecer. Dizia que “não queria incomodar”. Contudo, P. começou a olhar diretamente no olho de algumas pessoas e passou também a construir uma “amizade” com uma outra paciente que também gostava de pintar. Com essa menina, P. conversava e após algum tempo passou a convidá-la para fazerem atividades juntas, pintura principalmente. (Fig 3)
No dia 14/08/2003, foi feita uma combinação com P. e A.. A. deveria anotar todos os comportamentos inadequados que P. apresentava em uma lista para ser entregue e lido por A. no dia da reunião de equipe dia 15/09/2003. P. rasga esta lista.
Na recreação, P. mostrava-se carinhosa e mesmo com a imposição de limites, controlava-se, porém, no quarto com a mãe, “explodia” e a xingava.
No dia 19/09/2003, ocorre uma briga com P., A. e uma recreacionista, pois esta fez um comentário com os pacientes sobre o uso excessivo de material da sala de recreação. A. tomou o comentário como algo pessoal, dirigido à ela e à P. A médica comenta que P. ainda não consegue controlar impulsos.
Neste período A. implica muito com a recreação, dizendo que não mais iria à sala. Houve uma conversa, onde foi colocada a necessidade dela trazer material para ela trabalhar, pois o que havia na sala era para os pacientes. P. poderia continuar pintando, mas as linhas para suas bolsas ela deveria trazer. As coisas foram se acalmando e A. começou a trazer material para confeccionar suas bolsas.
A. então terminou mais uma bolsa, que iria dar a sua outra filha e P. arranca as miçangas que havia colocado de enfeite e diz que não quer que a mãe faça nada para os outros só para ela. A recreação intervém, demonstrando que P. não poderia agir desta forma, pois A. não era exclusiva dela. Através de exemplos lúdicos, p. começa a aceitar essa possibilidade
Neste momento, ela ouve “conselhos” de um outro paciente internado (desta vez um menino) e, pela primeira vez demonstra-se envergonhada de conversar com alguém do sexo oposto, dando a impressão de estar mais perto da adolescência do que da infância. Contudo, ainda havia a necessidade de P. desenvolver sua autonomia (principalmente através da valorização de seus desenhos), afinal, ainda era difícil a ela pedir qualquer material que fosse. Penso que esse fato demonstra uma grande insegurança estando relacionado à falta de Interdito do Outro (primordial – essencialmente).
No dia 20/08/2003, A. então liga para o pai biológico de P. e conta toda a história por telefone a ele, o que o deixa perplexo, sem acreditar, e exige um exame de DNA para comprovar a paternidade. P. fica muito feliz com essa notícia, mas continua exigindo atenção exclusiva da mãe. A. e P. começam a sentar juntas na recreação para “trabalhar”, mesmo que cada uma estivesse fazendo atividades diferentes e A. começa a perceber a necessidade de impor limites à P. Um corte nesta relação começa a se efetivar e A. passa a maternar P. Neste período P. pinta uma “história”.
No dia 25/08/2003 P. fez seu primeiro passeio (este dependia da lista de comportamentos de P.), foi até sua casa e recebeu várias visitas. Voltou muito contente, feliz por ter revisto a família e os amigos do “coral”. Aliás, foi neste momento que P. começou a falar sobre um grupo, demonstrando necessidade de pertencer a algum. Verbaliza que quando sair do hospital vai cantar no coral da Igreja “junto com seus amigos”.
P. havia criado um verdadeiro “acervo” de pinturas e decidimos então organizar uma exposição na sala de recreação. Começamos a selecionar alguns trabalhos de todos os pacientes que gostariam de participar. Pedimos então que separassem aquelas produções que mais lhes agradassem e no dia 30/08/2003 iniciei a organização desta. Colamos as pinturas e desenhos em cartolinas coloridas e as expusemos pela sala de recreação. Neste mesmo dia (sábado) P. recebeu a visita do grupo de amigos da Igreja. Quando a exposição estava totalmente organizada P. demonstrou orgulho e, pela primeira vez, não criticou nenhuma de suas produções, ao contrário, convidou sua médica e a equipe de enfermagem a irem visitar a exposição. Já demonstrava muito mais autonomia e quando sua médica foi a exposição, P. a guiou e explicou todas as obras ali expostas, inclusive as de outros pacientes.
Neste período P. começou a cuidar de sua aparência, tomando banho todos os dias, penteando os cabelos e até mesmo enfeitando-se com acessórios típicos da adolescência contemporânea. Da mesma maneira, passou a demonstrar interesse pelo seu vestuário, preocupando-se em “estar bonita”. Passou também a se maquiar usando gloss, rimel e blusch. Na exposição enfeitou-se, arrumou o cabelo, maquiou-se, sempre com a bolsa que sua mãe confeccionou. P. estava mudando. Seu sorriso continuava lindo, mas seu olhar estava mais maroto.
No dia 01/09/2003 P. demonstra a preocupações a respeito de sua sexualidade e parece começar a aceitar as mudanças corporais que lhe acontecem, parece também estar em busca da identidade sexual e do estabelecimento de relações amorosas. Fala sobre “esses assuntos” hora com interesse, ora com rechaço. Ainda tinha vergonha de falar sobre “essas coisas” e ri quando olha revistas em que aparecem homens em poses sensuais.
