sábado, 16 de janeiro de 2010

A FENOMENOLOGIA DE KANT




INTRODUÇÃO
 
O objeto estudo desta pesquisa é a "metafísica e a fenomenologia" segundo a concepção de Kant. "O filósofo Emmanuel Kant é mais conhecido por suas obras Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática e Crítica do Juízo (1788-1791). Mas, entre a primeira crítica e a segunda, em 1785, escreveu Fundamentos da Metafísica dos Costumes, em que coloca as bases de uma consonância com sua metodologia crítica, abrindo caminho para um estudo do Direito e da Moral segundo novas base de apreciação e análise rigorosa" ( Edson Bini, Doutrina do Direito – Emmanuel Kant. Ed. Ícone. 1993, pág. 5, trad.). A essência de Kant é encontrar ou julga-se encontrar na vontade pura os princípios imperativos da vida ética. Toda a parte da Crítica da razão pura leva em Kant um nome esquisito: chama-se "estética transcendental". Dizemos esquisito não porque o seja em si mesmo, mas porque a palavra "estética" tem hoje um sentido muito popular, que é aquele habitualmente quando se evoca ao ouvi-lo simplesmente por significar a "teoria do belo", "teoria da beleza", ou, ao acaso, "teoria da arte e da beleza". Advirta-se porém, que a palavra "estética", no sentido de teoria do belo, é moderna. Kant toma-a em outro sentido muito diferente: toma-a no sentido etimológico. A palavra "estética" deriva da origem grega aisthesis, que se pronuncia "estesis" e que é sensação; também significa percepção. Logo, estética significa teoria da percepção, teoria da faculdade de ter percepções, teoria da faculdade de ter percepções sensíveis e ainda teoria da sensibilidade como faculdade de ter percepções sensíveis. A palavra "transcendental" usa-a Kant no mesmo sentido já tantas vezes dito de condição para que algo seja objeto de conhecimento. Para tanto, estaremos estudando a metafísica de acordo com a visão do referido autor, bem como as principais questões da metafísica.
Em relação à fenomenologia, Kant pretendeu conciliar realismo do senso comum, segundo o qual nossas representações correspondem às coisas, e o fenomenismo, que reduz toda a realidade a estas representações. Para Kant, só há fenômenos: com efeito, jamais conseguimos atingir as próprias coisas, que o mesmo denomina de númenos. Mas tais coisas são indispensáveis para explicar os fenômenos: em si, há númenos.
O mundo existe, apenas não podemos conhecê-lo tal como é. A reação kantiana apenas retardou a evolução do pensamento filosófico. Os herdeiros de seu pensamento rejeitam os númenos, bastante ilogicamente conservados por Kant. A fim de retomar a questão acima, do ponto de partida cartesiano, suscitou-se o movimento fenomenológico. Em geral, entende-se por "fenomenologia" o estudo descritivo dos fenômenos, tais como se apresentam à experiência imediata. As análises que Vladimir Jankelevitch fez de "A Ironia", de "A Má Consciência, de "Mentira", do fastio (em "A Alternativa"), pertencerem a fenomenologia assim compreendida. Tais pesquisas distinguem-se da observação psicológica comum apenas por uma maior preocupação com o realmente vivido e pela desconfiança para com os preconceitos do senso comum, veiculados pela linguagem. A fenomenologia aqui em pauta, é um método filosófico que emprega descrições fenomenológicas no sentido vulgar do termo, mas não as considera senão um meio de atingir um além do fenômeno. Seu fundador foi o filósofo alemão Edmundo Husserl (1859-1938). Eis porque Husserl resolve por de lado as questões atinentes à existência de realidades substanciais, matéria ou espírito; não porque se inclina ao ceticismo, ao contrário, pretende chegar à verdade. Mas Husserl põe "entre parênteses" estas controvertidas questões, e, atendo-se à intuição imediata, que não é passível de dúvida, ocupa-se apenas do fenômeno. Tal atitude lembra a de Descartes rejeitando sistematicamente toda afirmativa contra a qual se pudesse levantar qualquer motivo de dúvida. Husserl, porém, é ainda menos céptico do que o autor do Discurso do Método, que o era bem pouco, pois, enquanto Descartes considera falsas as assertivas que não lhe parecem evidentes, Husserl contenta-se em coloca-las entre parênteses: "O mundo percebido nesta vida reflexiva, em certo sentido, sempre está aí, para mim; ele é percebido como dantes, com o conteúdo que, em cada caso, lhe é próprio. Ele continua apresentando-se a mim como se apresentava até então; mas na atitude reflexiva que me é própria na qualidade de filósofo, não efetuo mais o ato da crença existencial da experiência natural, não admito mais tal crença como válida, embora ao mesmo tempo, esta permaneça sempre aí, inclusive captada pelo olhar da atenção" (E. Husserl, Meditações Cartesianas, pág. 17, Colin, 1931). A seguir discorreremos, separadamente, a metafísica e a fenomenologia kantiana e seus efeitos.

