sábado, 7 de outubro de 2023

Rússia, China e a masculinidade no @submundointelectual - PHVox Geopolítica e Formação

30 Ensinamentos de Olavo de Carvalho - Jornal do Empreendedor

Olavo de Carvalho

Trinta ensinamentos do filósofo Olavo de Carvalho para você começar a semana um pouco mais inteligente:

1- O tempo é a substância da vida humana. O dinheiro que se perde, ganha-se de novo. O tempo, nunca.
2- Um homem maduro é aquele em cuja alma todos os sentimentos e emoções – ternura, ódio, esperança, pressa, indiferença, todos eles – são balizados pela consciência da morte.
3- Não prostitua a sua personalidade em troca da aceitação pelo grupo. É um preço muito alto a ser pago.
4- O mistério da existência não é dado a qualquer um, mas para aquele que dá tudo e mais alguma coisa em troca de obtê-lo.
5- O medo de enxergar o tamanho do mal já é sinal de submissão ao demônio.
6- Aquilo que é nobre e elevado só transparece a quem o ama.
7- Quando você vê um casal bonito e fica sinceramente feliz com a felicidade deles, é sinal que Deus o está ajudando de muito perto.
8- Deus perdoa os adúlteros, os mentirosos, os ladrões e até os assassinos, mas não perdoa quem não perdoa. Posso estar enganado, mas suspeito que no inferno há menos adúlteros do que cônjuges virtuosos que lhes negaram o perdão.
9- A mais perfeita forma de amizade somente é possível para aqueles que buscam a Verdade. Pessoas mundanas, por melhores que sejam, jamais conhecerão a dimensão espiritual de um verdadeiro amigo.
10- Se um pai conseguir educar uma criança até os cinco anos sem nunca fazê-la chorar, ela vai amá-lo, respeitá-lo, admirá-lo e obedecê-lo pelo resto da vida.
11- As pessoas que mais se angustiam na vida são aquelas que padecem de uma desesperadora falta de problemas.
12- O capital intelectual é o que define o destino das nações.
13- A paciência é o começo da coragem. E é mesmo. Se você não consegue sofrer calado, sem choramingar nem amaldiçoar o destino, muito menos vai conseguir agir certo quando surgir a oportunidade.
14- O amor é sobretudo um instinto de defender o ser amado contra a tristeza.
15- As portas do espírito só se abrem à perfeita sinceridade de propósitos.
16- Não há ingenuidade maior do que querer parecer esperto.
17- O que você quer ter sido quando morrer?
18- O Brasil só tem DOIS problemas: uma incultura MONSTRUOSA e a ânsia do brilho fácil.
19- Pare de propor soluções nacionais, seu filho da puta. Faça algo para se educar e educar as pessoas em torno.
20- Não existe caminho das pedras. O Brasil só pode ser melhorado cérebro por cérebro.
21- Já expliquei mil vezes: Não tenho nenhuma solução para os problemas nacionais, mas tenho algumas para você deixar de ser burro.
22- Estudar pouco e discutir muito é a desgraça do brasileiro.
23- À medida que vai se empoderando, o sujeito sai logo enfoderando todo mundo em torno.
24- O comodismo conservador é tão obsceno quanto o fanatismo esquerdista.
25- A moral burguesa só se preocupa com pequenos deslizes sexuais porque é covarde demais para enxergar os grandes crimes do satanismo universal.
26- Ser jovem é uma doença que o tempo cura.
27- Em grego, “idios” quer dizer “o mesmo”. “Idiotes”, de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez.
28- Quanto ao politicamente correto: só crianças acreditam que mudando o nome de algo, ele passa a ser o que elas desejam.
29- O Brasil é o país em que famílias de bandidos mortos em conflito de facções nos presídios tem o direito a uma indenização do Estado e as vítimas destes mesmos criminosos da sociedade não faz jus a nada.
30- A vocação é algo para o qual você tem uma resistência específica. A minha resistência específica é a burrice humana.

