quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Considerações sobre o uso do Teste da Casa-Árvore-Pessoa - HTP, livro em pdf, e videos aulas.

Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.9 no.1 Porto Alegre abr. 2010

 


Considerações sobre o uso do Teste da Casa-Árvore-Pessoa - HTP


Juliane Callegaro Borsa1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul


O desenho é considerado uma das formas de comunicação mais antigas entre os seres humanos (Hammer, 1991; Wechsler, 2003). Contudo, foi apenas a partir do século XX que o desenho passou a ser utilizado como técnica de avaliação psicológica, para investigar habilidades cognitivas e características da personalidade humana (Bandeira, Costa & Arteche, 2008). A esses tipos de técnicas, que possuem como principal estímulo o desenho, dáse o nome de técnicas ou testes gráficos.
Dentro dessa proposta, os desenhos passaram a ser analisados a partir de diferentes perspectivas. A perspectiva cognitiva entende o desenho como uma medida de avaliação cognitiva (Goodenough, 1974; Koppitz, 1984). Os testes gráficos cognitivos mais conhecidos são o Desenho da Humana Figura - DFH (Wechsler, 2003; Sisto, 2005) e o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender (Sisto, Santos & Noronha, 2004). A avaliação projetiva, por sua vez, entende que o desenho é uma forma de manifestação dos aspectos inconscientes da personalidade (Hammer, 1991, Machover, 1967). Os testes gráficos projetivos mais conhecidos são o House-Tree-Person Test ou Teste do Desenho da Casa – Árvore – Pessoa (HTP - Buck, 2003) e o Desenho da Família (Corman, 1979).
Conforme a Resolução n° 02/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos no Brasil, o HTP é o único teste gráfico projetivo para uso no contexto profissional da avaliação psicológica. Este instrumento foi aprovado pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI), em janeiro de 2004 (CFP, 2009).
O HTP foi criado por John N. Buck, em 1948, e tem como objetivo compreender aspectos da personalidade do indivíduo bem como a forma deste indivíduo interagir com as pessoas e com o ambiente. O HTP estimula a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito dentro da situação terapêutica e proporciona uma compreensão dinâmica das características e do funcionamento do individuo (Buck, 2003). O instrumento é destinado a indivíduos maiores de oito anos e propõe a realização de três desenhos seqüenciais - uma casa, uma árvore e uma pessoa, os quais devem ser desenhados em folhas separadas, utilizando lápis e borracha. A aplicação propõe, também, que se realize um inquérito acerca de características e descrições de cada desenho realizado (Buck, 2003).
O HTP é uma das técnicas mais utilizadas por psicólogos brasileiros (Lago & Bandeira, 2008; Noronha, 2002) e é um dos testes mais ensinados nos cursos de formação em Psicologia (Freitas & Noronha, 2005; Noronha, Oliveira & Beraldo, 2003). A popularidade do HTP pode estar relacionada ao baixo custo e à facilidade de sua aplicação (Lago & Bandeira, 2008). Ao mesmo tempo, trata-se de uma das técnicas mais questionadas no que se refere à validade e fidedignidade (Anastasi & Urbina, 2000; Cunha, 2000). Por se tratar de uma técnica projetiva gráfica, em que aspectos pessoais são projetados sobre o estímulo do desenho, o HTP permite que o avaliador realize interpretações frente ao conteúdo trazido. Em virtude da ambiguidade dos estímulos, as respostas são determinadas pelo conteúdo idiossincrático trazido pelo indivíduo (Hammer, 1991, Machover, 1967).
O HTP foi apresentado, ao longo dos anos, por diferentes autores orientados, em sua maioria, pela teoria psicodinâmica da personalidade (ver Anzieu, 1978; Di Leo, 1987; Grassano, 2004; Greig, 2004 e Hammer, 1991). Diferentes contribuições trazem diversidades quanto às interpretações e dificuldades de se estabelecer critérios para tal. Por esta razão, o HTP é entendido, muitas vezes, como um instrumento baseado no senso comum e em conclusões arbitrárias e subjetivas.
Na sua versão atual, o HTP oferece um manual contendo padronização de aplicação e de registro das respostas oriundas do inquérito posterior a cada desenho. Além disso, oferece um protocolo com uma lista de conceitos interpretativos para cada desenho, associados a possíveis características psicopatológicas da personalidade. Em relação à aplicação, a mesma exige que sejam considerados alguns critérios relevantes, como o adequado conhecimento técnico e teórico do aplicador, sobretudo no que se refere às técnicas projetivas, um ambiente facilitador para a aplicação, a adequada administração do rapport; e aplicação individual, especificamente no contexto clínico. Quanto à interpretação, o HTP propõe avaliar o desenho a partir dos seguintes aspectos: proporção, perspectiva, detalhes, qualidade da linha e uso adequado de cores, no caso dos desenhos cromáticos (Buck, 2003).