METAFÍSICA E A ORIGEM DOS CONHECIMENTOS

A primeira indagação que se oferece ao espirito pensador, e que é a base de todas as indagações, é a origem de seus conhecimentos.
A origem de conhecimentos pode ser considerada debaixo de diferentes pontos de vista.
  • Se consideram como base primitiva os fundamentos de conhecimentos, a alma é a primeira origem, isto é, a reunião de suas faculdades.
  • Se considera a maneira com que a alma dá princípios a seus conhecimentos, então o diferente desenvolvimento de suas faculdades ou diferentes leis manifestadas por esse desenvolvimento é também origem dos conhecimentos.
  • Se considera o que dá motivos a desenvolver-se esta atividade na manifestação de suas leis, então os sentimentos e reflexão são os que ocasionam um tal desenvolvimento e têm o nome de origem de conhecimentos.
  • Se considera como um conhecimento primitivo, do qual partem ou de onde se derivam os mais conhecimentos, então as verdades primitivas e os primeiros princípios obtêm o nome de origem de conhecimentos.
Estas verdades primitivas, estes primeiros princípios parecem que não nos são apresentados pelos sentidos e pela reflexão; os objetos nos parecem dados por eles, nossa alma não fazendo mais que reconhecê-los. Apliquemos os meios que nos podem assegurar da verdade na evidência física e logo conheceremos a parte que têm os sentidos em nossos conhecimentos. O estudo profundo de nós mesmos nos dará a evidência matemática pela qual ficaremos certos, se em nosso pensamento há alguma coisa que tenha diferente princípio de nossas leis ou se são somente manifestações e combinações dessas mesmas leis, e nos ensinará o verdadeiro emprego dos sentidos e da reflexão.
O conhecimento que temos dos sentidos nos oferece as seguintes verdades:
  • Que somente certos corpos tem uma força simpática, própria para mover este ou aquele sentido.
  • Que os nervos com a propriedade de irritabilidade são a parte essencial dos sentidos.
  • Que os mesmos corpos simpáticos não caminham nos sentidos senão até onde se acham os nervos e que nada mais fazem que chocá-los e comunicar-lhes sua impressão.
Conhece-se portanto, a verdade dos dois últimos resultados e que, nascendo o homem no grande teatro da natureza, dependendo dela, necessitava de órgãos que lhe servissem de instrumento para formar a liga com aquelas partes da natureza de que dependia, e que lhe fossem guias seguros para, por eles, procurar o que lhe conviesse e fugir do que lhe fosse nocivo. Eis aqui a serventia dos sentidos: por eles não conhecemos a natureza em si, a natureza externa; mas, por nossos sentimentos ocasionados por eles, sentimos a impressão que os objetos externos fazem sobre nós, que é quanto basta para podermos providenciar nossa conservação e bem ser. Pode-se observar que os sentidos e a reflexão não nos dão, não nos apresentam os objetos, mas somente são ocasião de que a alma desenvolva, ponha em exercício suas faculdades. São, portanto, as sensações o primeiro material dos conhecimentos humanos, consideradas em relação aos objetos que as ocasionam, e transportadas aos mesmos por uma hábito contraído desde os primeiros momentos de nossa existência por um instinto feito da necessidade de marcar os objetos que nos devem ser conhecidos pela influência que exercitam sobre nós. São, portanto, nossas concepções o segundo material dos conhecimentos humanos, consideradas em relação às sensações que as ocasionam e transportadas às mesmas como fundamento e base sobre que repousam. E assim, como eu não saberia que tenho as faculdades de perceber e querer, etc., se não percebesse efetivamente, assim eu não teria sensações, se não houvesse objetos que as desenvolvessem; nem concepções, se não houvesse sensações que as ocasionassem, e, assim como eu não digo que minha inteligência e vontade são qualidades subjetivas, casadas com o objeto e nele percebidas. Os objetos influem sobre os sentidos, estes sobre a sensibilidade; aparecem as sensações. As sensações influem sobre a reflexão, esta sobre a cognição; aparecem as concepções. Sensações e concepções são leis, manifestações de nossa alma. "Há uma espécie de pretensão imprópria, de amor excessivo, que até mesmo pode parecer injurioso àqueles que ainda não abandonaram seus antigos sistemas, isto é; "Que antes do aparecimento da filosofia crítica, não havia filosofia". Para poder decidir sobre essa pretensão, é preciso resolver previamente a seguinte questão: é possível, a rigor, haver mais que uma filosofia? Não somente tem havido maneiras diferentes de filosofar, de se elevar aos primeiros princípios da razão, de edificar um sistema sobre estes princípios com maior ou menor felicidade, como também até era necessário que ocorresse um grande número de tentativas dessa espécie, pois cada uma delas teve sua utilidade própria. Contudo, como a razão humana, considerada em si, é essencialmente una, não pode acontecer que haja mais que uma filosofia, isto é, que haja mais que um sistema racional possível segundo princípios, quaisquer que sejam a diversidade e a freqüente oposição que tenham podido existir sobre um único e mesmo ponto" (Edson Bini, Doutrina do Direito – Emmanuel Kant. Ed. Ícone. 1993, pág. 15, trad.).
Havíamos proposto o problema fundamental de toda a metafísica: o problema de que é o que existe? E seguimos as respostas que a esse problema se deram nas duas direções fundamentais que conhece o pensamento na história filosófica: a direção realista e a direção idealista. As tentativas que na antigüidade grega se fizeram para responder a essa pergunta e que conduziram todas elas à forma mais perfeita de realismo, a qual se encontra na filosofia de Aristóteles. Mas essa mesma pergunta obtém resposta completamente diferente na filosofia moderna que se inicia com Descartes, e que a propensão idealista, que consiste em responder à pergunta acerca da existência com uma resposta totalmente diferente daquela que dá Aristóteles, desenvolve-se na filosofia moderna e chega à sua máxima realização, à sua máxima explicitação, na filosofia de Kant. Para o idealismo o que existe não são as coisas, mas o pensamento é que existe. Para Kant não é assim: antes o objeto pensado é objeto quando e porque é pensado; o ser pensado é aquilo que o constitui como objeto. Isto é o que significa todo o sistema kantiano das formas de espaço, tempo e categorias. Mas ao mesmo tempo que Kant remata e aperfeiçoa o pensamento idealista, introduz neste pensamento algumas reproduções que desenvolvem e dilatam-se na filosofia que sucede a Kant. Primeiro essa "coisa em si" que Kant elimina na relação do conhecimento, o seu significado é o de satisfazer o afã de unidade que a razão humana sente ou o ideal regulador do conhecimento, que imprime ao conhecimento um movimento sempre para diante. E essa primazia da razão prática ou da consciência moral é a segunda das características do sistema kantiano que o diferencia de seus predecessores. Kant deu ao problema da metafísica a transformação seguinte: a metafísica procurava aquilo que é e existe "em si", ou seja, uma idéia reguladora para o conhecimento discursivo do homem, o que representa o contrário dos objetos do conhecimento concreto.

