quarta-feira, 9 de junho de 2021

Instrumentalização ideológica do racismo

“Ação Afirmativa ao Redor do Mundo” (de Thomas Sowell), por Paulo Cruz

“Ação Afirmativa ao Redor do Mundo” (de Thomas Sowell), por Paulo Cruz

capa ação afirmativa

Um brilhante artigo inspirado no livro Ação Afirmativa ao Redor do Mundo – Um estudo empírico sobre cotas e grupos preferenciais, de Thomas Sowell! “Quando a realidade fala mais alto que as alegadas boas intenções” – escrito com exclusividade para o blog É Realizações por Paulo Cruz:

Licenciado em Filosofia, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de SP e agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, do MinC, em 2017. É professor de filosofia da rede pública do estado de São Paulo.

 

O debate racial nunca esteve tão em alta na sociedade brasileira. As políticas de ações afirmativas, e sua menina dos olhos, as cotas, geram disputas apaixonadas nas redes sociais e nas salas de aula das universidades.

De um lado, o pseudoconceito de “dívida histórica” – segundo o qual os descendestes dos antigos senhores de engenho são indiretamente responsabilizados pela escravidão dos descendentes de africanos – é alardeado como verdade incontestável; a vantagem equitativa é celebrada como uma oportunidade ímpar de ascensão social; a quantidade de negros nas universidades tem sido usada como garantia de um futuro promissor a esse grupo, historicamente inferiorizado quando o assunto é poder aquisitivo e aceitação social; e, por fim, o suposto alto rendimento dos cotistas tem servido como prova do sucesso de tais políticas.

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O debate sobre as políticas de ação afirmativa nunca esteve tão em alta no Brasil. [Foto: Freepik]
E do outro lado? Bem, do outro lado temos a realidade.

De acordo com o último Censo, realizado em 2010, o Brasil é um país majoritariamente mestiço. A soma de pretos e pardos – que compõem a classificação Negros, do IBGE – resulta em mais de 50% da população brasileira.

Mas há um dado curioso: destes 50%, somente 7,6% são pretos. Ou seja, só esse número já seria o suficiente para aceitarmos a baixa quantidade de pretos nas universidades.

Se incluirmos os pardos na estatística, teremos de considerar o critério obtuso da autodeclaração, e o problema aumenta exponencialmente – tanto é que, como não são raros os casos de pessoas de pele clara que se autodeclaram negras para serem admitidas, foram criadas, em algumas universidades federais e concursos públicos, entrevistas (chamadas pejorativamente de tribunais raciais) nas quais a negritude do candidato pode ser confirmada – por critérios assaz questionáveis, diga-se – e, também, para evitar possíveis fraudes.

Não é preciso dizer os problemas que isso tem causado no processo.

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Algumas universidades federais criaram os chamados “tribunais raciais”, nos quais a negritude do candidato pode ser confirmada – por critérios bastante questionáveis. [Foto: Freepik]
Mas não é isso que está em jogo.

O problema não é a plausibilidade de um sistema frágil e duvidoso, mas a intenção por detrás dele. Ou seja, não é uma questão lógica, mas ideológica.

E é por isso que o livro Ação Afirmativa ao Redor do Mundo, de Thomas Sowell, é de fundamental importância.

Sowell, renomado economista, sênior do Instituto Hoover, na Universidade Stanford, é um negro que vai na contramão do discurso oficial dos defensores das políticas de ações afirmativas.

Formado em Economia pela Universidade Harvard (1958), com mestrado pela Universidade de Columbia (1959) e doutorado pela Universidade de Chicago (1968), Sowell é um experiente pesquisador dos malefícios das políticas de ações afirmativas não só nos Estados Unidos, mas em diversos países.

Seu livro é fruto de mais de 30 anos de pesquisas, cujo resultado é um profundo diagnóstico – com dados empíricos e estatísticos comparados – do prejuízo que tais políticas causaram a seus supostos beneficiados.

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Está gostando da resenha de Paulo Cruz? A revista Veja também publicou uma longa matéria quando Ação Afirmativa ao Redor do Mundo foi publicado no Brasil. Para acessá-la, é só clicar aqui!