Os motivos de seus desenhos também mudam e o tema romance faz-se mais presente. As próprias figuras humanas estão mais “idealizadas”. (Fig 4)
As brigas com a mãe diminuíram, mas P. ainda a xinga com palavrões, contudo já a obedece mais. A. também está diferente, mais tranqüila, mais alegre, mais centrada. Vizualiza soluções para seus problemas, fato que há pouco tempo não acontecia. Parece estar se organizando e mostrando-se mais segura. Essa mudança reflete-se em P.
Dia 15/09/2003 estávamos em uma roda de bate-papo, cada paciente fazendo sua atividade, cada mãe fazendo sua atividade e P. demonstra preocupação em emagrecer (havia engordado muito pelas medicações). Diz que irá fazer um regime, que não comerá mais bolacha recheada, balas ou doces. Diz que vai “se cuidar”. Vimos o quanto P. evoluiu, estando com preocupações típicas da adolescência, talvez iniciando o trabalho de luto que esta fase exige, incluindo a (des)construção de uma imagem corporal até então presa ao Outro primordial.
Sua relação com A. também estava melhor (até porque a própria A. estava melhor) e P. já conseguia controlar seus impulsos. Suas brigas com a A. neste momento já não eram tão “infantis”, P. agora brigava para construir sua identidade, estava tentando firmar-se em um grupo, tentando separar-se “da mãe da infância”.
No dia 18/09/2003 P. passou a freqüentar a escola no turno da tarde (estava na 4ª. série) e, sente-se muito mal, pois os colegas implicam com ela dizendo coisas como “a morta voltou”, “a louca está aqui”, P. não responde às provocações, o que demonstra que está conseguindo controlar seus impulsos. Ela fica chateada com seus colegas, porém diz que irá fazer novos amigos.
Penso que a estigmatização de P. no âmbito educativo era muito grande, principalmente por sua passagem pelo HSP, mas ao descobrir que podia viver como uma pessoa “normal” e que tinha um talento incomum (a habilidade artística) P. tranqüilizou-se.
Neste período a alta começa a ser programada, e tanto P. quanto A. sentem-se inseguras, não querendo deixar o hospital. Nesta fase, demonstrar que elas poderão continuar “vivendo bem” se faz imprescindível. A recreação então, sugere a A. que monte uma pequena “loja” na sua garagem para tentar vender suas produções (tanto de P. quanto de A.). Até então, A. não tinha por objetivo vender seus trabalhos, porém era uma forma de ajudar, no sustento da casa (a situação sócio-econômica era muito complicada).
Neste período, P. em uma conversa com outros pacientes mostra-se interessada em pintar o cabelo de loiro ou de vermelho. Também queria colocar pircings no corpo. A. proíbe este último, mas diz que irá pensar se deixa ou não P. pintar o cabelo. P. reage dizendo que vai colocar, e A. sustenta o “não”. Ela finalmente estava impondo o limite que P. precisava. Esta não apresenta descontrole algum (nem mesmo no quarto), ficando apenas emburrada, como uma típica adolescente. P. continua pintando e com motivos mais românticos e mostra-se cada vez mais angustiada com a proximidade de alta. Alguns dias antes de ir para casa P. pinta novamente uma figura sombria, tal qual as que pintava no início da internação. Ela estava com muito medo de ir embora.
No dia da alta, peço a P. que pinte um desenho de “despedida”. (Fig 5) P. está muito triste com muito medo de sair do hospital e A. chora quase que a manhã inteira, também muito assustada (iriam embora logo após o almoço). Na hora da despedida, mais choro, porém afirmávamos o tempo inteiro que o lugar delas não era lá dentro, que elas tinham uma vida inteira pela frente e “iriam conseguir”. Ressaltamos que a vida agora ficaria mais fácil, pois A. também estava muito melhor. A convivência melhoraria também com os irmãos de P., pois ela estava melhor.
Fui então, até o quarto de P. despedir-me dela. Encontrei-a almoçando e quando fui abraçá-la, p. chorou muito, mas disse que sabia que “seu lugar é lá fora”. A. da mesma maneira chorava muito e, antes de sair do quarto, me entregou um de suas pinturas com uma dedicação. (Fig 6).
OBSERVAÇÕES: Nota-se, como P. refletia uma sintomática familiar, onde A. estava com sérios problemas. Essa sintomática, não diz respeito às condições sócio-econômicas (que podem influenciar), mas à desorganização familiar. A. mantinha uma relação simbiótica com P. e a internação proporcionou o estabelecimento de uma relação dual, o estabelecimento de papéis. P. foi se tornando uma adolescente durante a internação, abandonando a conflitiva infantil, bem como as semas da infância. P. passou de infans a sujeito.
A atividade lúdica foi essencial ao tratamento de P., pois ela se expressava através de suas pinturas. Estas eram carregadas com suas angústias, seus medos, suas frustrações e suas alegria. Estas atividades também proporcionaram uma possibilidade de inserção a P. no mundo das pessoas tidas como “normais”. Em relação a A., proporcionaram uma fonte de sustento financeiro, além de um suporte que muito a auxiliou no período da internação.

