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sábado, 4 de abril de 2020
Hoje é dia de jejum de Ekadasi, ou Kamada Ekadasi 04/04/2020
Srila Suta Goswami disse: "ó sábios, permitam que eu ofereça minhas humildes e respeitosas reverências ao Supremo Senhor Hari, Bhagavan Sri Krishna, o filho de Devaki e Vasudeva, por cuja misericórdia posso descrever o dia de jejum que remove todos tipos de pecados. Foi para o devotado Yudhishthira que o Senhor Krishna glorificou os vinte e quatro Ekadashis primários, que destroem pecado, e agora vou recontar uma dessas narrativas para vós. Grandes sábios eruditos selecionaram estas vinte e quatro narrativas dos dezoito Puranas, pois são realmente sublimes.
Yudhishthira Maharaja disse: "ó Senhor Krishna, ó Vasudeva, por favor aceite minhas humildes reverências. Por favor descreva para mim o Ekadashi que ocorre durante a parte iluminada do mês de Chaitra (mar/abr). Qual é seu nome e quais são suas glórias?"
O Senhor Sri Krishna respondeu: "ó Yudhishthira, por favor ouça-Me atentamente enquanto relato a antiga história deste sagrado Ekadashi, uma história que Vasishtha Muni certa vez relatou para o Rei Dilipa, o bisavô do Senhor Ramachandra.
O Rei Dilipa perguntou ao grande sábio Vasishtha: "ó brahmana sábio, desejo ouvir sobre o Ekadashi que vem durante a parte iluminada do mês de Caitra. Por favor descreva-o para mim."
Vasishtha Muni respondeu: "ó rei, tua indagação é gloriosa. De bom grado contarei o que desejas saber. O Ekadashi que ocorre durante a quinzena clara de Caitra é chamado Kamada Ekadashi. Ele consome todos pecados, assim como um incêndio florestal consome um suprimento de lenha seca. É muito purificante, e confere o mais alto mérito a quem o observa fielmente. ó rei, agora ouça uma antiga história, que é tão meritória que remove todos nossos pecados simplesmente por ser ouvida.
Uma vez, há muito tempo atrás, existia uma cidade-estado chamada Ratnapura, que era decorada por ouro e jóias e na qual serpentes de afiadas presas desfrutavam da intoxicação. O Rei Pundarika era o governante deste mais belo reino, que contava com muitos Gandharvas, Kinnaras, e Apsaras entre seus cidadãos.
Entre os Gandharvas havia Lalita e sua esposa Lalitã, que era uma dançarina especialmente maravilhosa. Estes dois tinham intensa atração um pelo outro, e seu lar era cheio de grande riqueza e finos alimentos. Lalitã amava seu marido muito, e por sua vez ele também constantemente pensava nela em seu coração.
Uma vez, na corte do Rei Pundarika, muitos Gandharvas estavam dançando e Lalita estava cantando sozinho, sem sua esposa. Não pode evitar de pensar nela enquanto cantava, e por essa distração perdeu-se na métrica e melodia da canção. De fato, Lalita cantou indevidamente o final de sua canção, e uma das serpentes invejosas que estava presente na corte do rei queixou-se ao rei que Lalita estava absorto em pensar na sua esposa em vez de no seu soberano. O rei ficou furioso ao ouvir isso, e seus olhos ficaram vermelhos de raiva. De repente ele berrou: "ó tolo valete, porque estavas pensando luxuriosamente numa mulher em vez de pensar reverentemente em teu rei enquanto realizavas teus deveres reais, eu te amaldiçôo imediatamente a virares um canibal!"
ó rei, Lalita imediatamente virou um temível canibal, um grande demônio comedor de gente, cuja aparência aterrorizava todo mundo. Seus braços tinham oito milhas de comprimento, sua boca era grande como uma enorme caverna, seus olhos eram imponentes como o sol e a lua, suas narinas assemelhavam-se a enormes fossos na terra, seu pescoço era uma verdadeira montanha, seus quadris tinham quatro milhas de largura, e seu corpo gigantesco media sessenta e quatro milhas de altura. Assim o pobre Lalita, o amoroso cantor Gandharva, teve que sofrer a reação de sua ofensa contra o Rei Pundarika.
