sábado, 4 de janeiro de 2014

Identidade e Univocidade Olavo de Carvalho



Identidade e Univocidade
Rascunho para uma aula do Seminário de Filosofia

Este rascunho faz parte da obra em preparo, O Olho do Sol, onde compõe, na massa das 700 páginas redigidas até agora, a primeira seção do capítulo "Da metafísica dogmática à metafísica crítica – e vice-versa". Será usado brevemente como base para a exposição oral no Seminário de Filosofia e por isto é divulgado aqui para notificação dos alunos. – O. de C.


1. Definições

1. Metafísica é a ciência das necessidades supremas que abarcam e subordinam todas as outras.
2. Necessidade (de nec cedo = não ceder) é ter de ser, não poder não ser. Necessidade é impossibilidade do contrário.
3. Metafísica crítica é a parte dessa ciência que aborda os problemas e as dificuldades que se apresentam ao investigador na busca das necessidades supremas.
4. Metafísica dogmática é a discriminação e afirmação das necessidades supremas, bem como o desdobramento de suas consequências imediatas para os diversos setores do conhecimento humano.
5. Incumbe à metafísica o estudo da possibilidade como tal e da impossibilidade como tal, bem como das diversas gradações e modos da possibilidade, que encaradas quantitativamente se chamarão probabilidades.

2. Axiomas

1. Proposição auto-evidente é aquela cuja contraditória não pode ser formulada numa proposição logicamente unívoca.
2. As proposições metafísicas puras, isto é, aquelas que expressam necessidades supremas, devem ser todas auto-evidentes.
3. Toda prova funda-se em princípios auto-evidentes.
4. Um princípio é auto-evidente ou não é. Não se pode simplesmente "tomar como" auto-evidente um princípio que não o seja. Dito de outro modo: não pode haver princípio hipoteticamente auto-evidente (embora possa, naturalmente, haver princípios hipoteticamente verdadeiros).
5. As condições psicológicas que permitem captar a evidência de um princípio podem variar de homem para homem, portanto o sentimento de certeza nada tem a ver com a auto-evidência.

3. Primeiro enunciado do princípio metafísico supremo, ou Princípio da Integridade.

1. Todo sujeito de uma proposição, na medida em que possa ser também sujeito de uma ação ou objeto de uma ação realizada por outro sujeito também capaz de ser objeto de ação, é um.
Os sujeitos ditos meramente lógico-formais, ou ideais, não são objetos de ação, nem mesmo da "ação" de ser pensados; pois o que se pensa é o seu conceito apenas, ou o termo que o designa, e não o objeto como tal.
Sujeito impossível é aquele cuja definição implica sua inexistência, não apenas de maneira lógica, mas auto-evidente; isto é, um sujeito é impossível quando a afirmação de sua existência não pode ser logicamente unívoca.
2. Logo, todo sujeito é íntegro, e tudo quanto se oponha real ou hipoteticamente à sua integridade exige, real ou hipoteticamente, a sua supressão.
3. A supressão tem duas formas: 1ª negação, 2ª, redução.
4. A negação pode ser terminante ou condicional. Negação terminante é aquela que priva o sujeito, real ou hipoteticamente, da possibilidade de ser sujeito de ação ou paixão. Negação condicional é aquela que, real ou hipoteticamente, priva o ser de ser sujeito de algumas ações ou paixões (determinadas ou indeterminadas).
5. A redução tem duas formas: 1ª redução a seus elementos, ou redução analítica; 2ª, redução a outro sujeito, ou redução sintética.
6. Sujeito absolutamente necessário é aquele cuja definição mesma exclua, de maneira auto-evidente, sua redução analítica ou sintética. Dito de outro modo: é aquele cuja redução analítica ou sintética não possa ser enunciada numa proposição logicamente unívoca.

4. Das proposições auto-evidentes

1. O princípio de identidade A = A é auto-evidente, não porque tal nos pareça ou porque tenhamos um sentimento de certeza de que é auto-evidente, mas porque sua contraditória, A ¹ A, tem duplo sentido: se A ¹ A, o sujeito da proposição não é igual ao seu predicado, mas, sendo a proposição reversível — o predicado tornando-se sujeito, e o sujeito predicado —, temos então dois sujeitos diferentes, que são ambos sujeitos da mesma proposição: A1 ¹ A2. Logo, a sentença A ¹ A não é unívoca e não pode ser unívoca, donde se patenteia que A = A é auto-evidente.
2. A objeção tola de que essa demonstração por sua vez dá por pressuposto o princípio de identidade cai ante a verificação de que a objeção também o dá por pressuposto. O propósito aliás não é aqui "demonstrar" o princípio de identidade mas sim demonstrar a impossibilidade de sua negação unívoca. Se na antiga lógica se dizia que uma proposição auto-evidente nem requer nem admite provas, era isto o que no fundo se queria dizer, sem chegar a dizê-lo, talvez por não havê-lo percebido claramente: Não há nada a objetar ao princípio de identidade, a não ser proposições de duplo sentido, isto é, sem sentido.
3. Portanto, se não há demonstração lógica de um princípio auto-evidente, há, sim, da impossibilidade da sua contraditória. Isto aplica-se a todos os princípios lógicos e metafísicos.

5. Que o Princípio da Integridade é auto-evidente

1. Ação é mudança de estado no tempo e/ou no espaço.
2. Adoto provisoriamente a definição do tempo como forma das sucessões e do espaço como forma da simultaneidade, a que voltarei mais adiante.
3. Estado é etapa de mudança.
4. Só há três tipos de mudança: a mudança de estado ou as duas reduções.
5. A mudança de estado subentende a permanência do sujeito.
6. A redução analítica subentende que as partes pertencem a um mesmo sujeito.
7. A redução sintética real subentende que aquele em que osujeito foi absorvido não fosse ele.
8. A redução sintética hipotética ou subentende a possibilidade da redução sintética real ou é impossível.
9. Logo, todo sujeito que é objeto de ação (isto é, sujeito de paixão) é um e o mesmo, não muitos ou outro.
10. A ação consiste em mudar um outro ou mudar-se a si mesmo, ou ainda em mudar ao outro mudando-se também a si mesmo.
11. As três hipóteses subentendem a unidade e mesmidade dosujeito, conforme já demonstrado nos itens de 1 a 9. Se o sujeito que muda o outro não muda de estado, fica o mesmo. Se muda de estado, é o mesmo em outro estado. Logo, o sujeito de qualquer ação é um e o mesmo.
12. Estas proposições são não apenas logicamente certas mas auto-evidentes: suas contraditórias não são unívocas. Vejamos: A1 muda para o estado A2. Se o sujeito no estado A2 não é o mesmo A do estado anterior, então não foi A1 o sujeito de mudança; se, inversamente, o estado A2 não se refere ao mesmo sujeito A, então A2 não é predicado da proposição referente à mudança de A1. É impossível decidir se a negação da continuidade de A de A1 para A2 diz que não houve a mudança ou que o sujeito foi outro. A negação é portanto ambígua, ou equívoca. Não tem sentido. Logo, a unidade do sujeito da mudança (sujeito da ação ou da paixão) é auto-evidente.

6. Que não há auto-evidência hipotética

1. Para que uma evidência fosse hipotética, seria necessário que sua contraditória pudesse ser admitida como hipotética também.
2. Mas a contraditória de uma evidência é ambígua, logo sua formulação não conteria somente a negação da evidência e sim também sua afirmação.
3. Logo, a evidência não pode ser hipotética. Ou uma proposição é evidente, ou não é. O critério da impossibilidade da contraditória unívoca resolverá todas as dúvidas que se apresentarem.

7. Que o auto-evidente é necessariamente verdadeiro

1. Não podendo ser hipoteticamente verdadeiro, o auto-evidente só pode ser taxativamente verdadeiro.
2. Não tem sentido formular uma sentença como "x é hipoteticamente taxativamente verdadeiro", que recairia nas objeções do item 2 do § 6.
3. Logo, não há alternativa senão aceitar a verdade da evidência.
4. A mente, no entanto, pode-se recusar a fazê-lo. Por que o homem pode recusar a evidência? Porque ele pode se recusar a inteligir. Porque o exercício da inteligência, no homem, é livre e não necessário, já que, se fosse necessário, o homem inteligiria tudo necessariamente, coisa que se vê, por experiência, que não acontece, mas que a definição mesma do homem, adiante, nos esclarecerá em seu sentido metafísico mais profundo.
5. A recusa da evidência pode ter significado moral e psicológico, mas intelectualmente nada significa e cai fora da esfera de interesse da metafísica.

8. Outro exemplo de proposição auto-evidente

1. "Eu estou aqui": Esta proposição é auto-evidente sempre que proferida por um sujeito a respeito de si mesmo, não é tautológica e é unívoca.
2. Sua contraditória, "Eu não estou aqui" significa "Não sou eu quem está aqui", ou "Este lugar não é aqui"? Sendo impossível decidir, a proposição é ambígua, e portanto "Eu estou aqui" é auto-evidente.

