sábado, 27 de novembro de 2010

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INDISCIPLINA ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TERMO



INDISCIPLINA ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TERMO

Rhyvera Silva Fontenele





Resumo



O presente artigo tem como objetivo estudar o tema “Indisciplina Escolar e seus termos, ocupando-se da busca de como se podem ajudar as instituições na problemática da atribuição de limites dentro e fora da escola. Esta é uma questão que provoca a indisciplina, desfavorecendo o ambiente escolar, provocando desordem e ocasionando a falta de concentração, dificultando o ato de aprender, sendo prejudicial ao Corpo docente e discente.

Palavras–chave: Indisciplina escolar, disciplina, ambiente escolar.

1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que a indisciplina ocorre, geralmente, em todos os níveis de aprendizagem, desde a Educação Infantil até as Universidades. Frente a isso se usou um estudo baseado nas Teorias Interacionistas de Vygotsky, Piaget e na teoria da disciplinarização dos corpos de Foucault.

Revelam-se várias ocasiões em que se proporcionam a indisciplina, destacam-se razões sociais, tais como: inversão de valores, modelo centrado na demanda das crianças e de adolescentes, que são influenciados pelos meios de comunicação de massa. Essas causas refletem-se na educação familiar exercida hoje em dia. Algumas proporcionam certa autonomia em que o sujeito se sente co-responsável pelos seus atos. Outras famílias deliberam limites ao sujeito, que o mesmo não é capaz de se perceber como responsável pelas suas ações.

2. INDISCIPINA ESCOLAR: CONSIDERAÇÕES
Nos termos de Silva (2004), a palavra indisciplina é habitualmente utilizada para definir todo e qualquer comportamento que seja contrário às regras, às normas, às leis estabelecidas por uma instituição, no caso em estudo, a escola. Mas, nas situações em que os alunos desrespeitam alguma norma da instituição, o ato indisciplinado poderá ser uma atitude denunciante de que algo está acontecendo de forma incorreta dentro ou fora da instituição escolar. 

A indisciplina escolar é um fato que deixou de ser um evento esporádico, tornando-se rotineiro dentro da comunidade escolar, sendo levada a acontecer por várias razões. Este conceito não permanece estático, haja vista que os processos de informação mudam com uma velocidade muito intensa, onde dependem das instituições, da sociedade e da perspectiva de cada sujeito. 

Aquino (1996) descreve que a instituição escolar encontra-se dentro de um contexto onde os limites não são mais valorizados, a mudança de valores sociais e individuais sofre a cada dia transformações, projetando, dentro das escolas, sujeitos sem disciplina. As crianças já começam a vivenciar, por meio de estímulos externos à educação familiar, o que deve ser uma pessoa que a sociedade pode vir a aceitar: beleza física, corpos esculpidos em academias, saúde medida em termos de juventude, dinheiro traduzido nas provas concretas de sua posse. Escancaram-se os resultados positivos, ignoram-se os meios. 

O homem pós-moderno sofre as tiranias da sociedade, interessa-se apenas pelo que diz respeito à sua personalidade, aos seus afetos, impulsos, às indiossincrassias (Reação individual própria e típica a cada pessoa), pois já não lhe interessa a sociedade. Isto já tem início na fase da adolescência em que o que interessa é apenas seu pequeno grupo de amigos. Não o sensibiliza a história social, apenas a sua história biográfica. Ele investe todas as suas energias em si mesmo, em sua intimidade. 

O espaço público, no caso em estudo a escola, não deve ser entendido como sinônimo de estatal, público opõe-se a privado, portanto, ao que é do indivíduo ou de um pequeno grupo de pessoas. Nesse sentido, a escola, mesmo que seja particular, é espaço público por tratar-se de um lugar referenciado na sociedade como um todo. Ao chegar ao ambiente escolar, a criança ou adolescente não reconhece o espaço sendo como público, daí surgindo diferenças e as conseqüências morais. 

