terça-feira, 3 de outubro de 2023

Crise nos programas de licenciatura : Revista Pesquisa Fapesp


Brasil registra déficit de professores habilitados para lecionar em todas as áreas do conhecimento

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

Uma medida paliativa vem ocorrendo com frequência cada vez maior em escolas públicas e privadas de todo o país. Muitos estudantes estão finalizando o ano letivo de 2023 sem ter tido aulas de física ou sociologia com professores habilitados para ministrar essas disciplinas. Diante da ausência de candidatos para ocupar as docências, as escolas improvisam e colocam profissionais formados em outras áreas para suprir lacunas no ensino fundamental II e no ensino médio. A medida tem se repetido em diferentes estados e municípios brasileiros, como mostram dados de estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep): em Pernambuco, por exemplo, apenas 32,4% das docências em física no ensino médio são ministradas por licenciados na disciplina, enquanto no Tocantins o valor equivalente para a área de sociologia é de 5,4%. Indicativo da falta de interesse dos jovens em seguir carreira no magistério, o número de concluintes de licenciaturas em áreas específicas passou de 123 mil em 2010 para 111 mil em 2021. Esse conjunto de dados indica que o país vivencia um quadro de apagão de professores. Para reverter esse cenário, pesquisadores defendem a urgência da criação de políticas de valorização da carreira docente e a adoção de reformulações curriculares.

“O apagão das licenciaturas é uma realidade que nos preocupa”, afirma Marcia Serra Ferreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora de Formação de Professores da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As licenciaturas em áreas específicas são cursos superiores que habilitam os concluintes a dar aulas nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio na área do conhecimento em que se formaram. Dados do último Censo da Educação Superior do Inep, autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), divulgados no ano passado, mostram que desde 2014 a quantidade de ingressantes em licenciaturas presenciais está caindo, assim como ocorre em cursos a distância desde 2021. “As áreas mais preocupantes são as de ciências sociais, música, filosofia e artes, que apresentaram as menores quantidades de matrículas em 2021, e as de física, matemática e química, que registraram as maiores taxas de desistência acumulada na última década”, assinala Ferreira.

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Dados do Inep disponíveis no Painel de Monitoramento do Plano Nacional de Educação (PNE) indicam que, em 2022, cerca de 59,9% das docências do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e de 67,6% daquelas oferecidas no ensino médio eram ministradas por professores qualificados na área do conhecimento. Ao analisar os números, o pedagogo e professor de educação física Marcos Neira, pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade de São Paulo (USP), comenta que a situação é diferente em cada área do conhecimento. “Por um lado, a média nacional mostra que 85% dos docentes de educação física são licenciados na disciplina, enquanto os percentuais equivalentes para sociologia e línguas estrangeiras são de 40% e 46%, respectivamente. Ou seja, os problemas podem ser maiores ou menores conforme a área do conhecimento e também são diferentes em cada estado”, destaca Neira, que atualmente desenvolve pesquisa com financiamento da FAPESP sobre reorientações curriculares na disciplina de educação física.

A falta de formação adequada do professor pode causar impactos no processo de aprendizagem dos alunos, conforme identificou Matheus Monteiro Nascimento, físico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em pesquisa realizada em 2018. De acordo com o pesquisador, na ausência de docentes licenciados em física, quem acaba oferecendo a disciplina nas escolas, geralmente, são profissionais da área de matemática. “Com isso, observamos que a abordagem da disciplina tende a privilegiar o formalismo matemático”, comenta. Ou seja, no lugar de tratar de conhecimentos de mecânica, eletricidade e magnetismo por meio de abordagens fenomenológicas, conceituais e experimentais, os professores acabam trabalhando os assuntos em sala de aula apenas através de operações matemáticas e equações sem relação direta com a realidade do aluno. “O formalismo matemático é, justamente, o elemento da disciplina de física que mais prejudica o interesse de estudantes por essa área do conhecimento”, considera Nascimento.

Alunos do curso de licenciatura em química na USP

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP 

Preocupados em mensurar se as defasagens poderiam ser sanadas com a contratação de profissionais formados em licenciaturas no Brasil nos últimos anos, pesquisadores do Inep realizaram, em setembro, estudo no qual olharam para as carências de escolas públicas e privadas nos anos finais do ensino fundamental e médio. “Se todos os licenciados de 2010 a 2021 ministrassem aulas na disciplina em que se formaram nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio em 2022, ainda assim o país teria dificuldades para suprir a demanda por docentes de artes em 15 estados, física em cinco, sociologia em três, matemática, língua portuguesa, língua estrangeira e geografia em um”, contabiliza Alvana Bof, uma das autoras da pesquisa. Além disso, o estudo avaliou se a quantidade de licenciados de 2019 a 2021 seria suficiente para suprir todas as docências que, em 2022, estavam sendo oferecidas por professores sem formação adequada. Foi constatado que faltariam docentes de artes em 18 estados, física em 16 estados, língua estrangeira em 15, filosofia e sociologia em 11, matemática em 10, biologia, ciências e geografia em 8, língua portuguesa em 5, história e química em 2 e educação física em um estado. “Os resultados indicam que já vivemos um apagão de professores em diferentes estados e disciplinas”, reitera Bof, licenciada em letras e com doutorado em educação.