9. Que a prova de Sto. Anselmo é auto-evidente e necessariamente verdadeira

1. Um ser absolutamente necessário existe necessariamente, diz a prova de Sto. Anselmo.
2. A objeção de Kant é que o ser assim definido é definido por nós, portanto sua exitência é hipotética, fundando-se na suposição — feita por nós — de que o ser nela definido é absolutamente necessário.
2. A contraditória é "Um ser absolutamente necessário nãoexiste necessariamente" ou "Um ser absolutamente necessario necessariamente inexiste?" Sendo impossível decidir, é proposição equívoca e não tem sentido.
3. Logo, a prova de Sto. Anselmo é auto-evidente.
4. Não havendo auto-evidência hipotética (7:1-5), a prova de Sto. Anselmo é necessariamente verdadeira.

10. Que não existem auto-evidências lógicas puramente formais, isto é, que não sejam também ontológicas

1. Verdade puramente formal é aquela que se verifica necessariamente no campo das relações lógicas, não porém necessariamente no campo da experiência. É, portanto, uma proposição hipotética.
2. Não existindo auto-evidências hipotéticas, nenhuma proposição auto-evidente é puramente formal.

11. O domínio da Lógica

1. Toda proposição lógica funda-se em última análise em princípios auto-evidentes. Por que então o domínio do lógico não coincide inteiramente com o do verdadeiro? É porque o conjunto das consequências logicamente necessárias, podendo partir de qualquer premissa e não de premissas auto-evidentes, não é auto-evidente, apenas logicamente consistente.
2. Identifica-se, portanto, com a extensão do quenecessariamente possível, não necessariamente verdadeiro. Ou seja: é impossível que uma consequência lógica deduzida de princípios auto-evidentes seja impossível, mas nem todo o possível é necessário.
3. A lógica distingue-se pois da metafísica na medida em que esta afirma positivamente o necessário, ao passo que aquela apenas afirma apenas a possibilidade necessária.
4. A possibilidade necessária funda-se no necessário enquanto tal e não é um domínio independente, de vez que o "necessário hipotético" só existe a título de hipótese impossível. Ora, a lógica sem fundamento metafísico só poderia fundar-se no necessário hipotético e, portanto, ela própria só existe como hipótese impossível. A fragmentação das lógicas modernas deve-se precisamente à impossibilidade de reduzir as hipóteses impossíveis à unidade do necessário.

[Continua]


Apêndice: uma discussão no Fórum Sapientia

Reproduzo a seguir uma mensagem enviada ao fórum desta homepage pelo participante que adotou o pseudônimo de Villiers de L’Isle-Adam e a resposta que lhe dei. Essa mensagem foi que motivou a publicação do texto acima nesta homepage e a decisão de expor o assunto na próxima aula doSeminário de Filosofia. - O. de C.

Mensagem de Villiers

Prezados amigos,

Tenciono discutir, no presente tópico, algumas questões relativas ao célebre 'princípio da não-contradição' formulado por Aristóteles; para tanto, pretendo expor à consideração dos senhores um artigo sobre o supracitado tema, de lavra do notável lógico, matemático e filósofo polonês Jan Lukasiewicz (1878-1956), um dos expoentes, ao lado de Kazimierz Twardowski (1866-1938) e Stanislaw Lesniewski (1886-1939), da renomada escola de lógica que se formou nas universidades de Lvov e Varsóvia. O estudo de Lukasiewicz, "O Zasadzie Sprecznosci u Arystotelesa: Studium Krytyczne", foi publicado originalmente 1910, podendo, no entanto, ser encontrado no número XXIV da Review of Metaphysics, traduzido por Michael V. Wedin sob o título "On the Principle of Contradiction in Aristotle: A Critical Study".
Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, apresenta o princípio da não-contradição de três maneiras distintas, que serão denominadas por Lukasiewicz como formulações 'ontológica', 'lógica' e 'psicológica'. O esforço analítico do lógico polonês, todavia, irá se concentrar sobretudo nas formulações ontológica e lógica. Para o Estagirita, elas são equivalentes, tendo-se em mente que uma proposição, para ser verdadeira, deve estar conforme à realidade objetiva. As formulações ontológica e lógica seriam, portanto, verdadeiras pela circunstância de o mundo ser, metafisicamente, tal como é. Devemos ainda ressaltar que o princípio da não-contradição é, na perspectiva de Aristóteles, uma lei final, indemonstrável. Exigir uma demonstração, uma fundamentação última do 'princípio', seria incidir num retrocesso que não poderia deixar de ser infinito, incidir numa exigência que, pela própria natureza da questão em pauta, não poderia ser satisfeita. E, se existe algo que pode ser conhecido sem provas, que haveria de mais ajustado a essa espécie de conhecimento do que a lei da não-contradição, um princípio do qual é impossível duvidar ao pensarmos?
Com o propósito, todavia, de evidenciar a necessidade do princípio da não-contradição, o Estagirita propõe uma série de argumentos que, refutando a possibilidade da contradição na ordem do Discurso, procuram justificar o princípio. Lukasiewicz denomina tais argumentos como "demonstrações elênticas e apagógicas", muito embora Aristóteles, deve-se sublinhar, jamais tenha pensado neste conjunto de deduções em termos de demonstrações 'positivas' do princípio. Parece evidente, a meu juízo, que o objetivo da estratégia de Aristóteles é o de comprovar que, admitindo-se a contradição, destrói-se o Discurso, rompe-se a possibilidade de comunicação racional, uma vez que os símbolos deixam de atuar como símbolos, não mais podendo refletir a Realidade no Discurso. Além disso, Aristóteles procura evidenciar, especialmente nas demonstrações apagógicas, as conseqüências absurdas a que somos levados quando negamos o princípio da não-contradição.
Não sendo razoável, e nem tampouco desejável, reproduzir aqui todos os passos da minuciosa análise de Lukasiewicz, gostaria de examinar, no entanto, as considerações mais relevantes que o lógico polonês extraiu de seu percurso argumentativo.
Em primeiro lugar, Lukasiewicz constata que o princípio da não-contradição não pode ser demonstrado com base em sua evidência; com efeito, a 'evidência' em si mesma não constitui critério seguro de verdade. Também resultaria inconseqüente, por outro lado, a tentativa de se derivar o Princípio a partir de nossa estrutura psíquica, uma vez que leis psicológicas apenas são suscetíveis de comprovação através do método experimental, e este não nos autoriza sequer a formular a Lei da não-contradição como princípio válido em primeira aproximação. Uma terceira possibilidade seria, então, procurar deduzir o Princípio da definição de 'negação' ou de 'falsidade'. Se "A não é B" exprime, por exemplo, simplesmente a falsidade de "A é B", para natural concluir que essa definição acarreta o Princípio. Contudo, nos diz Lukasiewicz, isto não ocorre na realidade: mesmo que aceitemos como correta a definição precedente de falsidade, nada impede que as proposições "A é B" e "A não é B" sejam ambas verdadeiras; apenas se impõe, como conseqüência, que a proposição "A é B" é simultaneamente falsa e verdadeira. A Lei da não-contradição envolve a noção de conjunção, e não decorre unicamente da definição de falsidade (ou negação). O lógico polonês nos chama a atenção para outra definição de 'verdade' e 'falsidade' que, de uma certa maneira, parece ser mais fecunda que a tradicional: a proposição "A é B" é verdadeira se corresponde a algo objetivo; falsa, em caso contrário. Similarmente, "A não é B" é uma proposição verdadeira se representa vínculo objetivo; falsa, caso tal fato não se dê. Levando-se em consideração tais critérios, nada impede 'a priori' que as proposições "A é B" e "A não é B" sejam ambas verdadeiras, desde que representem situações objetivas.
Lukasiewicz também observa que qualquer defesa do princípio da não-contradição deve, necessariamente, levar em conta o fato de que existem 'objetos contraditórios', como, por exemplo, o Círculo Quadrado de Meinong. Para tais objetos, claro está que o Princípio não é válido. Obviamente o lógico polonês não pressupõe que Aristóteles pudesse ter trabalhado com base em tais considerações, que fazem parte de um acervo de estudos que começou a se desenvolver apenas a partir de meados do século XIX, no esteio do florescimento da lógica simbólica. Entretanto, isso não nos impede de salientar a relevância intrínseca da observação de Lukasiewicz: a existência de 'objetos contraditórios' foi confirmada pelos desdobramentos recentes da lógica, particularmente pela Teoria dos sistemas formais inconsistentes. Podemos hoje atestar a existência de teorias lógico-matemáticas onde aparecem objetos contraditórios e que, por conseguinte, derrogam o princípio da não-contradição. Tendo em vista tais perspectivas, o Princípio não se mostra tão absoluto e intocável quanto poderia parecer à primeira vista. Aliás, Lukasiewicz afirma que, mesmo para Aristóteles, o princípio da não-contradição não poderia ser uma lei suprema, ao menos na acepção de que constitui pressuposição necessária de todos os demais axiomas lógicos. Citando célebre passagem de Aristóteles nos Analíticos Posteriores (An. Post. A, 11, 77a 10-22), o lógico polonês assevera que o seguinte silogismo seria válido, de acordo com os postulados do Estagirita:
B é A (e também não é não-A)
C, que é não-C, é B e não-B
_________________________
C é A (e não é também não-A)
O silogismo anterior é, portanto, válido, embora a lei da não-contradição seja violada. Meus parcos conhecimentos de silogística não me permitem verificar se, de facto, o silogismo proposto por Lukasiewicz é válido ou não no quadro da lógica aristotélica; no entanto, se o lógico polonês estiver correto, será imperativo aceitarmos a existência de leis válidas de raciocínio que independem do princípio da não-contradição.
A questão central a que agora chegamos pode ser apresentada da seguinte forma: existem 'objetos' em relação aos quais estamos certos da vigência do princípio da não-contradição? Em sua análise, Lukasiewicz irá destinguir três tipos de objetos: 1) os objetos reais; 2) as "abstrações construtivas", livres criações do intelecto, como, por exemplo, os objetos da matemática clássica; 3) as "abstrações reconstrutivas", que são conceitos elaborados para representar coisas reais.
No tocante às abstrações construtivas, paradoxos como o que Bertrand Russell (1872-1970) descobriu em 1901, ao considerar a questão do Conjunto de todos os conjuntos que não são membros de si mesmo, indicam que, na maioria dos casos, jamais teremos certeza de que não irão violar o princípio da não-contradição. No que concerne às abstrações reconstrutivas, que bem espelham o realidade objetiva, e aos objetos reais, eles parecem estar protegidos da contradição. Com efeito, parece haver certeza de que não existem contradições diretamente perceptíveis na Realidade, pois as negações correlacionadas a juízos de percepção não são elas mesmas perceptíveis, pelo menos em nossa experiência cotidiana. No atual estágio de nosso conhecimento, temos a tendência a admitir como correta a constatação de qualquer contradição 'real' só pode ser 'mediata', resultado de inferências. Por outro lado, no entanto, não podemos esquecer o fato de que, desde os primórdios da filosofia, é recorrente a tese de que o 'movimento' e a 'mudança' necessariamente envolvem contradições (a este respeito, podem ser mencionadas as aporias de Zenão de Eléia). Muito embora essas dificuldades lógicas tenham sido sempre eludidas por meio de esquemas teóricos, posto que decorrem de inferências, não parece haver nenhum prova definitiva de que não existam contradições no 'mundo' objetivo. Portanto, não existe, também, qualquer prova positiva e inequívoca de que o princípio da não-contradição possui plena vigência em relação aos objetos reais e abstrações reconstrutivas. Contudo, na medida em que podemos verificar que o Princípio é 'útil', devemos encará-lo apenas como suposição ou hipótese que norteia e confere forma à indagação científica, regulamentando certas teorizações do Real.
Para Lukasiewicz, pois, o princípio da não-contradição carece de qualquer dignidade lógica a priori; possui, não obstante, um valor ético e 'prático' sumamente importante. Como enfatiza o lógico polonês, se não aceitássemos a validade do Princípio para as atividades 'práticas', estaríamos sujeitos a toda sorte de problemas. Assim sendo, para a vida ordinária (atividades comunicativas, sociais, etc.), como Aristóteles já havia assinalado, o princípio da não-contradição constitui pressuposto fundamental. Todavia, é necessário sublinhar que imprescindibilidade prático-ética do Princípio é matéria totalmente distinta de sua validez lógico-teórica. A conclusão de Lukasiewicz a este respeito não deixa de ser assaz perturbadora: a necessidade de se reconhecer como 'válida' a lei da não-contradição é tão somente um sintoma da imperfeição ética e intelectual do Homem. O lógico polonês sustenta que Aristóteles percebeu a importância prático-ética do princípio da não-contradição, mesmo que tal constatação não tenha sido claramente formulada em sua obra. Numa época em que o declínio político da Grécia já era patente, o Estagirita tornou-se o fundador e principal promotor de um trabalho filosófico-científico sistemático e de grande rigor. É muito provável que o filósofo grego, especula Lukasiewicz, encarasse todo esse esforço intelectual como um instrumento poderoso para a futura grandeza de sua nação. A negação do Princípio, por conseguinte, deixaria livre o caminho para toda a sorte de falsidades e incertezas, abalando as então frágeis estruturas da investigação científica. Por esse motivo, observa o lógico polonês, Aristóteles voltou-se contra os oponentes do Princípio de modo fervoroso, com uma veemência de linguagem pouco habitual em sua obra. Numa analogia singular, Lukasiewicz nos diz que o filósofo grego combatia pelo princípio da não-contradição como se duelasse por bens pessoais.
Concluindo seu artigo, Lukasiewicz argumenta que Aristóteles,talvez justamente por ter percebido a fraqueza e a inconsistência de seus postulados, mas tendo plena consciência da importância 'prática' que ela envolvia, acabou por estabelecer o princípio da não-contradição como fronteira última que não poderia ser ultrapassada por um discurso racional.
Encerrando está já demasiado longa mensagem, devo dizer que, na qualidade de mero principiante no estudo de Aristóteles, não possuo os predicados necessários para asseverar a pertinência das posições de Jan Lukasiewicz a respeito da lógica aristotélica; se não posso afiançar, no entanto, a veracidade de suas críticas, gostaria de louvar, em primeiro lugar, a invulgar sutileza conceitual da engenharia analítica desenvolvida pela lógico polonês, bem como a criatividade e ousadia de suas proposições. Gostaria de ter a oportunidade de discutir estas idéias com estudiosos abalizados de Aristóteles, e gostaria, sobretudo, de saber como o professor Olavo de Carvalho, sendo um profundo conhecedor da filosofia aristotélica, avaliaria o pensamento de Lukasiewicz.