O fato da indisciplina escolar confunde-se com uma possível indisciplina social disseminada, a desagregação completa dos valores, onde a crise de autoridade na educação está diretamente relacionada com a crise da tradição, e que obstrui cada vez mais a mediação que o educador deve fazer entre o velho e o novo. 

Ao abordar a questão da indisciplina pela dimensão da moralidade se faz pensar que a indisciplina seja condenável, não sendo repassada de forma a construção da conscientização, e que o aluno que segue as normas escolares de comportamento o faça porque seja necessariamente um amante das virtudes, mas que certos atos de indisciplina podem ser genuinamente morais: quando um aluno é humilhado, injustiçado. Portanto, é necessário examinar as razões de ser das normas impostas e dos comportamentos esperados. 

A questão da indisciplina é, atualmente, uma das dificuldades fundamentais quanto ao trabalho escolar. O ensino tem como um dos seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça, tumulto, falta de limites, mau comportamento, desrespeito às figuras de autoridade (professor) entre outros comportamentos. Contudo, existe a indisciplina silenciosa, que é aquela em que o aluno não transmite algo que está indo errado com ele ou com o ambiente em que se encontra, esta pode vir a ser a mais difícil de resolver, pois se esconde a forma inadequada de aprendizado. 

A temática da indisciplina passou a configurar-se enquanto um problema transdisciplinar transversal à Pedagogia, pode ser tratado pelo maior número de áreas em torno das teorias da educação. Ou seja, pode-se considerar a indisciplina como um sintoma de outra ordem que não a escolar, mas que surge no interior da ação educativa. 

Entretanto, não existiria como algo solitário, como um evento pedagógico particular e natural ou desviante do trabalho escolar. O limite entre os problemas de aprendizagem e os de indisciplina torna-se difuso – alguns comportamentos infantis ora são considerados sob um olhar, ora sob outro, embora de uma forma não manifestada, há na relação entre aprendizagem, disciplina e maturação psicológica. 

Conforme Aquino (1996), as práticas escolares são testemunhas e protagonistas dos acontecimentos históricos, que suas características e seus perfis vão adquirindo diferentes enfoques de acordo com as possibilidades socioculturais, desta forma, a indisciplina revela algo interessante sobre os dias atuais. 

Por volta de 1970, a disciplinarização de uma escola era composta pelas correções disciplinares que se faziam necessárias, principalmente em relação ao controle e a ordenação do corpo e da fala (isso, hoje em dia, não mudou muito). 

Conforme Foucault (1987, p. 119) na obra “Vigiar e Punir”, “a disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência)”. 

Com a democratização política do país e a desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Tem-se um novo aluno, um novo sujeito histórico, onde se guarda como padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. Professor e aluno tinham papéis delimitados, o primeiro um general e o segundo um soldado. 

Como aponta Foucault (1987), outro fator importante para o entendimento do contexto sócio-histórico foi a educação dos jesuítas, que, no início da colonização do Brasil, estiveram como responsáveis exclusivos pela educação brasileira durante pouco mais de dois séculos (1549-1759). A educação jesuítica era embasada no Humanismo, eles se preocupavam com a preparação dos futuros mestres ou professores. Caracterizavam-se pela sua educação religiosa, moral e intelectual, onde existia uma rigorosa disciplina. A forma de disciplinar os índios era através da leitura e da escrita, onde, através delas, poderiam catequizar e convertê-los à fé católica e aos costumes e idioma de Portugal. 

Nos colégios dos jesuítas, encontrava-se uma organização binária e maciça, as classes eram divididas em grupos de dez (as turmas poderiam ter duzentos ou mais alunos), cada grupo de dez com seu decurião (decurião: segundo nível na hierarquia militar romana, Cada decurião era responsável pelo controle de sua fileira em uma centúria romana). A organização era de guerra e de rivalidade. O trabalho, o aprendizado e a classificação eram feitos de forma justa. O que havia estritamente disciplinar representada nas escolas jesuíticas, pouco a pouco, mas, principalmente depois de 1762, o espaço escolar se desdobra e as classes tornam-se homogêneas. Elas agora só se compõem de elementos individuais que vêm se colocar uns ao lado do outro sob os olhares do mestre. 