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Outro autor do trabalho, o sociólogo do Inep Luiz Carlos Zalaf Caseiro esclarece que o cenário de falta de professores não está relacionado com falta de vagas em cursos de licenciaturas. “Em 2021, o país teve 2,8 milhões de vagas disponíveis, das quais somente 300 mil foram preenchidas. Isso significa que 2,5 milhões de vagas ficaram ociosas, sendo grande parte no setor privado e na modalidade de ensino a distância”, relata. Licenciaturas oferecidas no ensino público, na modalidade presencial, também tiveram quantidade significativa de vagas ociosas. “De 2014 a 2019, a taxa de ociosidade de licenciaturas em instituições públicas foi de cerca de 20%, enquanto em 2021 esse percentual subiu para 33%”, informa. Cursos como o de matemática apresentaram situação ainda mais alarmante. “Licenciaturas de matemática em instituições públicas no formato presencial registraram 38% de vagas ociosas em 2021”, destaca Caseiro, comentando que muitas vagas, mesmo quando preenchidas, logo são abandonadas. Além disso, segundo o sociólogo, somente um terço dos estudantes que finalizam as licenciaturas vai atuar na docência; o restante opta por outros caminhos profissionais. O estudo foi desenvolvido a partir do cruzamento de dados relativos a docentes presentes no Censo da Educação Básica e referentes a ingressantes e concluintes em licenciaturas captados pelo Censo da Educação Superior. Ambas as pesquisas são realizadas anualmente pelo Inep para analisar a situação de instituições, alunos e docentes da educação básica e do ensino superior.

Estudantes em escola de São Paulo em aula de artes: disciplinas registram altos patamares de carência de professores

Rubens Cavallari / Folhapress

Os cursos de licenciatura enfrentam, ainda, o desafio de atualizar seus currículos. Tomando como exemplo a área de física, Marcelo Alves Barros, físico da USP de São Carlos, explica que os licenciados na disciplina, tradicionalmente, recebem formação pautada em uma abordagem com pouca conexão com outras disciplinas e a realidade do estudante da educação básica. Essa forma tradicional de pensar o conteúdo de física e ministrá-lo em sala de aula, conforme Barros, difere de diretrizes estabelecidas por documentos oficiais, entre eles a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio. Homologada em 2018, a BNCC dessa etapa de ensino determina que os currículos escolares devam deixar de ser organizados conforme disciplinas para passarem a funcionar por meio de áreas do conhecimento. Com isso, aulas de física, por exemplo, poderiam ser integradas à grande área de ciências da natureza e suas tecnologias que abarca, também, conteúdos de química e biologia. “Apesar da proposta interdisciplinar ser aspecto positivo da BNCC, a maioria dos professores de física do país não está preparada para atuar com esse viés nas escolas”, avalia Barros.

Na perspectiva do pesquisador, o novo ensino médio – criado pela Lei nº 13.415, em 2017, prevendo a flexibilização da grade curricular por meio da oferta dos chamados itinerários formativos (ver Pesquisa FAPESP nº 316) – traz desafios à formação tradicional de graduados em física. Isso porque os professores licenciados na disciplina não são preparados para ministrar aulas alinhadas com as propostas do novo ensino médio. “O descompasso entre o currículo atual do ensino médio e os conhecimentos do professor prejudica o processo de aprendizagem dos estudantes. Mais tarde, as deficiências no ensino de física na educação básica contribuem para que o jovem não queira cursar licenciatura nessa área do conhecimento”, relaciona. Segundo Barros, o caso do Instituto de Física da USP de São Carlos constitui exceção, na medida em que desde a década de 1990 os alunos da licenciatura recebem formação interdisciplinar, concluindo o curso aptos para lecionar aulas de ciência, física, química e matemática tanto para turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental como para o ensino médio. Seguindo esse modelo, o pesquisador sustenta que currículos das licenciaturas em física devam ser reformados para aproximar a disciplina dos avanços da ciência moderna, tratando de temas atuais de mecânica quântica, relatividade e astrofísica e buscando desenvolver metodologias inovadoras de ensino. “Para que essa abordagem possa ser aplicada em sala de aula, um ponto-chave são as escolas contarem com laboratórios de atividades experimentais, que podem ajudar a conquistar o interesse de alunos”, aponta Barros, integrante de projeto financiado pela FAPESP voltado à busca por estratégias de renovação do ensino de ciência.

A BNCC e a reforma do ensino médio também trouxeram desafios para as licenciaturas em história, assegura Marieta de Moraes Ferreira, historiadora da UFRJ. “As novas diretrizes enxugaram os conteúdos específicos de áreas como sociologia, história e filosofia que devem ser ministrados na educação básica, em prol de uma abordagem interdisciplinar. Porém os professores não foram preparados para atuar com essas mudanças”, enfatiza Ferreira. Ela recorda que as primeiras graduações nessa área do conhecimento foram criadas no Brasil nos anos 1930 com foco na formação de professores. Mais tarde, na década de 1970, com a expansão de programas de pós-graduação, as instituições de ensino passaram a valorizar atividades de pesquisa nessa disciplina, de forma que a preocupação em formar alunos para o magistério ficou em segundo plano. O debate sobre o ensino de história voltou à cena nos anos 2000, quando as instituições passaram a diferenciar quem queria ser licenciado e dar aulas de quem se graduaria como bacharel para atuar como pesquisador. “Não concordo com essa divisão e penso que não dá para ser professor sem saber pesquisar. Para formar melhores docentes, as licenciaturas deveriam articular atividades de ensino com pesquisas focadas em questões suscitadas pelo ambiente escolar”, propõe.

Alunos do ensino médio em escola de Fortaleza, no Ceará, estado que criou estratégia para melhorar a formação docente em matemática

Ez Photos / Alamy / Fotoarena

Ao refletir sobre a BNCC, o matemático Jorge Herbert Soares de Lira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), concorda que a nova base curricular pode trazer melhorias aos processos de ensino e aprendizagem, mas as mudanças precisam ser trabalhadas com alunos formados nas licenciaturas. Lira, que também é cientista-chefe da Secretaria de Educação (Seduc) daquele estado, considera que, no caso da matemática, é preciso incentivar a integração entre o enfoque aprofundado no conteúdo e estratégias de ensino. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para analisar o desempenho de estudantes nas áreas de matemática, ciências e leitura, o Brasil ficou entre os 10 países do mundo com pior desempenho em matemática.