Cordialmente,
Villiers de L'Isle-Adam

Resposta de Olavo de Carvalho


Prezado amigo,

Você e os demais participantes estão elevando este fórum ao nível do mais importante debate cultural brasileiro dos últimos anos, talvez o único importante, se por esta palavra se entende aquilo que toca em problemas essenciais e não aquilo que é tocado pelas graças da mídia iletrada.
Quanto às suas observações, não tenho em mãos no momento o famoso estudo de Lukasiewicz, nem posso dar a resposta extensiva que elas merecem. O que posso dizer por enquanto é que:
O princípio de identidade é de ordem metafísica e sua contestação, para valer, tem de ser metafisicamente válida. A de Lukasiewicz não é nem pretende ser. Ela pretende apenas demonstrar que na lógica construtivista podemos lidar com objetos contraditórios (coisa que Aristóteles não apenas não contesta, mas afirma resolutamente), e obviamente todos os objetos dessa lógica existem apenas como definições hipotéticas e não têm o mínimo alcance metafísico. A possibilidade de construir raciocínios contraditórios é a base mesma dadialética de Aristóteles, mas Aristóteles jamais cairia na esparrela de confundir a ratio arguendi com a ratio essendi. Quando Lukasiewicz afirma que "existem" objetos contraditórios, a palavra "existência" é aí usada para designar a mera possibilidade de uma coisa ser logicamente construída. É um erro tão primário que não mereceria atenção, se não fosse pela elegante linguagem lógica que o encobre.
Toda a argumentação de Lukasiewicz destinada a impugnar o princípio de identidade subentende a identidade das proposições e conceitos que a expressam. Este é o típico caso de uma regra geral que tenho adotado como critério para o exame crítico de teorias filosóficas: quando o fato mesmo de uma teoria ser enunciada desmente o conteúdo dessa teoria, a teoria pode ser descartada como simples caso de confusão mental. Quando Lukasiewicz afirma que as proposições "A é B" e "A não é B" podem coexistir logicamente, ele não apenas não distingue entre coexistência "in re" e "in verbis" (distinção que está fora do alcance do puro construtivismo), como também subententende como constantes e idênticas a si mesmas as definições de A e de B, pois, se lhes aplicasse o mesmo princípio da coexistência dos contraditórios que acaba de afirmar, não teria duas e sim quatro definições, e assim por diante indefinidamente, o que mostra que sua pretensa contestação do princípio de identidade dá por pressuposta a validade desse mesmo princípio, apenas mostrando que sua negação é pensável, porém pensável, precisamente, como autocontradição que se automultiplica indefinidamente.
Toda essa confusão nasce do mau hábito de cortar as ligações da lógica com a ontologia, obtendo uma lógica de pura invenção construtivista da qual se tiram, em seguida conclusões que pretendem ser ontologicamente válidas, introduzindo subrepticiamente no discurso termos como "existência". Tudo isso é de uma burrice sem par, aliada a uma formidável malícia.
Dizer, por exemplo, que a noção de identidade envolve a noção de conjunção, é coisa válida em pura lógica construtivista, mas não em metafísica. Na identidade de um ser consigo mesmo não há conjunção nenhuma. A conjunção entra em jogo apenas na construção da proposição lógica que traduz essa identidade para o microcosmo verbal. Atribuir, retroativamente, à identidade do ser as qualidades formais da proposição que o designa é o mesmo que pentear, em vez dos próprios cabelos, a sua imagem no espelho.
É verdade que Lukasiewicz admite a distinção entre validade lógica e ontológica, mas, na medida em que ele admite também uma lógica não-ontológica que ao mesmo tempo possa servir de critério de veracidade nas ciências, essa admissão fica sem efeito, de modo que ele pode continuar a tirar impunemente conclusões ontológicas de puros formalismos construtivos. Enfim, é uma confusão dos diabos.
Os demais esclarecimentos que posso dar a respeito estão no texto sobre "Identidade e univocidade" – trecho do meu livro em preparo "O Olho do Sol" - que eu pretendia divulgar mais tarde, mas que esta discussão me sugere ser oportuno descarregar na minha homepage agora mesmo.