Considerações Finais
Será que podem ser feitas considerações finais sobre este tema? Penso que esta pesquisa aqui se encerra, mas este assunto não pode ser esquecido ou ”guardado na gaveta” junto com esse trabalho, pois o que me fica são reflexões que todos que trabalham com a saúde mental dos sujeitos devem se fazer constantemente, afinal, lidamos com sujeitos, com histórias de vidas extremamente complexas (na grande maioria das vezes) que demandam uma grande disposição de nossa parte, um comprometimento e talvez (principalmente)  um olhar desprovido de preconceitos, um olhar ao sujeito que está ali á nossa frente, não á sua “doença”, um olhar que seja capaz de se colocar no “de dentro”, para conseguir enxergar o “de fora”, como Foucault tão bem nos coloca.
 A práxis lúdica envolve uma postura, um modo de ser, um modo de enxergar a vida e, através de uma teorização sobre o tema e de um estudo de caso espero ter conseguido demostrar o quanto se faz importante para o tratamento mental de adolescentes atividades deste porte. Neste caso aqui demostrado, a recreação tinha alguns objetivos - conforme anteriormente explicitado - , porém o que não se pode perder de vista é que cada paciente é único e nos traz demandas particulares.
Os pacientes e suas famílias quando chegam ao hospital estão fragilizados, e as atividades lúdicas contribuem para que uma organização se efetue, seja estabelecendo uma relação dual, seja reforçando vínculos. Muitas vezes é através dela que se consegue desconstruir a estigmatização destes sujeitos, possibilitando a inserção destes no mundo das pessoas tidas como “normais”.
Penso que é fundamental que se faça com que a internação tenha algum sentido maior do que o confinamento destes sujeitos, do que o isolamento de uma sociedade que (re)produz um discurso socialmente construído que permeia esse contexto da doença mental, e através de um forte referencial teórico aliado á observações empíricas me autorizo a dizer que as atividades com caráter lúdico são uma precioso auxílio no tratamento destes sujeitos.