A proposta atual do HTP sugere uma avaliação menos detalhada e mais global do desenho quando comparada, por exemplo, aos antigos manuais (ver Retondo, 2000). Tal proposta tende a evitar interpretações pouco consistentes, calcadas na análise simplista do item pelo item. A análise global dos elementos dos desenhos tem-se apresentado apropriada para compreensão dos aspectos psicopatológicos e das características gerais da personalidade, sobretudo quando comparada às análises de itens específicos dos desenhos (Engle & Suppes, 1970; Yama, 1990).
No que se refere ao protocolo de interpretação, trata-se de uma tentativa de sistematizar a aplicação e criar critérios para a interpretação dos desenhos. Conforme propõe o manual, o protocolo configura-se como um recurso útil para a apreensão das características relevantes, visando a interpretação adequada dos desenhos (Buck, 2003). O que se observa, contudo, é a característica patologizante e reducionista do protocolo, na medida em que vincula as características dos desenhos a indicadores psicopatológicos muito específicos, sem considerar outras variáveis envolvidas e que não podem ser apreendidas através da aplicação de um único instrumento.
Neste sentido, o próprio manual do HTP adverte que as informações oriundas do protocolo não devem ser analisadas isoladamente e devem ser combinadas com a história clínica do individuo e com dados oriundos de outras fontes (instrumentos padronizados, entrevistas e informações obtidas por diferentes informantes - Buck, 2003). É importante salientar que o objetivo da avaliação psicológica é compreender o indivíduo da melhor forma possível, sem rótulos ou preconceitos (Cunha, 2000; Tavares, 2003).
Quanto à interpretação dos desenhos, é importante mencionar que esta precisa ir além do conteúdo gráfico puro e simples. Para tanto, é necessário considerar: a) análise dos demais fenômenos oriundos da avaliação, quais sejam, os conteúdos gestuais e verbais ocorridos ao longo da aplicação; b) associação das informações obtidas pelo HTP a informações oriundas de outras fontes, conforme propõe o autor no caput do protocolo de aplicação; c) rigor no uso das informações advindas do manual; d) interpretações fundamentadas na literatura científica sobre técnicas projetivas gráficas (Buck, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O teste HTP possui, assim como as demais técnicas projetivas, um caráter idiossincrático (Buck, 2003). Em outras palavras, o significado da informação obtida fundamenta-se, não no desempenho do indivíduo relativo a grupos previamente estabelecidos, mas em seu próprio desempenho, avaliado por métodos independentes (Tavares, 2003). A esse conjunto de critérios, dá-se o nome de validade clínica, a qual enfatiza o significado singular de um conjunto de indicadores para um sujeito e seu contexto específico, que inclui o contexto de vida e contexto da avaliação (Tavares, 2003).
Em relação à atual versão brasileira do manual do HTP (Buck, 2003), observa-se a considerável escassez de informações no que se refere aos critérios para interpretação e à origem das associações propostas entre os itens dos desenhos e as psicopatologias. O protocolo, por sua vez, apresentase como um recurso reducionista e psicopatologizante e, devido a esse fato, sugere-se seu uso, apenas, como um guia de orientação sobre os critérios relevantes a serem considerados. Do mesmo modo, é necessário destacar que o referido manual não possui dados de pesquisas realizadas no Brasil, configurando-se, apenas, como uma mera tradução do material existente.
O HTP não deve ser considerado como um instrumento único em um processo diagnóstico que vise avaliar aspectos da personalidade de um indivíduo. Assim, recomenda-se que o uso do HTP para indicação de caminhos no processo de investigação realizado a posteriori, discriminando características bizarras salientes e servindo como um complemento para corroborar informações advindas de fontes adicionais.
No que se refere à aplicação, recomenda-se o uso do HTP no âmbito clínico, já que é nesse contexto que se encontra a possibilidade apreender as particularidades e idiossincrasias do indivíduo avaliado, a partir de informações que dificilmente seriam apreendidas em uma avaliação aplicada ao contexto da seleção de pessoal, por exemplo. Mais especificamente, parece evidente que a aplicação individual é a mais indicada, uma vez que só assim é possível observar todos os fenômenos ocorridos no campo da aplicação. Devido a esse conjunto de características, salienta-se a necessidade do psicólogo possuir uma formação adequada para utilização do HTP, advinda de treinamentos, de atualizações e da prática supervisionada sistemática.
Por fim, observa-se na literatura, que os estudos sobre o HTP são escassos. Grande parte da literatura é desatualizada e poucas pesquisas atuais são encontradas nas bases de dados. Assim, registra-se a importância da continuidade das pesquisas sobre o HTP, para que se possa dispor de dados atualizados e pertinentes ao contexto brasileiro. Tais estudos contribuirão de maneira significativa para a qualidade das propriedades do instrumento, sobretudo no que se refere à validade à fidedignidade dos seus achados.