Um abração do

Olavo de Carvalho

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Olavo de Carvalho: Marilena Chauí comete plágio contra Julián Marías



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El Mahabharata Vyasa - 1986 by Edicomunicacíon, S.A.
Traducción: Julio Pardilla Dos Tomos.


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Índice do Mahabharata por Duncan Watson - em português

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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Formação de professores para a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e os cursos de Pedagogia: novos e velhos desafios



Formação - Educação 200 edições

Formação de professores para a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e os cursos de Pedagogia: novos e velhos desafios


Nelson Gimenes*

A formação inicial e continuada dos profissionais de ensino para a Educação Básica é, atualmente, um dos temas principais da agenda das políticas públicas no Brasil. As pesquisadoras Bernadete Gatti e Elba Barreto no livro Professores do Brasil: impasses e desafios mostram a importância dos professores no cômputo geral dos empregos formais existentes no país. A docência corresponde ao terceiro maior subconjunto das ocupações, ficando atrás apenas das categorias escriturários e dos trabalhadores dos serviços.  O Censo Escolar 2011, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), destaca também que o número de funções docentes na Educação Básica é superior a dois milhões.
Fica evidente que, para o atendimento da grande demanda por professores, principalmente na Educação Básica, o Brasil deve contar com uma grande quantidade de cursos de graduação para formação específica de professores. É neste cenário que a licenciatura em Pedagogia torna-se, atualmente, um dos principais cursos de formação docente para a Educação Básica, notadamente, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental.
A trajetória da formação docente no Brasil
Pesquisadores como Leonor Maria Tanuri e Demerval Saviani, ao analisarem o percurso histórico da formação docente no Brasil, verificaram que, desde a segunda década do século 19, havia preocupação quanto ao preparo dos professores. Mudanças quanto ao lócus de formação se observam nas constantes transformações ocorridas nos cursos desde 1820, quando foram instituídas as Escolas de Ensino Mútuo. Depois em 1834 as Escolas Normais e, posteriormente, a opção pela Formação de Professores Adjuntos.  Além destes, em 1932 foram organizados os Institutos de Educação, em uma perspectiva de articulação entre ensino e pesquisa.

Diante das sucessivas alterações no lócus de formação de professores, surge em 1939 os cursos de Pedagogia e, concomitantemente, observa-se a consolidação das escolas normais de nível médio, modelo que perdurou até o início da década de 1970.
Pedagogia para os anos iniciais da Educação Básica
Nas décadas seguintes, nota-se uma série de mudanças relativas às finalidades dos cursos de Pedagogia, que culminará com o acirramento dos impasses quanto às suas finalidades, sobretudo, a partir da organização dos cursos Normal Superior e dos Institutos Superiores de Educação, assim como definidos nos artigos 61 e 62 da LDB/1996.

Um exemplo disso é o Decreto 3276, de dezembro de 1999, que estabelece que "a formação em nível superior para a atuação multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental far-se-á exclusivamente em cursos normais superiores". A redação do parágrafo foi fortemente contestada pelos órgãos de representação docente e, sete meses após sua promulgação, foi alterado tendo a palavrada exclusivamente substituída por preferencialmente.
Embora tenha se alterado a redação do decreto, ficou evidente que a solução adotada não resolveu os problemas relativos à formação inicial para o magistério nos níveis básicos de ensino, muito menos quanto às finalidades do curso de Pedagogia. Tal decisão acabou por ratificar a sobreposição existente entre as destinações dos cursos de Pedagogia e o Normal Superior.
Somente dez anos após a publicação da LDB/96, ocorreu a promulgação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, definindo-o como lócus para a formação de professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, o que até então era uma finalidade que, embora assumida por muitos, ainda carecia de uma definição legal mais clara.
A indefinição quanto aos propósitos dos cursos de formação de professores indica um quadro bastante preocupante quanto à política de formação docente no Brasil e, consequentemente, o tipo de educação que a sociedade brasileira almeja. Por conta disso, o desafio que enfrentamos é o do oferecimento de cursos capazes de proporcionar uma formação de docentes para a atuação nas milhares de salas de aula existentes neste país, preparando-os para os desafios cotidianos das escolas, em suas diferentes dimensões.
Diante do exposto, torna-se fundamental, dente outras coisas, que os cursos de Pedagogia assumam efetivamente seu papel na formação de professores para o exercício do magistério nos primeiros anos de escolarização. Além disso, a aproximação mais coesa entre escolas de Educação Básica e as instituições de educação superior é um aspecto central para o aprimoramento da formação a ser oferecida aos futuros docentes, uma vez que promove o contato direto com a realidade das escolas públicas e favorece a aquisição de experiências profissionais, bem como as investigações e os conhecimentos sobre práticas de ensino.
Ainda é cedo para apresentar conclusões dos efeitos das mudanças na formação de professores, no entanto, elas devem ser cuidadosamente analisadas, de maneira que possamos avaliar os efeitos das decisões tomadas para a melhoria da formação inicial de professores no Brasil, especialmente no que se refere aos cursos de Pedagogia.
*Nelson A. Simão Gimenes é mestre e doutor em Educação, pesquisador da Fundação Carlos Chagas (FCC) e membro do Comitê Editorial da Revista Estudos em Avaliação Educacional. 

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Srila Jiva Gosvami e Srila Jagadisa Pandita desaparecimentos.


Srila Jiva Gosvami


O sobrinho e discípulo de Srila Rupa Goswami, foi um dos seis Goswamis de Vrndavana. Após o desaparecimento de Rupa Goswami e Sanatana Goswami, Sri Jiva Goswami se tornou o principal acarya da comunidade vaisnava. Srila Jiva Goswami foi o maior e mais prolífico acadêmico de sua época. Ele compôs meio milhão de versos em sânscrito sobre a ciência da devoção e as glorias de Krsna. (Veja o Sri Caitanya-caritamrta, Adi-lila 10.85)



Srila Jagadisa Pandita

Viveu perto de Jagannatha Mishra, o pai do Senhor Caitanya, em Sridhama Mayapur. Jagadisha Pandita ajudou o Senhor Caitanya a divulgar o movimento de sankirtana (canto congregacional do nome de Krishna) em Jagannatha Puri. (Veja Sri Caitanya-caritamrta, Adi-lila 11.30).

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Cessacionismo por Lee Irons

Cessacionismo
por
Lee Irons
Embora os excessos “carismáticos” de hoje em dia extrapolam-se para além da tradicional prática de falar em línguas e descambam-se para os verdadeiros espetáculos que raiam ao bizarro (haja vista as manifestações extáticas associadas à Bênção de Toronto), as línguas ainda podem ser consideradas assunto em pauta, ante a necessidade de esclarecimento acerca da matéria. Não nos estendemos pelos muitos outros pontos teológicos envolvidos, como a teologia da segunda bênção, o papel da experiência subjetiva na vida cristã, e assim por diante. O que se segue é meramente uma compilação dos melhores argumentos cessacionistas que demonstram que as línguas e a profecia cessaram com o fim da era apostólica. De modo algum estes argumentos são originais. Para tanto, baseamo-nos muito no trabalho de Richard Gaffin em Perspectives on Pentecost (1979), o qual consideramos o melhor livro sobre o assunto. De fato, muito do que se segue não passa de simples esboço dos argumentos de Gaffin, citados por nós de forma completamente livre. Outras fontes são citadas também a título de corroboração e exposição.

ENUNCIADO DA TESE CESSACIONISTA

"Cessacionismo": assim entendida a tese que alguns dons (e seus correspondentes ministérios) descritos no Novo Testamento são ordinários e perpétuos, enquanto outros eram extraordinários e foram paulatinamente desaparecendo da vida da igreja a partir do fim da era apostólica.

DONS ORDINÁRIOS/MINISTÉRIOS
(para justificação dessa tríplice classificação, veja Brown)

1. Pastores e mestres - Rom. 12:7; Efé. 4:11; I Tim. 3:1-7
2. Presbíteros (dom de dirigir e governo) - I Cor. 12:28; Rom. 12:8; I Tim. 5:17
3. Diáconos (dom de serviço, distribuição, misericórdia) - Rom. 12:7-8; I Tim. 3:8-13


DONS EXTRAORDINÁRIOS/MINISTÉRIOS

(I Cor. 12:28-30; Efé. 4:11)

1. Apóstolos
2. Profetas (palavra de sabedoria; de conhecimento - I Cor. 12:8)
3. Evangelistas
4. Discernimento de espíritos (I Cor. 12:10)
5. Línguas
6. Interpretação de línguas
7. Operadores de milagres; curas ("fé" inclusive(?) I Cor. 12:9)


NOTA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE DOM E MINISTÉRIO

Não podemos detalhar aqui, mas nos parece razoável presumir que há um relacionamento íntimo entre dom e ministério. No caso dos dons extraordinários, é desnecessário presumir que um apóstolo tivesse de impor as mãos sobre cada pessoa para recebesse um determinado dom extraordinário (apesar de que isso ocorreu em alguns exemplos - Atos 8:17; 19:6; II Tim. 1:6). Em vez disso, a outorga de carismas ocorria por ocasião da ordenação.
No que diz respeito aos dons ordinários, emerge o seguinte quadro. Nas Epistolas Pastorais (que nos dão uma idéia da ordem a ser perpetuada na igreja após a era apostólica), vemos as qualificações (I Tim. 3:1-13), o teste probatório (I Tim. 3:10), e a ordenação (I Tim. 5:22; Tit. 1:5) como elementos fixos a ser considerados no estabelecimento de oficiais ou lideres na igreja, os quais eram dotados de dons de ensinar (pastor), reger (presbítero) ou exercer misecórdia (diácono).
Além dos ministérios especiais, há também o ministério geral de todos os crentes (Efé. 4:11-13). Uma vez que todo o Corpo de Cristo é dotado espiritualmente, cada um pode (e deve) exercitar o seu, ou os seus, dons, "para a obra do ministério" e da edificação do corpo, sem ter que necessariamente ser ordenado a um ministério/oficio especial (Rom. 12:4-8; Efé. 4:16; I Ped. 4:10-11).