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Os vídeos do Dr. Jordan B. Peterson já foram assistidos mais de 38 milhões de vezes no YouTube. Seu canal tem cerca de 700 mil seguidores, e pelo menos 7 mil pessoas doam mensalmente, através da plataforma Patreon, algo em torno de 65 mil dólares para que uma série especial de aulas possa continuar a ser transmitida. Nos últimos meses Peterson se tornou uma espécie de celebridade digital highbrow disposta a debater onde é chamada, e pregar, contra as modas do tempo, uma palavra de responsabilidade pessoal e sinceridade. Seu livro mais recente, 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos, é o 5º livro mais vendido na Amazon na data de publicação deste texto.

Psicólogo clínico e professor da Universade de Toronto, Peterson ganhou notoriedade quando em 2016 publicou três vídeos criticando o projeto de lei federal Bill C-16, que incorporava ao Ato de Direitos Humanos e ao Código Criminal Canadense proteções à “identidade de gênero” e à “expressão de gênero”. Os detalhes das políticas relacionadas a legislações similares, argumentava o prof. Peterson, eram perigosamente vagos e mal-formulados. Ademais, vocalizava sua recusa a, por força de lei, utilizar os pronomes artificiais e “preferidos” por indivíduos transgêneros que julgam não se encaixar nas categorias tradicionais de gênero — embora expressasse sua disposição para usar “ele” ou “ela” de acordo com a maneira que uma pessoa se apresentasse.

Logo a militância organizada universitária realizou, via protesto, a divulgação (de que agora deve se arrepender) do homem, até então desconhecido do grande público. Esse modo de operação, aparentemente da mesma ineficiência trágica em todo canto, não nos é estranho. Também em 2016 vimos, na internet e nas nossas universidades, alunos grevistas interrompendo aulas com cartazes e palavras de ordem berradas. O que não testemunhamos aqui foi a emergência de uma figura articulada e disposta a dobrar a aposta do conflito.


Victor Antonio Martins via Behance
A controvérsia em torno da Bill C-16
Sob a lei federal contra a qual Peterson protestava em seus vídeos, agora aprovada pelo parlamento apesar da sua participação como testemunha no Senado, tornou-se ilegal a discriminação de gênero no Canadá. Grosso modo, a lei torna obrigatória a utilização de palavras que no nosso contexto equivaleria ao uso regulamentado dos problemáticos @s nos finais de adjetivos e substantivos. A esse respeito Peterson afirma ter uma objeção principal: seu discurso não será modulado por pessoas ideologicamente motivadas. Quando algum estudante lhe pergunta o que dá a ele a autoridade de determinar que pronomes usar para tratar outra pessoa, Peterson vira o jogo de autoridade verbal às vezes exasperado: “Por que eu tenho a autoridade para determinar o que eu mesmo digo? Que tipo de pergunta é essa?!”

Peterson observa com idêntica preocupação que a imprecisão do texto da lei permite o enquadramento de qualquer discordância contra esse mesmo grupo de pessoas como discurso de ódio passível de punição legal. Essa postura foi o suficiente para torná-lo alvo de uma série de protestos dentro e fora do campus, ameaçar seu cargo e chamar para ele a atenção de uma multidão de jovens antipáticos à agenda progressista do dia.

Seus críticos mais sensatos acusam-no de alimentar um clima de ódio e intolerância que deve ser ocasião de mais violência que a já sofrida pelos transgêneros. Outros chegam às vias de fato da difamação, retratando-o como um transfóbico incitador de agressões violentas a estudantes. A controvérsia provocada pelos vídeos fez com que a administração da Universidade de Toronto lhe enviasse duas cartas de advertência, observando de maneira contraditória que, embora seu direito à liberdade de expressão devesse ser respeitado, a recusa em utilizar os pronomes preferidos poderia ser tida como uma violação da legislação de direitos humanos.

Mas as ameaças contra as quais o professor tem precisado lutar nos últimos dezoito meses não lhe são de todo estranhas. Peterson estuda o autoritarismo e as estruturas narrativas que suportam o fenômeno da possessão ideológica há pelo menos 40 anos — seu agora clássico Maps of Meaning: The Architecture of Belief trata precisamente disso.