REFERÊNCIAS
Anzieu, D. (1978). Os métodos projetivos. Rio de Janeiro, RJ: Campus.         [ Links ]
Anastasi, A., & Urbina, S. (2000). Testagem psicológica. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.         [ Links ]
Bandeira, D. R., Costa, A., Arteche, A. (2008). Estudo de validade do DFH como medida de desenvolvimento cognitivo infantil. Psicologia Reflexão e Crítica, 21(2), 332-337.         [ Links ]
Buck, J. N. (2003). H-T-P: Casa – Árvore – Pessoa. Técnica Projetiva de Desenho: Manual e Guia de Interpretação. (1ª ed.). São Paulo: Vetor.         [ Links ]
Corman, L. (1979). O teste do desenho da família. São Paulo: Mestre Jou.         [ Links ]
Conselho Federal de Psicologia (2003). Resolução n° 002, de 24 de março de 2003. Disponível em:<www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol /legislacao/legislacaoDocumentos/resolucao200 3_02.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2009.         [ Links ]
Cunha, J. (2000). Técnicas projetivas gráficas: Por que sim? Por que não? São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]
Di Leo, J. (1987). A interpretação do desenho infantil. (2 ed). Porto Alegre, RS: Artes Médicas.         [ Links ]
Freitas, F. A., & Noronha, A.P.P. (2005). Clínicaescola: levantamento de instrumento utilizados no processo psicodiagnóstico. Psicologia escolar e educacional 9(1), 37-46.         [ Links ]
Engle, P. & Suppes, J. (1970). The relation between Human Figure Drawing and test anxiety in children. Journal of Projective Techniques & Personality Assessment, 34, 223-231.         [ Links ]
Goodenough, F. (1974). Test de inteligência infantil por medio del dibujo de la figura humana (7. ed.). Buenos Aires, Argentina: Paidós        [ Links ]
Grassano, E. (2004). Indicadores Psicopatológicos nas Técnicas Projetivas. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.         [ Links ]
Greig, P. (2004). A Criança e Seu Desenho: O nascimento da arte e da escrita. Porto Alegre: ArtMed.         [ Links ]
Hammer, E. F. (Org.). (1991). Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. Rio de Janeiro: Interamericana.         [ Links ]
Koppitz, E. M. (1984). El dibujo de la figura humana em los niños. Buenos Aires, Argentina: Guadalupe.         [ Links ]
Lago, V. M., & Bandeira, D. R. (2008). As práticas em avaliação psicológica envolvendo disputa de guarda no Brasil. Avaliação psicológica 7(2), 223-234.         [ Links ]
Machover, K. (1967). O traçado da Figura Humana: um método para o estudo da personalidade. Em H. H. Anderson & G.L. Anderson (Orgs.), Técnicas projetivas do diagnóstico psicológico (p. 345-370). São Paulo: Mestre Jou.         [ Links ]
Noronha, A.P.P. (2002). Os problemas mais graves e mais freqüentes no uso dos testes psicológicos. Psicologia Reflexão e Crítica, 15(1). 135-142.         [ Links ]
Noronha, A. P. P., Oliveira, K. L. & Beraldo, F. N. (2003). Instrumentos Psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de Psicologia. Psicologia Escolar e Educacional, 7, 47-56.         [ Links ]
Retondo, M. F. N. G. (2000). Teste Projetivo H.T.P (casa - árvore - pessoa). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]
Sisto, F. (2005). O desenho da figura humana – Escala Sisto. São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]
Sisto, F. F., Santos, A. A. A. & Noronha, A. P. P. (2004). Critérios de Integração do Teste de Bender: Explorando Evidências de Validade. Avaliação Psicológica, 3 (1), 13-20.         [ Links ]
Tavares, M. (2003). Validade clínica. PsicoUSF,8(2), 125-136.         [ Links ]
Yama, M. F. (1990). The usefulness of Human Figure drawings as an index of overall adjustment. Journal of Personality Assessment, 54, 78-86.         [ Links ]
Wechsler, S. (2003). O Desenho da Figura Humana: Avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. Campinas: LAMP/PUC.         [ Links ]