A METAFÍSICA E A RELAÇÃO DAS FACULDADES DA ALMA COM A LEIS MORAIS

 
"O desejo é a faculdade de ser causa dos objetos de nossas representações por meio das próprias representações. A faculdade que possui um ser de operar segundo suas representações". Para Kant o desejo vem acompanhado sempre de prazer ou desprazer, que no homem chama-se sentimento" (Edson Bini, Doutrina do Direito – Emmanuel Kant. Ed. Ícone. 1993, pág. 19). Mas o contrário não é recíproco, sendo este não uma causa mas também pode ter seu efeito, continua o autor "Porém denomina-se sentimento a capacidade de experimentar prazer ou desprazer com a idéia de uma coisa, pela razão de que esses dois estados contêm apenas o subjetivo puro em sua relação com nossa representação e de nenhum modo uma relação a um objeto que se trate de conhecer (...) Essas leis da liberdade são chamadas de morais, de forma a serem distinguidas das leis naturais ou físicas. Quando se referem somente a ações externa e a sua legitimidade, são chamadas de jurídicas. Porém, se além disso exigem que as próprias leis sejam os princípios determinantes da ação, então são chamadas de éticas na acepção mais própria da palavra. E então diz-se que a simples conformidade da ação externa com a leis jurídicas constitui sua legalidade; sua conformidade com as leis morais é a sua moralidade".
A sensibilidade física é a faculdade de sentir a dor ou o prazer em conseqüência dos objetos que lhes tem relação. Nesta ocasião se manifesta o desejo da felicidade e todas as mais propensões que tem por objeto o bem ser. A sensibilidade ou o senso moral é a faculdade de sentir o justo pela aprovação ou censura da ação. Nesta ocasião se desenvolve ou aparece o amor da justiça e as mais propensões que tem por objeto o dever.
A razão, pois, observando a marcha das propensões que o desejo da felicidade estimula o homem a providenciar sua conservação e bem ser, e que a sensibilidade física é seu guia natural nessa indagação.
O senso moral é o seu primeiro e mais seguro guia, daqui vem chamar-se consciência este tribunal supremo de quem não há mais recurso; que aprova e condena sem raciocinar que manda crer sem hesitar e que é infalível em seus ditames, quando as paixões ou prejuízos dão lugar à sua voz.
A observação nos manifesta a natureza moral do homem, ela mesma nos descobrirá a origem das suas obrigações e a existência de uma legislação moral natural. Origem das obrigações: existência de uma legislação moral natural.
A liberdade foi dada ao homem para se constituir senhor de suas ações, e por isso responsável por elas. Se, pelo contrário, o homem abraça o justo, ele se coloca no lugar distinto e elevado, para o qual suas faculdades o chamam, se liga aos demais entes inteligentes e põe-se, de certo modo, a par do Autor da natureza, concorrendo com Ele para os fins da criação.
Mas onde descobrirá a razão estes motivos de justiça? Se a justiça, no sentido mais geral, é a conformidade da ação com a regra, qual será a regra? Não são as propensões; não é a consciência, nem a mesma razão; tudo isto pode ser considerado como órgão, ou publicador da regra; mas não como a mesma regra. As propensões são meros estímulos, são cegas, e, demais, se deterioram e corrompem.
A consciência caleja, ou não deixa mais ouvir o imperativo da sua voz; a razão se deprava. Eis quando o homem sente a necessidade da revelação para o segurar na prática do que é justo, para o encaminhar direto para a felicidade, objeto igualmente de seu desejo.
A revelação, atestando a verdade de uma vida futura, promete castigos e recompensas que, por sua intensidade e duração farão a felicidade ou a desgraça do homem moral. Eis aqui como aos motivos naturais da obrigação se ajuntam os sobrenaturais, para firmar melhor o uso da liberdade. A idéia que formamos da bondade e sabedoria do Criador nos autoriza a crer que ele havia de providenciar a respeito do homem de tal maneira que pudesse acertar com o fim, para que lhe foram das suas faculdades. O próprio homem não podia ser criado no estado de infância; então, certamente, pereceria. Fora ainda da sociedade, sem desenvolvimento de suas faculdades, era um ente inútil e imperfeito; era, pois, de necessidade que fosse criado adulto e instruído pelo Criador de todas as verdades necessárias e úteis ao seu fim; e, assim, se constituísse capaz de transmiti-las à sua posteridade; é isto mesmo que nos ensina a revelação.
A regra de nossas ações é que se chama lei: é uma norma, uma proposição obrigatória ditada por legítimo superior; é o resultado ou conseqüência das relações que tem os entes entre si.
Esta lei está gravada em nossos corações, como atestam a razão e a consciência, cuja voz poderosa é esta: adora, ama e confia no teu Criador, respeita suas obras, concorre para os fins que ele pretende; é, portanto, demonstrável, ainda nos casos em que a revelação de novo a publica; contudo, se nossas faculdades embaraçadas, ou por fraqueza ou por corrupção, não atinarem com a demonstração, nem por isso deixa a lei ser demonstrável ou obrigatória. Por toda a parte que o homem lança os olhos, observa a ordem. Ordem é uma série de entes simultâneos ou sucessivos, ligados por propriedades que os determinam, pelos quais uns dizem respeito aos outros, obram entre si de tal sorte que todos concorrem para o mesmo fim. Todas as partes de uma planta são outras tantas ordens, que se ligam para o fim da conservação, crescimento e perfeição da mesma planta. Cada parte do corpo animal é outra ordem que tem por fim a sua perfeição; mas, ligadas, concorrem para a vida e a perfeição do animal: as faculdades do homem, cada uma tem sua órbita, mas se ligam dos outros entes para algum fim comum. Enfim, cada ente tem suas propriedades encaminhadas ao fim particular do mesmo ente, mas com relação às propriedades dos outros entes para algum fim comum.
Desta sorte o observador descobre ligações e ordem desde o átomo até o Autor da Natureza; e conhece que o fim último de todo o criado é a manifestação da onipotência, sabedoria e bondade do Criador; e nisto a razão está de acordo com a revelação. Em conhecer, pois, esta ordem ou as diferentes ordens parciais, de que se compõem a origem geral, está todo o ofício do filósofo moral. Sobre a Filosofia Moral Feijó diz: "A Filosofia Moral é a ciência que trata dos deveres do homem e dos meios de ser feliz. Sendo o homem a única substância conhecida por ele, é claro que toda ciência para ser verdadeira e não fenomenal, isto é, para ter um valor real, deve fundamentar-se no mesmo homem. É nas suas leis onde residem os princípios originários e primitivos de toda a ciência humana. A observação, pois, da natureza moral do homem, considerado em si e nas relações que naturalmente encerra, formará a teoria da ciência moral. Os deveres do mesmo homem e os meios de ser feliz formarão a sua parte prática" (Diogo A. Feijó, Caderno de Filosofia, Ed. Grijalbo Ltda. 19767, pág. 121).
O homem moral, portanto, será aquele que entender esta ordem e obrar a respeito de cada ente, segundo a natureza própria e as relações que encerra, tendo sempre em vista que da harmonia dos fins particulares com os fins gerais de cada série e da desta com o fim último é que nasce o conhecimento das propriedades de cada ente em toda a sua extensão.

