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terça-feira, 26 de março de 2024
Sereis Como Deuses Cap 4 Felipe Gimenez
segunda-feira, 25 de março de 2024
domingo, 24 de março de 2024
Mahābhārata e a Bhagavad Gītā
Vamos iniciar hoje uma série de textos sobre a Bhagavad Gītā.
A Bhagavad Gītā é um dos capítulos da obra indiana chamada Mahābhārata. Considerada uma das maiores obras do mundo, Mahābhārata possui 18 capítulos, e conta uma das histórias mais fascinantes do mundo. O 6º capítulo é a Bhagavad Gītā, que descreve o momento em que, antes do início da guerra de Kurukṣetra, Arjuna pede para Kṛṣṇa levar o carro deles até o centro do campo de batalha para que ele possa ver os dois exércitos. Neste momento, Arjuna perde toda a coragem que o fez estar no campo de batalha. Ele vê que o exército inimigo possui muitos rostos conhecidos: seus primos, tio, professor, avô e por um momento ele esquece os motivos da guerra.
Para entendermos melhor os motivos que deram origem à guerra, é importante conhecermos a história do Mahābhārata, como faremos agora.
O Mahābhārata começa apresentando três gerações antes da época de Kṛṣṇa e Arjuna, nos tempos do rei Shantanu.
Era uma vez...
Um rei chamado Shantanu. Shantanu era um rei da casta kṣatriya, muito dhármico e desta forma cuidava muito bem do seu reinado conhecido como Hastinapura. Por ser justo e altruísta, seu reinado era próspero e os moradores felizes. Mas, Shantanu vivia sozinho. Ainda não tinha encontrado uma mulher merecesse o seu amor e pudesse então se tornar a rainha do seu reinado. Um dia, caminhando nos campos de sua propriedade, ao se aproximar do rio Ganges, o rei Shantanu vê uma linda mulher. Ele fica paralisado, admirando a sua beleza e de onde estava podia ver que as águas do rio pareciam que se misturavam à ela. Shantanu pensa: eu quero me casar com essa mulher! Ela é tão linda que merece ser a rainha de Hastinapura! E Shantanu se aproxima da moça e conversa com ela. O nome dela era Ganga, a bela e divina Gaṅgā (a personificação do rio Ganges).
Shantanu diz à ela que está apaixonado e pede a moça em casamento. Gaṅgā está muito encantada com Shantanu, e aceita o pedido de casamento. Mas, para aceitar se casar, Gaṅgā impôs uma condição: a de que o marido nunca perguntasse sobre as ações realizadas por ela. E se ele perguntasse algo, ela iria embora para sempre e imediatamente. Shantanu muito apaixonado, aceitou. Os dois viveram um casamento muito feliz, e Gaṅgā engravidou do primeiro filho. Shantanu fica extremamente feliz, pois ele ama sua esposa e agora a família começaria a crescer. Quando o bebê nasce, Shantanu fica ainda mais feliz, pois o primeiro filho é um menino. Todo rei sonha em ter um filho homem para que seja o herdeiro do trono e possa dar continuidade ao seu reinado. Shantanu faz então uma uma linda festa, para comemorar o nascimento do seu filho. Tudo está perfeito, mas neste mesmo dia, de repente, Shantanu vê sua esposa tão querida levando o bebê até o rio Ganges.
Shantanu a acompanha de longe. Ele sente vontade de questioná-la mas lembra-se da sua promessa antes de casar e se mantem em silêncio. Para sua surpresa, Ganga entra no rio e desce lentamente o bebê na água e o afoga com um sorriso nos lábios. Shantanu, em choque, sente vontade de perguntar o porquê daquele ato tão violento contra o filho tão esperado por eles. Mas, ele se lembra da condição imposta pela esposa, e com medo, decide não perguntar nada, sofrendo em silêncio.
Depois deste triste episódio, Ganga e Shantanu tiveram mais 6 filhos, mas ela afogou os seis nas águas sagradas do Ganges. Shantanu sofre em silêncio vendo sua divina esposa afogando seus filhos e sem poder entender o que se passava na mente dela. Agora ela já tinha matado sete filhos que eram tão desejados por ele.
Quando ela engravida do oitavo, Shantanu decide que não permitirá mais aquela situação. Quando o bebê nasce, Shantanu observa a esposa de longe. Ela leva o bebê para o Ganges, mas antes que ela o afogasse, Shantanu perde o controle e corre em direção à esposa, pedindo explicações e implorando que ela não matasse mais um de seus filhos. Gaṅgā explica que agiu desta forma com os bebês pois existia um acordo entre ela e as almas desses bebês. Neste acordo, Gaṅgā deveria afogá-los para que eles pudessem retornar à vida astral sem precisar passar por todas as fases de uma encarnação material. Gaṅgā diz ainda que vai levar o bebê - que foi chamado de Devadata - com ela para educá-lo e que quando o menino estivesse mais velho, ela o traria de volta, para a companhia do pai.
Shantanu se entristece, mas nada pode fazer ao ver sua bela e divina esposa partir com seu filho. Shantanu passa os dias seguintes na mais profunda depressão. Durante muitos anos, todos os dias ele volta ao rio e espera por Ganga e seu filho.
Um dia, ao realizar o mesmo percurso, Shantanu vê de longe um movimento das águas do rio Ganges. Ele se aproxima e vê um garoto de aproximadamente dezesseis anos, controlando as águas do rio. Impressionado, pois ninguém até aquele dia havia conseguido controlar o rio Ganges daquela forma, Shantanu se aproxima do garoto e vê que logo atrás estava sua tão amada esposa, Ganga. Shantanu fica muito feliz por rever a sua linda esposa. Ele diz à ela: "-Você voltou!" E ela responde: "-Sim! Eu voltei! E trouxe o seu filho, Devadatta. Ele agora é um príncipe que estudou com os melhores rishis e aprendeu além das escrituras védicas, a arte da guerra. Agora ele está preparado para te ajudar no reinado. "
Shantanu fica muito, mas muito feliz. Ele esperou tanto por aquele momento! Ele sente seu coração preenchido e agradece muito Ganga por ter voltado.
Mas, Ganga deixa o garoto e se despede e desaparece nas águas do rio Ganges.
Shantanu fica feliz e ao mesmo tempo triste. Ele agora tinha o seu filho tão esperado, mas ficou confirmado que não teria mais a sua amada esposa.