Figuras

 
Referências Bibliográficas
CORDIÉ, Anny. Os atrasados não existem: Psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
DEGENSZAJN, Raquel Diaz. Pediatria e Psicanálise: A subjetividade da criança em questão. In: O BRINCAR no desenvolvimento infantil. Revista Insight, ano XII, n. 131, agosto 2002.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Foucault e o Desejável conhecimento do sujeito. In: PERSPECTIVAS do Sujeito. Revista Educação e Realidade. Porto Alegre: UFRGS, n. 24, p. 39-59, jan.-jul. 1999
FOUCAULT, Michael. A História da Loucura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972.
FOUCAULT, Michael. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 1997.
FOLBERG, Maria N. Desdobrando o avesso da Psicanálise. Porto Alegre: Evangraf, 2002.
JERUSALINSKY, Alfredo. Psicanálise e Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
KERNBERG, Otto F. Identidade, Alienação e Ideologia nos Processos Grupais da Adolescência. In: KERNBERG, Otto F. Ideologia, Conflito e Liderança em Grupos e Organizações. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
LEVIN, Esteban. A Infância em Cena: Constituição do Sujeito e Desenvolvimento Psicomotor. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
MELLO, Regina P. A Cura pela Ludoterapia. In: O BRINCAR no desenvolvimento infantil. Revista Insight, ano XII, n. 131, agosto 2002.
MRECH, Leny. Psicanálise e Educação: Novos Operadores de Leitura. São Paulo: Pioneira, 1999.
OSORIO, Luís Carlos (e col.). Medicina do Adolescente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
RAPPAPORT, Clara Regina, FIORI, Wagner Rocha, DAUS, Claudia. A idade escolar e a Adolescência. São Paulo: EPU, 1982.
RODULFO. O brincar e o significante: Um estudo psicanalítico sobre a constituição precoce. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
SUKIENNIK, Paulo B. O Aluno-problema. Transtornos emocionais de crianças e adolescentes. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996.
Publicado em 18/02/2005 11:40:00

Nadja C. Kinzel - Graduanda em Pedagogia pela PUCRS, estagiária do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço de Recreação Terapêutica.


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Atividade de registro e produção. ALFABETIZAÇÃO

 
ALFABETIZAÇÃO
 
ALAIDES NASCIMENTO NUNES PEREIRA
ANA CRISTINA FERREIRA DE SOUZA CORDEIRO
GERVÁSIO MENDES MOZINE




Atividade de registro e produção apresentada como avaliação parcial do curso de Licenciatura em Pedagogia do Ensino Fundamental das Séries Iniciais da Universidade Federal da Bahia/FACED/UFBA/IRECÊ, sob a orientação da professora Giovana Zen.


Irecê
2009

INTRODUÇÃO

Essa atividade procura identificar a importância da aplicação, no processo de alfabetização. Na interação com outras crianças através da atividade de leitura e escrita de cantigas de roda, onde os mesmos pesquisavam as palavras e algumas letras para a montagem do texto. A criança aprende a interagir produtivamente com diversos tipos de textos que circulam socialmente. Estes textos vêm gerando uma multiplicidade de tematizações, normatizações e concretizações, caracterizando-se como um importante aspecto dentre os muitos outros envolvidos no complexo de constituição da alfabetização.
Segundo Ana Teberosky e Tereza Colomer, o trabalho do professor é muito importante no processo de alfabetização, tendo em vista a sua função de descobrir o que o aluno já sabe e a aplicação mais adequada para a aquisição da escrita.

O professor alfabetizador tem uma tarefa imprescindível: descobrir o que cada aluno sabe sobre o sistema de escrita. É a chamada sondagem inicial (ou diagnóstico da turma), que permite identificar quais hipóteses sobre a língua escrita, ela permite uma avaliação e um acompanhamento dos avanços na aquisição da base alfabética e a definição das parcerias de trabalho entre os alunos. (TEBEROSKY, COLOMER, ESCOLA p.17)