Vendo seu marido sofrendo como um horrível canibal, Lalitã foi tomada de tristeza. Pensava: "Agora que meu querido marido está sofrendo os efeitos da maldição do rei, que será de mim? Que devo fazer? Para onde devo ir? Desse modo Lalitã lamentava dia e noite. Em vez de gozar da vida como uma esposa de Gandharva, ela tinha que vagar por toda selva densa com seu monstruoso marido, que caíra completamente sob o encanto da maldição do rei e estava inteiramente ocupado em terríveis atividades pecaminosas. Ele perambulava vacilante pelas regiöes inóspitas, um ex-semideus Gandharva belo, agora reduzido a um comportamento fantasmagórico de comedor de gente. Totalmente transtornada ao ver seu querido marido sofrer tanto em sua horrorosa condição, Lalitã começou a chorar enquanto seguia sua louca jornada.
Por boa fortuna, entretanto, Lalitã em certo dia encontrou o sábio Shringi. Estava sentado num pico da famosa Colina Vindhyacala. Aproximando-se dele, imediatamente ela ofereceu ao asceta suas respeitosas reverências. O sábio notou-a curvando-se diante dele e disse: "ó mais bela, quem és? De quem és filha, e porque vieste até aqui? Por favor conta-me tudo de verdade."
Lalitã respondeu: "ó grande sábio, sou filha do grande Gandharva Viradhanva, e meu nome é Lalitã. Vago pelas florestas e planícies com meu querido marido, que o Rei Pundarika amaldiçôou a se tornar um demônio comedor de gente. ó brahmana, estou grandemente aflita por ver sua forma feroz e atividades terrívelmente pecaminosas. ó mestre, por favor conta-me como poderei realizar algum ato de expiação em prol de meu marido. Que ato piedoso poderei fazer para libertá-lo de sua forma demoníaca, ó melhor dos brahmanas?"
O sábio respondeu: "ó donzela celestial, existe um Ekadashi chamado Kamada que ocorre na quinzena luminosa do mês de Caitra. Está chegando em breve. Se observares este jejum de Ekadashi de acordo com suas regras e regulaçöes e deres o mérito que assim acumulares a teu marido, ele será liberto da maldição de imediato." Lalitã ficou muito contente ao ouvir estas palavras do sábio.
Lalitã observou fielmente o jejum de Kamada Ekadashi segundo as instruçöes do sábio Shringi, e no Dvadashi el lo cantor celestial adornado com muitos ornamentos lindos. Agora, com sua esposa Lalitã, ele podia desfrutar de mais opulência que antes. Tudo isso se dera pelo poder e glória do Kamada Ekadashi. Afinal o casal Gandharva embarcou num aeroplano celestial e ascendeu ao céu."
O Senhor Sri Krishna continuou: "ó Yudhishthira, melhor dos reis, quem quer que ouça esta maravilhosa narrativa deve certamente observar o sagrado Kamada Ekadashi ao melhor de sua capacidade, por conceder mérito tão grande ao devoto fiel. Portanto descrevi suas glórias para ti em benefício de toda humanidade. Não há Ekadashi melhor que Kamada Ekadashi. Ele pode erradicar até mesmo o pecado de matar um brahmana, e também nulifica maldiçöes demoníacas e limpa a consciência. Em todos três mundos, entre as entidades móveis e imóveis, não existe dia melhor."
Assim termina a narrativa das glórias de Caitra-sukla Ekadasi, ou Kamada Ekadasi, conforme aparece no Varaha Purana.
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sexta-feira, 20 de março de 2020
PodCast Papamocani Ekadasi historia do jejum 9 hoje é dia de jejum de Ekadasi 20/03/2020
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Hoje é dia de jejum e PAPAMOCANI EKADASI 20/03/2020.
Yudhisthira Maharaja disse: "ó Senhor Supremo, ouvi de Ti a explicação sobre Amalaki Ekadasi, que ocorre durante a quinzena do mês Phalguna (fev/mar), e agora desejo ouvir sobre o Ekadasi que ocorre durante a quinzena obscura do mês Caitra (mar/abr). Qual é seu nome, ó Senhor, e que resultados pode-se obter por praticá-lo?"