Em 2018, para entender as razões pelas quais o desempenho dos alunos em matemática não progredia ou até recuava a partir de seu ingresso no ensino fundamental II, um grupo de pesquisadores da UFC liderados por Lira realizou um levantamento em parceria com a Seduc. “Diretores e coordenadores se perguntavam por que na virada do fundamental I para o II o desempenho matemático dos alunos não avançava tanto quanto em outras áreas”, conta. “Então, resolvemos investigar a fundo a origem desse problema.” Foram analisados dados históricos de estudantes da rede pública do Ceará do ensino fundamental até o final do ensino médio, mapeando curvas de aprendizagem e detectando os gargalos que começavam de forma massiva na passagem do ensino fundamental I para o II. Em paralelo, desenvolveram análise para avaliar o conhecimento pedagógico de professores, identificando a existência de lacunas envolvendo conceitos básicos que são trabalhados desde os anos iniciais do ensino fundamental, entre eles frações, leitura de gráficos e tabelas, o sistema de numeração decimal e as operações aritméticas. “Os docentes têm lacunas na compreensão profunda dessa matemática básica e em habilidades complexas próprias do ensino de conceitos fundantes ministrados nos primeiros anos da educação básica, que são retomados em toda a trajetória curricular. Assim, não estavam preparados para ensinar os alunos a utilizá-los em abordagens mais complexas, que começam a partir do 6º ano”, comenta Lira.

Aula de história em escola de Rio Branco, no Acre

Lalo de Almeida / Folhapress 

A partir desse diagnóstico, a Seduc passou a promover avaliações periódicas para identificar os conteúdos nos quais os estudantes não progridem. Conforme os resultados das análises, a secretaria realiza processos formativos aos docentes com vistas a melhorar seu preparo para abordar os tópicos mais estruturais do currículo. “Nesses treinamentos, mostramos aos professores como retomar conhecimentos básicos e alinhá-los com competências complexas, por meio de estratégias pedagógicas nas quais os alunos são expostos a problemas em contextos cotidianos, científicos e sócio-econômicos”, conta o pesquisador, cujo projeto é financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Para Lira, aproximar estudantes do conhecimento matemático durante a educação básica é uma forma de ampliar seu interesse por lecionar a disciplina no futuro.

Para evitar os problemas identificados por Lira no Ceará e resolver outros mapeados em São Paulo, Neira propõe atualizar os 28 programas de licenciatura da USP. O pró-reitor conta que a instituição desenvolve ações para apoiar coordenadores de cursos na reformulação de currículos. “Queremos oferecer graduações com viés integrativo, abandonando a ideia de que a formação do bacharel deva ocorrer de forma separada daquela oferecida ao licenciado”, resume. A USP estuda uma parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para oferecer estágios remunerados em escolas públicas a alunos de licenciaturas.

Os pesquisadores defendem que as licenciaturas precisam se renovar para oferecer formações sólidas tanto no conteúdo da área do conhecimento como em questões de caráter prático e didático, preparando os alunos para saber como ensinar. “Em todas as áreas do conhecimento, alunos de licenciaturas devem ter formação nas disciplinas específicas da educação, como políticas educacionais, teorias curriculares, planejamento e avaliação, gestão escolar e organização do trabalho pedagógico”, resume a pedagoga Márcia Aparecida Jacomini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo a pesquisadora, hoje, muitos cursos de licenciatura ainda enfatizam o ensino da disciplina em si, deixando de lado aspectos práticos e metodológicos fundamentais para o sucesso do processo de aprendizagem.

Projetos
1.
 A educação física no contexto do novo ensino médio: Traduções e potencialidades (nº 22/06919-5); Modalidade Programa Ensino Público; Pesquisador responsável Marcos Garcia Neira (USP); Investimento R$ 241.790,97.
2. Estudo de implementação de inovações curriculares, estratégias pedagógicas e tecnologias emergentes para qualidade-equidade na educação básica (nº 22/06977-5); Pesquisador responsável Mauricio Pietrocola Pinto de Oliveira (USP); Modalidade Projeto Temático; Investimento R$ 1.111.669,40.
3. Mudanças curriculares e melhoria do ensino público (nº 21/11390-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsável Márcia Aparecida Jacomini (Unifesp); Investimento R$ 555.785,29.

Artigos científicos
BOF, A. M. et alCarência de professores na educação básica: Risco de apagão? Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais. v. 9. Brasília: Inep. 2023, No prelo.
NASCIMENTO, M. M. O professor de física na escola pública estadual brasileira: Desigualdades reveladas pelo Censo escolar de 2018Revista Brasileira de Ensino de Física. 42: SciELO Brasil. 2020.

Livro
FERREIRA, M. M. A história como ofício. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2013.

Relatório
Censo da Educação Superior 2021. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Brasília: Ministério da Educação, 2022.


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Crise de sinceridade de Datena se revolta com julgamento no STF para descriminalizar a maconha. #BandJornalismo







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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Economia e Comunismo - Paulo Kogos - Caravelas Podcast #7

Os temas mais relevantes da semana comentados por Fernão Lara Mesquita, Gerson Gomes e convidados. Participação especial do advogado Ezequiel Silveira, que defende 25 presos políticos dos dias 08 e 09 de Janeiro.

Movimentos anti racistas racistas. A assessora de Anielle Franco.

Fazenda 15 e a decadência na audiência pq. (feito com Spreaker)

Srila Hari, Srila Haridasa Thakura -- Desaparecimento 28/09/203 qunta-feira

Srila Haridasa e o Cantar dos Santos Nomes

10 SI (história - Caitanya e Associados) As Glórias de Haridasa Thakura (3303) (4, Vrndavana Dasa) (ta) (sankirtana)

Vrindavana Dasa Thakura

Chamado por Chaitanya Mahaprabhu de “mestre exemplar do canto dos santos nomes”, Haridasa Thakura ensina, através de sua vida, a determinação mais elevada e de objetivo mais digno.