Pode-se perceber que, desde o início de século XVI, a disciplina passou a configurar-se como peça fundamental nas relações educativas, sejam elas institucionalizadas ou não, sempre existiu uma relação entre o poder e o saber. Foucault (1987, p. 27) considera que “poder e saber estão diretamente implicados, que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder”. 

A história da indisciplina escolar e sua evolução passam por diversas transformações, os seus respectivos métodos e meios pelos quais a escola utilizava para impor a disciplina eram de alguma forma coercitiva e punitiva, ou seja, havia certa inflexibilidade ou inexperiência profissional. Esses meios eram utilizados pela escola desde os séculos passados até as mais modernas instituições educacionais. 

A indisciplina sempre foi um entrave à política educacional, em que eventos indisciplinares ocorrem há séculos, e que, hoje, mais do que nunca se ouve falar disso desde a educação infantil até os cursos superiores. Mas é, na fase do ensino fundamental e médio, que ela se fez mais presente. 

Desde os tempos mais remotos, a escola se organizou num sistema corretivo no qual se utilizava de vários meios para trabalhar a indisciplina. Cada época criou suas próprias leis, instituindo e usando os mais variados processos, tais como: palmatórias, castigos no canto da parede, escrever várias vezes o que não deve fazer, entre outras punições. Algumas dessas punições tinham como objetivo a motivação do aluno, mas que, em alguns casos, isso não ocorria. O objetivo das punições é fazer com que os indivíduos integrem-se à sociedade, tornando-os dóceis e úteis, ou seja, readaptar pessoas. 

Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder, foi fácil encontrar sinais de uma atenção dedicada ao corpo – ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde e se torna hábil. A coerção disciplinar estabelece, no corpo, elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma denominação acentuada. Não se quer colocar aqui que a história das instituições disciplinares como verdade absoluta, mas de localizar apenas uma série de exemplos de técnicas que, de uma ou outra forma, se generalizam. 

Na formação jesuítica da disciplina os elementos se definem pelo lugar que ocupa na série e pela distância que separa um dos outros. Seguindo o argumento de Foucault (1987), a tática disciplinar se situa sobre o eixo que liga o singular ao múltiplo. Ela permite ao mesmo tempo a caracterização do indivíduo, e a colocação em ordem. Ela é uma condição para o controle e o uso de um conjunto de elementos distintos. As escolas herdaram formas de disciplinar os alunos em sala de aula, formas essas que, de uma maneira ou de outra, servem para punir os alunos de seus erros cometidos, dentro ou fora da escola e da sala de aula. 

Observa-se o quadro dos últimos dez a quinze anos, que muitas medidas têm sido realizadas para a formação disciplinar dentro da escola, como a promoção automática, salas de apoio pedagógico, aulas de recuperação no contra turno, encaminhamento de alunos para serviços psicopedagógicos. 

Os fatores que levam à indisciplina podem ser causados por vários indícios encontrados dentro da sociedade, escola, família, instituições que são responsáveis pelo desenvolvimento da moral e da ética no indivíduo. Parafraseando Freud (apud SILVA, 2004, p. 260) “vamos deixar claro para nós qual deve ser a tarefa mais imediata da Educação. [...] Logo, a Educação tem que inibir proibir, reprimir, e assim fez em todos os tempos”. Ou seja, seria errôneo pensar que a educação pode deixar livre o desenvolvimento intelectual dos indivíduos. 

Na atual sociedade, pais e escolas não querem assumir a responsabilidade de onde podem surgir os atos indisciplinados. Fazendo uma análise mais generalizada, o problema poderá ser encontrado nas mais variadas formas de organização da sociedade, onde ela é concretizada pela mediação de diferentes agentes. 