Contra o pós-modernismo, a política de identidade e o “neomarxismo”
Como outras figuras que se apresentam como antagonistas diretas da hegemonia discursiva das esquerdas na academia e na grande mídia (Shapiro e Buchanan vêm à mente), Peterson faz uma crítica em bloco ao pós-modernismo, que acredita ser uma transmutação tardia do marxismo, e à política de identidade, sua forma de manifestação mais recente no campo do embate legislativo e judicial. Em termos de abrangência e precisão conceitual, sua perspectiva não é tão diferente daquela de outros conservadores acostumados a tratar qualquer traço de progressismo como parte de um plano civilizacional abrangente, batizado, não sem alguma agressiva ingenuidade, de marxismo cultural. Diferentemente desses conservadores, no entanto, Peterson não dá sinais de acreditar em uma coordenação de forças progressistas com fins de criação de uma sociedade com novos valores.

O campo de ação escolhido por Peterson, ele explica em entrevista ao canal Rebel Wisdom, aparentado cultural do veículo de mídia de direita de Ezra Levant, a Rebel Media, é o filosófico, talvez o teológico, e não o político. Peterson acredita que a lei e as políticas que critica são sinais de uma crise, um esgarçamento profundo na sociedade ocidental, dentro do qual o problema dos pronomes de gênero aparece como uma pequena filigrana. Sua popularidade se deve ao fato de que ele teria colocado o dedo na ferida.

Peterson ataca de maneira focada o pós-modernismo no espírito do aforismo nietzscheano segundo o qual somos todos seguidores inconscientes de filósofos mortos. Derrotar em tantas arenas quanto possível o pós-modernismo é, para Peterson, tornar alunos e ouvintes discípulos conscientes de doutrinas outras, mais responsáveis e menos ingratas que a que tem feito o mundo caminhar na borda do abismo desde o fim da Segunda Guerra.

Eis a visão de Peterson sobre o pós-modernismo. Derrida, o trickster que encabeçou o movimento intelectual, descrevia a sociedade ocidental como falogocêntrica — dominada pelos homens, fundamentalmente opressiva, egoísta até o limite, e estruturada por um modo de recepção da realidade cheio de pressupostos linguísticos e metafísicos. A negação desses pressupostos acaba na conclusão de que a noção de uma essência — das coisas, das pessoas — é parte de uma subestrutura filosófica imposta pelas práticas da cultura dominante. Negados esses pressupostos, passa-se a ver que as identidades são construtos sociais, condicionadas pelos grupos e seus conflitos.

Peterson é do grupo de pensadores que julgam que o marxismo não pôde manter intacta, sobretudo depois da melhora significativa das condições de vida dos trabalhadores nas democracias corporativas ocidentais, a ideia de que a história se desdobra como confronto entre classes. Nos anos 1970 a fraqueza da explicação marxista teria ficado suficientemente evidente, de modo que foi necessário alterar as peças do seu jogo teórico: não mais ricos contra pobres, mas opressores contra oprimidos, e tudo divivido em tantas subpopulações — os negros, as mulheres, os vários gêneros, os imigrantes — que a narrativa poderia continuar estruturalmente a mesma, apenas com novos atores.

Para os pós-modernistas o mundo é um campo de guerra de grupos identitários, e a fala, fundamentalmente um instrumento de dominação. Só há luta por poder, pouco ou nenhum espaço para a comunicação e a busca conjunta por verdades. Se você está no grupo dos opressores, bem, também você é um opressor, e todas as suas ideias podem ser desconsideradas.


Os arquétipos e a arrumação do seu quarto
A alternativa intelectual que Peterson oferece ao pós-modernismo é interessante. Em um nível fundamental, imitamos outras pessoas, disserta o Dr. Peterson. Não imitamos só as pessoas ao nosso redor, mas, por transitividade, as pessoas que vieram antes das que estão ao nosso redor, e as que vieram ainda antes dessas, numa regressão de origem irrastreável. Reproduzimos padrões de comportamento ricos em informações e que nos são incompreensíveis, consequência da imitação coletiva através dos séculos, e esses padrões se tornam manifestos como figuras da imaginação.