SOBRE A AUTORA:
Juliane Callegaro Borsa é psicóloga, doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bolsista de doutorado (e ex-bolsista de mestrado) do CNPq. Atualmente, é integrante do Grupo de Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica - GEAPAP, coordenado pela Profª Drª Denise Ruschel Bandeira (UFRGS). Realiza pesquisas sobre desenvolvimento, adaptação, padronização e validação de instrumentos de avaliação psicológica.
1Contato:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 120. Bairro Santa Cecília, Porto Alegre/RS. CEP 90035-003. E-mailpsicojuli@yahoo.com.br.

fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712010000100017


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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O teste KTK em estudos da coordenação motora José Irineu Gorla, Paulo Ferreira Araújo, José Luiz Rodrigues, Vanildo Rodrigues Pereira




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domingo, 3 de novembro de 2019

O Papa e a CNBB José Nivaldo Cordeiro

O Papa e a CNBB
José Nivaldo Cordeiro 
27 de dezembro de 2001

A mensagem do Papa João Paulo II para a comemoração do Dia Mundial da Paz (01/02/2002), intitulada Não há paz sem justiça; Não há justiça sem perdão, é um documento exemplar da postura da Santa Sé em relação aos acontecimentos de 11 de setembro. O interessante é também compará-lo com a linha de análise dos fatos adotada pela CNBB, em sua última Análise de Conjuntura (relativa ao mês de novembro) disponibilizada no seu site (www.cnbb.org.br). O abismo entre ambas as posições é maior do que aquele que separa o Céu da Terra. Abaixo vou tentar comparar os textos.

A mensagem do Papa tem um caráter intimista, daí a sua leitura ser ainda mais excitante, tangenciando o poético. E ele não usa de meias palavras para condenar os atentados:

“Este ano o Dia Mundial da Paz é celebrado tendo como pano de fundo os dramáticos acontecimentos do passado dia 11 de Setembro. Naquele dia, foi perpetrado um crime de terrível gravidade: em poucos minutos milhares de pessoas inocentes, de várias procedências étnicas, foram horrorosamente massacradas. Desde então, por todo o mundo as pessoas tomaram consciência, com nova intensidade, da sua vulnerabilidade pessoal e começaram a olhar o futuro com um sentido, jamais pressentido, de íntimo medo. Diante deste estado de ânimo, a Igreja deseja dar testemunho da sua esperança, baseada na convicção de que o mal, o mysterium iniquitatis, não tem a última palavra nas vicissitudes humanas. A história da salvação, delineada na Sagrada Escritura, projeta uma grande luz sobre toda a história do mundo ao mostrar como sobre ela vela sempre a solicitude misericordiosa e providente de Deus, que conhece os caminhos para sensibilizar mesmo os corações mais endurecidos e alcançar bons frutos mesmo de uma terra árida e infecunda. Esta é a esperança que anima a Igreja no início do ano 2002: com a graça de Deus este mundo, no qual as forças do mal parecem uma vez mais triunfar, há-de realmente transformar-se num mundo em que as aspirações mais nobres do coração humano poderão ser satisfeitas, num mundo onde prevalecerá a verdadeira paz”.

Quanta diferença quando comparamos com o que escreveram os analistas conjunturais da CNBB! Vejamos o seu primeiro parágrafo:

“A conjuntura continua marcada pelo atentado terrorista do dia 11 de setembro e pela guerra contra o movimento Taliban, do Afeganistão. À medida que passa o tempo, vai ficando claro que aquele atentado condensou a sensação de mal-estar mundial dos últimos anos. A guerra que se seguiu, desproporcional à sua pretensa causa, só veio agravar esse mal-estar, como se a Humanidade no seu todo estivesse febril”.