A FENOMENOLOGIA

As controvérsias acerca da existência do mundo material – ou mundo exterior por oposição ao mundo interior da vida psíquica – conduziram Husserl à atitude fenomenológica.
Para os escolásticos, que nisto seguem Aristóteles, a alma e o corpo constituem os dois princípios metafísicos de uma substância única, o homem, cujo corpo é a matéria e cuja alma é a forma: daí o nome de hilomorfismo. Mas estes dois princípios constitutivos apresentam uma ação inseparável: as impressões registradas pelo corpo repercutem na alma e os pensamentos mais espirituais surgem necessariamente com o acompanhamento, considerado material, da imagem. Nestas condições compreende-se a possibilidade do conhecimento direto do mundo exterior.
A teoria escolástica da unidade substancial do composto humano, Descartes contrapôs o seu dualismo: na sua opinião, o homem é essencialmente uma alma à qual o corpo pura máquina está unido tão-somente por meio dos "espíritos animais". Esta alma acha-se, pois, encerrada em si mesma, alcançando diretamente só as suas próprias impressões, a existência de uma realidade exterior, necessária para explicá-las. Sendo impossível verificar a verdade obtida, pois, por hipótese, nada era dado ao homem fora de suas impressões subjetivas, a especulação filosófica chegou logicamente a negar a existência de uma realidade externa e mesmo a do princípio permanente do pensamento a que atribuímos o nome de alma ou espírito. Tudo se reduz a imagens ou representações. Eis a teoria proposta por David Hume o que se chamou de fenomenismo.
Há mais de dois séculos, o pensamento filosófico defronta-se com este problema: existirão apenas fenômenos ou também coisas em si, um mundo de objetos materiais, um mundo dos espíritos? A obsessão deste problema e a solução em que nos fixamos impedem a observação sincera dos fatos, a única capaz de promover um progresso do pensamento. Tal atitude lembra a de Descartes rejeitando sistematicamente toda afirmativa conta a qual se pudesse levantar qualquer motivo de dúvida. Com efeito, a fenomenologia não é, como a psicologia comum, uma simples descrição dos dados imediatos da consciência: consiste numa reflexão sobre o sujeito pensante; a sua psicologia é uma psicologia reflexiva.
O fenomenólogo procura apreender a si mesmo como eu puro, isto é independentemente das determinações vindas do objeto.
Ao lado dos fenomenólogos que procuram determinar as estruturas universais da atividade empírica da consciência, outros, na Alemanha, pretenderam, pela observação da intencionalidade emocional, determinar as normas de sua atividade moral, dos valores essenciais. O essencialismo fenomenológico dos valores nos reconduz ao nosso ponto de partida, ao platonismo, em cujas perspectivas devemos nos situar, a fim de compreender, por oposição, o existencialismo moderno e a sensação de vazio que ele deixa nas almas.
Esta descrição fenomenológica do conhecimento revela-nos clarissimamente que o conhecimento confina com três territórios limítrofes que são: a psicologia, a lógica e a ontologia. Com efeito, se o conhecimento é correlação de sujeito-objeto, mediando o pensamento, o conhecimento toca na psicologia, porque a psicologia trata do sujeito e do pensamento como vivência do sujeito. Se o conhecimento é esta correlação sujeito-objeto, mediando o pensamento, limita também com a lógica porque a lógica trata dos pensamentos como enunciados, não enquanto vivências, somente quando dizem algo de um objeto. As leis, as normas internas disso que se diz de algo são as leis da lógica. A lógica, limita também, pois, o conhecimento. Mas a ontologia também limita o conhecimento; não há conhecimento sem um sujeito.
Por conseguinte, o objeto é o que estuda a ontologia. Estas províncias limítrofes da psicologia, a lógica e a ontologia, que limitam o conhecimento, são as vezes, enormemente perturbadoras porque a teoria do conhecimento terá de se construir com contribuições e com referências a essas três limitações.
Mas estas contribuições e referências à estes territórios limítrofes terão que ser feitas na teoria do conhecimento dentro do círculo de problemas que esta teoria apresenta; terão que ser feitas para resolver o problema que a teoria do conhecimento levanta, não ao contrário, não resolvendo problemas pertencentes à psicologia, à lógica ou à ontologia.
E um dos erros e das confusões que mais se cometem repetidamente na filosofia moderna consiste em utilizar a teoria do conhecimento para dar solução a problemas de psicologia, de lógica e de ontologia.

CONCLUSÃO

Desta maneira chega Kant à conclusão de que o espaço e o tempo são as formas da sensibilidade. E por sensibilidade entende Kant a faculdade de ter percepções. Sendo assim, o espaço é a forma da experiência ou percepções externas; o tempo é a forma das vivências ou percepções internas. Mas toda percepção externa tem duas faces: é externa por um dos seus lados, enquanto está constituída pelo que chama-se em psicologia um elemento "presentativo"; mas é interna, por outro de seus lados, porque, ao mesmo tempo que eu percebo a coisa sensível, vou dentro de mim, sabendo que a percebo, tendo não somente a percepção dela, mas também a apercepção, dando-me conta do que a percebo. Por conseguinte, o tempo tem uma posição privilegiada, por ser o tempo a forma da sensibilidade externa e interna, enquanto o espaço somente é forma de sensibilidade externa. Esta posição privilegiada do tempo é a base e fundamento da compenetração que existe entre a geometria e a aritmética, sendo, pois, duas ciências separadas paralelamente por um espaço e que se compenetram mutuamente. Desta sorte, toda a matemática representa um sistema de leis a priori, de leis independentes da experiência e que se impõem a percepção sensível. E, todavia, todas as percepções sensíveis, todos os objetos reais físicos na natureza e aqueles que acontecerem no futuro, eternamente, sempre haverão de estar sujeitos à essas leis matemáticas. Como isso é possível? Acabamos de falar sobre o desenvolvimento kantiano. Isto é possível porque o espaço e o tempo, base das matemáticas, não são coisas que conhecemos por experiência, mas antes formas de nossa faculdade de perceber coisas, e, portanto, são estruturas que nós, a priori, fora de toda a experiência, imprimimos sobre nossas sensações, para torná-las objetos conhecidos. As formas da sensibilidade, espaço e tempo, são pois, aquilo que o sujeito envia ao objeto para que o objeto se aposse dele, assimile-o converta-se nele e logo possa ser conhecido. Então diremos que Kant emitiu sobre as coisas em si (que continuavam perseguindo os idealistas desde Descartes) uma definitiva sentença de exclusão. As coisas em si mesmas não existem, e se existem não podemos dizer nada delas, somente se estas coisas estiverem extensas no espaço e sucessivas no tempo. Porém, como o espaço e o tempo não são propriedades que pertençam às coisas "absolutamente", mas formas da sensibilidade, em nenhum momento terá sentido o falar de conhecer as coisas "em si mesmas". A única coisa que terá sentido será falar, não das coisas em si mesmas, mas recobertas das formas de espaço e tempo. E essas coisas recobertas das formas de espaço e tempo chama-as Kant "fenômenos". Por isso, Kant diz que não podemos conhecer coisas em si mesmas, mas fenômenos. E que são fenômenos? São as coisas providas já dessas formas do espaço e do tempo que não lhes pertencem a si mesmas; porém lhes pertencem enquanto são objetos para "mim", vistas sempre na correlação objeto-sujeito.
Quanto à fenomenologia kantiana, graças a análise do que é conhecimento e dos territórios que com ele limitam, se tivermos muito cuidado de ir perseguindo nosso problema metafísico, sabendo exatamente dos perigos em que está o espírito de confundir estes elementos que limitam com o pensamento, então teremos um fio de que nos conduzirá muito bem através desse labirinto, e poderemos, ocupar-nos mais demoradamente da filosofia moderna a partir de Descartes, desligando e afastando as confusões fundamentais que se cometeram entre lógica, psicologia e ontologia. Num caso típico, na filosofia de Kant, os intérpretes dessa filosofia kantiana cometeram, eles mesmos, estas confusões, e uns de um lado – psicologistas – e outros de outro – logicistas – nos deram ambos uma visão falsa do fundo do pensamento kantiano. Mas isto não o poderíamos ter conseguido sem essa prévia e minuciosa descrição fenomenológica do fenômeno do conhecimento.
Sobre esta sede incessante do homem em buscar fontes sobre o fenômeno do auto-conhecimento, Paul Foulquié diz o seguinte: "Ao reconhecer apenas um valor, o da escolha pessoal por cujo intermédio nos determinamos a sermos nós próprios e não a pálida imitação de outrem, o produto de um meio, a causa da existência constitui algo tentador para o homem moderno. Mas é preciso tomar cuidado para não se contradizer: um existencialismo adotado por esnobismo ou porque está no ar seria mera caricatura do existencialismo autêntico. Ademais, não se deve tomar pela concepção clássica da vida a caricatura que dela fornecem os existencialistas ateus" (Paul Fouquié, Existencialismo, Ed. Difel, 3ª ed., 1975, pág. 125).