Ninguém em toda a sociedade humana estava interessado em vida espiritual, senão que se absorviam completamente nos pervertidos desfrutes corpóreos. Tampouco eram melhores aqueles que palestravam sobre o Bhagavad-gita ou o Srimad-Bhagavatam. Desconhecedores da essência dessas escrituras, eles nunca falavam das glórias do Senhor Krishna nem recomendavam a adoração de Seu nome. Vendo a condição deplorável em que se encontravam as entidades vivas, os devotos frequentemente se reuniam afastados da massa geral e cantavam os santos nomes do Senhor Krishna com o acompanhamento de palmas.

Com o intuito de criticar os devotos e deles zombar, os materialistas diziam: “Qual é a razão para vocês uivarem tão alto? Além do mais, eu sou Brahman, e sou intocado pela matéria. Por que, então, fazer distinções entre Senhor e servo?”. Outros diziam com grande ira: “Eles exclamam ‘Hari! Hari!’ apenas para terem um pretexto para mendigarem e encherem suas barrigas. Todos sabem disso. Vamos arrombar a porta da casa desses imbecis e quebrar tudo lá dentro!”.

Ouvindo tais palavras depreciativas, os devotos ficavam muito desanimados. O fato de não terem com quem se queixarem agravava ainda mais a tristeza deles. Considerando todo o mundo material como um grande deserto, os devotos apenas suspiravam: “Ó Krishna”. Vendo todos destituídos de devoção pelo Supremo, a infelicidade deles não conhecia limites.

Foi quando Haridasa Thakura, a personificação da devoção pura ao Senhor Visnu, chegou a Navadvipa. Narrarei agora as maravilhosas atividades de Haridasa Thakura. Quem quer que ouça essa narração certamente alcançará o abrigo dos pés do Senhor Krishna.

Haridasa Thakura descendeu a este mundo em uma vila de nome Budana. Devido à sua presença ali, muitos se purificaram e aderiram ao cantar dos santos nomes do Senhor. Depois de alguns anos, ele deixou sua vila e permaneceu por algum tempo às margens do Ganges até finalmente se estabelecer em Phuliya-grama, próximo a Shantipura.

Ao encontrar-Se com Haridasa Thakura, Advaitacharya rugiu de felicidade. Não havia fim para Sua euforia. Similarmente, Haridasa Thakura, na companhia transcendental de Advaitacharya, colocou-se a nadar nas nectáreas ondas do oceano de amor ao Supremo.

Haridasa Thakura passava seu tempo vagando às margens do Ganges e cantando o nome “Krishna”. Ele não tinha nenhum vestígio de atração por nenhuma espécie de desfrute material, senão que sua gloriosa boca estava sempre adornada com a vibração do santo nome do Senhor Krishna. Nem mesmo por um instante ele desejava deixar de cantar o santo nome do Senhor Krishna, senão que apenas seguia absorto no néctar do serviço devocional.

Algumas vezes ele dançava em grande êxtase, e em outros momentos ele chorava de forma comovente. Em outras ocasiões, ele rugia como um leão; outras vezes, ria bem alto. Às vezes ele berrava e urrava, e às vezes desmaiava. Por algumas vezes, ele falava de maneira misteriosa, e posteriormente explicava o significado daquelas palavras. Ora chorava, ora os pelos de seu corpo se arrepiavam, ora ria, ora caía inconsciente ao chão e ora transpirava profusamente. Todos os sintomas extáticos de amor pelo Senhor Krishna manifestavam-se em Haridasa Thakura.

Quando Haridasa Thakura dançava e cantava as glórias do nome de Krishna, todos esses sintomas tornavam-se manifestos em seu corpo. As pessoas formavam um círculo ao seu redor apenas para ver o incessante rio de lágrimas de amor a Deus que fluía de seus olhos e encharcava todo o seu corpo. Mesmo os ateístas e ofensores se maravilhavam contemplando Haridasa Thakura. Os pelos de seu corpo se arrepiavam como se fossem milhares de flores nascendo, e mesmo grandes personalidades como Brahma e Siva impressionavam-se com sua devoção. Em Phuliya-grama, mesmo os brahmanas ritualísticos estavam verdadeiramente impressionados com os êxtases espirituais de Haridasa Thakura. Tendo conquistado a confiança e o respeito de todos, Haridasa Thakura vivia pacificamente em Phuliya-grama.

Após banhar-se no Ganges, ele diariamente vagueava cantando em voz alta o santo nome do Senhor Hari.

O Invejoso Qazi

A autoridade muçulmana local, conhecida como qazi, invejava a popularidade de Haridasa Thakura e, por esta razão, foi queixar-se com o rei. O qazi disse: “Embora seja muçulmano, ele age como um hinduísta. Vossa Majestade deveria detê-lo e lhe dar a punição apropriada”. As invejosas palavras do pecaminoso qazi desencadearam imediata concordância do rei igualmente pecaminoso, que ordenou a imediata detenção de Haridasa.

Tendo recebido a misericórdia do Senhor Krishna, Haridasa Thakura não temia nem mesmo a morte personificada, o que dizer uma autoridade muçulmana. Enquanto era levado preso, Haridasa caminhava repetindo ininterruptamente o nome de Krishna. Ele, então, foi colocado diante do nababo.

Quando as pessoas piedosas das localidades próximas ao palácio do nababo souberam que Haridasa estava vindo para ali, elas ficaram extremamente felizes. Mas, ao saberem, em seguida, que ele estava vindo como um novo prisioneiro do ditador muçulmano, ficaram extremamente tristes. Anteriormente, muitas pessoas santas e religiosas haviam sido aterrorizadas e encarceradas pelo nababo. Ao ouvirem que Haridasa iria se juntar a eles, todos os prisioneiros ficaram muito contentes. Eles disseram entre si: “Haridasa é um vaishnava grandioso e imaculado. Sua presença nos livrará de todo o sofrimento decorrente de nossa vida como prisioneiros”. Os prisioneiros, com vozes suplicantes, imploraram aos guardas que lhes permitissem se associar irrestritamente com Haridasa Thakura.