AFIRMAÇÕES POSITIVAS

A questão não é se o cessacionista aceita (ou rejeita) a realidade da obra do Espírito Santo na vida dos crentes.
A posição cessacionista afirma que todos os crentes possuem “o dom” do Espírito Santo (Jo. 7:37-39; At. 2:38; I Cor. 12:13). Todos os que são batizados em Cristo são batizados com o Espírito Santo.
Além disso, afirma-se que a igreja pós-apostólica continua sendo abençoada ricamente com várias distribuições do Espírito Santo, ("dons") para a edificação do corpo de Cristo através de diversas formas de ministério (I Cor. 12; Efé. 4:11-16). Todo o crente possui tanto “o dom” como “dons”. Nem todos crentes têm todos os dons, uma vez que estes são distribuídos por Deus conforme lhe apraz (I Cor. 12).
Sobretudo, a posição cessacionista não nega o subjetivo, o aspecto experiencial da vida cristã, que pode ser considerado como um elemento intrínseco do ministério do Espírito Santo. Tão profunda e misteriosa é a obra do Espírito na vida dos crentes que chega a ser por vezes indescritível (Rom. 11:33; II Cor. 9:15; 12:4; I Ped. 1:8), ministrando-nos num nível de nosso ser que suplanta o nosso intelecto. O Espírito ministra a nós …
• a ajuda na oração (Rom. 8:26-27; Efé. 6:18; Jud 20)
• o derramamento do amor de Deus em nossos corações. (Rom. 5:5)
• a impressão em nós de um antegozo da glória celeste. (II Cor. 1:21b; Efé. 1:13 e ss.)
• a nossa santificação (I Cor. 6:11; I Ped. 1:2)
• o enchimento de nossos corações com o amor, alegria, paz, esperança etc. (Rom. 15:13; Gal. 5:22 e ss.)
• o nosso despertamento com poder para a mortificação da carne (Rom. 8:13)
• a testificação em nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rom. 8:15b)

Certamente essa lista é incompleta, e sem dúvida muitos aspectos do ministério do Espírito Santo, acima descritos, são sobrepostos ou se tornam indistinguíveis na experiência atual.
Os cessacionistas afirmam também que, embora todo o verdadeiro filho de Deus tem o Espírito como um dom permanente (Rom. 8:9), a experiência subjetiva do crente é variável. Portanto, é possível entristecer e apagar o Espírito Santo (Efé. 4:30; I Tes. 5:19), e, por isso, somos ordenados a nos enchermos e andarmos no Espírito (Efé. 5:18; Gal. 5:25).

PRESSUPOSTO BÁSICO

"As línguas no NT sempre estavam intimamente associadas à profecia e, quando interpretadas, eram funcionalmente equivalentes à profecia, como revelação de Deus para edificar os outros. De fato, as línguas eram uma forma de profecia" (Gaffin, p. 102)
“Talvez pudéssemos até falar um certo tipo de línguas essencialmente proféticas, a diferença é que, ao contrário da profecia, essas línguas requerem interpretação para serem entendidas pelos outros” (Gaffin, p. 80)

PRESSUPOSTO PROVADO

1. "Um deliberado contraste entre profecia e línguas estrutura todo o capitulo. Este par de dons percorre segue uma linha mestra em quase todo o contexto... O que estrutura I Coríntios 14 é a junção da profecia com as línguas, o que leva a concluir que de fato ambos, justapostos, são dons da palavra revelatória." (Gaffin, pp. 56, 81). "O que liga profecia às línguas, o que ambas têm em comum é o que as fazem comparáveis (contrastáveis) e explicam suas equivalências funcionais, sendo isso o que determina que elas são o dom da palavra." (Gaffin, p. 58)
2. A possibilidade de interpretação das línguas indica (I Cor 12:10, 30; 14:5, 13, 26-28) que é uma comunicação inteligível de Deus. Conseqüentemente, deve ser uma revelação divina. (Este ponto é válido ainda que as línguas em Corinto fossem línguas atualmente existentes.)
3. “Conforme I Cor. 14:5 ("o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete"), as línguas interpretadas são funcionalmente equivalentes à profecia. (Robertson, p. 27) "A inferioridade fundamental ou a depreciação das línguas em relação à profecia aparentemente aplica-se somente às línguas não interpretadas e é removida quando ocorre interpretação." (Gaffin, p. 57)
4. “O caráter revelacional e inspiratório das línguas é também visto no fato de que pelo Espírito 'quem fala em línguas… fala mistério' (I Cor. 14:2)." Compare-se com I Cor. 13:2. (Gaffin, p. 79) "Este termo 'mysterion', no NT, tem um verdadeiro significado específico que inerentemente evoca a idéia de comunicação da revelação divina." (Robertson, p. 23)
5. "Em Atos, encontramos indicações de uma associação definida entre profecia e línguas." Atos 2:4 (cf. vv. 17-18, citando Joel 2:28 em diante); 19:6 ("eles falaram em línguas e profetizaram"). (Gaffin, pp. 81-82)
6. Exegese cuidadosa de I Cor. 14:14 (veja 2. abaixo) conduz a seguinte tradução: "Porque se eu oro em línguas, o Espírito em mim [ou, o espírito que me foi dado] ora, mas o meu intelecto fica inativo." (NEB). Desse modo, alguém que fala em línguas fala palavras inspiradas pelo Espírito Santo, o que é a definição de profecia. Cf. v. 2. (Gaffin, pp. 73-78)

PRESSUPOSTO DEFENDIDO
O fato das Escrituras mencionarem outros usos secundários das línguas não prejudica o seu caráter intrínseco fundamentalmente profético e revelacional. Os três argumentos seguintes têm sido utilizados para relevar os usos secundários do dom de línguas e dessa maneira minimizar ou eliminar o seu elemento profético/revelacional.
1. “HÁ UMA UTILIZAÇÃO DIVINA DAS LÍNGUAS”
"Em I Coríntios 14 Paulo diz que 'alguém que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus' (v. 2) e as línguas redundam em 'oração,' 'cânticos,' e 'ações de graças' a Deus (vv. 14-17). Um argumento por vezes contrário a natureza revelacional das línguas em Corinto e que é mais uma direção divina das línguas e menos, ou nada a ver, com uma direção à revelação."
Resposta:
“Em contraposição… quando nos debruçamos sobre os Salmos e outras porções doxológicas da Escritura. Caso recitemos algum salmo que é dirigido a Deus e não aos homens, por essa razão então não seria revelação? Em sentido contrário, sob a direção divina é revelação inspirada e registrada na Escritura para que pudesse servir para edificação do seu povo da aliança, e é isso o que as línguas (interpretadas) também são e para isso que elas também serviriam (v. 5)." (Gaffin, p. 80)
2. LÍNGUAS NÃO REVELACIONAIS
I Cor. 14:14 diz: "Porque se eu orar em língua, o meu espírito ora, sim, mas o meu entendimento fica infrutífero." Alega-se que este texto ensina que há uma função não-revelacional para as línguas, ou seja, é uma expressão das profundezas do espírito do crente, sub-racional e não-conceitual.
Resposta:
Esta visão precisa tomar a expressão "meu espírito" como uma referência ao espírito humano, e deve empregá-la em contraste com a "minha mente". Mas isso é exegeticamente indefensável pelas seguintes razões:

• A antropologia do NT nunca coloca o "espírito" e a "mente" humanas uma contra a outra assim desse jeito. O único dualismo que a escritura aceita é entre o corpo e o espírito/mente/coração/alma, ou entre "o homem exterior" e "o homem interior." O fato de Paulo poder falar em "renovar no espírito da vossa mente" (Efé. 4:23), mostra que "espírito" e "mente" pertence ao mesmo domínio semântico. Cf. também Marcos 12:30. (Gaffin, pp. 74f)

• A palavra "espírito" em I Cor. 14:14 não deveria ser interpretada antropologicamente (como um componente da psicologia humana) mas carismaticamente (como uma referencia ao dom dado a cada profeta pelo Espírito Santo). Este é um uso estabelecido: "o que fala em língua... (pelo) em (seu) espírito fala mistérios" (v. 2); "já que estais desejosos de dons espirituais," (lit. "espíritos," v. 12); "os espíritos dos profetas são sujeito aos profetas" (v. 32); "a outros, o dom de discernir os espíritos" (I Cor. 12:10); "não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo." (I Jo. 4:1); "o Deus dos espíritos dos profetas" (Apo. 22:6).