Além disso, as crianças têm a oportunidade de refletir, com a ajuda do professor sobre aquilo que escrevem, demonstrando interesse e assiduidade na atividade.
Esta atividade tem como objetivo apresentar as hipóteses de escrita e leitura dos alunos, sistematizando as capacidades dos mesmos.
Refletir sobre o sistema de escrita, a partir dos desafios propostos pelos encaminhamentos da atividade diagnóstica, compreendendo a importância de trabalhar o processo de alfabetização, com a finalidade de descobrir as hipóteses de escrita e leitura dos alunos, favorecendo as aprendizagens de cada um, a partir das hipóteses de escrita.
Segundo Emília Ferreiro “a escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como código de transcrição gráfica das unidades sonoras”. (FERREIRO, 2001, 10).
A atividade diagnóstica foi realizada na sala da professora Alaídes Nascimento Nunes Pereira que trabalha na Escola Municipal Marcionílio Rosa com o 1º ano D no turno vespertino. A sala é composta de 24 alunos, sendo 01 aluno pré-silábico indefinido, 07 pré silábicos diferenciados, 03 silábicos sem valor sonoro, 05 silábicos com valor sonoro, 05 silábicos alfabéticos e 03 alfabéticos iniciais.
A turma foi dividida e cada professor ficou responsável por um grupo para realizar o diagnóstico.
É necessário que o alfabetizador saiba identificar e compreender o raciocínio feito pelos alunos, para conseguir orientá-los com sucesso nas hipóteses e na descoberta para o sistema de escrita.
O conteúdo trabalhado foi leitura, escrita e montagem de uma cantiga de roda, onde os alunos conheciam de memória, cujo o título é: Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar.



PLANEJAMENTO DA AULA

O planejamento da atividade foi realizado no dia 26 de março com os seguintes objetivos:
Ø Favorecer as aprendizagens de acordo com as hipóteses de escrita e leitura dos alunos.
Ø Promover a interação de diferentes hipóteses.
Ø Refletir sobre o sistema de escrita, a partir dos desafios propostos pelo encaminhamento.
Ø Facilitar os avanços das hipóteses de acordo com as intervenções necessárias.
Ø Compreender a importância da escrita e leitura como forma de comunicação.

CONTEÚDO: Leitura de texto: Oralidade, cantiga de roda.

ESCRITA: Montagem da cantiga de roda

1º MOMENTO:
Metodologia: Inicialmente explicar para turma que hoje estaremos realizando uma atividade de leitura e escrita e montagem de uma cantiga de roda que vocês já sabem de memória.

Proposta 1: Leitura da cantiga de roda: Se eu fosse um peixinho...
Procedimentos:
1º) Será distribuído para cada dupla, a cantiga de roda dividida em palavras (cada palavra em um cartão).
2º) Propor a cada uma das duplas que organizem a cantiga para que fique na ordem em que todos sabem contar.
3º) Informar as duplas que não poderão sobrar nenhuma palavra, pois todas pertencem à música.

Proposta 2: Escrita da cantiga de roda. Se eu fosse um peixinho...
Que os alunos possam refletir sobre o s...


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A EDUCAÇÃO PARA CIDADANIA NO ENSINO DE QUÍMICA. (momografia)

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O lixo: problemas e soluções

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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ensino de música passa a ser obrigatório na educação básica

Ensino de música passa a ser obrigatório na educação básica

O curso será implantado em pouco mais de dois meses nas escolas

Preparar conteúdo ainda é um desafio
Preparar conteúdo ainda é um desafio
Mesmo faltando pouco tempo para ser implantado o ensino de música nas escolas, estruturar e preparar profissionais ainda é um obstáculo. A consideração foi feita pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), pelo Senado e pelos representantes de artistas e professores. De acordo com a Lei 11.769, aprovada em agosto de 2008, até janeiro de 2011 será obrigatória a inserção de música nas aulas de educação artística dos ensinos fundamental e médio da rede pública e particular. O Artigo 2º, que definia a obrigatoriedade do ensino por professores com formação específica, foi vetado. Para o músico Paulo Tatit, uma das preocupações é a falta de exigência de avaliações e notas sobre as aulas. Ele explica que as escolas são muito racionais e práticas, por isso a música deve ser um contraponto e colaborar de forma subjetiva na capacidade humana de produzir cultura. O professor Juscelino de Almeida seguiu as recomendações das secretarias de cultura, que priorizam o ensino da música regional. Na escola em que leciona há inscrições de muitos alunos imigrantes, de origem latina, e para que fosse quebrado o preconceito o professor passou a usar músicas típicas durante as aulas. Segundo a pedagoga e tutora do Portal Educação, Thais Elena Carvalho, incentivar a música desde a infância pode ser uma alternativa para termos crianças com hábitos saudáveis. "A implantação da nova disciplina é muito importante para o crescimento pessoal e até profissional do indivíduo. A ação vai trazer muitos resultados positivos", diz a tutora.