Voltando ao palácio, Shantanu e seu filho Devadatta se tornam grandes amigos. O amor entre eles cresce a cada dia e Shantanu pela primeira vez depois de tantos anos, se sente feliz, em paz.
Um tempo depois, Shantanu ao passear sozinho pelos campos do seu reinado, um pouco distante do seu palácio, na beira do rio, ele vê uma linda moça que rouba a sua atenção. Ao se aproximar, ele sente uma energia diferente, um aroma de flor de lótus que vinha da pele da moça que o deixa encantado. Ela tinha uma beleza nunca por ele vista antes.
Ela era Satyavati, filha do líder dos pescadores do seu reinado.
Satyavati, antes de conhecer Shantanu, tinha sofrido uma maldição, que era a cheirar tão mal a peixe, que ninguém se casaria com ela.
Um sábio chamado Parasara sentiu pena dela e a abençoou com beleza e fragrância de flor de lótus. Ele também deu a ela um filho imaculado, Vyāsa, que foi educado por rishis.
Shantanu se apaixona e quer se casar com aquela linda mulher. Ela aceita se casar e ele fica muito feliz, radiante. Mas, quando ele conta à ela que tinha um filho, tudo se modifica imediatamente. Satyavati se sente traída e diz que não quer mais se casar. Que seus filhos nunca serão os herdeiros do trono, pois ele já tem um filho mais velho. Shantanu fica muito triste e vai embora para o palácio.
Os dias passam e Devadatta vê que seu pai está diferente, muito quieto e triste. Tenta conversar com o pai, mas não consegue descobrir o motivo. Decidido a descobrir o que estava acontecendo, pede informações ao cocheiro do pai e fica sabendo sobre Satyavati.
Devadatta amava muito seu pai e fica muito triste ao saber que ele estava sendo o motivo do seu sofrimento. Decide então falar com Satyavati e faz um juramento de que se ela aceitasse se casar com seu pai, ele abdicaria ao trono e nunca se casaria, seria um brahmacharya. Mas que ficaria do lado do rei a vida toda, protegendo o reinado de Hastinapura. Ao fazer este voto que é considerado terrível para um kshatriya, ele recebe um segundo nome: Bhīṣma, aquele de votos terríveis.
Shantanu, ao saber dos votos feitos por seu amado filho, fica muito triste. Pede ao filho que desfaça o voto. Mas Devadatta, agora Bhīṣma, diz que não irá quebrar o seu voto de maneira nenhuma. O pai se conforma e em agradecimento à atitude do filho, o abençoa para que ele morra somente quando desejar.
Shantanu e Satyavati se casam e têm dois filhos: Chitrangada, que morreu ainda jovem, e Vichitravirya, que por ter uma vida desregrada, morre novo, deixando duas esposas: Ambika e Ambalika.
Quando Vichitravirya morreu, para que o reinado não terminasse, sua mãe Satyavati se utilizou da lei da época que dizia que um irmão poderia gerar filhos na esposa de um irmão que tivesse morrido sem deixar filhos.
Satyavati pede a seu filho Vyasa que desempenhasse esse papel, e assim foi feito.
De Ambika nasceu Dhṛtarāṣtra, cego de nascença. De Ambalika nasceu Pāṇḍu, uma criança frágil.
Satyavati não se satisfaz com o nascimento dos netos. Ela esperava o nascimento de um menino que se tornasse o rei de Hastinapura. E pede então à Vyasa, que ele gere mais um bebê. Então, Vyāsa gera um filho em uma ajudante do reinado, chamado Vidur, um bebê saudável, mas que é rejeitado pela avó por ser filho da criada.
Dhṛtarāṣtra, mesmo sendo cego, se tornou muito forte e inteligente, pois foi treinado por seu irmão Pāṇḍu, desde pequeno. Quando atingiu a idade de se casar, a família arranjou o seu casamento com a linda princesa do reinado de Gandhar, chamada Gandhari.
A família de Gandhari aceita o casamento, mas não conta à querida filha Gandhari que ela se casaria com um príncipe cego. Quando ela estava pronta para o casamento, uma criada invejosa comenta: "Princesa, por que você se arrumou tanto se o seu marido não pode ver a sua beleza?" Ao ouvir isso, Gandhari se sente traída pela própria família, mas decide aceitar o casamento para não desonrar o nome de seu pai. Mas, em sinal de respeito ao seu marido cego, ela veda os olhos, minutos antes de seu casamento sem nunca ter visto seu marido.
Quando o casamento se inicia e Dhritarashtra entende que a futura esposa vendou os olhos, ele fica furioso e após o casamento, ele a rejeita, mas Gandhari se esforça para ganhar confiança e o amor de seu marido.
Gandhari tinha recebido uma benção, antes do casamento, de que geraria cem filhos em uma única gestação. E assim aconteceu, Gandhari e Dhṛtarāṣtra tiveram cem filhos.
Enquanto Gandhari estava grávida, Dhṛtarāṣtra estava muito feliz. Mas, quando os 9 meses da gestação se passaram e os bebes não nasceram, Dhṛtarāṣtra fica furioso e resolve ter outro filho. Engravida a ajudante de sua esposa, chamada Vaiśya, e tem um filho. Após alguns dias, nascem os filhos de Gandhari. Todos nasceram no mesmo dia, da mesma gestação, mas em horários diferentes. O primeiro filho a nascer, foi Duryodhana.
Pāṇḍu, irmão de Dhṛtarāṣtra, teve duas esposas: Kunti e Madri. Kunti era tia de Krishna, irmã do pai de Krishna, chamado Vāsudeva.
Pāṇḍu, antes de ter filhos com suas esposas, sofre uma maldição por ter matado acidentalmente um casal cervos - que na verdade eram sábios - na floresta. A maldição era a de que se ele tocasse em uma mulher com desejo, ele morreria imediatamente. Muito triste, Pāṇḍu viveu com suas esposas na floresta, tentando aceitar a ideia de que nunca poderia ter filhos.
Uma de suas esposas, Kunti, quando era muito jovem, tinha sido abençoada por um sábio. A benção que recebera era a de determinados mantras que ao serem recitados, invocariam um deva que lhe daria um filho. Kunti era muito nova quando recebeu o mantra e resolveu testá-lo. Surya Deva aparece e lhe dá um filho, chamado Karna, o filho do Sol. Kunti fica encantada com a criança, mas desesperada por não quer manchar o nome de seu pai e decide, com muita tristeza, deixar seu bebê em uma cesta para que fosse levado pelo rio. Karna é encontrado por uma família de cocheiros e é criado por eles com muito amor. Kunti não revela este segredo à ninguém, nem ao seu marido.