Em todo o texto do Papa vemos a justa indignação com os atos terroristas perpetrados contra os EUA, não havendo uma única palavra de condenação do Santo Padre contra as ações militares que ainda estão em andamento, até porque o Papa, em momento anterior, já havia classificado a guerra como “justa”. Já os conjunturalistas da CNBB iniciam seu texto relativizando, afirmando com o acontecido em 11 de setembro “condensou a sensação de mal-estar mundial nos últimos anos”, implicitamento colocando a ação criminosa calculada e pensada como uma respostas a uma agressão anterior. Nada mais falso. Além disso, condena de forma categórica ação dos EUA, em clara contradição com a visão do Sumo Pontífice.

Eles acrescentam à sua análise:

“À medida que passa o tempo e continuam as operações militares comandadas pelos EUA na Ásia Central, vai ficando claro que esta guerra tem outros objetivos além do alegado combate a grupos que adotam o terrorismo como estratégia política. Um desses objetivos é assegurar aos países membros do G-7 o controle sobre as rotas de petróleo e gás natural da Ásia Central e do mar Cáspio (cujas reservas serão a grande alternativa para o Ocidente quando se esgotarem os recursos do Oriente Médio, dentro de 20 anos no máximo). Outro objetivo, de importância estratégica, é a presença militar nas vizinhanças da China (a potência emergente dos próximos anos, já se preparando para ocupar o terceiro lugar na corrida espacial), da Índia e da Rússia/Sibéria. Enfim, é preciso lembrar que a guerra aumenta os investimentos na indústria bélica e dinamiza a economia estadunidense para fazê-la sair da recessão que já a ameaçava antes mesmo de 11 de setembro”.

Fica claro nesse trecho que os analistas adotam uma visão conspiratória, tratando os EUA como agressores e não como quem combate em ato de defesa, aí englobando o G-7. Como se países como França não tivessem suas reservas e aquele colegiado fosse um monolito. Na visão dos analistas, a mobilização militar não tem por objetivo destruir as bases terroristas, mas fazer a guerra de conquista, em claro desacordo com a realidade dos fatos. A paranóia vai além, sugerindo que o Ocidente precisaria de bases militares adicionais por causa da China e da Rússia, como se ainda estivéssemos vivendo a Guerra Fria e o comunismo não tivesse sido derrotado em 1989. A pobreza dos parâmetros dos analistas é, por assim dizer, franciscana. Chega mesmo a ser colegial.

O seguinte trecho é ainda mais insípido:

“A escolha do mundo árabe-muçulmano como alvo de guerra, porém, pode ter efeitos explosivos no médio prazo. Como já foi assinalado (Conjuntura de setembro), a opção pela guerra provoca a radicalização de posições extremas e dificulta o desenvolvimento de alternativas viáveis para a Justiça e a Paz mundial (como as alternativas nascentes do Fórum Social Mundial). Vemos multiplicarem-se medidas autoritárias contra pessoas suspeitas, principalmente nos EUA, onde o governo Bush está fazendo lembrar o AI-5 da ditadura militar brasileira. A recente vitória eleitoral da direita na Dinamarca parece ser um mau presságio de agravamento da xenofobia e do endurecimento político do Ocidente. Os problemas mundiais tendem a ser resolvidos pela força das armas e em favor dos mais fortes sob o ponto de vista econômico e militar, uma vez que agora mais que nunca é evidente a inter-relação entre segurança e economia.. A aversão ao risco ganha maior peso como fator de decisão sobre os investimentos: o Estado que não oferecer segurança aos investidores ficará prejudicado no financiamento da sua economia”.

Os EUA escolheram os mundo árabe-muçulmano como alvo? Foi exatamente o contrário, eles atacaram os EUA de forma rapace e traiçoeira. Aqui eles, os analistas conjunturais , transformam o agredido em agressor. E, como bons marxistas, colocam o drama como sendo motivado por razões econômicas, quando toda a gente sabe que a motivação é de outra natureza, está no ódio ancestral e tribal contra a modernidade, contra a sociedade aberta, contra a libertação feminina e, podemos dizer, contra as liberdades em geral. E as medidas de proteção contra os novos prováveis atentados (quem esquece do terrorista do sapato que ainda nesta semana tentou derrubar um outro avião, uma forma de terrorismo que poderíamos chamar de pé-de-chinelo? É possível não ser previdente contra esses dementes?) Quem tentou resolver os problemas mundiais pelas armas foram os terroristas. E, que mal pergunte, o que tem a ver a segurança dos investidores com os atos terroristas? Só marxistas cegos pela ideologia para misturar alhos com bugalhos.