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Temas de Filosofia

Maria Lucia de Arruda Aranha - Temas de Filosofia                                                            

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A Psicomotricidade nas Escolas… uma realidade a emergir

A Psicomotricidade nas Escolas… uma realidade a emergir
A entrada em vigor da nova lei da Educação Especial tem como objectivo promover a igualdade de oportunidades e a melhoria da qualidade do ensino, valorizando uma escola democrática e inclusiva, orientada para o sucesso educativo de todas as crianças e jovens. Vigorando este ideal passou a ser indispensável as escolas oferecerem aos seus alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente o apoio de que eles necessitam para acompanhar as actividades curriculares, podendo para tal recrutar técnicos especializados aos novos Centros de Recursos para a Inclusão (Instituições de Educação Especial). Como tal, a escola ao avaliar as suas necessidades, tem disponíveis entre outras terapias, a Psicomotricidade.
Ao longo do seu desenvolvimento a criança comunica com o mundo através da sua expressão corporal, tornando-se o seu comportamento reflexo do modo como interioriza as experiências vividas. Quando estas mesmas vivências se revelam insuficientes para proporcionar o seu bem-estar, a criança cria inconscientemente barreiras ao seu próprio desenvolvimento. Este sentimento de falta de bem-estar pode originar o aparecimento de frustrações, conflitos internos quando a criança se apercebe que não está à altura de responder às situações do dia-a-dia que devia ser capaz de alcançar sem dificuldades.
Como resposta a estas dificuldades surge a Psicomotricidade que ajuda a criança a reestruturar as funções motoras, emocionais, comportamentais e cognitivas que possam estar comprometidas e que se reflectem através da inadequada expressão corporal e da ineficaz comunicação não-verbal. A Psicomotricidade proporciona à criança a possibilidade de conhecer melhor o seu corpo ajudando-a perceber os sentimentos e pensamentos que tem dentro de si.
Através do trabalho com o corpo, a Psicomotricidade pretende consolidar a adaptação das vivências corporais aos estímulos vindos do exterior. O Psicomotricista desenvolve as mais diversas actividades, na sua maioria com carácter lúdico, cujo objectivo é ajudar a criança a desenvolver estratégias cognitivas e comportamentais com o intuito de fomentar a ideia de “pensar antes de fazer” e ainda “será que fiz como pensei?”.A intervenção psicomotora é indicada para qualquer idade, para crianças, adolescentes, adultos e seniores em geral, e em particular, aquelas pessoas que possam apresentar necessidades em diversas áreas:
- Ao nível corporal, como por exemplo, problemas de equilíbrio, de coordenação, lateralidade, perturbações do esquema corporal e espácio-temporais, ou outros tipos de capacidades motoras;
- Ao nível relacional, ou seja dificuldades de comunicação e de contacto, timidez, instabilidade, agressividade, hiperactividade, impulsividade, dificuldade de aceitação de regras, entre outros;
- Ou mesmo a nível cognitivo, com os problemas de atenção, de memória, de associação de imagens a objectos, de leitura, de escrita, etc..
As sessões de Terapia Psicomotora, para crianças, são baseadas em actividades lúdicas cujo o objectivo da brincadeira é interagir com as crianças para que possam crescer de forma mais equilibrada, pois pretende-se desenvolver as suas capacidades motoras, emocionais, cognitivas e sociais e equipá-las para o eficaz acompanhamento das actividades curriculares. Por outras palavras usa-se o jogo para que a criança conheça melhor o seu corpo, os seus limites e mais importante, aquilo que é capaz de fazer.