Enquanto era levado para sua cela, Haridasa olhava com grande compaixão para todos os prisioneiros. Ao verem os pés de lótus do santo, todos se curvaram para demonstrar respeito. Seus longos braços, que alcançavam seus joelhos, e seus olhos de lótus e rosto refulgente como a Lua encantavam a todos. Nenhuma outra personalidade era como ele.

Por terem se curvado com devoção diante de Haridasa, os prisioneiros exibiram todos os sintomas de amor extático por Krishna. Vendo o avançado serviço devocional que se tornara manifesto naquele momento no coração dos prisioneiros, Haridasa os abençoou. Sorrindo, ele apresentou-lhes disfarçadamente sua bênção: “Apenas continuem nessa posição em que estão agora. Que vocês continuem assim para sempre”.

Não entendendo o significado por detrás de suas palavras, alguns prisioneiros ficaram um pouco decepcionados. Entendendo a compreensão equivocada deles, Haridasa compassivamente explicou sua bênção.

“O que lhes dei foi uma bênção, mas, não entendendo seu significado, agora estão infelizes. Eu jamais desejaria algum mal a vocês. Se tentarem, vocês poderão entender o significado de minhas palavras. Apenas desejo que o amor que vocês agora sentem por Krishna nunca mude. Por favor, continuem sempre apegados a Krishna. De hoje em diante, inspirem-se uns aos outros sempre cantando o nome do Senhor Krishna e sempre lembrando Seus passatempos. Não existem violência e tirania no mundo espiritual, portanto implorem sinceramente pela ajuda de Krishna e pensem constantemente nEle. Quando deixarem esta prisão, não retomem seus velhos hábitos de gozo material dos sentidos; e fujam da companhia de homens degradados e maliciosos. Vocês devem ter por certo que o amor pelo Senhor Krishna jamais é obtido por pessoas que levam uma vida centrada em prazeres materiais. Afastem-se, portanto, de tais pessoas”.

“Uma mente absorta em desejos materiais”, prosseguiu, “traz apenas problemas. A armadilha do gozo dos sentidos, que prende homens e mulheres, não leva a nenhum outro destino senão à destruição. Por arranjo divino, uma pessoa afortunada obtém a companhia de devotos sinceros e, como produto do que aprende e vivencia, ela rejeita os prazeres da vida material e volta sua atenção para o serviço a Krishna. Escutem, no entanto, o que tenho a dizer: se tal pessoa comete ofensas, ela volta a se contaminar pelos desejos egoístas e perniciosos. Eu certamente não desejo que vocês permaneçam presos eternamente; ao contrário, oro para que todos vocês percam o gosto pelos prazeres materiais”.

“Embora tenha brincado com as palavras”, adicionou ainda, “eu estava, de fato, concedendo-lhes uma bênção. Meu desejo é que vocês se livrem de sua presente condição miserável e permaneçam felizes na plataforma de amor por Krishna. O bem que desejo a vocês desejo a todos: que todas as almas condicionadas desenvolvam devoção indesviável por Krishna. Por favor, não se preocupem. Dentro de dois ou três dias, vocês deixarão esta prisão. Acreditem em minhas palavras. Uma vez livres, quer vivam na floresta, quer vivam em uma casa confortável, lembrem-se sempre de Krishna e cultivem as práticas espirituais com seriedade”.

Haridasa Conversa com o Nababo

Tendo derramado sua misericórdia sobre os prisioneiros na forma de instruções perfeitas, Haridasa foi diante do nababo. Em virtude de sua pureza, Haridasa Thakura emanava uma refulgência que o nababo não pôde deixar de notar. Ele então se levantou muito respeitosamente e ofereceu um assento ao santo. O nababo lhe perguntou:

“Ó querido irmão, o que acontece com você? O que é esta mudança que se faz em sua mentalidade? Você tinha a grande fortuna de ser um muçulmano! Por que, então, passou a se comportar como um hinduísta? Nós nem mesmo aceitamos arroz tocado por um hinduísta. Por que, afinal, você rejeita seu nascimento em uma grandiosa família muçulmana? Como uma pessoa que rejeita a religião de seu próprio povo e aceita outra poderia obter a salvação e uma morada no paraíso? Sem considerar a grande perversão por trás disso, você agiu muito mal. Agora, para que você se livre de seus pecados, irei puni-lo de acordo com as leis do Corão”.

Srila Haridasa Thakura pacientemente ouviu as ameaças e acusações, reconhecendo de imediato que o nababo estava sob a influência da energia ilusória do Senhor. Quando o nababo terminou seu discurso, Haridasa, sem nenhuma ansiedade, apenas lhe sorriu. Então ele disse com uma voz suave:

“Meu querido senhor, há apenas um único Deus para todas as entidades vivas. Os hinduístas e os muçulmanos são diferentes em muitos aspectos. Entretanto, a conclusão tanto dos hinduístas instruídos quanto dos muçulmanos igualmente instruídos é que o Corão e os Puranas descrevem o mesmo Deus único. O Deus único, que reside no coração de todos, é puro, eterno, transcendental, imutável, infalível, perfeito e completo. O Senhor é o onipotente controlador supremo de tudo. A entidade viva é movida pelo desejo do Senhor Supremo e age e trabalha unicamente de acordo com Seus desígnios”.