Mas voltemos ao texto do Santo Padre:

“Os recentes acontecimentos, com os terríveis fatos sangrentos aqui lembrados, estimularam-me retomar uma reflexão que freqüentemente brota do mais íntimo do meu coração, quando lembro os acontecimentos históricos que marcaram minha vida, especialmente nos anos da minha juventude. Os indescritíveis sofrimentos de povos e indivíduos, vários deles meus amigos e conhecidos, causados pelos totalitarismos nazista e comunista, sempre interpelaram o meu espírito e motivaram a minha oração. Muitas vezes me detive a refletir nesta questão: qual é o caminho que leva ao pleno restabelecimento da ordem moral e social tão barbaramente violada? A convicção a que cheguei, raciocinando e confrontando com a Revelação bíblica, é que não se restabelece cabalmente a ordem violada, senão conjugando mutuamente justiça e perdão. As colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão”.

Quanta diferença! Enquanto que a CNBB emprega declaradamente a sociologia marxista para fazer o seu arremedo de interpretação da realidade, o Papa singelamente usa a doutrina de cristã, prega o Evangelho, a grandeza da justiça e do perdão. E vai além. Denuncia o totalitarismo, inclusive o comunista, que é tão caro para uma parcela importante do clero brasileiro.

Continua o Papa:

“Mas, nas circunstâncias atuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos. Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é ” obra da justiça ” (Is 32, 17). Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é ” fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre ansiosos por uma mais perfeita justiça ” (Const. past. Gaudium et spes, 78). Há mais de quinze séculos que na Igreja Católica ressoa o ensinamento de Agostinho de Hipona, segundo o qual a paz, a ser conseguida com a colaboração de todos, consiste na tranquillitas ordinis, na tranqüilidade da ordem (cf. De civitate Dei, 19, 13). Por isso, a verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a eqüitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas. Isto vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âm bito mais alargado e mesmo as internacionais. O perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranqüilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão, são essenciais.”.

Há, nesse trecho, apoio implícito a ação dos EUA, que têm a missão de restabelecer a ordem quebrada, o equilíbrio perdido. A traquilidade da ordem exige a ação da justiça, que deve ser seguida da ação do perdão, tão bela e poeticamente aqui lembrado pelo Santo Padre.

Nada mais diferente do que a pífia análise dos analistas conjunturais da CNBB. O Papa não usa de meias palavras para condenar o terrorismo, como podemos ler no seguinte trecho:

“É precisamente a paz baseada na justiça e no perdão que, hoje, é atacada pelo terrorismo internacional. Nestes últimos anos, especialmente após o fim da guerra fria, o terrorismo transformou-se numa rede sofisticada de conluios políticos, técnicos e econômicos, que ultrapassa as fronteiras nacionais e se estende até abranger o mundo inteiro. Trata-se de verdadeiras organizações, dotadas freqüentemente de enormes recursos financeiros, que elaboram estratégias em vasta escala, atingindo pessoas inocentes, de forma alguma envolvidas nos objetivos que se propõem os terroristas. Usando os seus mesmos sequazes como armas para atingir pessoas incautas e indefesas, estas organizações terroristas manifestam de modo assustador o instinto de morte que as alimenta. O terrorismo nasce do ódio e gera isolamento, desconfiança e retraimento. A violência atrai violência, numa trágica espiral que arrasta também as novas gerações, herdando elas assim o ódio causador das divisões precedentes. O terrorismo baseia-se no desprezo da vida do homem. Precisamente por isso, dá origem não só a crimes intoleráveis, mas constitui em si, enquanto recorre ao terror como estratégia política e econômica, um verdadeiro crime contra a humanidade“.

E também não usa de meias medidas para o seu combate:

“Existe, portanto, um direito a defender-se do terrorismo. É um direito que deve, como qualquer outro, obedecer a regras morais e jurídicas na escolha quer dos objetivos quer dos meios”.

Mais um claro apoio à ação internacional que está em curso. O restante do texto continua explorando por outros ângulos o mesmo tema, condenando o terrorismo e apoiando a ação “justa” e o perdão.


É evidente que a posição do Papa está de acordo com a doutrina e a história do cristianismo. O mesmo não pode ser dito do texto da CNBB.

fonte: http://olavodecarvalho.org/o-papa-e-a-cnbb/

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