Após viver um tempo na floresta com seu marido Pandu e a outra esposa, Madri, Kunti decide contar ao marido sobre a benção que recebera quando jovem. Ela omite sobre o que aconteceu ao recitar o mantra pela primeira vez, mas conta que poderiam ter filhos se ele aceitasse utilizar aquela benção. Muito feliz, Pandu pede a Kunti que utilize os mantras para que eles possam ter filhos.
Kunti invoca os devas Dharma, Vayu e Indra que lhes dão três filhos: Yudhishtira, Bhima e Arjuna. Pandu e Kunti se sentem realizados mas Kunti sente pena de Madri, e decide pedir um filho para ela também, invocando os devas gêmeos Ashvins que lhes deram dois filhos gêmeos, Nakula e Sahadeva.
Desta forma nasceram os cinco filhos de Pandu, chamados Pāṇḍavas: Yudhishtira, Bhima, Arjuna, Nakula e Sahadeva.
Pandu e sua família são felizes durante muitos anos.
Quando os meninos ainda eram pequenos, em um dia comum no vilarejo onde viviam, Kunti sai para caminhar com os cinco filhos. Pandu e Madri ficam sozinhos. Os dois estão cuidando da plantação de flores como sempre. Mas, sem kunti e os filhos por perto, os dois começam a brincar e correr pelos campos de flores. Os dois caem juntos e se abraçam. Pandu morre naquele momento, pois sente desejo por sua esposa.
Madri, ao ver que foi causa da morte de Pāṇḍu, morre de tristeza e Kunti se vê sozinha com os seus três filhos e os dois filhos de Madri. Ela decide abandonar sua casa na floresta e voltar ao reinado de Hastinapura.
Ao chegar em Hastinapura com seus filhos, kunti se sente acolhida. Mas os seus filhos, Pandavas, são alvos de inveja dos filhos de Dhritarashtra.
Os Pandavas são muito bons, possuem valores, empatia e um coração puro. Os seus primos, kauravas, são mimados, invejosos, adhármicos e com o coração vazio. Mas, os Pāṇḍavas e os cem filhos de Dhṛtarāṣtra são criados e educados juntos e como todo menino da casta kshatrya (guerreiros), eles vão para o Gurukulam, uma escola onde recebem ensinamentos do Guru Drona.
Na escola do guru Drona, Arjuna se destaca. Ele era um menino muito esforçado, inteligente, determinado, com muito foco, concentração e devoção ao seu guru e aos seus ensinamentos. Possuía habilidades superiores a todos os outros meninos, tanto no arco e flecha, que era a sua arma principal, quanto em outras armas. Arjuna possuía uma mente capaz de enfrentar as situações da vida de maneira sensata. Desta forma, foi alvo da inveja de seus primos, principalmente do mais velho: Duryodhana.
Desde a chegada dos Pāṇḍavas no castelo, surge uma grande inimizade entre os primos Kauravas e Pāṇḍavas, onde os Kauravas planejam e conseguem prejudicar os Pāṇḍavas o tempo todo. Eles tentam matar Bhima envenenado, constroem uma casa com materiais inflamáveis, ateiam fogo tentando matar os Pāṇḍavas e Kunti, expulsam os Pāṇḍavas do reinado, dentre outras maldades.
Yudhishtira era um pouco mais velho do que Duryodhana e portanto a primeira opção como herdeiro do trono de Hastinapura, o que deixava Duryodhana inconformado e o inspirava a destruir os Pāṇḍavas. Assim, os Pāṇḍavas cresceram e mesmo em meio a tantas desavenças, se mantiveram firmes no dharma.
Um dia, o rei Drupada, de um reinado próximo à Hastinapura, decidiu realizar para sua filha Draupadi uma cerimônia de casamento muito comum naquela época, chamada svayaṃvara. Draupadi era considerada a princesa mais linda já vista em todos os reinados da época. Na cerimônia, o rei estabeleceu que a sua filha se casaria com aquele que conseguisse erguer um arco muito pesado e gigante, e acertasse o centro de um alvo suspenso que não era facilmente visível. Vários príncipes foram convidados para o grande evento e todos tentaram realizar o desafio imposto pelo rei, mas sem êxito.
Somente um príncipe teve êxito: Arjuna.
Muito felizes, os cinco Pāṇḍavas voltaram para a casa levando a bela princesa, com o objetivo de apresentá-la à mãe kunti. Ao chegarem próximo da casa, Kunti os ouviu e percebendo a felicidade dos filhos, mesmo sem saber o porquê, mas supondo que tivessem adquirido algum objeto, grita de dentro de casa, dizendo que teriam que compartilhar em partes iguais seus ganhos. Kunti agia desta forma com os filhos desde que eram pequenos e jamais imaginou que o motivo da alegria fosse a princesa Draupadi.
Como o dharma da época era honrar o que a mãe diz, os cinco Pāṇḍavas se casam com uma única esposa: Draupadi. É um momento triste para todos, mas os Pāṇḍavas eram muito corretos e conseguem tornar o relacionamento com Draupadi saudável e dhármico. Eles tinham uma vida de Yoga e em nenhum momento e de nenhuma forma, abusam da esposa. Draupadi tem um filho com cada um dos Pāṇḍavas.
A intenção dos Kauravas em prejudicar os Pāṇḍavas desde que eram crianças, não é eliminada com o tempo. E em um determinado momento, chega ao ponto máximo.
Duryodhana, ainda mais maligno e cheio de inveja, cria um jogo de dados, com o objetivo de tirar todos os direitos que os Pāṇḍavas possuíam. Com a ajuda de seu tio, śakunī, o jogo foi uma grande fraude e Yudhisthtira foi sendo derrotado a cada rodada. As apostas durante o jogo foram totalmente adharmicas: foram apostados os reinados, os tesouros dos reinos, os irmãos dos reis, os próprios reis e por fim, as esposas dos reis. O tio de Duryodhana era especialista em jogos de dados e na arte do engano, e venceu Yudhishtira em todas as rodadas. Yudhishtira perdeu o reinado, perdeu a si mesmo, perdeu seus irmãos (todos se tornaram escravos de Duryodhana) e por fim, perdeu a sua esposa Draupadi, que foi o ponto fundamental para a guerra de kurukshetra.