Sendo assim, faz-se necessário verificar quais os fatores podem ser encontrados como disciplinadores da educação do sujeito. A sociedade, em especial os educadores desejam uma disciplina ativa e consciente, marcada pelo respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, interação, participação, formação de caráter e de cidadania. E isto começa em casa com os pais, que têm como função primordial transmitir o saber fazer à criança e ao adolescente, eles são os primeiros modelos. 

Segundo Silva (2004), o termo indisciplina quase sempre é empregado para designar todo e qualquer comportamento que seja contrário às regras e normas estabelecidas por uma instituição. Nas escolas, todas as vezes que os alunos desrespeitam alguma norma são vistos como indisciplinados, sejam tais normas e regras impostas ou vinculadas arbitrariamente pela escola (equipe pedagógica e professores), ou elaboradas democraticamente. 

A indisciplina está intimamente ligada ao termo ética, que quer dizer etimologicamente costume, reflexão para a moral. Este último tem em seu significado um conjunto de regras normas ou leis que determinam ou orientam comportamentos dos indivíduos numa determinada sociedade. Dentro da escola, o conceito de indisciplina depende do contexto em que a escola está inserida e que tipo de relação ela se utiliza para dispor a disciplina. 

Em uma escola que se apropria da forma tradicional e onde os alunos têm que seguir regras, contratos pedagógicos pré-estabelecidos, a indisciplina manifestada por um indivíduo ou um grupo poderá estar revelando um sinal de rebeldia, intransigência ou desacato à autoridade. Ou também como uma espécie de incapacidade do aluno (ou do grupo) em ajustar-se às normas e padrões de comportamento esperados. 

Pensar a indisciplina escolar de forma única, que pode ser gerada somente no plano individual ou coletivo, seria cair em um determinismo, e não verificar quais as áreas em que ela se encontra. 

O fenômeno não poderá ser pensado somente como um estado ou predisposição particular, que de acordo com seus determinantes psicossociais, cujas raízes encontram-se no início da noção de autoridade do sujeito. Também está ligada ao reconhecimento de autoridade externa (no caso, o professor), onde se pressupõe uma moral mais precisamente anterior à escolarização. Por isso, faz-se necessário recorrer a fatores antropológicos, históricos, psicológicos, políticos, econômicos e sociais, dentre outros. Têm-se dois nortes para as razões de indisciplina, questões mais articuladas ao tema da ética (razões sociais) e outras ligadas à política educacional. 

Uma forma de avançar nos estudos da indisciplina escolar seria através do que ocorre em toda realidade escolar, na relação professor-aluno-escola, pois a prática psicopedagógica é estruturada a partir dos quadros de referência ideológicos, morais e sociais de todos os atores educacionais envolvidos. 

Os sujeitos se apropriam diferentemente das coisas, dos conhecimentos, das práticas, dos saberes e das normas, em cada âmbito institucional. Alguns, mesmo não acreditando nas regras, deles se apropriam porque consideram necessárias as integrações entre os sujeitos em geral. Também há os que se apropriam das normas vigentes, concretizando as sanções e mecanismos que efetivam a manutenção da disciplina. 

Continuando com o pensamento de Silva (2004), várias são as razões que levam os alunos à indisciplina dentro da escola. A princípio, têm-se as causas sociais, que contribuem para o aumento da indisciplina e que está intimamente ligada ao desaparecimento ou a diminuição da importância de certos valores morais onde os pais não conseguem fazer com que seus filhos entendam o que sejam valores essenciais à boa convivência em grupo e não colocam uma rotina com regras, o que dificulta a vida do aluno dentro da escola. 

Quando a palavra limite significa valores, tende-se erroneamente a achar que se pode substituir por significados novos, e em se tratando de crianças e adolescentes agravam-se, pois eles não têm a autonomia de discernimento, família e escola são as instituições que internalizam os significados de limite. 