A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna, replicou: "ó melhor dos reis, para benefício de todos com prazer descrever-te-ei as glórias desse Ekadasi, que é conhecido como Papamocani. A história desse Ekadasi certa vez foi narrada ao imperador Mandhata por Lomasa Rishi. O Rei Mandhata dirigiu-se ao rishi: "ó grande sábio, para beneficiar o povo todo, por favor conte-me o nome do Ekadasi que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Caitra, e por favor explique o processo para observá-lo. E ainda, por favor descreva os benefícios que se aufere por observar este Ekadasi."
Lomasa Rishi replicou: "O Ekadasi que ocorre durante a metade obscura do mês de Caitra se chama Papamocani Ekadasi. Para os devotos fiéis remove as influências de fantasmas e demônios. ó leão dentre os homens, este Ekadasi também confere as oito perfeiçöes da vida, realiza todo tipo de desejos, purifica nossa vida de todas reaçöes pecaminosas, e torna a pessoa perfeitamente virtuosa.
Agora por favor ouça o relato histórico referente a esse Ekadasi e Citraratha, o chefe dos Gandharvas (músicos celestiais). Durante a estação primaveril, na companhia de dançarinas, Citraratha certa vez acho uma linda floresta cheia de grande variedade de flores desbrochando. Ali ele e as garotas juntaram-se a outros Gandharvas e muitos Kinnaras, além do próprio Senhor Indra, o rei do céu, que estava desfrutando de uma visita por lá. Todos acharam que não havia jardim melhor que essa floresta. Muitos sábios também estavam presentes, realizando suas austeridades e penitências. Os semideuses particularmente gostavam de visitar esse jardim celestial durante os meses de Caitra e Vaisakha (abr/mai).
Um grande sábio chamado Medhavi residia ali naquela floresta, e as dançarinas muito atraentes sempre tentavam seduzí-lo. Certa moça famosa em particular, chamada Manjughosha, concebia muitas maneiras de atrair o exaltado muni, porém por grande respeito pelo sábio e medo de seu poder, que fora obtido durante muitos e muitos anos de ascese, ela não se aproximava muito dele. Num lugar a duas milhas do sábio, armou uma barraca e começou a cantar muito docemente enquanto tocava uma tamboura. O próprio Cupido ficou excitado quando viu e ouviu-a tocar tão bem e sentiu a fragância de seu unguento de pasta de sândalo. Lembrou de sua própria experiência mal-afortunada com o Senhor Shiva e decidiu se vingar seduzindo Medhavi. (1)
Usando as sombrancelhas de Manjughosha como arco, seus olhares como corda, e seus olhos como flechas, e seus seios como mira, Cupido aproximou-se de Medhavi a fim de tentá-lo a quebrar seu transe e seus votos. Em outras palavras, Cupido ocupou Manjughosha como sua assistente, e quando esta olhou para aquele jovem sábio poderoso e atraente, ela também ficou agitada pela luxúria. Vendo que ele era altamente inteligente e erudito, vestido que estava com um cordão de brahmana branco e limpo drapeado sobre seu ombro, segurando o bastão de sannyasi, e atraentemente sentado no ashrama de Cyavana Rishi, Manjughosha veio para diante dele.
Começou a cantar sedutoramente, e os sininhos de seu cinto e das tornozeleiras, junto com os braceletes em seus pulsos, produziam uma sinfonia musical encantadora. O sábio Medhavi ficou encantado. Compreendeu que essa bela jovem desejava unir-se com ele, e naquele instante Cupido aumentou sua atração por Manjughosha ao soltar suas poderosas armas de sabor, toque, visão, aroma e som.
Lentamente Manjughosha aproximou-se de Medhavi, seus movimentos corpóreos e doces olhares atraindo-o. Graciosamente depositou sua tamboura e abraçou o sábio com seus dois braços, assim como uma liana se enrosca ao redor de uma árvore forte. Cativado, Medhavi abandonou sua meditação e decidiu desfrutar com ela - e instantâneamente sua pureza de coração e mente abandonaram-no. Esquecendo-se da diferença entre a noite e o dia, foi com ela para desfrutar durante longo, longo tempo. (2)
Vendo que a santidade do jovem yogui tinha se erodido seriamente, Manjughosha decidiu abandoná-lo e retornar a casa. Disse ela: "ó grande sábio, por favor permita-me retornar para casa."