No momento em que Yudhisthira perde Draupadi no jogo, todos os irmãos, inclusive ele mesmo, estavam sendo considerados escravos de Duryodhana. Aproveitando disto, Duryodhana pede para que seu irmão Dushasana traga a princesa Draupadi para o salão onde estava acontecendo o jogo. Ele ordena o irmão: "traga a 'criada' Draupadi pelos cabelos se precisar!"
Dushasana obedece o irmão e leva Draupadi até o salão da maneira mais agressiva possível: batendo nela e arrastando-a pelos cabelos.
Os Pandavas ficam em choque e muito tristes com a cena, mas estão presos e nada podem fazer. Duryodhana, os 99 irmãos e seu melhor amigo, Surya-putra Karna, dizem palavras extremamente ofensivas à ela. Duryodhana pede para ela sentar no colo dele e ela não obedece, então ele pede para que Dushasana tire a roupa dela na frente de todos.
Dushasana obedece, como sempre faz, e começa a puxar o sári da princesa. Ela, totalmente desesperada, lembra de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa a abençoa neste momento e faz com que o tecido do sári nunca termine, e quanto mais Dushasana puxa o tecido, mais tecido surge, até que ele começa a ficar surpreso com a situação e acaba desistindo. Todos presenciam a benção de krishna à Draupadi.
Vendo aquela cena tão absurda dentro do reinado, entre os próprios familiares, alguns parentes pedem que Duryodhana quebre a punição dada aos Pāṇḍavas e Draupadi. Mas Duryodhana diz que ele deixaria os Pandavas livres somente após passarem 12 anos de exílio na floresta como renunciantes. O 13º ano eles deveriam passar escondidos em algum lugar. Se, passados os 13 anos, ninguém soubesse onde eles se esconderam neste último ano, Duryodhana devolveria o reinado e os libertaria.
Sem reino e sem nenhum direito, os Pāṇḍavas ficaram nas mãos de Duryodhana e tiveram que seguir a sua ordem de saírem do reinado, em exílio.
Os Pāṇḍavas cumprem o acordo e retornam ao reinado. Mas Duryodhana se recusa a devolver a parte do reinado que lhes pertencia. Ele diz que não daria nenhum mínimo pedaço de terra aos Pāṇḍavas. Estes, tentaram negociar amigavelmente, mas diante da arrogância e maldade de Duryodhana e do caos que havia se instalado no reinado de Hastinapura, os Pandavas chegam à conclusão de que a guerra pelo dharma era necessária.
Quando foi decretada a guerra, Arjuna e Duryodhana procuram aliados. Arjuna decide pedir ajuda à Kṛṣṇa. Todos sabiam que Kṛṣṇa era um avatar, um ser especial e com poderes divinos. Além disso o reinado de Kṛṣṇa era muito poderoso, com um grande exército.
Duryodhana ficou sabendo através de seus informantes que Arjuna iria buscar a ajuda de Kṛṣṇa, e querendo tirar vantagem de tudo, se apressou para chegar primeiro ao palácio de Kṛṣṇa, na cidade de Dwarka. Kṛṣṇa estava descansando e Duryodhana sentou-se na frente de Kṛṣṇa, próximo à cabeceira da cama, de uma forma arrogante. Pensou: ‘ficarei aqui para que quando Kṛṣṇa acordar, ao abrir os olhos, ele me veja imediatamente’. Pouco depois, Arjuna chegou e vendo que Kṛṣṇa dormia, não se sentou e com humildade se posicionou aos pés de Kṛṣṇa, onde se manteve com as mãos em prece, em añjali mudrā.
Quando Kṛṣṇa abriu os olhos, viu Arjuna primeiro. Duryodhana fica furioso, afinal de contas ele chegou antes de Arjuna. Mas, como ele estava na frente de Kṛṣṇa, se controlou.
Duryodhana e Arjuna pediram o auxílio de Kṛṣṇa na guerra. Mas Kṛṣṇa disse que eles teriam que escolher entre o seu exército poderoso, ou a ele mesmo sozinho, sem exército e sem armas. Como Arjuna foi o primeiro a ser visto por Kṛṣṇa ao acordar, é dado a ele o direito de escolha. E, para alegria de Duryodhana, Arjuna escolhe Kṛṣṇa. Arjuna em nenhum momento hesita em escolher Kṛṣṇa para estar do seu lado, mesmo estando sem armas. Ele amava e admirava Kṛṣṇa e os dois tinham um relacionamento muito próximo. Arjuna se sente seguro em ter Kṛṣṇa ao seu lado. E ao mesmo tempo, Duryodhana comemorou internamente por ter ficado com o poderoso exército de Kṛṣṇa, sem precisar dizer nada.
Kṛṣṇa tentou, sem sucesso, convencer os Kauravas a devolverem a parte do reinado que era de direito dos Pāṇḍavas, para que a guerra não acontecesse. Mas, Duryodhana é irredutível em sua decisão. Neste momento ele chega ao ponto de mandar prender Kṛṣṇa. Diante de todo o adharma que aconteceu, a guerra se torna necessária.
A guerra acontece no campo de batalha chamado Kurukṣetra, conhecido também como Dharmakshetra, o campo do dharma. De um lado os Pāṇḍavas e seus aliados, incluindo Kṛṣṇa. Do outro lado, os Kauravas e seus aliados, incluindo o exército de Kṛṣṇa e tantos outros parentes e pessoas que eram importantes para Arjuna, como o guru Drona e seu avô, Bhīṣma.
A Bhagavad Gītā começa em Kurukṣetra, instantes antes da guerra ter início e narra o ensinamento de Yoga e Vedanta, na forma de um diálogo entre Kṛṣṇa e Arjuna. Ao ver que o exército inimigo tinha tantos rostos conhecidos, e pessoas tão queridas, Arjuna perde as forças e no papel de discípulo, pede a ajuda de seu guru Kṛṣṇa para que, através de śravaṇaṃ - o escutar o ensinamento tradicional sobre o Eu que é livre de limitação - ele possa realizar o seu dharma, que é o de eliminar o adharma e alcançar o entendimento do EU.
Após o ensinamento de Kṛṣṇa para Arjuna, a guerra se inicia. Arjuna está confiante, com clareza e auxílio de Kṛṣṇa. Desta forma, a guerra finaliza com a vitória dos Pāṇḍavas. Muitos personagens importantes morreram na guerra, os próprios filhos de Draupadi, o filho de Arjuna com Subhadra, todos os irmãos de Duryodhana, o próprio Duryodhana, seu tio Shakuni, guru Drona, Suryaputra Karna e o avô Bhishma.