Bibliografia


KANT, Emmanuel. Doutrina do Direito. Editora Ícone - São Paulo. 1993, tradução de Edson Bini.
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. Ed. Difel - São Paulo/Rio de Janeiro, 1975, 3ª ed., tradução de J. Guinsburg.
CORONADO, Guilhermo de la Cruz. Fundamentos de Filosofia – I Lições Preliminares. Ed. Mestre Jou - São Paulo, 1976.
FEIJÓ, Diogo A. Cadernos de Filosofia. Ed. Grijalbo – São Paulo, 1967.
HUSSERL, Edmond, Meditações Cartesianas, Colin, 1931.



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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Rosa-cruz

Rosa-cruz

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Templeofrosycross.png
Templo da Ordem Rosacruz

"The Temple of the Rosy Cross," Teophilus Schweighardt Constantiens, 1618 .
A Ordem Rosacruz é uma Ordem que foi pela primeira vez publicamente conhecida no século XVII através de três manifestos e insere-se na tradição esotérica ocidental. Esta Ordem hermética é vista por muitos Rosacrucianistas antigos e modernos como um "Colégio de Invisíveis" nos mundos internos, formado por grandes Adeptos, com o intuito de prestar auxílio à evolução espiritual da humanidade.
Por um lado, alguns metafísicos consideram que a Ordem Rosacruz pode ser compreendida, de um ponto de vista mais amplo, como parte, ou inclusive a fonte, da corrente de pensamento hermético-cristã patente no período dos tratados ocidentais de alquimia que se segue à publicação de A Divina Comédia de Dante (1308-1321).
Por outro lado, alguns historiadores sugerem a sua origem num grupo de protestantes alemães, entre os anos de 1607 e 1616, quando três textos anônimos foram elaborados e lançados na Europa: Fama Fraternitatis R.C., Confessio Fraternitatis Rosae Crucis e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz Ano 1459. A influência desses textos foi tão grande que a historiadora Frances Yates denominou este período do século XVII como o período do Iluminismo Rosacruz.