Psicomotricista
Inês Correia

fonte>http://aeahespecial.blogspot.com/2009/07/psicomotricidade-nas-escolas-uma.html

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O novo perfil do professor

O novo perfil do professor

Diferentes demandas se apresentam hoje como essenciais para quem está à frente de uma sala de aula

Anderson Moço (novaescola@atleitor.com.br) e Ana Rita Martins
Em 2008, a consultoria norteamericana McKinsey elaborou um estudo compilando o que os países com melhor desempenho em Educação fazem para atingir a excelência. Selecionar os melhores professores está entre as conclusões do trabalho, medida que começa a ser levada a sério pelo Brasil. Para estabelecer parâmetros de qualidade na hora de escolher quem vai lecionar para nossas crianças, o Governo Federal está criando o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, que deve, em 2011, servir de referência para a contratação na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental em todo o país.
O projeto inclui uma lista com 20 características que todo profissional de Educação deve ter. NOVA ESCOLA reagrupou essas habilidades na reportagem Seis características do professor do século 21, ilustrada com depoimentos de profissionais que já as desenvolveram. Vindos de diferentes pontos do país, eles explicam como o aprimoramento é importante em sua prática. "Para promover a aprendizagem dos alunos, é fundamental desenvolver-se continuamente: olhar para a própria trajetória profissional, perceber falhas, saber o que ainda falta aprender e assumir o desafio de ser melhor a cada dia", resume Angela Maria Martins, doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC).

De fato, não é mais possível dar aulas apenas com o que foi aprendido na graduação. Ou achar que a tecnologia é coisa para especialistas. Trabalhar sozinho, sem trocar experiências com os colegas, e ignorar as didáticas de cada área são outras práticas condenadas pelos especialistas quando se pensa no professor do século 21. Planejar e avaliar constantemente, acreditando que o aluno pode aprender, por outro lado, é essencial na rotina dos bons profissionais.


Essa nova configuração no perfil profissional está embasada em medidas governamentais e em pesquisas sobre a prática docente e o desenvolvimento infantil."Antes, achávamos que a principal função do professor era passar o conhecimento aos alunos.
Jean Piaget, Lev Vygotsky e outros estudiosos mostraram que o que realmente importa é ser um mediador na construção do conhecimento e isso requer uma postura ativa de reflexão, autoavaliação e estudo constantes", diz Rubens Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP).

Tudo isso, é claro, porque os alunos também não são os mesmos de décadas atrás - longe disso. Com a democratização do acesso à internet, no fim dos anos 1990, passamos a ter nas escolas crianças que interagem desde cedo com as chamadas tecnologias de informação e comunicação, o que exige um olhar diferente sobre o impacto disso na aprendizagem. Finalmente, não podemos nos esquecer de que esses estudantes conectados têm uma relação diferente com o tempo e com o mundo, o que coloca desafios para a docência. A boa notícia é que há muita gente encarando esse novo mundo nas escolas. Confira
as histórias de seis professores que estão firmes nesse caminho.

fonte;http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/novo-perfil-professor-carreira-formacao-602328.shtml

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Resumo do livro:jogos,projetos e oficinas para Educação Infantil





O livro “jogos, projetos e oficinas para a Educação Infantil”, é uma obra que mostra como a Educação Infantil deve cumprir o seu papel socializador, permitindo às crianças aprendizagens diversificada, para que possam desenvolver uma identidade própria. Observa-se que as crianças sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. E que a compreensão disso é um grande desafio para os educadores. Assim, para que as crianças possam criar, é imprescindível que lhes sejam oferecidas experiências ricas, sejam elas voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens em situações orientadas. O livro aborda temas como: a função pedagógica da Educação Infantil;objetivos gerais da Educação Infantil;o caráter formativo da avaliação nessa etapa de ensino;os registros das observações e o trabalho com os eixos temáticos(Matemática; Língua Portuguesa; Natureza e Sociedade; Música; Artes e Movimento). Apresentando uma série de orientações e sugestões de atividades que visam auxiliar o professor da Educação Infantil na organização e na prática educativa.