A guerra era necessária, mas trouxe muito sofrimento. Após a vitória dos Pāṇḍavas,
Yudhishtira se torna o rei de Hastinapura. Kṛṣṇa, tendo terminado sua missão como avatar, é morto 'acidentalmente' por um caçador que o confunde com um cervo.
O reinado de Hastinapura se torna próspero e seus moradores, muito felizes.
Após um tempo vivendo no reinado, os Pāṇḍavas e Draupadi decidem se tornar renunciantes e saem em peregrinação pelas montanhas do Himalaia, no norte da Índia. O neto de Arjuna, filho de Abhimanyu (que foi um grande herói da guerra) e da princesa viúva Uttara, se torna o rei. E assim termina o Mahābhārata.
Existem algumas versões do Mahābhārata, pois é uma história que foi contada oralmente durante milênios. Conto aqui alguns pontos mais importantes e que facilitam o entendimento sobre a guerra de Kurukṣetra, da forma como aprendi tradicionalmente com meus mestres. Com esta introdução, fica mais fácil entender o grande sofrimento de Arjuna diante da guerra com seus parentes.
No capítulo 6 do Mahābhārata é onde se encontra o ensinamento da Gītā em 700 belíssimos versos. Apesar de encontrarmos versões diferentes do Mahabharata, os versos deste capítulo 6 são sempre os mesmos, em todos os ensinamentos, e por isso a Gītā é considerada um texto para o estudo de Vedanta. Muitos grandes mestres comentaram a Gītā, como Adi Śaṅkarācārya e Paramahansa Yogananda. É um texto especial e recomendado à todos os yogis e estudantes de Vedanta. Os versos possuem uma métrica especial para que possamos cantá-los e decorá-los mais facilmente.
Om Tat Sat.
Agradeço muito por poder escrever sobre esta história tão fascinante. Se você quer aprender mais sobre a Gītā, acompanhe nossos próximos posts, com a continuação da série de textos sobre a Bhagavad Gītā. Postarei aqui um resumo de cada um dos 18 capítulos da Gītā. A partir de agosto de 2021 iniciaremos uma nova turma de Vedanta - online - com o ensino da Gītā.
Hari OM! 💜
Texto: Ju Matos
Pranava - Centro de Estudos de Yoga e Vedanta.
fonte acessado em 24/03/2024 às 13:39 www.yogapranava.com/post/mahābhārata-e-a-bhagavad-gītā
Hoje é dia do Transcendental aparecimento de Gaura Purnima, O Advento do Avatar Dourado 24/03/2024 jejum até o por do sol
Gaura Purnima, O Advento do Avatar Dourado
Vrindavana Dasa Thakura
(Da obra Sri Chaitanya-bhagavata)
Sob um misterioso eclipse lunar e rodeado de exclamações do santo nome de Hari, nasce o revolucionário e amoroso Chaitanya Mahaprabhu.
A vinda do Senhor Krishnachandra a este mundo material é muito difícil de compreender. Sem primeiramente receber a misericórdia do Senhor, quem tem poder para entender tal nascimento? Seus passatempos supramundanos são inconcebíveis e inacessíveis. O senhor Brahma declara no Srimad-Bhagavatam (10.14.21): “Ó Senhor do Universo, ó Pessoa Suprema, ó Alma Suprema, ó Senhor dos místicos, como és maravilhoso! Quem dentro dos três mundos pode saber quando, onde, por qual motivo e como expandes Tua potência espiritual interna, yogamaya, e executas Teus passatempos transcendentais?”. Quem pode apontar a razão ontológica para o advento do Senhor neste mundo? Somente posso ter por fonte o Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam para encontrar a razão de Seu aparecimento. “Sempre e onde quer que haja declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – aí, então, Eu próprio descendo. Para libertar os piedosos e aniquilar os malfeitores, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo venho, milênio após milênio”. (Bhagavad-gita 4.7-8) À proporção que as práticas religiosas enfraquecem, a irreligião ganha espaço. Quando isso ocorre, o senhor Brahma e os demais semideuses se aproximam do Senhor e oram pela proteção dos devotos e pela aniquilação dos demônios.
A fim de restabelecer o processo religioso da era (yuga-dharma), o Senhor Supremo, acompanhado de Suas expansões e associados, descendeu à Terra. A religião de Kali-yuga é o canto congregacional do santo nome do Senhor (hari-sankirtana) e para estabelecer de forma definitiva esse processo, o Senhor apareceu como o filho de mãe Shachi.
Confirma-se no Srimad-Bhagavatam (11.5.31-32) que a Suprema Verdade Absoluta, Sri Chaitanya Mahaprabhu, nasce unicamente com o propósito de propagar o canto congregacional do santo nome de Krishna. Ali se diz: “Os devotos sempre oferecem orações à Suprema Personalidade de Deus através de vários mantras e observam os princípios reguladores das obras védicas suplementares. Na era de Kali, contudo, aqueles que forem inteligentes executarão especificamente o canto congregacional do maha-mantra Hare Krishna, adorando a Suprema Personalidade de Deus, que aparece nesta era como um devoto sempre a cantar as glórias de Krishna”.
A célebre escritura Srimad-Bhagavatam anunciou com milênios de antecedência o advento do Senhor Chaitanya.
O Senhor Chaitanya-Narayana revelou que o hari-sankirtana, o canto congregacional do santo nome do Senhor Hari, é a essência de toda a religião em Kali-yuga. Para o estabelecimento desse Movimento de Sankirtana, acompanhado de Seus associados, Ele aparece em Kali-yuga.
Cumprindo o desejo do Senhor, Seus eternos associados aparecem antes dEle, aceitando nascimento no mundo dos seres humanos. Ananta, Shiva, Brahma e outros grandes sábios nasceram como associados pessoais do Senhor Supremo. Todos eles nasceram como grandes devotos bhagavatas do Senhor. O Senhor Chaitanya, sendo o próprio Krishna, era plenamente ciente de suas identidades. A maior parte deles nasceu em Navadvipa, mas alguns nasceram em Chati-grama, alguns em Radha-desha e ainda outros na Orissa.
As localidades à beira do Ganges são todas puras e sagradas. Por que, então, esses vaishnavas nasceram em terras ímpias? Se o próprio Senhor Chaitanya fez Seu advento a este mundo à beira do Ganges, por que, então, Seus associados nasceram em outros locais distantes? Em suas viagens, os Pandavas nunca iam a locais onde o Ganges ou os santos nomes do Senhor Hari não estivessem presentes.