La Taille (apud Silva, 2004) aponta outro fator relevante para a causa da indisciplina que é a passagem de um modelo de sociedade adultocêntrico para um modelo centrado na demanda das crianças e dos adolescentes, em que pais e educadores não estão conseguindo passar a autoridade saudável para as crianças. Dessa forma, pode-se estabelecer que, nem o modelo centrado na criança, nem o modelo centrado no adulto são corretos, mas é preciso construir e adotar um modelo que tenha a interação como ponto central, já que o segredo do processo ensino-apredizagem está no entendimento de que o educador e educando são inseparáveis. 

Silva (2004) complementa que outro aspecto favorável para o aumento da indisciplina é a influência dos meios de comunicação em massa. A função, antes quase somente que de responsabilidade única da escola de socializar o conhecimento, passou também a ser desempenhada pela televisão, qual seja o seu sentido: informativo (veicular conteúdos e valores que devem ser priorizados) quanto formativo (a própria maneira de desenvolver o raciocínio e agir consigo e com as demais pessoas). 

Para Silva (2004), o espaço reservado à família e à escola torna-se cada vez mais minúsculo, onde não só a transmissão de valores (morais e éticos) e a formatação da cabeça das crianças e adolescentes são repassadas de formas estranhas ou de alienação. Os mesmos meios de comunicação refletem a problemática da indisciplina e da violência nas escolas, com o aumento exorbitante da ocorrência de violência real e virtual, e como tais tipos são apresentados, deixando dúvidas acerca do que é certo ou errado nas cabeças das crianças e dos adolescentes. 

Foucault (1987) explica que, antigamente, existiam sanções disciplinadoras, tais como: uso de reguada, puxões de orelha, palmatórias, advertir verbalmente, encaminhamento à direção, suspensão do aluno e/ou expulsão da escola, que poderiam resolver os problemas de indisciplina. 

Nos dias atuais, percebe-se que essas sanções, em algumas vezes, não têm uma eficácia, já que existe uma falência das formas tradicionais de se impor disciplina. Essas sanções (salvo algumas antipedagógicas) parecem não funcionar, pois os alunos não lhes dão mais importância e algumas parecem ser prêmios. 

Outro aspecto ligado à crise em relação aos objetivos da educação formal, seguindo o argumento de Foucault (1987), é que a maioria dos educadores acredita ser a única fonte de conhecimentos que os alunos encontram, pois não levam, em consideração, outros meios de aprendizagem (TV, revistas, Internet, jornais) que são levados para dentro da sala de aula. Ou seja, ou o educador tem clareza da diversidade de conhecimentos que seu aluno carrega e que ele deve descer do pedestal e ir ao encontro do aluno, ou as questões de indisciplina geradas por este fator tende a ter seu alargamento. 

A função do professor está muito aquém de auxiliar na construção do conhecimento, onde se encontra a justificativa dessa mudança nas relações estabelecidas entre os atores educacionais. É do conhecimento de todos que a formação e as condições de trabalho ainda continuam além do desejável, isto reflete na formação profissional e nas condições materiais e psíquicas para o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem, onde gera certa indisciplina, visto que alguns professores ainda não se encontram preparados para lidar com crianças e adolescentes, gerando certo desinteresse com a profissão e descompromisso com a formação. 

Na visão de Rego (apud AQUINO, 1996), este apresenta elementos importantes para o estudo da indisciplina escolar que são: a escola, os alunos e os professores. 

A escola é o local onde acontece o saber institucionalizado (lembrando que o saber também é proveniente de outras fontes). Além de informar, ela agora tem a função de educar, é o estágio intermediário fundamental entre família e sociedade. A disciplina na escola não deve ser pensada essencialmente como ‘falhas’ psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar em que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar em que o indivíduo ocupa e o que significa para ele. 