Essas figuras da imaginação são destilações de padrões comportamentais, e, como destilações, têm um conteúdo inteiramente diferente das nossas personalidades individuais. São conteúdos transmitidos pela cultura, e por isso Peterson acredita que essas figuras podem revelar algo a respeito da própria estrutura da realidade. Junguiano, Peterson defende uma psicologia que começa pelo pressuposto de que os arranjos arquetípicos das crenças religiosas fundamentais não são patológicos, doentios ou enganadores, não são meios de proteção delirante contra o medo da morte, mas exatamente o contrário disso — histórias que nos permitiram prosseguir como pessoas corajosas em face do caos.

Da juventude que representa a maior parcela dos seus ouvintes e alunos o interesse foi provavelmente capturado pelos dois fortes da doutrina petersoniana: as categorias pré-existentes de percepções humanas — ou arquétipos — , explicadas por meio de vivissecções demoradas de histórias bíblicas e até de desenhos da Disney (O Rei Leão e Pinóquio são favoritos), e os antídotos contra o caos da vida extraídos desses arquétipos.

O Dr. Peterson se tornou uma espécie de terapeuta, guru e professor humanista de uma imensa quantidade de jovens, principalmente homens, por falar de responsabilidade, de histórias que moldaram a cultura e de maneiras como trazer aos próprios dias uma ordem que na medida do indivíduo corresponde a uma reconquista de força e dignidade.

No contexto dos memes e das referências leves, Peterson é frequentemente lembrado pela conclamação que mais repete: clean your room! [limpe seu quarto!] — comece a redenção do mundo e a fuga do caos pelo que está ao alcance imediato das suas mãos.

Recentemente Peterson lançou seu segundo livro, o já referido 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos, no qual desenvolve uma lista de recomendações para uma vida significativa que postara no Quora anos atrás.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Ações afirmativas reparo ou mais distorções. João Maria andarilho utópico





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Psiquê e a dança. João Maria andarilho utópico. (feito com Spreaker)

Educação o quê é ? (feito com Spreaker) por João Maria Andarilho Utópico.






Compre online O que É Educação - Volume 20. Coleção Primeiros Passos, de Carlos Rodrigues Brandão 


EDUCAÇÃO? EDUCAÇÕES: APRENDER COM O ÍNDIO

 Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: a coragem minha. Buriti quer todo o azul, e não se aparta de sua água — carece de espelho. Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. João Guimarães Rosa/Grande Senão: Veredas Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-- ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações. E já que pelo menos por isso sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre a educação que nos invade a vida, por que não começar a pensar sobre ela com o que uns índios uma vez escreveram? Há muitos anos nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram um tratado de paz com os índios das Seis Nações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa: "...Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. ... continue lendo o livro o que O que é educação de Carlos Brandão clique aqui ou no link abaixo.

Te amo Libertadores (feito com Spreaker)





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Comentários políticos e culturais feitos pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho. Ano de 2006, 4 de dezembro.




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terça-feira, 3 de outubro de 2023

Greve do Metrô afeta (feito com Spreaker)

React a PACHECO DEFENDE LIMITE DE MANDATO DE MINISTROS DO STF. João Mari...

React a PACHECO DEFENDE LIMITE DE MANDATO DE MINISTROS DO STF. João Maria andarilho comenta tb.