Medhavi retrucou: "Mas apenas chegaste, ó lindeza, por favor fica comigo pelo menos até amanhã."
Temerosa dos poderes yoguicos do sábio, Manjughosha ficou com Medhavi durante precisamente cinquenta e sete anos, nove meses, e três dias, mas para Medhavi todo esse tempo parecia como um momento. Novamente ela perguntou-lhe: "Por favor permita-me ir embora."
Medhavi respondeu: "ó querida, ouça-me. Fique por mais uma noite apenas, e então poderá ir embora amanhã de manhã. Só fique até depois que eu tiver realizado meus deveres matinais e cantado o sagrado Gayatri mantra. Por favor espera até lá."
Manjughosha ainda estava temerosa pelos grandes poderes yoguicos do sábio, mas forçou um sorriso e disse: "Quanto tempo levará para terminar seus rituais e hinos matinais? Por favor seja misericordioso e pense em todo tempo que já passaste comigo."
O sábio refletiu nos anos em que estivera com Manjughosha e então falou muito espantado: "Pudera, passei mais que cinquenta e sete anos contigo!" Seus olhos ficaram vermelhos e começaram a emanar faíscas. Agora ele enxergava Manjughosha como a morte personificada e destruidora de sua vida espiritual. "Mulher velhaca! Transformaste todos resultados duramente obtidos de minhas austeridades em cinzas!" Tremendo de ira, amaldicoou Manjughosha: "ó pecaminosa, ó degradada de coração de pedra! Só conheces o pecado! Que todos destinos terríveis sejam para ti! ó mulher velhaca, te amaldiçôo a te tornares um malvado duende pisaca!"
Amaldiçoada pelo sábio Medhavi, a bela Manjughosha humildemente implorou: "ó melhor dos brahmanas, por favor seja misericordioso para comigo e revogue minha maldição! ó grande sábio, dizem que a associação com devotos puros dá resultados imediatos mas suas maldiçöes só tem efeito após sete dias. Estive contigo durante cinquenta e sete anos. ó mestre, por favor seja bondoso para comigo!"
Medhavi Muni respondeu: "ó gentil senhora, que poderei fazer? Destruíste todas minhas austeridades. Mas embora tenhas realizado esse ato pecaminoso, vou contar-te uma maneira de libertar-te de minha ira. Na quinzena obscura do mês Caitra há um Ekadasi totalmente auspicioso que remove todos nossos pecados. Seu nome é Papamocani Ekadasi, ó bela, e quem quer que jejue nesse sagrado dia se torna completamente livre de ter de renascer em qualquer das formas demoníacas."
Com essas palavras, o sábio partiu imediatamente para o ashram de seu pai. Vendo-o entrar no eremitério, Cyavana Muni disse: "ó filho, por ter agido desregradamente desperdiçaste a fortuna de tuas penitências e austeridades."
Medhavi replicou: "ó Pai, bondosamente revele que expiação devo realizar para remover esse pecado obnóxio que incorri por associar-me na privacidade com a dançarina Manjughosha."
Cyavana Muni respondeu: "Querido filho, deves jejuar no Papamocani Ekadasi, que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Caitra. Ele erradica todos pecados, não importa quão graves possam ser."
Medhavi seguiu o conselho de seu pai e jejuou no Papamocani Ekadasi. Assim todos seus pecados foram destruídos e ele se encheu de excelente mérito novamente. Similarmente, Manjughosha observou o mesmo jejum e ficou livre da maldição de virar duende. Ascendendo novamente às esferas celestiais, também ela retornou a sua posição anterior."
Lomasa Rishi continuou: "Assim, ó rei, o grande benefício de jejuar no Papamocani Ekadasi é que quem assim fizer com fé e devoção, terá todos seus pecados completamente destruídos."