Por que associados do Senhor Chaitanya nasceram em terras não banhadas pelo Ganges?
A resposta para isso é que, porque o Senhor Krishna Chaitanya ama todas as entidades vivas assim como um pai ama todos os seus filhos, Ele ordenou que tais grandes devotos aparecessem nesses locais diversificados. O aparecimento do Senhor teve o único propósito de remir o mundo material. A fim de cumprir esse propósito, o Senhor arranjou que Seus devotos puros nascessem em terras ímpias e em famílias igualmente impiedosas. Onde quer que os vaishnavas manifestem suas glórias se torna um local puro e sagrado, um local de peregrinação. Assim, criando novos locais de peregrinação, o Senhor Chaitanya-Narayana providenciou que Seus devotos descessem ao mundo material nesses diferentes locais.
Embora tenham nascido em localidades variadas, os devotos se encontraram, como que por acaso, em Navadvipa. A terra natal do Senhor Chaitanya foi Navadvipa, daí ser Navadvipa o local de encontro de todos eles. As glórias de Navadvipa não podem ser comparadas às de nenhuma outra parte do mundo. Ciente de que o Senhor apareceria ali, o demiurgo Brahma dotou Navadvipa com tudo o que há de auspicioso.
Quem é capaz de descrever as opulências de Navadvipa? Em um único de seus balneários, centenas e milhares iam se banhar no Ganges. Pela graça da deusa Sarasvati, os residentes de Navadvipa, de todas as diferentes idades, eram eruditos expoentes das escrituras. Toda a população era muito orgulhosa de seu conhecimento material; mesmo jovens garotos debatiam apaixonadamente com os anciãos eruditos. Pessoas vinham de diferentes províncias para estudar em Navadvipa, porque ali poderiam desenvolver gosto pelo estudo sistemático. O número de estudantes de Navadvipa era incalculável, e o número exato de professores também era desconhecido. Agraciados pelo olhar favorável de Lakshmi-devi, os residentes de Navadvipa estavam contentes, mas, estando interessados em degustar apenas sabores materiais, desperdiçavam a duração de suas vidas.
Os residentes de Navadvipa tinham sobre si o olhar favorável de Lakshmi-devi.
À medida que o orgulho e a mentalidade materialista cresciam entre eles, o gosto pelo serviço devocional ao Senhor Supremo diminuía, e, com a entrada de Kali-yuga, isso se agravou consideravelmente. A única prática religiosa conhecida era a observação de vigílias invocando semideuses e semideusas – especialmente Mangala Chandi Durga – para a obtenção de efêmeros benefícios materiais. Alguns arrogantemente adoravam Manasa, a deusa das cobras, e outros desperdiçavam grandes riquezas oferecendo-as a deidades que não passavam de bonecos de deuses e deusas. Eles esbanjavam grandes somas de riquezas no casamento de seus filhos e filhas e, dessa maneira, desperdiçavam a duração de vida de que dispunham neste mundo.
Mesmo os supostos sacerdotes de elite – Bhattacharyas, Chakravartis e Misras – desconheciam a razão das escrituras. Embora ensinassem as escrituras, suas atividades não eram condizentes com as injunções das mesmas. Mesmo enquanto vivos, a forca de Yamaraja já repousava no pescoço tanto dos professores quanto de seus alunos.
Ninguém discutia krishna-kirtana, a verdadeira religião de Kali-yuga do cantar dos nomes e glórias do Senhor Hari. Não podendo apontar falhas em outros, todos preferiam ficar em silêncio. Sequer um único nome de Deus escaparia das bocas daqueles pretensos renunciantes e eremitas. Aqueles considerados os mais piedosos da sociedade podiam ser ouvidos repetindo o nome de “Govinda” ou “Pundarikaksha” uma vez ao dia enquanto se banhavam. Perspectivas devocionais estavam invariavelmente ausentes nas explicações de obras transcendentais como o Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam.
Testemunhando o mundo inteiro confuso pela energia ilusória do Senhor Vishnu, os devotos sentiam profunda tristeza. Eles se perguntavam: “Como todas essas almas serão libertas? Elas estão hipnotizadas pelo mito da gratificação dos sentidos. Embora sejam solicitados a cantar os santos nomes do Senhor Krishna, elas se recusam e seguem com suas intermináveis discussões acerca de conhecimentos ordinários. Como todas essas almas serão libertas?”.
O pequeno número de devotos vaishnavas continuava com suas atividades devocionais. Eles adoravam o Senhor Krishna, banhavam-se no Ganges e discutiam tópicos conscientes de Krishna. Apiedados da condição em que a humanidade se encontrava, os vaishnavas oravam: “Ó Senhor Krishnachandra, por favor, derrama sem demora Tua misericórdia sobre todos”.
O líder dos vaishnavas de Navadvipa se chamava Advaitacharya. Ele era a personalidade mais gloriosa de todo o mundo. Ele era o melhor exponente de jnana (conhecimento), bhakti (serviço devocional) e vairagya (renúncia). Suas explicações sobre krishna-bhakti (devoção a Krishna) eram como aquelas dadas por Shiva em pessoa. Quando discutia qualquer passagem de qualquer escritura, Sua interpretação conclusiva para todos os versos era: “Devoção aos pés de lótus do Senhor Krishna é o melhor de todos os caminhos espirituais”. Ele constantemente adorava o Senhor Krishna com grande felicidade e devoção oferecendo-Lhe tulasi-manjaris e água do Ganges.
O líder do pequeno grupo de vaishnavas existente antes do advento do Senhor Chaitanya era Srila Advaitacharya.
Dessa maneira, Advaitacharya passava Seus dias em Navadvipa. Ele Se entristecia profundamente ao contemplar uma pessoa destituída de devoção ao Senhor. Advaitacharya Prabhu era por natureza muito compassivo. No íntimo de seu coração, Ele tentava elaborar um plano para libertar as almas condicionadas. Ele pensou: “Se meu Senhor fizer Seu advento neste mundo, todos serão libertos”. Ele adorava constantemente os pés de lótus de Krishna com determinação indivisa. O Senhor Chaitanya fez Seu advento neste mundo devido aos apelos sinceros de Advaitacharya Prabhu. O próprio Senhor repetia esse fato com grande frequência.
Com a liderança de Sri Advaitacharya, os devotos empreenderam uma iniciativa para tentar fazer com que as pessoas se tornassem conscientes de Deus, mas nem mesmo uma só alma entendeu a mensagem deles. Acometido por uma grande aflição ante o sofrimento de tantos, Advaita passou a jejuar. Os vaishnavas respiravam com dificuldade vendo o estado de seu líder.