“Embora cada pessoa siga as escrituras de sua própria tradição”, continuou, “todas estão glorificando os nomes e as qualidades de Deus. Independente da maneira com que Ele é adorado, o Senhor aceita a variante de rendição de cada um. Se uma pessoa, todavia, odeia ou inveja outrem, ela acaba por deixar tais sentimentos interferirem em seu relacionamento com o Senhor. Tudo o que você presencia de minhas palavras e atividades são manifestações diretas de Deus, pois cumpro toda e qualquer ordem que o Senhor dita do íntimo de meu coração. Abordando isso de outra perspectiva, dentre os hinduístas, um brahmana, pelo desejo de Deus, talvez se torne um muçulmano. Eu diria que a punição que os hinduístas dariam a tal brahmana é a punição que eu deveria receber de Vossa Majestade. Ó honorífico nababo, por favor, considere sobre isso. Então, se definitivamente concluir que sou um transgressor, puna-me como achar apropriado”.

A Condenação de Haridasa

A corte muçulmana foi sinceramente tocada pelas palavras honestas de Haridasa Thakura. Contudo, sua sabedoria não pôde penetrar o coração invejoso e pecaminoso do qazi, que se voltou ao nababo e o instruiu:

“Você tem de punir este homem! Ele é perverso e malicioso. Outros acabarão sendo influenciados por ele e se tornarão igualmente pecaminosos. Ou você o pune, ou ele desgraçará nossa religião e nossa comunidade muçulmana. Se ele quer ser perdoado, então que ele pregue apenas com as palavras da escritura de sua tradição original”.

O nababo então propôs: “Meu irmão, pregue apenas com nossa escritura e siga o caminho, então você não terá nada a temer. Se você agir de outra forma, os qazis me obrigarão a puni-lo. Mas, por favor, diga-me uma coisa: Por que você lida com tudo isso tão tranquilamente?”.

Haridasa Thakura disse: “O que deseja Deus certamente se faz, pois ninguém tem o poder de desdizer Seu desejo. Cada um de nós sofre de acordo com o grau de nossas ofensas pretéritas. Tenha por certo que Deus está fazendo tudo e que você é um mero instrumento de Seu desejo. Mesmo que meu corpo seja cortado em pedaços e meu ar vital se dissipe, eu jamais deixarei de cantar o santo nome do Senhor Hari”.

Depois de ouvir a destemida resposta de Haridasa, o nababo voltou-se para o qazi novamente: “O que devo fazer com ele?”. “Até que ele morra, açoite-o em vinte e duas praças mercantis”, respondeu o invejoso qazi. “Não consigo pensar em nenhuma outra sentença apropriada. Então, se ele sobreviver aos vinte e dois açoitamentos, concluirei que ele é um homem sábio e que diz a verdade”.

Os guardas foram chamados e, cheio de ódio, o qazi ordenou: “Açoitem-no até que não tenha mais vida. O pecado de um muçulmano tornar-se hinduísta somente pode ser neutralizado com a punição da morte”.

As palavras invejosas do qazi entraram no coração do nababo, que consentiu com elas. Haridasa foi então arrastado para fora da corte. Levando-o de uma feira a outra, os soldados do nababo espancavam Haridasa impiedosamente. Com seus corações negros consumidos pelo ódio, eles deixaram o devoto puro do Senhor quase sem vida. Contudo, como uma alma completamente rendida ao Senhor Supremo, Haridasa cantava continuamente o nome de Krishna. Tão absorto estava ele na bem-aventurança desse cantar que nenhuma dor se fez sentir em seu corpo.

Diante da grande violência contra o corpo de Haridasa, as pessoas piedosas e de bom coração provavam uma aflição insuportável. Alguns imploravam para que os guardas parassem, enquanto outros prediziam: “Porque um homem santo está sendo assim açoitado, todo este reinado se encontrará com a ruína”. Muitos amaldiçoavam o rei e seu primeiro ministro à morte, e outros tentavam parar os soldados fisicamente. Um homem atirou-se aos pés dos soldados e implorou: “Eu dou qualquer coisa a vocês para que parem com esse açoitamento impiedoso!”.

Apesar de todas estas intervenções, nem mesmo o mais leve vestígio de misericórdia se despertou nos guardas do nababo. Com seus corações dominados pelo ódio, eles arrastavam Haridasa Thakura de uma feira pública a outra e o açoitavam inexoravelmente.

Pela misericórdia do Senhor Krishna, contudo, Haridasa não experimentou nenhuma dor. Quando Prahlada Maharaja era por muitos demônios torturado, ele não provava sequer uma única dor em seu corpo – e assim também se deu com Srila Haridasa Thakura. E todo aquele que se lembra desta história de Haridasa Thakura também se livra de todas as misérias da vida.

Na verdade, houve uma dor que Haridasa provou; esta, no entanto, vinha de dentro de seu coração. Ele orava: “Ó Senhor Krishna, por favor, seja misericordioso com estas pobres almas condicionadas. Que o ódio delas por mim não seja considerado uma ofensa! Que elas não tenham de sofrer nenhuma reação por minha causa!”.

Determinados a verem o fim de Haridasa Thakura, os soldados espancavam-no de feira em feira. Apesar de muito brutalmente açoitado, ele não esboçava nenhum sinal de ansiedade ou de estar se aproximando da morte. Os soldados muçulmanos pararam estupefatos.

“Como é possível a um ser humano sobreviver a tão brutal espancamento? Nenhuma pessoa comum sobrevive a duas ou três seções, mas este homem, embora já açoitado em vinte e duas praças mercantis, continua respirando. Além de não morrer, ele também não exibe nenhum sinal de dor, senão que de tempos em tempos sorri para nós”. Outro soldado se perguntava: “Ele é um ser humano ou será ele um grande santo?”.

“Ó Haridasa”, os soldados disseram suplicantes, “por sua causa, seremos mortos. Apesar de o termos castigado severamente, você continua a viver. O qazi, agora, certamente nos matará por nosso fracasso”.