Sri Krishna concluiu: "ó Rei Yudhisthira, quem quer que ler ou ouvir sobre Papamocani Ekadasi obtém o mesmo mérito que receberia se doasse mil vacas como caridade, e também nulifica as reaçöes pecaminosas que possa ter acumulado por matar um brahmana, matar um embrião por meio de aborto, beber álcool, ou fazer sexo com a esposa do guru. Tal é o incalculável benefício de se observar corretamente esse sagrado dia de Papamocani Ekadasi, que Me é tão caro e é tão cheio de mérito.
Assim termina a narrativa das glórias de Caitra-krsna Ekadasi, ou Papamocani Ekadasi, conforme aparece no Bhavisya-uttara Purana.
Notas:
1) Depois que o Senhor Shiva perdera sua querida esposa Sati na arena sacrificial de Prajapati Daksha, Shiva destruiu a arena inteira. Então trouxe de volta à vida seu sogro Daksha, dando-lhe uma cabeça de bode, e finalmente sentou-se para meditar durante sessenta mil anos. O Senhor Brahma, entretanto, arranjou para que Kamadeva (Cupido) viesse e interrompesse a meditação de Shiva. Usando suas flechas de som, sabor, toque, visão e aroma, Cupido atacou Shiva, que afinal acordou de seu transe. Ficou tão irado por ter sido perturbado que instantâneamente queimou Cupido até virar cinzas, com apenas um olhar de seu terceiro olho.
2) Associação feminina é tão poderosa que um homem esquece do tempo, energia, bens e mesmo da própria identidade. Como se fala no Niti-shastra: striya caritram purusasya bhabhyam daivo vijanati kuto manusyah - "Mesmo os semideuses não conseguem prever o comportamento de uma mulher. Tampouco conseguem compreender a fortuna de um homem ou como esta determinará seu destino."
Segundo Yajnavalkya Muni: "Uma (pessoa celibatária) que deseja vida espiritual deve abandonar toda associação com mulheres, incluindo pensar nelas, vê-las, falar com elas em local solitário, aceitar serviço delas, ou manter relaçöes sexuais com elas."
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A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna, replicou: "ó melhor dos reis, para benefício de todos com prazer descrever-te-ei as glórias desse Ekadasi, que é conhecido como Papamocani. A história desse Ekadasi certa vez foi narrada ao imperador Mandhata por Lomasa Rishi. O Rei Mandhata dirigiu-se ao rishi: "ó grande sábio, para beneficiar o povo todo, por favor conte-me o nome do Ekadasi que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Caitra, e por favor explique o processo para observá-lo. E ainda, por favor descreva os benefícios que se aufere por observar este Ekadasi."
Lomasa Rishi replicou: "O Ekadasi que ocorre durante a metade obscura do mês de Caitra se chama Papamocani Ekadasi. Para os devotos fiéis remove as influências de fantasmas e demônios. ó leão dentre os homens, este Ekadasi também confere as oito perfeiçöes da vida, realiza todo tipo de desejos, purifica nossa vida de todas reaçöes pecaminosas, e torna a pessoa perfeitamente virtuosa.
Agora por favor ouça o relato histórico referente a esse Ekadasi e Citraratha, o chefe dos Gandharvas (músicos celestiais). Durante a estação primaveril, na companhia de dançarinas, Citraratha certa vez acho uma linda floresta cheia de grande variedade de flores desbrochando. Ali ele e as garotas juntaram-se a outros Gandharvas e muitos Kinnaras, além do próprio Senhor Indra, o rei do céu, que estava desfrutando de uma visita por lá. Todos acharam que não havia jardim melhor que essa floresta. Muitos sábios também estavam presentes, realizando suas austeridades e penitências. Os semideuses particularmente gostavam de visitar esse jardim celestial durante os meses de Caitra e Vaisakha (abr/mai).