“Por que cantar e dançar para Krishna? Qual o significado do canto congregacional dos santos nomes do Senhor? O que é ser um vaishnava?”. Os materialistas grosseiros não podiam compreender nada disso, pois tudo o que queriam na vida era dinheiro e filhos. Quando se reuniam, tais ateístas zombavam e riam dos vaishnavas.
Enquanto os devotos andavam pela cidade de Navadvipa cumprindo seus deveres, não ouviam em parte alguma discussões sobre o Senhor Supremo ou sobre devoção. Perturbados com tudo aquilo, os devotos desejavam morrer. Eles suspiravam o nome de Krishna enquanto respiravam pesadamente. A dor deles ante os frívolos empreendimentos de uma sociedade materialista era tão grande que não tinham apetite. Em consequência à rejeição de toda a felicidade material por parte dos devotos, o Senhor Supremo começou a preparar Sua vinda ao mundo material.
Em Navadvipa vivia uma grande personalidade transcendental chamada Sri Jagannatha Misra. Ele era tal qual Vasudeva Maharaja: sempre ocupado em atividades transcendentais. Ele era magnânimo e possuía no mais alto grau todas as qualidades bramânicas. Suas virtudes eram sem paralelo. Sua dedicada e casta esposa, de nome Srimati Shachidevi, era a personificação da devoção ao Senhor Supremo. Ela é a mãe de todo o universo.
A irreligiosidade manifesta no começo de Kali-yuga era um indicativo do que o futuro reservava; não haveria serviço devocional ao Senhor Supremo, vishnu-bhakti, em nenhum lugar do mundo material. Em consequência do desaparecimento da religião verdadeira e do sofrimento de Seus devotos, o Senhor Supremo advém a este mundo.
A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu, entrou, então, nos corpos de Shachidevi e Jagannatha Misra. Nesse momento, as interjeições “Jaya! Jaya!” se manifestaram das bocas do Senhor Ananta. Sri Jagannatha Misra e mãe Shachi ouviram o clamor de Anantadeva como se estivessem em um sonho. Os corpos de ambos exibiam grande resplandecência, embora olhos ordinários não pudessem ver. Shiva, Brahma e os demais semideuses, entendendo que a Suprema Personalidade de Deus estava prestes a aparecer, vieram até a Terra para oferecer orações.
Os semideuses oraram: “Repetidas glórias ao Senhor Mahaprabhu, o mantenedor de todos! Repetidas glórias ao Senhor que faz Seu advento neste mundo material para inaugurar o Movimento de Sankirtana! Repetidas glórias ao Senhor Chaitanya, o protetor dos Vedas, da religião, dos devotos santos e dos brahmanas piedosos! Repetidas glórias ao Senhor Chaitanya, cuja forma transcendental é absoluta, eterna e plena de bem-aventurança. Repetidas glórias ao Senhor dos senhores, cujos desejos não conhecem obstrução. O Senhor permanece imanifesto em milhões e milhões de universos, mas Se manifesta pessoalmente no ventre de Shachidevi. Quem é capaz de compreender os desejos do Senhor? A criação, a manutenção e a aniquilação dos universos não passam de um aspecto de Seus maravilhosos passatempos. Se assim desejasses, todos os universos seriam imediatamente destruídos. Assim, não serias capaz de matar Ravana e Kamsa simplesmente pronunciando uma única palavra? Apesar de tal habilidade, apareceste nas casas do rei Dasharatha e de Sri Vasudeva para matar esses dois demônios. Ó Senhor, quem seria capaz de desvendar o mistério por detrás de Tuas atividades? Apenas Tu conheces o Teu coração. Se este fosse Teu desejo, um único de Teus servos poderia libertar as almas de todos os inumeráveis universos. Mesmo assim, vens pessoalmente a este mundo, ensinas os princípios religiosos e tornas a todos venturosos”.
Continuaram: “Em Satya-yuga, apareceste em uma compleição clara e ensinou o caminho da austeridade e da meditação executando Tu mesmo austeridades. Portando uma danda e um kamandalu, com Teus cabelos descuidados e trajando pele de antílope, descendeste a este mundo como um brahmachari com o intuito de estabelecer os princípios da religião. Em Treta-yuga, manifestando Tua bela forma como o avermelhado Yajna-purusha, ensinaste a prática religiosa dos sacrifícios. Com a sruk e a srava em mãos, pessoalmente conduziste os rituais sacrificatórios”.
Oraram ainda: “Em Dvapara-yuga, apareceste com a bela compleição enegrecida de uma nuvem de monção e estabeleceu a adoração à Deidade em toda residência. Descendendo a este mundo, Tu Te tornaste um grande rei. Trajando veste amarelas e carregando em Teu corpo transcendental a marca da Srivatsa e outros sinais exclusivos, executaste opulenta adoração à Deidade. Agora, neste presente nascimento, Tu Te apresentarás na forma de um devoto puro e incondicional do Senhor. Com todo o Teu poder, pregarás o Movimento de Sankirtana, o movimento do cantar do santo nome do Senhor Krishna. O néctar do canto congregacional do santo nome irá imergir todo o universo”.
Em conclusão, disseram os semideuses: “Ó Senhor, concede-nos Tua benevolência de forma que sejamos afortunados o suficiente para ver os maravilhosos passatempos que desfrutarás em Navadvipa. Ó Senhor, daqui a alguns dias, satisfarás o acalentado desejo da deusa Ganga ao desfrutar de muitos passatempos em suas águas. Tua primorosa forma transcendental, que os místicos e yogis veem mentalmente em suas meditações, tornou-se manifesta em Navadvipa. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Navadvipa-dhama e à casa de Shachidevi e Jagannatha Misra, onde escolheste realizar Teu aparecimento divino”.
Desse modo, Brahma e outros semideuses, mantendo-se invisíveis, ofereciam diariamente orações seletas ao Senhor Supremo.
O Proprietário Supremo de toda a criação permaneceu no ventre de Shachidevi. Com a ascensão da Lua cheia do mês de Phalguna, Ele tornou-Se manifesto. Toda a auspiciosidade residente em diferentes partes da manifestação cósmica se apresentou em plenitude naquela noite de Lua cheia. A Suprema Personalidade de Deus fez Seu advento em companhia do processo do canto congregacional do santo nome. Ele propagaria esse processo de sankirtana praticando-o Ele mesmo.