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Crise nos programas de licenciatura : Revista Pesquisa Fapesp


Brasil registra déficit de professores habilitados para lecionar em todas as áreas do conhecimento

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

Uma medida paliativa vem ocorrendo com frequência cada vez maior em escolas públicas e privadas de todo o país. Muitos estudantes estão finalizando o ano letivo de 2023 sem ter tido aulas de física ou sociologia com professores habilitados para ministrar essas disciplinas. Diante da ausência de candidatos para ocupar as docências, as escolas improvisam e colocam profissionais formados em outras áreas para suprir lacunas no ensino fundamental II e no ensino médio. A medida tem se repetido em diferentes estados e municípios brasileiros, como mostram dados de estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep): em Pernambuco, por exemplo, apenas 32,4% das docências em física no ensino médio são ministradas por licenciados na disciplina, enquanto no Tocantins o valor equivalente para a área de sociologia é de 5,4%. Indicativo da falta de interesse dos jovens em seguir carreira no magistério, o número de concluintes de licenciaturas em áreas específicas passou de 123 mil em 2010 para 111 mil em 2021. Esse conjunto de dados indica que o país vivencia um quadro de apagão de professores. Para reverter esse cenário, pesquisadores defendem a urgência da criação de políticas de valorização da carreira docente e a adoção de reformulações curriculares.

“O apagão das licenciaturas é uma realidade que nos preocupa”, afirma Marcia Serra Ferreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora de Formação de Professores da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As licenciaturas em áreas específicas são cursos superiores que habilitam os concluintes a dar aulas nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio na área do conhecimento em que se formaram. Dados do último Censo da Educação Superior do Inep, autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), divulgados no ano passado, mostram que desde 2014 a quantidade de ingressantes em licenciaturas presenciais está caindo, assim como ocorre em cursos a distância desde 2021. “As áreas mais preocupantes são as de ciências sociais, música, filosofia e artes, que apresentaram as menores quantidades de matrículas em 2021, e as de física, matemática e química, que registraram as maiores taxas de desistência acumulada na última década”, assinala Ferreira.

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Dados do Inep disponíveis no Painel de Monitoramento do Plano Nacional de Educação (PNE) indicam que, em 2022, cerca de 59,9% das docências do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e de 67,6% daquelas oferecidas no ensino médio eram ministradas por professores qualificados na área do conhecimento. Ao analisar os números, o pedagogo e professor de educação física Marcos Neira, pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade de São Paulo (USP), comenta que a situação é diferente em cada área do conhecimento. “Por um lado, a média nacional mostra que 85% dos docentes de educação física são licenciados na disciplina, enquanto os percentuais equivalentes para sociologia e línguas estrangeiras são de 40% e 46%, respectivamente. Ou seja, os problemas podem ser maiores ou menores conforme a área do conhecimento e também são diferentes em cada estado”, destaca Neira, que atualmente desenvolve pesquisa com financiamento da FAPESP sobre reorientações curriculares na disciplina de educação física.

A falta de formação adequada do professor pode causar impactos no processo de aprendizagem dos alunos, conforme identificou Matheus Monteiro Nascimento, físico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em pesquisa realizada em 2018. De acordo com o pesquisador, na ausência de docentes licenciados em física, quem acaba oferecendo a disciplina nas escolas, geralmente, são profissionais da área de matemática. “Com isso, observamos que a abordagem da disciplina tende a privilegiar o formalismo matemático”, comenta. Ou seja, no lugar de tratar de conhecimentos de mecânica, eletricidade e magnetismo por meio de abordagens fenomenológicas, conceituais e experimentais, os professores acabam trabalhando os assuntos em sala de aula apenas através de operações matemáticas e equações sem relação direta com a realidade do aluno. “O formalismo matemático é, justamente, o elemento da disciplina de física que mais prejudica o interesse de estudantes por essa área do conhecimento”, considera Nascimento.