 Lenda e história

Segundo a lenda, exposta no documento "Fama Fraternitatis" (1614), essa fraternidade teria suas origens em Christian Rosenkreuz (de início apenas designado por "Irmão C.R.C."), nascido em 1378 na Alemanha, junto ao rio Reno. Os seus pais teriam sido pessoas ilustres, mas sem grandes posses materiais. Sua educação começou aos quatro anos numa abadia onde aprendeu grego, latim, hebraico e magia. Em 1393, acompanhado de um monge, visitou Damasco, Egito e Marrocos, onde estudou com mestres das artes ocultas, depois do falecimento de seu mestre, em Chipre. Após seu retorno a Alemanha, em 1407, teria fundado a "Fraternidade da Rosa Cruz", de acordo com os ensinamentos obtidos pelos seus mestres árabes, que o teriam curado de uma doença e iniciado no conhecimento de práticas do ocultismo. Teria passado, ainda, cinco anos na Espanha onde três discípulos redigiram os textos que teriam sido os iniciadores da sociedade. Depois, teriam formado a "Casa Sancti Spiritus" (a Casa do Espírito Santo) onde, através da cura de doenças e do amparo daqueles que necessitavam de ajuda, foram desenvolvendo os trabalhos da fraternidade, que pretendia, no futuro, guiar os monarcas na boa condução dos destinos da humanidade. Segundo o texto "Fama Fraternitatis", C.R.C. morreu em 1484, e a localização da sua tumba permaneceu desconhecida durante 120 anos até 1604, quando teria sido, secretamente, redescoberta.
Segundo a lenda constante nos referidos manifestos, a Ordem teria sido fundada por Christian Rosenkreuz, peregrino do século XV; no entanto, a assunção desta datação é discutível devido ao simbolismo e hermeticismo do conteúdo dos manifestos, principalmente nos aspectos numéricos e nas concepções geométricas apresentadas.
Porém, Christian Rosenkreuz é apenas um nome simbólico, que guarda alguns segredos, mistérios em sua etimologia. Seu nome tem paralelo com Cristo ou Christos ou Khrestos, Rosen ou Rosa, e Kreuz, ou Cruz. De fato, em textos de outras grandes religiões, seu nome é um enigma, um mistério, um segredo que apenas "quem tem olhos para ver e ouvidos para entender" é capaz de captar.
Uma outra lenda menos conhecida, veiculada na literatura maçônica — e originada por uma sociedade secreta e altamente hierarquizada do século dezoito na europa central e de leste, ao contrário dos ideais da Fraternidade que se encontra exposta nos manifestos originais, denominada "Gold und Rosenkreuzer" (Rosacruz de Ouro), que tentou realizar, sem sucesso, a submissão da Maçonaria ao seu poder — dispõe que a Ordem Rosa-cruz teria sido criada no ano 46, quando um sábio gnóstico de Alexandria, de nome Ormus e seis discípulos seus foram convertidos por Marcos, o evangelista. A Ordem teria nascido, portanto, da fusão do cristianismo primitivo com os mistérios da mitologia egípcia. Rosenkreuz teria sido, segundo esta ordem de ideias, apenas um Iniciado e, depois, Grande Mestre - não o fundador.
De acordo com Maurice Magre (1877–1941) no seu livro Magicians, Seers, and Mystics Rosenkreutz terá sido o último descendente da família Germelschausen, uma família alemã do século XIII. O seu castelo encontrava-se na Floresta Turíngia na fronteira de Hesse, e eles abraçavam as doutrinas Albigenses. Toda a família teria sido condenada à morte pelo Landgrave Conrad de Turingia, excepto o filho mais novo, com cinco anos de idade. Ele terá sido levado secretamente por um monge, um adepto Albigense de Languedoc e colocado num mosteiro sob influência dos Albigences, onde teria sido educado e onde viria a conhecer os quatro Irmãos que mais tarde estariam a ele associados na fundação da Irmandade Rosacruz. A história de Magre deriva supostamente da tradição oral local.
A existência real de Christian Rosenkreuz divide certos grupos de Rosacrucianos, alguns dos que se intitulam de Rosacruzes. Alguns a aceitam, outros o vêem como um pseudônimo usado por personagens realmente históricos (Francis Bacon, por exemplo).
A primeira informação conhecida publicamente, acerca desta fraternidade, encontra-se nos três documentos denominados "Manifestos Rosacruz", o primeiro dos quais (Fama Fraternitatis R. C., ou "Chamado da Fraternidade da Rosacruz") foi publicado em Kassel (Alemanha) em 1614 -- ainda que cópias manuscritas do mesmo já circulassem desde 1611. Os outros dois documentos foram: Confessio Fraternitatis ("Confissões da Fraternidade Rosacruz") (1615), publicado também em Cassel, e Chymische Hockeit Christiani Rosenkreuz ("Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz") (1616), publicado na então cidade independente de Estrasburgo (posteriormente anexada por França, em 1681).
O Sermão da Montanha que contém os fundamentos do discipulado Cristão, também realçados no manifesto Rosacruz Confessio Fraternitatis: "… nós nos reconhecemos como professando verdadeira e sinceramente Cristo (…) viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã".
Deve-se notar que no segundo manifesto, Confessio Fraternitatis em 1615, é feita a defesa da Fraternidade, exposta no primeiro manifesto em 1614, contra vozes que se levantavam da sociedade colocando em causa a autenticidade e os reais motivos da Ordem Rosacruz. Neste manifesto pode-se encontrar as seguintes passagens que demonstram a linha condutora do pensamento da Fraternidade: que o requisito fundamental para alcançar o conhecimento secreto, de que a Ordem se faz conhecer possuidora, é que "sejamos honestos para obter a compreensão e conhecimento da filosofia"; descrevendo-se simultaneamente como Cristãos, "Que pensam vocês, queridas pessoas, e como parecem afetados, vendo que agora compreendem e sabem, que nós nos reconhecemos como professando verdadeira e sinceramente Cristo", não de um modo exotérico, "condenamos o Papa", e sim no verdadero sentido esotérico do Cristianismo: "viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã". O modo como são expostos os temas nos manifestos originais e a descrição dos mesmos aponta para grande similaridade com o que é conhecido atualmente acerca da filosofia Pitagórica, principalmente na transmissão de conhecimentos e idéias através de aspectos numéricos e concepções geométricas.
A publicação destes textos provocou imensa excitação por toda a Europa, provocando inúmeras reedições e a circulação de diversos panfletos relacionados com os textos, embora os divulgadores de tais panfletos pouco ou nada soubessem sobre as reais intenções do(s) autor(es) original(ais) dos textos, cuja identidade foi desconhecida durante muito tempo. Na sua biografia no final de sua vida, o teólogo Johannes Valentinus Andreae, ou Johann Valentin Andreae (1586-1654), insere o terceiro manifesto Rosacruz publicado anonimamente, "Núpcias Químicas", no rol de escritos de sua autoria. É convicção de alguns autores que Andreae o teria escrito como se fosse o contraponto da Companhia de Jesus. No entanto, esta teoria foi posteriormente contestada por historiadores, principalmente pelos Católicos, que consideravam os documentos como simples propaganda ocultista, de inspiração protestante, contra a influência do bispo de Roma.
Os textos mostravam a necessidade de reforma da sociedade humana, a nível religioso e sócio-cultural, e sobre a forma de atingir esse objetivo através de uma sociedade secreta que promoveria essa mudança no mundo. O texto "Núpcias Químicas de Christian Rosenkreutz", contudo, foi escrito em forma de um romance pleno de simbolismo, e descreve um episódio iniciático na vida de Christian Rosenkreuz, quando já tinha 81 anos.
Em Paris, em 1622 ou 1623, foram colocados posters misteriosos nas paredes, mas não se sabe ao certo quem foram os responsáveis por esse feito. Estes posters incluiam o texto: "Nós, os Deputados do Alto Colégio da Rosa-Cruz, fazemos a nossa estada, visível e invisível, nesta cidade (…)" e "Os pensamentos ligados ao desejo real daquele que busca irá guiar-nos a ele e ele a nós".
A sociedade européia da época, dilacerada por guerras, tantas vezes originadas por causa da religião, favoreceu a propagação destas idéias que chegaram, em pouco tempo, até a Inglaterra e a Itália