3. USO PRIVADO DAS LÍNGUAS

I Cor. 14:4 nos diz que "quem fala em línguas edifica-se a si mesmo." Usualmente, este verso está mencionado em conexão com uma interpretação antropológica de "espírito" nos vv. 2 e 14 (que examinamos acima e deixa muito a desejar). O argumento é que, embora as línguas precisem ser traduzidas, se exercitadas em publico, elas ainda são espiritualmente benéficas ao individuo que as usa privadamente ("Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus." v. 28).
Resposta A:
“Qualquer uso privado das línguas, separadas, acrescidas, ou independentes do seu exercício publico, ligado à interpretação, certo modo, descaracteriza o dom. É como se dissesse que há um dom de línguas para o uso privado, e outro para o uso público (com interpretação). No entanto, particularmente, qualquer utilização privada das línguas evoca um aspecto estritamente subsidiário, periférico do dom. As línguas privadas são vistas como adjuntos benéficos, subsidiários, desfrutados pelo recipiente do dom (a ser interpretado) que tem função revelacional distintiva. Note-se que estão debaixo das reiteradas ordens de Paulo justamente os que oravam e louvavam em línguas (v. 14b), no sentido de que houvesse interpretação (v. 13; cf. v. 5), os quais freqüentemente entendiam como central o exercício privado do dom. Da visão que sustenta que as línguas foram primeiramente dadas para a vida de oração pessoal do crente, e não para exercitá-las publicamente na congregação, distanciadas da interpretação, pode-se dizer apenas que isso inverte complemente o ponto de vista focalizado por Paulo em I Coríntios 14". (Gaffin, p. 83)
Resposta B:
É precisamente este aspecto não-intelectual, sub-racional do falar inspirado, extático que fazia tão atrativo o dom de línguas aos cristãos imaturos do Corinto. E é justamente este aspecto que Paulo quer controlar, limitar, e minimizar. É verdade que não proíbe que se falem em línguas (de fato, ele proíbe que seja proibido - 14:39). Mas ele reprova os coríntios por suas prioridades imaturas (14:20), visto que eles exaltavam a expressão extática acima do o falar inteligível, edificante (profecia, interpretação de línguas). Paulo permite o dom extático, obviamente, porque ele era um dom genuíno do Espírito para aquele tempo, mas ele solicita que este dom seja exercido em determinada forma, precisamente por causa dos abusos que poderiam surgir devido seu elemento necessariamente não-racional, extático. Ele o limita de três maneiras:
• Como a profecia, as línguas estão sujeitas à avaliação e ao discernimento dos seus conteúdos pelos companheiros-profetas existentes na igreja reunida (I Cor. 12:10; 14:29). Todas supostamente inspiradas, as expressões extáticas precisam ser julgadas para ver se elas estão "de acordo com a analogia da fé" (Rom. 12:6 – para exegese veja Gillespie, cap. 1). "não desprezeis as profecias; mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom" (I Tes. 5:20 ss/comp. I Jo. 4:1-3).
De acordo com Gillespie, os pneumáticos de Corinto aparentemente criam que as expressões ininteligíveis, extáticas (glossolalia) eram o principal sinal verificador do falar inelegível autêntico (profecia). "Os que eram infantes espiritualmente a viam [línguas] com o sine qua non da obra do Espírito, sem dúvida, como um 'sinal' confirmatório da expressão profética." (Gillespie, p. 160)
Mas, em I Cor. 12:1-3 Paulo contesta essa avaliação simplista e imatura da importância das línguas. Parafraseando: "Vocês sabem que as evidencias de êxtase não são critérios confiáveis para apurar a autenticidade da inspiração divina por que no passado pagão de voes elas os dirigiam aos ídolos mudos (v. 2). Então, a legitimidade das expressões proféticas precisa ser julgada puramente com base no seu conteúdo material (v. 3)." (Gillespie, p. 83)
• A segunda limitação é intimamente relacionada à primeira, mas aduz-se outra dimensão: o falar extático não é evidência suficiente de que alguém está sob inspiração do Espírito.
De acordo com a exigência de que as línguas estejam em consonância com o evangelho ortodoxo, Paulo insiste que elas precisam ser traduzidas de modo a que seu conteúdo ortodoxo possa edificar o corpo. É claro que a edificação inteligível, racional, doutrinária é a única justificativa para o exercício das línguas na assembléia. Se elas não servem para este propósito, elas meramente enchem de orgulho o possuidor do dom, o que está em oposição ao amor (I Cor. 13).
• Por fim, argumentar que a utilização privada, auto-edificadora, não-revelacional das línguas deveria continuar hoje implica em prejudicar a força do argumento de Paulo em I Cor. 14. Porque é precisamente este elemento extático, não-racional, que Paulo insiste que deve ser colocado totalmente em subserviência à função revelacional, pública, verificável e corporativa do dom. De acordo com Paulo, qualquer beneficio do falar não revelacional e extático deve ser considerado como secundário, efeito colateral subordinado ao propósito e função próprios do dom, e então não é algo para ser procurado à parte deste propósito e função precípuas.
"A noção de línguas não-revelacionais, como as incontidas vocalizações, se pré-conceituais, provenientes do lado inconsciente da personalidade … não é ensinada em I Coríntios 12-14, ou em qualquer outro lugar do NT." (Gaffin, p. 81)

TRÊS ARGUMENTOS CESSACIONISTAS

A. O ARGUMENTO DO ENCERRAMENTO DO CÂNON (MENOS PERSUASIVO)
1. O apostolado foi um evento redentivo-histórico irrepetível do mesmo modo que a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, por que "o anúncio da redenção não pode ser separado da própria história da redenção." (Ridderbos, pp. 12-15).
2. O apostolado foi encerrado depois da chamada de Paulo, uma vez que ele estabelece que Cristo apareceu-lhe "o último de todos" (I Cor. 15:8 – veja o detalhamento da exegese em Jones). A Doutrina Católica Romana da sucessão apostólica não tem fundamentação exegética (Cullmann, pp. 207, 236).
3. A presença do apostolado era uma condição necessária para a produção das Escrituras inspiradas do Novo Testamento. "A base redentivo-histórica do cânon do Novo Testamento somente poderia ser procurada na autoridade apostólica e tradição." (Ridderbos, p. 24)
4. Conseqüentemente, como o apostolado, a escritura do Novo Testamento é um evento redentivo-histórico irrepetível, único, e completo. "Quando entendido em termos de história da redenção, o cânon não pode ser aberto; por principio ele precisa ser fechado. Conseqüência direta da natureza única e exclusiva do poder dos apóstolos recebido de Cristo… A natureza fechada do cânon do Novo Testamento permanece no final das contas de significância definitiva, de uma vez por todas, na própria história da redenção apresentada pelas testemunhas apostólicas." (Ridderbos, p. 25)
5. A partida definitiva do apostolado necessariamente implica no encerramento do cânon do Novo Testamento.
6. Para que a profecia (incluindo línguas- veja "pressuposição básica" acima) pudesse continuar nas gerações subseqüentes pós-apostólicas da igreja, para além do período fundacional, teria que necessariamente criar tensões com o caráter fechado, finalizado, do cânon. De fato, do mesmo modo, a continuação poderia acabar com o cânon em seu sentido estrito. (Gaffin, p. 100).
7. Conseqüentemente, os dons proféticos (profecia, línguas etc.) tinham que passar da vida da igreja com o encerramento do cânon do NT.