A dicotomia das práticas escolares prioriza conteúdos sobre as relações existentes na escola, fragmentando os atos pedagógicos, fazendo com que a escola corra o risco de não levar em consideração a heterogeneidade e a singularidade que o cotidiano existente e a escola revelam. Dessa forma, a prática de sala de aula deveria ser pensada no âmbito de uma psicopedagogia sistêmica, focalizando o todo para cuidar das partes. 

Para se poder entender o contexto das práticas que fazem o dia-a-dia das escolas que envolvem a disciplina, pode-se partir do que ocorre em toda realidade escolar. Isto porque a prática psicopedagógica é estruturada a partir dos quadros de referenciais ideológicos, morais e sociais de todos os atores envolvidos no processo educacional (pais, coordenadores/diretores, professores, alunos), onde esses quadros se cruzam com valores que dão sentido às atitudes e aos comportamentos dos alunos. 

Assim, as práticas docentes, estruturadas a partir desse cruzamento (processo educacional x valores), necessitam ser analisadas quando se evocam as questões disciplinares no âmbito escolar. As escolas que incentivam um espírito familiar cuja dinâmica se refere a uma história e a uma cultura que valorizam a formação humana e a disciplina, têm capacidade muito maior de promover o envolvimento dos profissionais e a adesão dos alunos às regras da escola. 

Estudar a escola, a partir da análise do seu cotidiano, significa compreender a ação dos sujeitos que nela se movimentam perceber a realidade específica através de suas articulações com a realidade macrossocial. Ezpelita e Rockwell (apud AQUINO, 1986, p. 65) “através das analises do cotidiano se pode entender melhor a natureza dos processos constituídos da realidade escolar, e, ao mesmo tempo, articular com estes processos sociais mais amplos que ocorrem em determinado momento histórico.”. 

Os processos dicotômicos vão construindo, nas escolas, uma cultura disciplinar, cultivada no espaço cotidiano da vida das crianças e adolescentes fora da escola. Ingressar na escola significa deixar de lado a diversidade do espaço livre vivido por eles, adentrando num espaço organizado, para que todos aprendam da mesma forma (espaço de filas, de cabeça atrás de cabeça, da rotina de horários, do tempo limitado para cada atividade etc). 

Pode-se ter, também, uma nova concepção de comportamento dos alunos que, de acordo com Passos (1996, p.123), “vão impondo á escola à necessidade de mudanças”. Pois um saber docente que se constitua como superação de tais práticas, pode propiciar a construção da autonomia do sujeito. Nada mais produtivo para evitar a indisciplina do que um ambiente favorável ao ensino e a aprendizagem, com objetivos ligados à socialização dos alunos, no qual se respire confiança e estímulo, que seja receptivo e sereno, no qual não se rejeite a ação corretiva sobre os comportamentos que signifique quebra de regras e limites, e desrespeito às pessoas da instituição escolar. 

As quebras de limites que se dão pela falta de limites por parte de alguns adolescentes e crianças são refletidas na escola, onde tem regras a serem seguidas e responsabilidades a cumprir. É conveniente lembrar que qualquer instituição possui regras de convivência, com as quais se podem concordar ou não, aceitar ou modificar. A explicitação das regras escolares é um aspecto essencial na organização do trabalho em sala de aula, a participação dos alunos pode auxiliar o estabelecimento de boas relações interpessoais entre professores e alunos. 

Estes fatores revelam-se em um quadro muito comum hoje em dia, o quanto as crianças e os adolescentes estão incapazes de compor e executar tarefas, e não demonstram respeito à figura do professor, que é uma autoridade fora de casa. Segundo Tiba (2003) “o conflito explode em classe porque ali há vários alunos vítimas da embriaguez relacional: os adolescentes excedem quando estão em turmas”. 

Os traços de cada indivíduo estão relacionados ao aprendizado, à apropriação do modo de vida de seu grupo, ou seja, de sua família, que exerce grande influência sobre a criança e o adolescente. O sujeito, ao nascer, não se encontra com sua moral definida. Esta vai sendo desenvolvida quantitativa e qualitativamente, mas, para que isso ocorra, é necessário que o organismo amadureça, interaja com os objetos físicos e outras pessoas, que seja submetido a um processo educativo e adapte-se ao meio físico e social. 