 Tradições e influências

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Os primeiros seguidores são, geralmente, identificados como médicos, alquimistas, naturalistas, boticários, adivinhos, filósofos e homens das artes acusados muitas vezes de charlatanice e heresia pelos seus opositores.
Aparentemente sem um corpo dirigente central, assumem-se como um grupo de "Irmãos" (Fraternidade).
Tradicionalmente, os Rosacruzes se dizem herdeiros de tradições antigas que remontam à alquimia medieval, ao gnosticismo, ao ocultismo, ao hermetismo no antigo Egito, à cabala e ao neoplatonismo.
'Poço da Iniciação' (9 estratos): arquitectura baseada em simbolismo Templário, Rosacruz e Maçónico na Quinta da Regaleira (1892-1910), Sintra, Portugal.
Em The Muses' Threnodies por H. Adamson (Perth, 1638) encontram-se as linhas "Pois o que pressagiamos são tumultos em grande, pois nós somos irmandade da Rosa Cruz; Nós temos a Palavra Maçónica e a segunda visão, Coisas por acontecer nós podemos prever acertadamente.". O texto se refere ao conhecimento esotérico que é tradicionalmente atribuído aos rosacruzes.
A Ordem Rosacruz pode ser compreendida, de um ponto de vista mais amplo, como parte da corrente de pensamento hermético-cristã. Nesse contexto, é clara a influência do Corpus Hermeticum que, após 1000 anos de esquecimento, foi traduzido por Marcílio Ficino, a figura central da Academia Platônica de Florença, em 1460, por encomenda de Cosimo de Médici. Nas Núpcias Químicas de Christian Rozenkreuz, é dito que "Hermes é a fonte primordial".
Verifica-se também a influência do pensamento de Paracelsus, citado na Fama Fraternitatis RC: "Teofrasto (Paracelso), por vocação, foi também um desses heróis. Apesar de não haver entrado em nossa Fraternidade, não obstante, ele leu diligentemente o Livro M."
A grande maioria dos personagens relacionados com o lançamento dos "Manifestos Rosacruzes" se originaram do meio luterano alemão. É de se notar que o próprio Lutero foi um dos primeiros a utilizar uma "rosa-cruz" (o "selo de Lutero", ou "rosa de Lutero") como símbolo de sua teologia. Abaixo de muitas rosas de Lutero está a frase: “O coração do cristão permanece em rosas, quando ele permanece sob a cruz.”
É amplamente discutível se os chamados "reformadores radicais" teriam exercido uma forte influência sobre os rosacruzes, ou, como algumas evidências parecem sugerir, se teriam sido os Rosacruzes a influenciar esses reformadores. Esses pensadores e teólogos luteranos acreditavam que a Reforma de Lutero deveria ser ampliada, que a doutrina ortodoxa não era suficiente e que o Cristão devia realizar a comunhão mística com Deus. Entre outros, é possível citar os nomes de Caspar Schwenckfeld, Sebastian Franck e Valentin Weigel. Johann Arndt, teólogo luterano alemão cujos escritos místicos circularam amplamente na Europa no século XVII, amigo e mentor espiritual de Johann Valentinus Andreae e amigo muito próximo de Christoph Besold, também é uma influência conhecida. Arndt foi muito influenciado pelas idéias de Valentin Weigel, e é considerado o “pai” do movimento pietista alemão.
Representação do terceiro olho e sua conexão com os "mundos superiores" pelo Alquimista rosacruciano Robert Fludd. (Rosacruzes .[séc. XVII]: "Nós temos a Palavra Maçónica e a segunda visão, Coisas por acontecer nós podemos prever acertadamente.")
O místico e teósofo luterano alemão Jacob Boehme e o educador Jan Amos Comenius foram contemporâneos do movimento rosacruz original do século XVII e também davam testemunho de uma mesma sabedoria. Comenius chegou a denominar a Unidade dos Irmãos da Boêmia-Morávia, da qual ele foi um dos líderes principais antes de seu desaparecimento, como "Fraternitas Rosae Crucis". Além disso, ele tinha em Johann Valentin Andreae sua primeira fonte de inspiração, considerando-o “um homem de espírito ígneo e de inteligência pura”, tendo-o contactado e recebido deste o archote para dar continuidade à tarefa iniciada. Muitos dos que responderam ao chamado dos manifestos rosacruzes, como Michael Meier e Robert Fludd, também se ligavam à mesma fonte de força espiritual.
O historiador francês Paul Arnold foi o primeiro a considerar os três manifestos como a obra comum do "Círculo de Tübingen", ou seja, o grupo que se reuniu ao redor do (futuro) teólogo Johann Valentinus Andreae e dos juristas Tobias Hess e Christoph Besold, na Universidade de Tübingen (Alemanha). Frances Yates, no entanto, relacionou o rosacrucianismo "clássico" do século XVII unicamente a Frederico do Palatinado e sua corte inglesa em Heidelberg.
Apesar do sucesso da tese de Yates, os historiadores Richard van Dülmen, Martin Brecht e Roland Edighoffer reconstituíam os fatos graças a uma pesquisa histórica aprofundada, que aconteceu a partir de 1977. Brecht e Edighoffer estudaram, ao mesmo tempo e independentemente um do outro, e finalmente provaram a autoria dos manifestos. Andreae se fez conhecer como o autor dos textos (sua “obra pessoal”) e Tobias Hess, defensor do milenarismo e partidário de Paracelso (que, como afirma o historiador Carlos Gilly, "Andreae honrou e defendeu após sua morte, como pai, irmão, mestre, amigo e companheiro"), teria sido o mestre e iniciador do grupo de onde saíram os manifestos da Rosa-Cruz.
Muitos procuraram responder ao "chamado" emitido pelos rosacruzes no século XVII, não apenas naquele séculos, mas também nos seguintes, quando várias organizações com o nome Rosacruz surgiram. Também no século XX surgiram muitas organizações com este nome, todas elas de certa forma co-herdeiras do tesouro espiritual da Rosacruz do século XVII.

 Princípios e objetivos

De um modo geral os rosacrucianos defendem a fraternidade universal entre todos os homens. Para os rosacrucianos, os homens podem desenvolver suas potencialidades para tornarem-se melhores, mais sadios e felizes. O rosacrucianismo tem por objetivo primordial levar o homem ao autoconhecimento e à manifestação de sua real natureza espiritual, a fim de contribuir para a evolução de toda a humanidade.
Estes objetivos, segundo os rosacrucianos, podem ser atingidos por meio de uma mudança pessoal, de hábitos, pensamentos e sentimentos. Segundo eles, isto só é possível ao dissipar o véu de ignorância que cobre os olhos dos homens.
A recompensa daqueles que atingem este objetivo, que é de natureza espiritual, é uma paz profunda consigo próprio; estado este que se irradia do indivíduo e atinge todos em volta, produzindo em todos um reflexo positivo.
O emblema Rosacruz.
O que os rosacruzes querem de fato é a libertação da humanidade do muindo onde hoje ela se encontra, onde pode ser de fato apontado o gnosticismo que significa a crença em outra natureza. O rosacruz tem a consciência de que o homem tem outra proveniência, por isso é nececssario que tenhamos fraternidade como base, pois a humanidade faz parte da mesma coisa, no pensamento da rosa cruz.
O processo em si, creêm os rosacruzes, que passa pelas etapas internas às externas, se resume em uma mudança de hábitos e é regido pela trindade, sentir pensar e agir. O processo é considerado de faculdades internas pois começa, segundo os rosacruzes, no coração ao contrario de qualquer outro movimento.

 Simbolismo

Jóia do 18° Grau "Cavaleiro da Rosa-Cruz" (REAA)
O Emblema Rosacruz, embora com variações, apresenta-se sempre como uma cruz envolvida por uma coroa de rosas, ou com uma rosa ao centro. A rosa representa a espiritualidade, enquanto a cruz representa a matéria.
Outra faceta da Rosa-cruz mais conhecida é o 18º Grau (representando simbolicamente a 9ª Iniciação Menor), o grau de "Cavaleiro Rosa-Cruz", do "Capítulo da Rosa-Cruz" do "Rito Escocês Antigo e Aceito" da Franco-Maçonaria, que tem como símbolos principais o Pelicano, a Rosa e a Cruz.
Diversos livres pensadores defendem que o Rosacrucianismo não é mais do que uma Ordem constituída mas, uma corrente de pensamento, cuja filiação ocorre pela adoção de certas posturas de vida.
Ou seja, todos somos iguais, mas precisamos descobrir isso ao invés de sermos egoístas a cada dia.

