quarta-feira, 22 de outubro de 2014

CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Resenha.


Foto: Reprodução Internet
Resenhistas
Bruna Safira Araújo Costa 
Francisco de Assis Pinto Bezerra 

RESUMO DA OBRA: O estudo discute a possibilidade, e a importância, de se aprender geografia nas séries iniciais do ensino fundamental a partir da leitura do mundo, da vida e do espaço vivido. Aborda o papel da geografia e sua alfabetização cartográfica neste processo. Também colocam em discussão as exigências teóricas e metodológicas da geografia para balizar o processo ensino aprendizagem da criança. Enfim, a autora busca refletir sobre o papel da geografia no processo de alfabetização, cujo questionamento central é: Qual é o lugar da geografia nas séries iniciais?

1. FONTE RESENHADA
CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: A geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponível em: Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. 

Palavras chave: Geografia. Ensino. Aprendizagem. Séries iniciais e espaço.

2. APRESENTAÇÃO DA AUTORA 
Callai é Doutora em geografia e professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências (mestrado) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). E-mail: jcallai@unijui.tche.br 

3. PERSPECTIVA TEÓRICA DA OBRA 
São de duas ordens as perspectivas teóricas. A primeira é a geografia, que considera que o espaço como sendo um fenômeno socialmente construído pelo trabalho e pelas formas de vida dos homens e, outra, é Pedagógica, que concebe a aprendizagem como um fenômeno social e acontece na interlocução e interação dos sujeitos, sejam no mesmo ou em espaço distinto. Ou seja: A autora desenvolve a sua obra sob dois ângulos: A educação e a Geografia.

4. ORGANIZAÇÃO DA OBRA
O trabalho da autora é detalhado no que diz respeito ao aprendizado da leitura de mundo, cujo conteúdo se fragmenta na seguinte seqüência: Panorama Geral; O pedagógico e/na geografia; Alfabetização e alfabetização espacial; Como ler o mundo da vida? O olhar espacial; A leitura da paisagem; Escala de análise; O estudo do lugar; Os conceitos; As habilidades; A cultura; e, por último, A cartografia na leitura do espaço, além das Referencias.