“Se o meu viver é um infortúnio para vocês”, respondeu Haridasa, “então eu morrerei. Apenas observem”. Após dizer estas palavras, ele entrou imediatamente em transe profundo. Um devoto puro do Senhor Supremo possui todos os poderes místicos. Assim, livre de qualquer hesitação, Haridasa, não apresentando nenhum movimento respiratório, caiu ao chão. Os soldados muçulmanos ficaram impressionados com aquilo, mas carregaram satisfeitos o corpo de Haridasa até a presença do nababo.

Quando o nababo ordenou aos soldados que o enterrassem, o qazi protestou: “Não! Se ele for enterrado, ele será salvo! Embora tenha nascido como muçulmano, ele viveu como um hinduísta. Ele não é digno de tal fim. Se ele for enterrado, acabará por chegar ao paraíso. Para que ele sofra eternamente, como todos os demais hinduístas, jogue seu corpo no Ganges”.

Em cumprimento às ordens do qazi, Haridasa foi levado para o rio sagrado. Haridasa seguia absorto em seu transe mortal, meditando indesviavelmente na Suprema Personalidade de Deus. Enquanto se absorvia nessa meditação bem-aventurada, o Senhor Krishna, o mantenedor de todos os mundos, apareceu em seu corpo. Agora que Krishna havia aceitado o corpo de Haridasa como Sua morada, quem seria forte o suficiente para jogá-lo no rio? Os mais fortes dos soldados vieram tentar empurrá-lo para dentro do Ganges, mas ele permanecia imóvel como um grande pilar.

Em seu interior, Haridasa afogava-se no nectáreo oceano de amor a Krishna. Quanto ao mundo externo, ele não tinha consciência alguma dele. Se ainda estava corporificado, se vagueava por algum lugar do universo ou se estava no fundo das águas do Ganges, ele não sabia. Assim como Prahlada Maharaja, Haridasa Thakura tinha a habilidade espiritual de sempre se lembrar de Krishna e de nEle meditar com profunda devoção. Dado que o Senhor Chaitanya tinha o coração de Haridasa como Sua morada permanente, nada há de inacreditável nisso.

Assim como Hanuman, por respeito ao semideus Brahma, permitiu que os rakshasas o prendessem, também Haridasa, para ensinar uma grande lição ao mundo, permitiu que os muçulmanos o açoitassem. A lição ensinada por ele foi: “Mesmo que a pessoa esteja sofrendo com as mais terríveis misérias da vida ou esteja prestes a morrer, ela jamais deve parar de cantar o nome do Senhor Hari”.

Uma vez que Haridasa Thakura era protegido diretamente pelo Senhor Krishna, quem poderia ocasionar-lhe algum mal? Simplesmente por se lembrar do nome de Haridasa, a pessoa se torna livre de toda dor e miséria. E se ela se lembra da história de Haridasa Thakura, essa verdade é multiplicada muitas e muitas vezes. Não há nada mais certo do que Haridasa ser um dos mais íntimos e importantes associados da Suprema Personalidade de Deus, Sri Chaitanyachandra.

Por alguns momentos, Haridasa flutuou com a correnteza do Ganges. Em dado instante, pelo desejo do Senhor Supremo, novamente ele recobrou sua consciência do mundo externo. Desperto e em grande êxtase, o impoluto Haridasa subiu o barranco do rio. Então, cantando continuamente os santos nomes do Senhor Krishna, ele procedeu em direção a Phuliya.

Testemunhando o incrível poder de Srila Haridasa, os muçulmanos trocaram o ódio e a inveja de seus corações por um intenso sentimento de felicidade. Adorando-o como um grande santo, eles ofereceram-no suas reverências. Em virtude disso, todos eles obtiveram a salvação. Na presença do nababo, Haridasa lhe sorriu com grande misericórdia. De pé em sinal de respeito e com as palmas das mãos unidas, o nababo disse humildemente:

“Agora posso entender que você é um verdadeiro homem santo. Você conhece a verdade absoluta, o Deus único, e pode vê-lO em toda parte. O conhecimento absoluto e a liberação, sobre os quais os yogis místicos e filósofos apenas falam, você, como um ser humano perfeito, obteve-os facilmente. Vim até você com o objetivo bem específico de lhe implorar perdão. Por favor, bondosamente perdoe as ofensas que cometi contra você. Porquanto sua visão é equânime, para você não há amigos ou inimigos. Não há ninguém em todo o mundo que possa se igualar a você. Você pode ir para onde bem entenda. Viva onde queira: em uma cabana isolada ou em uma caverna às margens do Ganges e seja feliz. Você é um homem livre sob todos os aspectos”.

Por verem os pés de lótus de Haridasa Thakura, os muçulmanos esqueceram todos os problemas do mundo material. Os muçulmanos que o odiaram ao extremo de quererem sua morte, agora, transformados, tocavam seus pés adorando-o como um grande santo.

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fonte: voltaaosupremo.com/artigos/historias/srila-haridasa-e-o-cantar-dos-santos-nomes/

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Hoje é o dia sagrado de Ananta Caturdasi Vrata ou Ananta Padmanabha Vratha 28/09/2023 quinta-feira

Ananta Padmanabha Vratha

Conteúdo

· Introdução

· Rituais do Festival

· Referência Purânica

· Vratha Katha

Introdução

Anantha Padmanabha Vratha é um festival dedicado ao Senhor Vishnu. Senhor Vishnu aparece como Anantha Padmanabha, reclinado no sofá de “Anantha”, uma serpente de mil capuzes. Anantha também significa “infinito”. Este vratha é observado por casais para felicidade conjugal.