Alunos do curso de licenciatura em química na USP

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP 

Preocupados em mensurar se as defasagens poderiam ser sanadas com a contratação de profissionais formados em licenciaturas no Brasil nos últimos anos, pesquisadores do Inep realizaram, em setembro, estudo no qual olharam para as carências de escolas públicas e privadas nos anos finais do ensino fundamental e médio. “Se todos os licenciados de 2010 a 2021 ministrassem aulas na disciplina em que se formaram nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio em 2022, ainda assim o país teria dificuldades para suprir a demanda por docentes de artes em 15 estados, física em cinco, sociologia em três, matemática, língua portuguesa, língua estrangeira e geografia em um”, contabiliza Alvana Bof, uma das autoras da pesquisa. Além disso, o estudo avaliou se a quantidade de licenciados de 2019 a 2021 seria suficiente para suprir todas as docências que, em 2022, estavam sendo oferecidas por professores sem formação adequada. Foi constatado que faltariam docentes de artes em 18 estados, física em 16 estados, língua estrangeira em 15, filosofia e sociologia em 11, matemática em 10, biologia, ciências e geografia em 8, língua portuguesa em 5, história e química em 2 e educação física em um estado. “Os resultados indicam que já vivemos um apagão de professores em diferentes estados e disciplinas”, reitera Bof, licenciada em letras e com doutorado em educação.

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Outro autor do trabalho, o sociólogo do Inep Luiz Carlos Zalaf Caseiro esclarece que o cenário de falta de professores não está relacionado com falta de vagas em cursos de licenciaturas. “Em 2021, o país teve 2,8 milhões de vagas disponíveis, das quais somente 300 mil foram preenchidas. Isso significa que 2,5 milhões de vagas ficaram ociosas, sendo grande parte no setor privado e na modalidade de ensino a distância”, relata. Licenciaturas oferecidas no ensino público, na modalidade presencial, também tiveram quantidade significativa de vagas ociosas. “De 2014 a 2019, a taxa de ociosidade de licenciaturas em instituições públicas foi de cerca de 20%, enquanto em 2021 esse percentual subiu para 33%”, informa. Cursos como o de matemática apresentaram situação ainda mais alarmante. “Licenciaturas de matemática em instituições públicas no formato presencial registraram 38% de vagas ociosas em 2021”, destaca Caseiro, comentando que muitas vagas, mesmo quando preenchidas, logo são abandonadas. Além disso, segundo o sociólogo, somente um terço dos estudantes que finalizam as licenciaturas vai atuar na docência; o restante opta por outros caminhos profissionais. O estudo foi desenvolvido a partir do cruzamento de dados relativos a docentes presentes no Censo da Educação Básica e referentes a ingressantes e concluintes em licenciaturas captados pelo Censo da Educação Superior. Ambas as pesquisas são realizadas anualmente pelo Inep para analisar a situação de instituições, alunos e docentes da educação básica e do ensino superior.

Estudantes em escola de São Paulo em aula de artes: disciplinas registram altos patamares de carência de professores

Rubens Cavallari / Folhapress

Os cursos de licenciatura enfrentam, ainda, o desafio de atualizar seus currículos. Tomando como exemplo a área de física, Marcelo Alves Barros, físico da USP de São Carlos, explica que os licenciados na disciplina, tradicionalmente, recebem formação pautada em uma abordagem com pouca conexão com outras disciplinas e a realidade do estudante da educação básica. Essa forma tradicional de pensar o conteúdo de física e ministrá-lo em sala de aula, conforme Barros, difere de diretrizes estabelecidas por documentos oficiais, entre eles a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio. Homologada em 2018, a BNCC dessa etapa de ensino determina que os currículos escolares devam deixar de ser organizados conforme disciplinas para passarem a funcionar por meio de áreas do conhecimento. Com isso, aulas de física, por exemplo, poderiam ser integradas à grande área de ciências da natureza e suas tecnologias que abarca, também, conteúdos de química e biologia. “Apesar da proposta interdisciplinar ser aspecto positivo da BNCC, a maioria dos professores de física do país não está preparada para atuar com esse viés nas escolas”, avalia Barros.