 Organizações modernas

A Ordem Rosacruz autêntica surgiu no século XVII, mas no século passado surgiram organizações inspiradas na Tradição da Rosacruz original. Existem actualmente diversas e distintas ramificações Rosacrucianas. Apresenta-se de seguida uma breve descrição acerca das mais divulgadas:
  • A Fraternidade Rosacruz, no Brasil e em Portugal (inglês, The Rosicrucian Fellowship), foi fundada por Max Heindel entre 1909 e 1911, nos Estados Unidos. Não reivindica o título de "Ordem Rosacruz", considerando-se apenas uma escola de exposição de suas doutrinas e de preparação para o indivíduo para ingresso em caminhos mais profundos na Ordem espiritual. Segundo eles, a verdadeira Ordem Rosacruz funciona apenas nos planos espirituais. Ao contrário da maioria das demais organizações rosacruzes, as escolas de Max Heindel se consideram indissociáveis do Cristianismo. Outras organizações rosacruzes também se consideram cristãs, mas não com esta ênfase.
  • Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis (AMORC), com sede mundial em São José na Califórnia, EUA, diz ter sido fundada no Antigo Egito, e organizada pelo Faraó Amenhotep IV (também conhecido como Akhenaton), por volta de 1500 a.C.. O que se confirma historicamente é que a Ordem foi fundada em 1915 por Harvey Spencer Lewis, nos Estados Unidos. Tal como está expresso no site oficial da Ordem: "A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização internacional de caráter místico-filosófico, que tem por missão despertar o potencial interior do ser humano, auxiliando-o em seu desenvolvimento, em espírito de fraternidade, respeitando a liberdade individual, dentro da Tradição e da Cultura Rosacruz.". A Antiga e Mística Ordem Rosacruz (sem hífen) é hoje a maior fraternidade rosacruz no mundo, abrangendo dezenas de países, em diversos idiomas, além de acolher a Tradicional Ordem Martinista (T.O.M.), uma ordem martinista fundada pelo renomado médico e ocultista francês Papus (Dr. Gerard Anaclet Vincent Encausse). A sede para os falantes da língua portuguesa localiza-se na na cidade de Curitiba.
  • Fraternitas Rosae Crucis (FRC), também com sede mundial nos EUA, que se reivindica a autêntica Ordem Rosa-Cruz fundada em 1614 na Alemanha, mas na verdade foi fundada por Reuben Swinburne Clymer por volta de 1920 e se diz representante de um movimento originalmente fundado por Pascal Beverly Randolph em 1856.
  • Fraternitas Rosicruciana Antiqua (FRA) foi fundada pelo esoterista alemão Arnold Krumm-Heller por volta de 1927, e tem sede no Rio de Janeiro (está presente também nos países de língua hispânica).
  • Lectorium Rosicrucianum (ou Escola Internacional da Rosacruz Áurea) é uma organização rosacruz que começou a se estruturar em Haarlem, Holanda, em 1924, através do trabalho de J. van Rijckenborgh (pseudônimo de Jan Leene) e Z.W. Leene, quando esses dois irmãos entraram para a Sociedade Rosacruz (Het Rozekruisers Genootschap), divisão holandesa do grupo americano Rosicrucian Fellowship. Este grupo se tornaria independente da Rosicrucian Fellowship em 1935 e, com o final da guerra em 1945 (quando seu trabalho foi proibido pelas forças de ocupação nazista), o trabalho exterior foi retomado e passou a adotar o nome Lectorium Rosicrucianum, ou Escola Internacional da Rosacruz Áurea, apresentando-se cada vez mais como uma escola gnóstica, "Gnosis" significando aqui o conhecimento direto de Deus, resultado de um caminho de desenvolvimento espiritual. Desde 1945, o grupo se expandiu por vários países da Europa, América, Oceania e África, além de publicar inúmeros livros, muitos dos quais com comentários sobre antigos textos da sabedoria universal, como os Manifestos Rosacruzes do Século XVII, o Corpus Hermeticum (textos atribuídos a Hermes Trismegistus), o Evangelho Gnóstico da Pistis Sophia, o Tao Te Ching, entre outros.
  • "A "Confraternidade da Rosa+Cruz" CR+C preserva e perpetua a Tradição Rosacruz sob a linhagem e autoridade espiritual do Imperator "Gary L. Stewart", oferecendo os Ensinamentos Rosacruzes originais preparados nas décadas de 1920 e 1930 por Harvey Spencer Lewis. Preservando a Tradição conforme especificamente estabelecida no início do século XX e também conforme o Movimento Rosacruz em geral dos séculos passados. Para executar essa tarefa com êxito, há necessidade de se manter sempre o equilíbrio entre a Tradição e o Movimento com adesão estrita às leis que governam a sua operação e a sua existência. A manutenção desse equilíbrio é confiada a um Imperator do Movimento, que, sob muitos aspectos, serve como um guardião do mesmo.
  • OKRC (Ordem Kabbalística da Rosa-Cruz) - A OKRC foi fundada em 1888, pelo Marquês Stanislas de Guaita (seu primeiro Grão-Mestre). Ela agrega em si de uma forma equilibrada a herança do Martinismo da Rosa-Cruz, da Kabbala e do Hermetismo. Ela tem uma estrutura internacional mista. Longe de não ser apenas uma escola filosófica ou simbólica, ela tem por objetivo desde sua criação formar e iniciar os Seres de Desejo. Presente hoje como outrora, a sua herança conservou este vigor e esta riqueza, que sempre lhe permitiu adaptar-se à sua época, fazendo irradiar a chama da sua iniciação. Tendo ressurgido no século XIX, as correntes Rosa+Cruzes do Sudoeste da França permitiram o reencontro entre a tradição mística e simbólica alemã e suas correntes herméticas mediterrâneas. Por este intercâmbio, a Rosa+Cruz da qual falamos concentrou seus trabalhos sob o ritual, a alquimia, a astrologia e uma certa forma de teurgia.

 Lista de instituições relacionadas

 Textos de referência

 Manifestos

 Textos históricos

"Rosicrucian Brotherhood - From the Rosicrucian apologist's book Svmmvm Bonvm, The Highest Good, which first appeared in 1629 in German"

 Textos modernos

 Romances

 Publicações Rosacrucianas

  • Diversas da AMORC, link externo
  • Revista da Fraternidade Rosacruz de Portugal, link externo
  • Biblioteca Online da Fraternidade Rosacruz Max Heindel, Centro do Rio de Janeiro link externo
  • Temas Rosacruzes - artigos e ensaios publicados pela Fraternidade Rosacruz Max Heindel, Centro do Rio de Janeiro link externo

 Ver também

 Ligações externas

 Organizações

 Textos de estudo

 Outras fontes




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