Rituais do Festival

O festival é celebrado no 14º dia de Bhadrapada Shukla Chaturdashi (14º dia da lua crescente no mês de Bhadrapada Masa, setembro-outubro). O festival é conhecido como Anantha Chaturdashi, pois o festival é comemorado no dia 14dia do mês. O vratha é realizado colocando dois Kalashas junto com o Anantha Daara (fio). Um Kalasha (Kalasha refere-se à colocação de um coco untado com açafrão e tilak em uma panela de cobre cheia de água do rio e passas. A panela de cobre é decorada com quatorze folhas de bétele e nas folhas de bétele é colocado o coco) é decorada com yagnopaveetham e dharbhe/grama sagrada indicando Senhor Anantha Padmanabha. A grama sagrada (em número de sete) é amarrada para formar um capuz, representando Anantha e a outra Kalasha é decorada com joias indicando a Deusa Lakshmi. Ambas as kalashas são decoradas com guirlandas. Então o Senhor Anantha Padmanabha e a Deusa Lakshmi são invocados realizando o Shodashopachara Puja. O Puja é realizado com 14 variedades de flores e folhas. Doces especiais são preparados e oferecidos ao Senhor. Athirasa, um doce feito de arroz, açúcar mascavo e coco é preparado e oferecido ao Senhor. Puran Poli também é feito e oferecido ao Senhor como Neivedhya. Todos os doces são oferecidos em 14 números, como 14 puran poli, 14 Athirasa etc. Os casais são convidados para o almoço. As pessoas que realizam este vratha são abençoadas com Ayush (longa vida), Arogya (saúde) e Gyana (conhecimento). O Anantha Vratha é observado durante 14 anos e durante os 15 Arogya (saúde) e Gyana (conhecimento). O Anantha Vratha é observado durante 14 anos e durante os 15 Arogya (saúde) e Gyana (conhecimento). O Anantha Vratha é observado durante 14 anos e durante os 15No ano seguinte, Udayapane (um ritual realizado para encerrar formalmente um vratha) é realizado.

 

 

 

Anantha Daara (tópico) 

Um importante ritual de Anantha Vratha é amarrar o fio vermelho sagrado composto por 14 fios. Algumas pessoas chegam a fazer 14 nós com 14 fios.

Os 14 fios indicam os 14 anos de vratha realizados pelos Pandavas durante vanavasa. O Anantha Daara (fio) também é santificado pela adoração com kumkum. Depois de realizar o puja, o Anantha Daara é amarrado na mão esquerda pelas mulheres e na mão direita pelos homens.

Referência purânica

O Senhor Krishna sugeriu que o rei Yudishtira realizasse este vratha durante seu vanavasa (período de exílio) para se livrar de suas tristezas e trazer de volta a riqueza e a prosperidade perdidas. Conseqüentemente, o rei Yudishtira realizou o vratha por 14 anos. Assim, este vratha é observado durante 14 anos.

Vratha Katha

Era uma vez uma jovem Susheela, filha de um brâmane Sumanta e de sua esposa Deeksha. Susheela perdeu a mãe cedo e Sumanta se casou com outra mulher conhecida como Karkashe. Karkashe era muito briguento com Susheela. Quando Susheela atingiu a idade de casar, o sábio Kaundinya foi à casa de Sumanta em busca de uma noiva. Como Sumanta queria que sua filha se livrasse do assédio de Karkashe, ele casou Susheela com Sage Kaundinya. Sumanta só poderia dar um pouco de farinha de trigo frita para sua filha como presente de casamento.

Enquanto Susheela e Kaundinya estavam a caminho do Ashram do Sábio, Susheela viu um grupo de brâmanes e suas esposas, todos vestidos com trajes vermelhos, realizando puja nas margens de um rio. Susheela perguntou aos brâmanes sobre o puja. Ela conheceu os detalhes do puja com as senhoras e os frutos da realização do Puja. Susheela então desejou realizar o puja, pois naquele dia era Bhadrapada Shukla Chaturdashi. Ela então se juntou aos outros brâmanes e senhoras reunidas nas margens do rio e realizou o puja. Ela distribuiu metade da farinha de trigo aos brâmanes e voltou ao ashram do sábio Kaundinya. Como resultado do vratha, o casal leva uma vida próspera. Logo os parentes do Sábio Kaundinya também quiseram realizar o Vratha.

Um dia, quando o Sábio Kaundinya viu o fio vermelho no pulso de Susheela, ele ficou furioso e, sem nem esperar uma explicação de sua esposa, removeu à força o fio do pulso dela e jogou-o no fogo. Susheela imediatamente pegou o fio meio queimado e mergulhou no leite. Este ato foi caro demais para o Sábio Kaundinya. Ele logo perdeu sua riqueza, o gado e seus parentes também o abandonaram. Ele então percebeu sua tolice de jogar o cordão sagrado no fogo e encarar o Anantha Padmanabha vratha levianamente.

O sábio Kaundinya, para se arrepender de sua loucura, foi em busca do Senhor Anantha Padmanabha. Ele entrou em uma floresta procurando freneticamente pelo Senhor. Depois de vários dias de busca pelo Senhor, sem comida e água, ele caiu na floresta. Senhor Vishnu veio disfarçado de brâmane e reviveu o sábio. O Senhor então o levou ao Seu palácio e apareceu diante do sábio em Sua forma original junto com a deusa Mahalakshmi. O sábio Kaundinya satisfeito com o darshan do Senhor Vishnu cantou vários shlokas em louvor ao Senhor Vishnu. O Senhor então abençoou Kaundinya com três bênçãos: riqueza, capacidade de seguir o dharma e mukthi saubhagya.

O sábio Kaundinya voltou para casa e executou o Anantha Padmanabha Vratha por 14 anos. Ele então levou uma vida de contentamento e felicidade. Vários reis como Janaka, Harishchandra Sagara e Dilipa e Sage Agastya no passado realizaram o Anantha Padmanabha Vratha.

Nos estados de Maharastra e Andhra Pradesh, Anantha Chaturdashi é celebrado com grande pompa, pois é o último dia em que o ídolo do Senhor Ganesh adorado durante Ganesh Chaturthi é imerso na água.


Tags: Anantha ,  Padmanabha ,  Vratha ,  Serpente ,  bhadrapada ,  chaturdashi
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