Na perspectiva do pesquisador, o novo ensino médio – criado pela Lei nº 13.415, em 2017, prevendo a flexibilização da grade curricular por meio da oferta dos chamados itinerários formativos (ver Pesquisa FAPESP nº 316) – traz desafios à formação tradicional de graduados em física. Isso porque os professores licenciados na disciplina não são preparados para ministrar aulas alinhadas com as propostas do novo ensino médio. “O descompasso entre o currículo atual do ensino médio e os conhecimentos do professor prejudica o processo de aprendizagem dos estudantes. Mais tarde, as deficiências no ensino de física na educação básica contribuem para que o jovem não queira cursar licenciatura nessa área do conhecimento”, relaciona. Segundo Barros, o caso do Instituto de Física da USP de São Carlos constitui exceção, na medida em que desde a década de 1990 os alunos da licenciatura recebem formação interdisciplinar, concluindo o curso aptos para lecionar aulas de ciência, física, química e matemática tanto para turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental como para o ensino médio. Seguindo esse modelo, o pesquisador sustenta que currículos das licenciaturas em física devam ser reformados para aproximar a disciplina dos avanços da ciência moderna, tratando de temas atuais de mecânica quântica, relatividade e astrofísica e buscando desenvolver metodologias inovadoras de ensino. “Para que essa abordagem possa ser aplicada em sala de aula, um ponto-chave são as escolas contarem com laboratórios de atividades experimentais, que podem ajudar a conquistar o interesse de alunos”, aponta Barros, integrante de projeto financiado pela FAPESP voltado à busca por estratégias de renovação do ensino de ciência.

A BNCC e a reforma do ensino médio também trouxeram desafios para as licenciaturas em história, assegura Marieta de Moraes Ferreira, historiadora da UFRJ. “As novas diretrizes enxugaram os conteúdos específicos de áreas como sociologia, história e filosofia que devem ser ministrados na educação básica, em prol de uma abordagem interdisciplinar. Porém os professores não foram preparados para atuar com essas mudanças”, enfatiza Ferreira. Ela recorda que as primeiras graduações nessa área do conhecimento foram criadas no Brasil nos anos 1930 com foco na formação de professores. Mais tarde, na década de 1970, com a expansão de programas de pós-graduação, as instituições de ensino passaram a valorizar atividades de pesquisa nessa disciplina, de forma que a preocupação em formar alunos para o magistério ficou em segundo plano. O debate sobre o ensino de história voltou à cena nos anos 2000, quando as instituições passaram a diferenciar quem queria ser licenciado e dar aulas de quem se graduaria como bacharel para atuar como pesquisador. “Não concordo com essa divisão e penso que não dá para ser professor sem saber pesquisar. Para formar melhores docentes, as licenciaturas deveriam articular atividades de ensino com pesquisas focadas em questões suscitadas pelo ambiente escolar”, propõe.

Alunos do ensino médio em escola de Fortaleza, no Ceará, estado que criou estratégia para melhorar a formação docente em matemática

Ez Photos / Alamy / Fotoarena

Ao refletir sobre a BNCC, o matemático Jorge Herbert Soares de Lira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), concorda que a nova base curricular pode trazer melhorias aos processos de ensino e aprendizagem, mas as mudanças precisam ser trabalhadas com alunos formados nas licenciaturas. Lira, que também é cientista-chefe da Secretaria de Educação (Seduc) daquele estado, considera que, no caso da matemática, é preciso incentivar a integração entre o enfoque aprofundado no conteúdo e estratégias de ensino. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para analisar o desempenho de estudantes nas áreas de matemática, ciências e leitura, o Brasil ficou entre os 10 países do mundo com pior desempenho em matemática.

Em 2018, para entender as razões pelas quais o desempenho dos alunos em matemática não progredia ou até recuava a partir de seu ingresso no ensino fundamental II, um grupo de pesquisadores da UFC liderados por Lira realizou um levantamento em parceria com a Seduc. “Diretores e coordenadores se perguntavam por que na virada do fundamental I para o II o desempenho matemático dos alunos não avançava tanto quanto em outras áreas”, conta. “Então, resolvemos investigar a fundo a origem desse problema.” Foram analisados dados históricos de estudantes da rede pública do Ceará do ensino fundamental até o final do ensino médio, mapeando curvas de aprendizagem e detectando os gargalos que começavam de forma massiva na passagem do ensino fundamental I para o II. Em paralelo, desenvolveram análise para avaliar o conhecimento pedagógico de professores, identificando a existência de lacunas envolvendo conceitos básicos que são trabalhados desde os anos iniciais do ensino fundamental, entre eles frações, leitura de gráficos e tabelas, o sistema de numeração decimal e as operações aritméticas. “Os docentes têm lacunas na compreensão profunda dessa matemática básica e em habilidades complexas próprias do ensino de conceitos fundantes ministrados nos primeiros anos da educação básica, que são retomados em toda a trajetória curricular. Assim, não estavam preparados para ensinar os alunos a utilizá-los em abordagens mais complexas, que começam a partir do 6º ano”, comenta Lira.