 

A adoção e os resultados das políticas de ações afirmativas em cinco países – Nigéria, Índia, Sri Lanka, Malásia e EUA – são investigados a fundo por Sowell, desnudando uma verdade bastante inconveniente: a implementação das políticas “tende a ser debatida em termos de suas justificativas e objetivos, e não de suas consequências reais” (p. 174).

Ou seja, os resultados desastrosos não são levados em consideração; uma vez instalada, toda a teorização a respeito de sua efetividade se torna ideológica.

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A Índia é o país com as mais antigas políticas de ação afirmativa. [Foto: Arihant Daga/Unsplash]
Por exemplo, a Índia – a sociedade mais multiétnica (e fragmentada) do mundo – é o país com as mais antigas políticas de ações afirmativas; elas foram iniciadas ainda na colonização inglesa, e se tornaram oficiais em 1947.

Um Censo realizado em 1991, no entanto, mostrou algo com o que os proponentes das cotas talvez não contassem: entre aqueles a quem as políticas se dirigem, os membros das castas mais baixas não são beneficiados pelo sistema, pois sequer chegam a ele; e, quando chegam, muitos desistem em meio às dificuldades.

As políticas de ações afirmativas acabam por privilegiar, infelizmente, os mais afortunados entre os menos afortunados.

Como afirma Sowell: “Mesmo quando o governo proporciona educação primária gratuita, os custos dos livros e do restante do material escolar podem não estar dentro das possibilidades das pessoas muito pobres” (p. 52).

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“Mesmo quando o governo proporciona educação primária gratuita, os custos dos livros e do restante do material escolar podem não estar dentro das possibilidades das pessoas muito pobres”, Thomas Sowell. [Foto: Pixabay]
Nos EUA, Sowell nos mostra que o número altíssimo de evasões nunca é levado em consideração nos debates acerca da eficiência do sistema de cotas. Negros com qualificação inferior são admitidos em universidades cuja exigência é altíssima, e simplesmente não conseguem se formar.

Como diz Sowell, “a questão central, no entanto, não é quantos negros estão no campus em dado momento, mas quantos efetivamente se formam” (p. 212).

No Brasil não temos esse problema. Com a falência total do ensino, e com os estudantes brasileiros – talvez até mesmo os professores, se submetidos a um teste similar – ocupando os mais baixos níveis nos exames internacionais, não é difícil um cotista entrar em uma universidade federal e ter um desempenho razoável; afinal de contas, se a capacidade diminui, a exigência deve seguir o mesmo caminho, haja vista a quantidade alarmante de analfabetos funcionais que frequentam as nossas universidades.

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“A questão central […] não é quantos negros estão no campus em dado momento, mas quantos efetivamente se formam”, Thomas Sowell. [Foto: Pixabay]
Porém, mesmo a nossa situação sendo muito diferente da que encontramos entre os americanos, os proponentes das políticas de ações afirmativas se igualam em um ponto: não é da realidade concreta que eles estão falando. Tanto é verdade que o teor revolucionário dos movimentos defensores de cotas raciais é algo bastante curioso.

Não raro, a tentativa de impor suas pautas com palavras de ordem – Cota é pouco, vocês nos devem até a alma! – ao restante da sociedade e da comunidade acadêmica é carregada de uma pretensa busca por direitos, que, no fundo, não passa de ódio ideológico.

E o leitor atento do livro de Sowell não sentirá dificuldades para fazer as transposições necessárias que caibam em nossa peculiar experiência.

Por isso, o livro Ação Afirmativa ao Redor do Mundo é um farol que ilumina a experiência de outros países e nos oferece subsídios para analisar a situação brasileira de modo bastante eficaz. Sendo assim, boa leitura!

 

Se você gostou do texto de Paulo Cruz, não pode deixar de conferir o livro de Thomas Sowell: clique no título abaixo para garantir o seu exemplar físico ou adquirir o seu e-book!

Ação Afirmativa ao Redor do Mundo – Um estudo empírico sobre cotas e grupos preferenciais



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