Um grande sábio chamado Medhavi residia ali naquela floresta, e as dançarinas muito atraentes sempre tentavam seduzí-lo. Certa moça famosa em particular, chamada Manjughosha, concebia muitas maneiras de atrair o exaltado muni, porém por grande respeito pelo sábio e medo de seu poder, que fora obtido durante muitos e muitos anos de ascese, ela não se aproximava muito dele. Num lugar a duas milhas do sábio, armou uma barraca e começou a cantar muito docemente enquanto tocava uma tamboura. O próprio Cupido ficou excitado quando viu e ouviu-a tocar tão bem e sentiu a fragância de seu unguento de pasta de sândalo. Lembrou de sua própria experiência mal-afortunada com o Senhor Shiva e decidiu se vingar seduzindo Medhavi. (1)
Usando as sombrancelhas de Manjughosha como arco, seus olhares como corda, e seus olhos como flechas, e seus seios como mira, Cupido aproximou-se de Medhavi a fim de tentá-lo a quebrar seu transe e seus votos. Em outras palavras, Cupido ocupou Manjughosha como sua assistente, e quando esta olhou para aquele jovem sábio poderoso e atraente, ela também ficou agitada pela luxúria. Vendo que ele era altamente inteligente e erudito, vestido que estava com um cordão de brahmana branco e limpo drapeado sobre seu ombro, segurando o bastão de sannyasi, e atraentemente sentado no ashrama de Cyavana Rishi, Manjughosha veio para diante dele.
Começou a cantar sedutoramente, e os sininhos de seu cinto e das tornozeleiras, junto com os braceletes em seus pulsos, produziam uma sinfonia musical encantadora. O sábio Medhavi ficou encantado. Compreendeu que essa bela jovem desejava unir-se com ele, e naquele instante Cupido aumentou sua atração por Manjughosha ao soltar suas poderosas armas de sabor, toque, visão, aroma e som.
Lentamente Manjughosha aproximou-se de Medhavi, seus movimentos corpóreos e doces olhares atraindo-o. Graciosamente depositou sua tamboura e abraçou o sábio com seus dois braços, assim como uma liana se enrosca ao redor de uma árvore forte. Cativado, Medhavi abandonou sua meditação e decidiu desfrutar com ela - e instantâneamente sua pureza de coração e mente abandonaram-no. Esquecendo-se da diferença entre a noite e o dia, foi com ela para desfrutar durante longo, longo tempo. (2)
Vendo que a santidade do jovem yogui tinha se erodido seriamente, Manjughosha decidiu abandoná-lo e retornar a casa. Disse ela: "ó grande sábio, por favor permita-me retornar para casa."
Medhavi retrucou: "Mas apenas chegaste, ó lindeza, por favor fica comigo pelo menos até amanhã."
Temerosa dos poderes yoguicos do sábio, Manjughosha ficou com Medhavi durante precisamente cinquenta e sete anos, nove meses, e três dias, mas para Medhavi todo esse tempo parecia como um momento. Novamente ela perguntou-lhe: "Por favor permita-me ir embora."
Medhavi respondeu: "ó querida, ouça-me. Fique por mais uma noite apenas, e então poderá ir embora amanhã de manhã. Só fique até depois que eu tiver realizado meus deveres matinais e cantado o sagrado Gayatri mantra. Por favor espera até lá."
Manjughosha ainda estava temerosa pelos grandes poderes yoguicos do sábio, mas forçou um sorriso e disse: "Quanto tempo levará para terminar seus rituais e hinos matinais? Por favor seja misericordioso e pense em todo tempo que já passaste comigo."
O sábio refletiu nos anos em que estivera com Manjughosha e então falou muito espantado: "Pudera, passei mais que cinquenta e sete anos contigo!" Seus olhos ficaram vermelhos e começaram a emanar faíscas. Agora ele enxergava Manjughosha como a morte personificada e destruidora de sua vida espiritual. "Mulher velhaca! Transformaste todos resultados duramente obtidos de minhas austeridades em cinzas!" Tremendo de ira, amaldicoou Manjughosha: "ó pecaminosa, ó degradada de coração de pedra! Só conheces o pecado! Que todos destinos terríveis sejam para ti! ó mulher velhaca, te amaldiçôo a te tornares um malvado duende pisaca!"