Aula de história em escola de Rio Branco, no Acre

Lalo de Almeida / Folhapress 

A partir desse diagnóstico, a Seduc passou a promover avaliações periódicas para identificar os conteúdos nos quais os estudantes não progridem. Conforme os resultados das análises, a secretaria realiza processos formativos aos docentes com vistas a melhorar seu preparo para abordar os tópicos mais estruturais do currículo. “Nesses treinamentos, mostramos aos professores como retomar conhecimentos básicos e alinhá-los com competências complexas, por meio de estratégias pedagógicas nas quais os alunos são expostos a problemas em contextos cotidianos, científicos e sócio-econômicos”, conta o pesquisador, cujo projeto é financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Para Lira, aproximar estudantes do conhecimento matemático durante a educação básica é uma forma de ampliar seu interesse por lecionar a disciplina no futuro.

Para evitar os problemas identificados por Lira no Ceará e resolver outros mapeados em São Paulo, Neira propõe atualizar os 28 programas de licenciatura da USP. O pró-reitor conta que a instituição desenvolve ações para apoiar coordenadores de cursos na reformulação de currículos. “Queremos oferecer graduações com viés integrativo, abandonando a ideia de que a formação do bacharel deva ocorrer de forma separada daquela oferecida ao licenciado”, resume. A USP estuda uma parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para oferecer estágios remunerados em escolas públicas a alunos de licenciaturas.

Os pesquisadores defendem que as licenciaturas precisam se renovar para oferecer formações sólidas tanto no conteúdo da área do conhecimento como em questões de caráter prático e didático, preparando os alunos para saber como ensinar. “Em todas as áreas do conhecimento, alunos de licenciaturas devem ter formação nas disciplinas específicas da educação, como políticas educacionais, teorias curriculares, planejamento e avaliação, gestão escolar e organização do trabalho pedagógico”, resume a pedagoga Márcia Aparecida Jacomini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo a pesquisadora, hoje, muitos cursos de licenciatura ainda enfatizam o ensino da disciplina em si, deixando de lado aspectos práticos e metodológicos fundamentais para o sucesso do processo de aprendizagem.

Projetos
1.
 A educação física no contexto do novo ensino médio: Traduções e potencialidades (nº 22/06919-5); Modalidade Programa Ensino Público; Pesquisador responsável Marcos Garcia Neira (USP); Investimento R$ 241.790,97.
2. Estudo de implementação de inovações curriculares, estratégias pedagógicas e tecnologias emergentes para qualidade-equidade na educação básica (nº 22/06977-5); Pesquisador responsável Mauricio Pietrocola Pinto de Oliveira (USP); Modalidade Projeto Temático; Investimento R$ 1.111.669,40.
3. Mudanças curriculares e melhoria do ensino público (nº 21/11390-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsável Márcia Aparecida Jacomini (Unifesp); Investimento R$ 555.785,29.

Artigos científicos
BOF, A. M. et alCarência de professores na educação básica: Risco de apagão? Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais. v. 9. Brasília: Inep. 2023, No prelo.
NASCIMENTO, M. M. O professor de física na escola pública estadual brasileira: Desigualdades reveladas pelo Censo escolar de 2018Revista Brasileira de Ensino de Física. 42: SciELO Brasil. 2020.

Livro
FERREIRA, M. M. A história como ofício. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2013.

Relatório
Censo da Educação Superior 2021. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Brasília: Ministério da Educação, 2022.


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