Piaget (apud SILVA, 2004) descreve o desenvolvimento moral, de forma a evidenciar o fenômeno de indisciplina, de três formas. Primeiro, partindo de um estado de anomia, onde se caracteriza pela ausência da moral, a priori, as crianças não submetem seus comportamentos às regras coletivas, visando apenas à satisfação motora e simbólica. 

Partindo da descrição de Piaget (apud SILVA, 2004) sobre o desenvolvimento juízo moral da criança, a atitude dos pais e suas práticas educativas são aspectos que contribuem e interferem no desenvolvimento individual e influenciam o comportamento do sujeito na escola. Pode-se então considerar, estes aspectos como uma das causas para o fenômeno da indisciplina escolar, visto que a criança e o adolescente absorvem aspectos familiares irrelevantes. 

A família, antes extensa, incluindo parentes e agregados, transformou-se em uma família nuclear, pai-mãe-filhos. Ela não se constitui mais como modelo familiar, pois existe a dissolução deste modelo. Algumas crianças são filhos de pais separados, que moram ou com os pais, ou com a mãe e o marido da mãe, ou com o pai e a mulher do pai. Assim, as relações de autoridade e limites ficam comprometidas, pois as crianças não sabem a quem recorrer e quais as regras a seguir. Em alguns momentos, estão em ambientes que propiciam disciplina e, em outros, estão em ambientes que propiciam liberdade e a falta de imposição de limites. 

O problema da indisciplina escolar não deve ser encarado como alheio pela família e pela escola, já que, na sociedade atual, são as principais agências educativas. A família exerce grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e suas práticas educativas são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e influenciam o comportamento da criança na escola. 

Seria errôneo pensar em um único fator responsável pela temática que envolve a indisciplina escolar, já que foram estudadas as interferências sociais e familiares. É de muita clareza que a maior tarefa que se atribui à escola, como instituição socializadora do conhecimento, refere-se a uma educação de valores. 

Diante dessa afirmação, faz-se necessário refletir acerca da função e das relações entre família e escola, educador e educando. Estas relações necessitam ser reelaboradas no intuito de melhor se apropriarem dos caminhos para uma educação de qualidade. 

O psicopedagogo, que trabalha com as relações de aprendizagem entre educadores e educando, legitima sua presença nas escolas através das relações estabelecidas dentro dela, pois a escola sozinha não pode trabalhar e nem resolver de um dia para o outro o problema da indisciplina escolar. 

Deixando claro que o psicopedagogo também não fará sozinho este trabalho e nem irá sanar de vez essas dificuldades, esse é um processo que precisa ser trabalhado de acordo com as necessidades que aparecem, pois as causas e suas influências são diversas.

Autora
Pedagoga, Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Pós-graduada em Coordenação Pedagógica. Atualmente encontra-se exercendo a função de Coordenadora Pedagógica de EJA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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BARBOSA, Laura Monte Serrat. Psicopedagogia: um diálogo entre a Psicopedagogia e a educação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2006.

BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

FOUCAULTMichel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.

FRANCISCO, Maria de Fátima S. Autoridade e contrato pedagógico em Rosseau. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Autoridade e Autonomia na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

GASPARIAN, Maria Cecília Castro. Psicopedagogia institucional: um modelo relacional sistêmico. São Paulo: Lemos, 1997.

LA TAILLE, Yves de. Autoridade na escola. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Autoridade e Autonomia na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

PASSOS, Laurizete Ferragut. A indisciplina e o cotidiano escolar: novas abordagens, novos significados. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 9. ed. São Paulo: Summus, 1996.

REGO, Teresa Cristina R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva Vygotskiana. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 9. ed. São Paulo: Summus, 1996.

SILVA, Nelson Pedro. Ética, indisciplina e violência nas escolas. Petrópolis: Vozes, 2004.




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