Com a ascensão da Lua cheia do mês de Phalguna, Chaitanya Mahaprabhu tornou-Se manifesto.
Quem é capaz de compreender as estonteantes atividades do Senhor Supremo? Por Seu desejo, Rahu cobriu a Lua naquela noite. Como arranjado pelo Senhor, todos de Navadvipa, vendo o eclipse lunar, começaram a cantar bem alto os auspiciosos nomes do Senhor Hari. Muitos milhões de pessoas correram para o Ganges, onde se banhavam e clamavam: “Haribole! Haribole!”.
O som tumultuoso do cantar do nome do Senhor Hari tomou primeiramente toda Nadiya e, então, penetrou em todas as camadas do universo material até Brahmaloka. O santo nome do Senhor, não obstante, jamais se contaminou com a atmosfera material. Vendo aquele acontecimento miraculoso, os devotos pediram em prece: “Que este eclipse dure para sempre!”.
Os devotos experimentaram profunda felicidade e falaram entre si: “Todos estão tomados de bem-aventurança. Deve ter sido este o sentimento experimentado pelos habitantes da Terra quando o Senhor Krishna apareceu neste mundo”.
Enquanto os devotos se dirigiam ao Ganges para se banharem, as quatro direções eram tomadas pelo sankirtana dos santos nomes do Senhor Hari. Mulheres, crianças e idosos, e piedosos e ímpios – todos cantavam o santo nome do Senhor Hari durante o eclipsar da Lua. O único som dentro do universo era o onipresente cantar de “Hari! Hari!”. Os semideuses derramavam flores por toda parte e proclamavam vitória enquanto tocavam seus tambores dundubhi. Em meio a essa primorosa exaltação, o Senhor, a alma do universo, apareceu na Terra como o filho de Shachidevi.
A Lua fora jantada por Rahu e o oceano do santo nome inundara Navadvipa. Bandeiras de vitória tremulavam ao vento indicando que Kali encontrara-se com a derrota personificada. O Senhor Supremo havia nascido! Todos os quatorze mundos conversavam sobre o grande evento.
Meramente pela contemplação do Senhor Gaurachandra, todos os moradores de Nadiya se tornaram satisfeitos em plenitude. Agora, toda a lamentação se dissipara. Sua refulgência incandescente ofusca os raios solares. Quanto a Seus olhos ligeiramente caídos, não ousarei tentar nenhuma metáfora. A atmosfera está tomada de boa-venturança: hoje, as glórias do Senhor Chaitanya estão manifestas! Cada vibração rugiente do nome do Senhor Hari é ouvida em todos os mundos até o planeta de Brahma, carregando a excelsa notícia do nascimento do Senhor. Sua esplêndida compleição se assemelha à cor da pasta de sândalo. Seu peito é amplo, e nele se dispõe uma dançante guirlanda de flores silvestres. Seu rosto iridescente é prazeroso, consolador e refrescante como a Lua. Seus longos braços se estendem até Seus joelhos.
Clamores de vitória e glorificações ao Senhor permeavam todas as direções, e a Terra se sentia especialmente favorecida pelo advento do Senhor Chaitanya. Alguns cantavam com profunda satisfação, enquanto outros dançavam em êxtase. Para Kali, entretanto, estar em meio àquela celebração espiritual era algo desesperador. A Lua dourada, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu, nasceu. Não há nenhum lugar nas dez direções que não esteja tomado de bem-aventurança.
Sua beleza humildava milhões de cupidos. Ele sorria ao ouvir o cantar de Seu santo nome. Sua face amável e olhos encantadores, somados aos sinais auspiciosos trazidos em Seus pés, como a bandeira e o raio, bem como toda a Sua forma graciosa belamente decorada, estavam ali para roubar a mente e os sentidos de todos.
Toda forma de medo e desânimo foi imediatamente dissipada pelas Suas glórias e opulências. Os semideuses cantavam estupefatos ante o aparecimento do Senhor Chaitanya. Contemplando o rosto do Senhor, refrescante como a Lua, refrescante o bastante para curar o sofrimento ígneo da vida material, os semideuses ficavam imensamente satisfeitos. Era uma ocasião festiva e gloriosa. Ananta, Brahma, Shiva e outros semideuses haviam agora assumido formas humanas. Tendo o eclipse por pretexto, eles também cantavam o nome do Senhor Hari. É-me impossível descrever a exultação deles todos.
Mãe Shachi, com o pequeno Nimai no colo, recebe visitas.
As quatro direções de Nadiya estão definitivamente tomadas pelo cantar de “Hari! Hari!”. Navadvipa jamais provara fortuna como esta. Juntos, humanos e semideuses desfrutariam de inúmeros passatempos. Todos os semideuses, aproveitando não poderem ser vistos na escuridão do eclipse, foram até o quintal da casa de mãe Shachi e ofereceram suas reverências ao Senhor Chaitanya. Quem seria capaz de descrever esses insondáveis e confidenciais passatempos do Senhor, tão difíceis de se compreender? Alguns ofereciam preces, alguns seguravam uma sombrinha e outros O abanavam com abanos chamara, enquanto outros derramavam flores, cantavam e dançavam.
O retumbar dos tambores dundubhi se misturava aos hinos, preces e música dos semideuses, fazendo o ar dançar. “Hoje, sem mais espera, conheceremos a Suprema Personalidade de Deus, que é um mistério mesmo para os Vedas”. Os semideuses de Indrapura estavam euforicamente felizes; tumultuosamente se decorando, eles mal podiam acreditar terem recebido a benção de nascer em Navadvipa, onde o Senhor lhes daria Sua venturosa companhia. Devido à excessiva felicidade que sentiam pelo nascimento do príncipe de Navadvipa, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu, eles se abraçavam e se beijavam sem nenhum constrangimento. Não havia mais distinção no critério de amigos ou inimigos.
Muito curiosos, os semideuses chegaram a Navadvipa em meio ao sonoro cantar do nome de Deus. Provando o gosto nectáreo daquele cantar, o êxtase deles foi tamanho que quase perderam a consciência. Parecendo um tanto intoxicados, cantaram: “Chaitanya! Jaya! Jaya!”. Na casa de Shachidevi, eles contemplavam a belíssima forma do Senhor Chaitanya, que era gloriosa como o encontro de dez milhões de luas. Usando o eclipse como justificativa, Ele adveio em Sua forma semelhante à humana e fez com que todos cantassem bem alto o santo nome do Senhor Hari.
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