B. O ARGUMENTO DE EFÉSIOS 2:20
1. Tecnicamente, este argumento não deve ser separado do precedente. São fundamentalmente criveis algumas considerações teológicas (a natureza única e temporária do apostolado). De qualquer forma, é mais pedagogicamente útil apresentar este argumento separadamente, uma vez está baseado mais num texto-prova explicito do que numa dedução apenas.
2. “Texto decisivo, de importância crucial, é Efésios 2:20 (no seu contexto) e precisa ser apreciado…. I Coríntios 14 … tem um escopo relativamente estreito e está confinado à situação especifica de Corinto. O texto de Efésios, por outro lado, pode ser visto como uma carta circular, pela qual originalmente Paulo tinha em mente um leque de destinatários mais amplo do que a congregação de Éfeso. O mais importante ainda é que 2:20 é parte duma seção que analisa a igreja como um todo de forma mais abrangente e compreensiva. Efésios 2:20 padroniza, vê o edifício inteiro, e situa nesse contexto a profecia (uma parte das fundações do edifício); I Coríntios e outras passagens sobre profecia examina antes de tudo uma parte desse todo. Efésios 2:20, então, com seu escopo amplo tem que ter um papel essencial e dominante na busca do entendimento de outras menções de profecias no NT que têm foco mais estreito, mais particular e mais detalhado…." (Gaffin, p. 96)
3. "Efésios 2:20 associa 'profetas' com os apóstolos em atividade de testemunhas fundamentais ou de ministros da palavra." (Gaffin, p. 93)
4. Esses "profetas" não são os profetas do Antigo Testamento, mas estes são encontrados em todo o NT (Atos 13:1 em diante; 21:10 e ss.; I Cor. 12:28; 14:1-40; Ef. 4:11; Apo. 1:1-3). O fato de que os profetas do AT não são iguais aos do NT é demonstrado em Ef. 3:5 que usa a mesma frase "apóstolos e profetas" em contraste com a revelação no AT.
5. Um estudioso não-cessationista admite que a exegese de Gaffin de Efésios 2:20 está correta e pode favorecer a posição cessacionista. No entanto, ele tenta esquivar-se de focalizar este argumento através da interpretação de que havia "os apóstolos que eram também profetas" (Grudem, pp. 45-64). Mas essa exegese não passa pelo crivo de qualquer análise gramatical séria (Wallace), e os demais argumentos de Grudem tem sido respondidos ponto por ponto (White).
6. "Línguas estão ligadas à profecia e se mantém, por assim dizer, nas sombras. Há pelos menos uma sugestão no capítulo [I Cor. 14] de que as línguas não têm lugar na vida da congregação à parte de sua coexistência, e exercício conjugado, com a profecia." (Gaffin, p. 58)
7. Mesmo que o dom de línguas per se não aparece em Ef. 2:20, a evidência aduzida no "pressuposto básico" (acima) nos força a concluir que na medida em que as línguas são interpretadas elas são funcionalmente equivalentes à expressão profética, e assim pôde participar na aludida fundação da Igreja.
8. Inerente à analogia da fundação é a idéia de que uma vez que o fundamento foi lançado , todo o trabalho que resta é edificar sob o fundamento(I Cor. 3:10-15). Quando Paulo identifica os apóstolos e os novos profetas da aliança com a fundação da igreja, afirma desse modo seu papel original, não-perpétuo.
9. Conseqüentemente, o dom de línguas era para a fundação da igreja, e conseqüentemente nada mais natural que tenham "desaparecido da vida da igreja juntamente com a profecia e os demais dons fundacionais, ligados à presença do apostolado na igreja." (Gaffin, p. 102).

C. O ARGUMENTO DAS LÍNGUAS COMO UM SINAL

1. Paulo declara que as línguas como línguas (isto é, à parte do conteúdo revelacional, quando interpretadas) foram dadas como um sinal de juízo de Deus contra os descrentes (I Cor. 14:20-22).
2. De maneira análoga às parábolas de Jesus (Marcos 4:12), as línguas foram dadas primariamente (mas não exclusivamente) para endurecer Israel na incredulidade. Essa função "está ligada inseparavelmente à transição definitiva da velha para a nova e final história da aliança, uma transição que resulta na fundação da igreja." (Gaffin, p. 107)
3. A citação por Paulo de Isaias 28:11-12, característico da utilização do AT no NT, evoca intencionalmente o contexto mais amplo de Isaias 28, particularmente, o v. 16 ("Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento"). "No NT este versículo é proeminente nas passagens relativas à edificação da Igreja; é mencionado em I Pedro 2:6 (cf. v. 4) e evidentemente se baseia no que se encontra em Efésios 2:20 (cf. I Cor. 3:11). Cristo como o fundamento da Igreja é o cumprimento desta profecia. Mas é também citado em Romanos 9:33 (cf. 10:11), onde é aplicado contra o Israel infiel a Cristo e ao Evangelho (cf. 9:31 e ss.). O julgamento sobre Judá foi predito por Isaias, inclusive por meio da manifestação das línguas estranhas enviadas por Deus, o que foi cumprido mediante o lançamento do alicerce da Igreja em Cristo e nos apóstolos (e profetas). O tempo de Deus (de uma vez por todas) lançar um firme fundamento em Sião é também o tempo de conclusão do julgamento dos infiéis em Sião provocado por essa atividade." (Gaffin, p. 108)
4. "Dentro deste amplo contexto de profecia e cumprimento, pois, o ponto que Paulo salienta em I Coríntios 14:21 e ss. é que as línguas são sinal de juízo de Deus ocorrido durante a inauguração da nova aliança e a fundação da Igreja. Línguas são o sinal de julgamento correlato ao ocorrido em outras oportunidades (lançar fundamentos), relativo às ações divinas (primariamente no contexto judaico) contra os infiéis e o julgamento escatológico que o acompanha."
5. Apesar de não podermos restringir as línguas como um sinal exclusivamente aos judeus infiéis (uma vez que I Cor. 14:22 o aplica a todos os descrentes), continua sendo verdade isso especificamente em relação aos judeus infiéis, o que conduz à ab-rogação da antiga ordem da aliança e o lançamento das bases para uma nova aliança. Além disso, vemos em Atos 18:1-17 que a oposição judaica à missão gentílica era muito forte em Corinto.
6. "Não pode ser negligenciado que, seja qual for significância das línguas como um sinal, Paulo ensina claramente que essa função de sinal é uma característica integral das línguas, presente sempre quando o dom é exercitado." (Gaffin, p. 109)
7. Então, visto que as línguas são um sinal pertencente ao período de transição na história da redenção, quando o antigo Israel estava sendo rejeitado e o novo Israel estava sendo instaurado, hoje elas não são mais necessárias.

NOTA SOBRE I COR 13:8 EM DIANTE (ARGUMENTO [A] PELA CESSAÇÃO)

1. Alguns cessacionistas, em busca de um argumento conclusivo e definitivo contra o contemporanismo de línguas e profecia, têm tentado identificar “o perfeito” com o encerramento do cânon do NT. De qualquer forma, os melhores exegetas cessacionistas admitem que esta interpretação não pode ser exegeticamente sustentada.

2. A chegada do "perfeito" (v. 10) pode coincidir com a vinda de Cristo, porque é somente ai que conheceremos como somos conhecidos (v. 12).
3. Se isso for admitido, estamos forçados a opor a conclusão de que as línguas e a profecia continuariam até a Parousia?
4. Não necessariamente. "Paulo bem que poderia ter também mencionado a escrituração como uma forma de revelação", a qual é, assim como a profecia e as línguas, um modo "parcial" de conhecer a Deus, que será substituído pelo "perfeito" na Parousia. "Mas cessou a escrituração. E se concordamos com isso, então é despropositado insistir que essa passagem ensina que os modos de revelação mencionados, profecia e línguas, continuariam em funcionamento na Igreja até a volta de Cristo." (Gaffin, p. 111)
5. "O momento da cessação da profecia e línguas é uma questão aberta até agora, ainda que essa passagem referia a isso. Deveria ser decidida a questão com base em outras passagens e considerações." (Gaffin, p. 111)

FONTES CITADAS

BROWN, Mark R., ed. Order in the Offices: Essays Defining the Roles of Church Officers. Duncansville, PA: Classic Presbyterian Government Resources, 1993.
CULLMANN, Oscar. Peter: Disciple, Apostle, Martyr. Philadelphia: Westminster, 1953.
GAFFIN, Jr., Richard B. Perspectives on Pentecost: New Testament Teaching on the Gifts of the Holy Spirit. Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1979.
GILLESPIE, Thomas W. The First Theologians: A Study in Early Christian Prophecy. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1994.
GRUDEM, W. A. The Gift of Profecy in the New Testament and Today. Westchester, IL: Crossway, 1988.
JONES, Peter R. "I Corinthians 15:8: Paul the Last Apostle." Tyndale Bulletin 36 (1985) 3-34.
RIDDERBOS, Herman N. Redemptive History and the New Testament Scriptures. Second Revised Edition. Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1988 (originalmente publicado em 1963).
ROBERTSON, O. Palmer. The Final Word: A Biblical Response to the Case for Tongues and Profecy Today. Carlisle, PA: TheBanner of Truth Trust, 1993.
WALLACE, D. B. "The Semantic Range of the Article-Noun-KAI-Noun Plural Construction in the New Testament." Grace Theological Journal 4 (1983) 59-84.
WHITE, Fowler R. "Gaffin and Grudem on Ef 2:20: In Defense of Gaffin's Cessationists Exegesis." Westminster Theological Journal 54 (1992) 303-20.


Tradução livre: Anamim Lopes Silva
Brasília-DF.
http://www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/cessacionismo_irons.htm


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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A rebelião cessacionista

A rebelião cessacionista

Ler a Bíblia é deparar-se com o sobrenatural em cada página. Além de ser um livro divinamente inspirado (2 Timóteo 3:16), é possível encontrar muitos relatos de milagres, visões, sonhos e profecias. Embora as Escrituras mencionem que há épocas em que essas manifestações eram raras (1 Samuel 3:1), elas ensinam que os últimos dias seriam marcados por profecias, sonhos e visões:
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Atos 2:16-21)
No entanto, estranhamente, um grupo de protestantes recusa a ideia de que Deus continue dando sonhos, visões e profecias sobre seus servos nos dias de hoje. Argumentam eles que tais manifestações estavam restritas aos dias dos apóstolos, juntamente com outras, como as orações em línguas e as pessoas com dons de curas e milagres. Há que vá além e chame de hereges e apóstatas os que acreditam na continuidade destes eventos no século XXI.