A função pedagógica da educação infantil é definida como um trabalho que toma a vivência e os conhecimentos prévios da criança como ponto de partida e os amplia, com o objetivo de levá-la à construção de novos conhecimentos, valorizando suas descobertas e respectivas manifestações, incentivando sua forma de comunicar-se, sua criatividade e espontaneidade, num ambiente que propicie experiências prazerosas. Nesse processo de ampliação, os conhecimentos adquiridos são uma extensão do que a criança já vinha desenvolvendo por meio de ações realizadas sobre objetos do mundo físico, bem como experiências vividas no seu universo sociocultural, incluindo-se aí a observação, a intuição e a reflexão próprias de seu desenvolvimento intelectual. É citado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, onde diz que a instituição de educação infantil, pode oferecer às crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos.
Sobre os objetivos gerais da educação infantil, é colocado que saber quais são as competências essenciais a serem desenvolvidas pelas crianças da educação infantil, é proporcionar meios de concretizar as intenções educativas estabelecidas. Em concordância com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, o livro mostra que a prática da educação infantil deve ser organizada de modo a propiciar aos alunos condições de: desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente; descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima; estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais; observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente; brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas a diferentes intenções e situações de comunicação; conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse respeito e participação frente a elas e valorizando diversidade.
Enfocando o tema “avaliação”, os autores iniciam com uma síntese de suas diversas funções: diagnosticar (avaliação diagnóstica é aquela que se tem à intenção de constatar se os alunos possuem conhecimentos e habilidades necessários as novas aprendizagens); classificar (avaliação somativa tem a função de classificar os resultados de aprendizagens alcançados pelos alunos, segundo objetivos preestabelecidos); controlar (a avaliação formativa é contínua e sistemática, realizada ao longo da ação educativa, e tem por objetivo verificar se as crianças estão atingindo as metas previstas). E que de acordo com o Referencial Curricular para a Educação Infantil, a avaliação na educação infantil surge identificada como avaliação formativa: a observação contínua e sistemática do desempenho nos processos de aprendizagens vivenciados pelas crianças. Tendo como objetivo reorientar e melhorar a ação educativa, a observação e o registro constituem o principal instrumento de que o professor da educação infantil dispõe para apoiar e aperfeiçoar a sua prática pedagógica.
A avaliação deve permitir que as crianças compartilhem das observações e registros sobre seu desempenho, vibrando com suas conquistas e tomando consciência de suas dificuldades. A avaliação deve ainda, segundo os autores, permitir que os pais, inteirados do projeto educativo da instituição, possam acompanhar de perto a prática educativa vivenciada por seu filho ou filha, compreendendo os objetivos propostos e as ações desenvolvidas. As suas características na educação infantil (global, contínua e formativa) permitem ao professor direcionar sua prática educativa, de modo à, respeitando as potencialidades das crianças, proporcionarem a elas grande quantidade, e variedade de experiências de aprendizagens, de modo que alcancem um maior desenvolvimento de suas capacidades. A observação direta e sistemática do aluno, frente ao processo de construção e reconstrução de conhecimentos, permite, ao professor, adequar a intervenção educativa e, ao aluno, a tomada de consciência de suas aprendizagens.
Sobre os registros das observações, o livro trás a título de sugestão um quadro de registros de observações, que pode ser adaptado a partir das ações educativas priorizadas pelo projeto curricular de cada escola. O quadro trás competências a serem observadas tais como: se a criança mostra confiança na sua capacidade para a realização de tarefas; se demonstra percepção de suas limitações na realização das tarefas; identifica e nomeia as principais partes de seu corpo; demonstra autonomia nos hábitos básicos de higiene e saúde; compreende mensagens orais; possui um vocabulário adequado à sua faixa etária; relaciona-se com seus colegas e adultos, mostrando atitudes de colaboração e respeito. Porém o livro adverte sobre a importância de observar as diferenças individuais dos alunos, tomando-se como parâmetro às possibilidades de aprendizagem de cada criança.
Iniciando o trabalho dos eixos temáticos, o livro mostra que as atividades de Matemática devem possibilitar aos alunos o desenvolvimento das capacidades descritas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. As crianças brincando, jogando, cantando, ouvindo histórias estabelecem conexões entre o seu cotidiano e a Matemática, entre a Matemática e as demais áreas do conhecimento e entre diferentes temas matemáticos. São diversas as ações que intervêm na construção dos conhecimentos matemáticos, como recitar a seu modo a seqüência numérica, fazer comparações entre quantidades e entre notações numéricas e localizar-se espacialmente. São ações que ocorrem fundamentalmente no convívio social e no contato das crianças com histórias, contos




Sou Eva Coutinho Matos Santana, Licenciada em Pedagogia pela Universidade Norte do Paraná.Professora da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.Escrevo artigos acadêmicos sobre Educação.




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Conversas sobre Didática,