Amaldiçoada pelo sábio Medhavi, a bela Manjughosha humildemente implorou: "ó melhor dos brahmanas, por favor seja misericordioso para comigo e revogue minha maldição! ó grande sábio, dizem que a associação com devotos puros dá resultados imediatos mas suas maldiçöes só tem efeito após sete dias. Estive contigo durante cinquenta e sete anos. ó mestre, por favor seja bondoso para comigo!"
Medhavi Muni respondeu: "ó gentil senhora, que poderei fazer? Destruíste todas minhas austeridades. Mas embora tenhas realizado esse ato pecaminoso, vou contar-te uma maneira de libertar-te de minha ira. Na quinzena obscura do mês Caitra há um Ekadasi totalmente auspicioso que remove todos nossos pecados. Seu nome é Papamocani Ekadasi, ó bela, e quem quer que jejue nesse sagrado dia se torna completamente livre de ter de renascer em qualquer das formas demoníacas."
Com essas palavras, o sábio partiu imediatamente para o ashram de seu pai. Vendo-o entrar no eremitério, Cyavana Muni disse: "ó filho, por ter agido desregradamente desperdiçaste a fortuna de tuas penitências e austeridades."
Medhavi replicou: "ó Pai, bondosamente revele que expiação devo realizar para remover esse pecado obnóxio que incorri por associar-me na privacidade com a dançarina Manjughosha."
Cyavana Muni respondeu: "Querido filho, deves jejuar no Papamocani Ekadasi, que ocorre durante a quinzena obscura do mês de Caitra. Ele erradica todos pecados, não importa quão graves possam ser."
Medhavi seguiu o conselho de seu pai e jejuou no Papamocani Ekadasi. Assim todos seus pecados foram destruídos e ele se encheu de excelente mérito novamente. Similarmente, Manjughosha observou o mesmo jejum e ficou livre da maldição de virar duende. Ascendendo novamente às esferas celestiais, também ela retornou a sua posição anterior."
Lomasa Rishi continuou: "Assim, ó rei, o grande benefício de jejuar no Papamocani Ekadasi é que quem assim fizer com fé e devoção, terá todos seus pecados completamente destruídos."
Sri Krishna concluiu: "ó Rei Yudhisthira, quem quer que ler ou ouvir sobre Papamocani Ekadasi obtém o mesmo mérito que receberia se doasse mil vacas como caridade, e também nulifica as reaçöes pecaminosas que possa ter acumulado por matar um brahmana, matar um embrião por meio de aborto, beber álcool, ou fazer sexo com a esposa do guru. Tal é o incalculável benefício de se observar corretamente esse sagrado dia de Papamocani Ekadasi, que Me é tão caro e é tão cheio de mérito.
Assim termina a narrativa das glórias de Caitra-krsna Ekadasi, ou Papamocani Ekadasi, conforme aparece no Bhavisya-uttara Purana.
Notas:
1) Depois que o Senhor Shiva perdera sua querida esposa Sati na arena sacrificial de Prajapati Daksha, Shiva destruiu a arena inteira. Então trouxe de volta à vida seu sogro Daksha, dando-lhe uma cabeça de bode, e finalmente sentou-se para meditar durante sessenta mil anos. O Senhor Brahma, entretanto, arranjou para que Kamadeva (Cupido) viesse e interrompesse a meditação de Shiva. Usando suas flechas de som, sabor, toque, visão e aroma, Cupido atacou Shiva, que afinal acordou de seu transe. Ficou tão irado por ter sido perturbado que instantâneamente queimou Cupido até virar cinzas, com apenas um olhar de seu terceiro olho.
2) Associação feminina é tão poderosa que um homem esquece do tempo, energia, bens e mesmo da própria identidade. Como se fala no Niti-shastra: striya caritram purusasya bhabhyam daivo vijanati kuto manusyah - "Mesmo os semideuses não conseguem prever o comportamento de uma mulher. Tampouco conseguem compreender a fortuna de um homem ou como esta determinará seu destino."
Segundo Yajnavalkya Muni: "Uma (pessoa celibatária) que deseja vida espiritual deve abandonar toda associação com mulheres, incluindo pensar nelas, vê-las, falar com elas em local solitário, aceitar serviço delas, ou manter relaçöes sexuais com elas."
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