Contudo, acreditar na contemporaneidade dos dons miraculosos do Espírito Santo não é exclusividade pentecostal, muito menos uma novidade do início do século XX. Ao contrário, o cessacionismo é que seria uma novidade teológica, já que os ramos mais tradicionais do cristianismo, representado pela Igreja Católica Apostólica Romana e pelas igrejas ortodoxas, sempre reconheceriam a existência de pessoas que realizaram milagres e tiveram sonhos, visões e profecias, a quem elas chamam de santos. Mesmo dentro do protestantismo, há relatos históricos de que vários reformadores escoceses, inclusive John Knox, acreditavam na contemporaneidade da profecia (os relatos podem ser achados em português no livro Surpreendido Com a Voz de Deus, de Jack Deere, da Editora Vida, já esgotado). Atualmente, além dos pentecostais, o continuísmo é ensinado por vários representantes do novo calvinismo, como John Piper, Wayne Grudem e Mark Driscoll.
John Knox: o reformador escocês também cria em profecias

Os mandamentos não explicados
Mas o maior problema não é o histórico, e sim o bíblico. Os cessacionistas não encontram uma base bíblica clara para fundamentar a cessação dos chamados dons extraordinários (profecia, milagres, curas, línguas, interpretação e outros). Na verdade, sequer conseguem explicar uma base bíblica para classificar os dons em ordinários e extraordinários, já que os mesmos sempre são relacionados lado a lado, de modo indistinto.

Como se não bastasse, há um problema ainda pior. O cessacionismo fere de modo frontal uma série de mandamentos bíblicos relativos a busca e a prática de dons cuja continuidade é negada por eles:
Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. (1 Coríntios 14:1)

Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação. (1 Coríntios 14:5)

Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em outras línguas. (1 Coríntios 14:39)

Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar. (1 Coríntios 14:13)

Não desprezeis as profecias; (1 Tessalonicenses 5:20)

Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria. (Romanos 12:4-8)
Não é preciso dar muitas explicações adicionais: os textos são claros. São mandamentos bíblicos que a Igreja deve buscar os dons, principalmente o de profecia. As línguas não devem ser proibidas e Paulo chegou a desejar que todos os coríntios orassem em línguas. Quando o apóstolo instrui a igreja de Roma sobre os dons, ele ordena que profetas exerçam seu dom segundo a medida de sua fé.

E aí há sim uma questão delicada a ser respondida pelos cessacionistas. Baseados em quê eles se negam a cumprir os mandamentos bíblicos? Por que proíbem o falar em línguas? Por que estimulam a busca de dons como o do ensino, mas põem a profecia em último lugar? Por que impedem que profetas exerçam seu dom dentro da igreja? O ônus da prova recai sobre eles, e não sobre os continuístas.

A Bíblia inútil
Uma outra consequência da visão cessacionista é tornar inúteis grandes porções do Novo Testamento. Por exemplo, se profecias e línguas não existem, boa parte das instruções de culto que são dadas em 1 Coríntios 12 a 14 são inúteis. Tratam-se de uma mera curiosidade histórica, uma espécie de "dispositivos transitórios", que valeram apenas por um curto período de 60 anos.

Uma rápida lida nestes capítulos mostra o quanto estes dons são importantes para o apóstolo. Os dons "extraordinários" são mencionados na lista de 1 Co 12:4-11. Os profetas, operadores de milagres, pessoas com dons de curar e variedades de línguas são mencionados em 1 Co 11:28-30 como partes do Corpo de Cristo. Profecia e línguas são dons mencionados no argumento de Paulo sobre o amor em 1 Co 13:1-3. E todo o capítulo de 1 Co 14 trata especificamente do lugar e do uso correto das línguas e da profecia no culto.

Aliás, este capítulo é emblemático. Possui 40 versículos que, segundo os cessacionistas, não encontram mais uma aplicação clara no século XXI. Ora, se estes dons cessaram, por que gastar tanto espaço explicando:

- A utilidade da profecia para a igreja (edificação, consolo e exortação);
- A relação entre línguas e profecia;
- A necessidade de interpretação no culto bíblico;
- A razão de quem ora em línguas orar para poder interpretar o que ora;
- O impacto das línguas e da profecia nos visitantes;
- Quantas pessoas devem orar em línguas nos cultos;
- Quantos podem profetizar nos cultos;
- Como as profecias devem ser examinadas;
- Porque não devem ser proibidas as línguas e buscada a profecia.

Se tais dons não existem mais, é de se perguntar: por que Deus daria tanto espaço na Bíblia para coisas tão passageiras? E 1 Coríntios 14 não é o único caso. Além de Corinto, há instruções ou menções sobre a profecia e outros dons miraculosos para outras igrejas, como Roma (já citado), Tessalônica (já citado), Éfeso (Ef 4:11-16) e Galácia (Gl 3:5). O autor da carta aos Hebreus considerava possível a visita de anjos (Hb 13:2). Pedro também deu instruções que incluem a profecia e as línguas (1 Pe 4:10-11).

A relação é ainda maior quando se lê o livro de Atos dos Apóstolos, onde há eventos sobrenaturais em quase todos (se não em todos) os capítulos. Mesmo considerando o argumento cessacionista de que os dons extraordinários estavam ligados aos apóstolos, há vários exemplos de uso desses dons por pessoas que não eram apóstolas...e que os exerciam sem a presença "supervisora" apostólica:

- O diácono Estêvão fazia prodígios e grandes sinais, com certeza, milagres (At 6:8). Além disso, fez um discurso, cheio do Espírito, que é facilmente enquadrado como profecia (At 7);
- O evangelista Filipe não era apóstolo e não pede autorização apostólica para fazer sinais e expulsar demônios em Samaria (At 8:4-13). Os apóstolos chegam depois. Filipe também vê anjos e é arrebatado em Atos 8:26-39;
- Ananias tem uma visão do próprio Cristo e efetua um milagre na vida de Paulo...e estava em Damasco, uma igreja onde não havia nenhum apóstolo. Não se diz nada de Ananias...nem se ele era pastor, presbítero ou diácono. Talvez fosse só um crente "comum" (At 9:10-19);
- Ágabo não era apóstolo e profetizou uma fome, que gerou inclusive campanhas de coleta de donativos nas cartas de Paulo (At 11:27-30). Ele parecia itinerante, já que reaperece em Cesareia, profetizando a prisão de Paulo (At 21:10-11);
- Há profetas na igreja de Antioquia e eles enviam Paulo e Barnabé em missões por causa de uma revelação do Espírito Santo (At 13:1-3);
- Profetas falaram sobre a prisão de Paulo em Tiro, outra igreja sem presença apostólica (At 21:4);
- Filipe morava em Cesareia, outra igreja sem apóstolos em seu quadro, e tinha quatro filhas donzelas profetisas (At 21:9).

Se os cessacionistas estão corretos, há um sério problema então para todo pregador que escolha um texto de Atos dos Apóstolos. Afinal, boa parte do livro não teria mais aplicabilidade para a igreja contemporânea. Pior: há que se ter um cuidado redobrado. Isto porque, se fizermos um estudo da vida normal da igreja em Atos, podemos tirar conclusões erradas, como a de que profecias podem orientar decisões eclesiásticas ou a de que milagres são sinais que acompanham a pregação evangélica.

O ônus da prova
Por todas as razões acima, pelo grande peso das evidências favoráveis ao continuísmo, o ônus de provar o seu ponto deveria ser dos cessacionistas, e não dos continuístas. É preciso um argumento exegético sólido para justificar porque tantos mandamentos e passagens bíblicas devem ser ignoradas. E, diga-se de passagem, este post não traz todos os argumentos que podem ser usados para defender o continuísmo. Ao contrário, ele mostra é o tamanho do nó que precisa ser desatado se insistirmos em uma posição cessacionista.

Creio também que é o momento de cessacionistas encararem os continuístas de outra maneira. O continuísmo não é uma quebra do primeiro ponto da Reforma, o Sola Scriptura, que ensina que a Bíblia é nossa autoridade máxima em questões de fé e prática. Ao contrário, o continuísmo é uma obediência a este ponto, já que o peso da evidência bíblica é favorável aos continuístas, e não aos cessacionistas. Já é chegada a hora de parar as acusações de que somos hereges e apóstatas ou de que nossa teologia é inferior.

Afinal, sendo bem sincero: considerando tudo o que foi apresentado aqui, quem faz a melhor exegese bíblica: cessacionistas ou continuístas? Ao meu ver, a resposta é clara. E, se estou correto, os cessacionistas estão em rebeldia contra o Senhor. E precisam se arrepender deste pecado.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

P.S: Quem quiser saber mais sobre meus pontos de vista sobre o assunto, é só clicar aqui e aqui.

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A 'Igualdade' como falsa regra



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Doutrina do Karma - Tarananda Sati



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Aparecimento de LOCANA DASA THAKURA


LOCANA DASA THAKURA

LOCANA DASA THAKURA, um discípulo de Narahari Sharakara Thakura, escreveu muitas canções bengalis que glorificam o Senhor Caitanya. Seu trabalho poético mais famoso é o Chaitanya-mangala, uma representação da vida do Senhor Caitanya. (Veja Sri Caitanya-caritamrta, Adi-lila 10.78-79). 


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