5. PRINCIPAIS POSIÇÕES DA AUTORA 
Ao considerar que a educação no Brasil passa por mudanças e, na esteira, também a geografia, abrindo precedentes para se fazer uma releitura do papel da geografia no ensino fundamental, Callai (2005) argumenta que a leitura do mundo é fundamental para que todos nós - que vivemos em sociedade - possamos exercitar nossa cidadania. 
A autora parte do principio de que a leitura do o mundo da vida pode ser feita através da leitura do espaço, visto que este traz e representa as marcas da vida dos homens. Porém, Callai (2005) chama atenção de que ler o mundo não se traduz apenas na leitura de Mapas, embora as representações cartográficas reflitam as realidades territoriais – mesmo de maneira distorcida – mas, sim, é construída no dia a dia, resultado das utopias das pessoas, como também dos limites impostos, seja pela natureza ou pela própria sociedade.
Para Callai (2005) o papel da geografia no processo de ensino na educação fundamental se constitui na adoção de condições pedagógicas, teóricas, metodológicas, entre outras, para que o alunado possa desenvolver e fazer a leitura do mundo da vida, a partir da leitura do espaço; cuja compreensão das paisagens possa se traduzir na percepção de que a dinâmica do espaço nada mais é do que resultado da vida em sociedade e da inter-relação dos homens na busca de satisfazer suas necessidades. 
Callai (2005) tem a visão de que a leitura do espaço se inicia desde cedo, quando um indivíduo ainda é criança, visto esta se desenvolve e vive em espaços, conhecendo e aprendendo lugares, assimilando e identificando paisagens. Todavia, a autora frisa que, para isso, é necessário instituir a cultura da alfabetização cartográfica em sala de aula nas séries iniciais. Também a Alfabetização espacial se dar desde cedo, quando ainda criança, lendo o mundo, mesmo antes de ler palavras, dado o contato direto com a realidade dos espaços. E, ao caminhar, correr, brincar, a criança está interagindo com um espaço que é social, ampliando o seu mundo e reconhecendo e registrando a complexidade dele, isto é, o espaço é construído socialmente.
Para defender a sua posição de que uma nova geografia se faz necessário para alfabetizar as crianças na leitura de espaço e de mundo, Callai (2005) critica o ensino tradicional da Geografia, que é marcado pela enumeração de dados geográficos e trabalha espaços fragmentados, operando com questões desconexas, em detrimento do espaço geográfico complexo, que representa o mundo da vida. Ensinado desta maneira, a geografia vigente pouco contribui com a leitura do mundo.
Outra prática tradicional apontado pela autora, e que afeta a leitura de mundo, é o estudo do meio, cuja concepção é de que se deve partir do próprio sujeito, estudando a criança, sua vida, sua família, escola, rua, bairro, cidade, enfim, sucessivamente vai se ampliando o espaço. Trata-se da metodologia dos Círculos Concêntricos, que se sucedem numa seqüência linear, do mais simples e próximo ao mais distante. 
Na visão da autora a metodologia dos Círculos Concêntricos representa um procedimento problema na medida em que se observa que o mundo é extremamente complexo e que, em sua dinamicidade, não acolhe os sujeitos em círculos, como prescreve a referida metodologia. Tanto é que em um mundo, onde a informação veloz atinge a todos, em todos os lugares e no mesmo instante, não tem como delimitar um estudo a partir de círculos hierarquizados. 
Embora da severa crítica à metodologia dos Círculos Concêntricos, Callai (2005) faz uma resignação e afirma que não é o aprendizado do espaço por hierarquia que dificulta a leitura de espaço e de mundo, mas o nó deste processo reside no referencial teórico que sustenta esta concepção metodológica. 
Para romper com a prática tradicional do ensino da geografia Callai (2005) recomenda que, além da boa vontade do professor, tem que se adotar concepções teórico/metodológicas capazes de permitir o reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e reconhecer a sua dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta, ou seja, a concepção do professor do que sejam educação e geografia pode fazer a diferença. A autora entende que, além de um novo referencial teórico, o docente tem que saber fazer a interligação de todos os componentes curriculares, cruzamento entre geografia e educação, como forma de atingir o objetivo proposto que fazer uma eficaz leitura de espaço e, por conseguinte, de mundo da vida dos sujeitos.
Para tanto, Callai (2005), ao refletir qual o significado de saber ler o espaço?, busca fundamentos em Castelar (2000, p. 32), cuja posição teórica é de que: “Toda informação fornecida pelo lugar ou grupo social no qual a criança vive é altamente passiva de instigação e de novas descobertas”. Para maior solidificação deste processo, a autora sugere que seja trabalhada, no momento da alfabetização, a capacidade de leitura dos espaços dos alunos, pois saber ler a aparência das paisagens e desenvolver a capacidade de ler os significados que elas expressam.
Em seguida, a autora, ao considerar alguns conceitos de palavras que envolvem a geografia (rio, riacho, córrego, lençol freático, lixo, poluição, degradação ambiental, degradação urbana, cidade, riscos ambientais) afirma que estas podem ser trabalhados no contexto da leitura espacial. Neste caso, o aluno aprende a leitura da palavra, aprendendo a ler o mundo, reproduzindo a perspectiva da geografia: olhando em volta, percebendo o que existe se podem analisar as paisagens como o momento instantâneo de uma história que vai acontecendo.
Até porque o conceito representa uma abstração da realidade, formado a partir da realidade em si, a partir da compreensão do lugar concreto, de onde se extraem elementos para pensar o mundo (ao construir a história e o espaço). Inclusive o desenvolvimento das habilidades das crianças depende da leitura dos espaços e, para tanto, a escola tem que selecionar quais conceitos geográficos a serem trabalhados.
Quanto ao olhar pedagógico, Callai (2005) acredita que seja necessário que se desenvolva o diálogo entre todos os atores que fazem parte do processo (professor, colegas, pessoal da escola, família, pessoas do convívio), com o espaço (que possui vida e movimento, reflexo da interação dos ambientes interno/externo); com a natureza e com a sociedade, que se interpenetram na produção e geram a configuração do espaço. Essa interlocução e a vivência concreta aumentam o poder de ampliação do espaço da criança com a aprendizagem da leitura desses espaços e, como recurso, desenvolve-se a capacidade de “aprender a pensar o espaço”, desenvolvendo raciocínios geográficos, incorporando habilidades e construindo conceitos.
Com relação à dimensão espacial, a autora analisa o mundo da vida no que se refere às dinâmicas sociais, procurando entender as relações entre os homens e quais as condições (econômicas e políticas) que determinam estas interações. Neste ponto, Callai (2005) se contrapõe ao movimento de homogeneização imposto pela mídia e pelo segmento empresarial. Para defender a sua posição, a autora apresenta dois argumentos: a) Em um mundo globalizado, as idéias universais só se concretizam nos lugares, e não no global, no geral e b) A ação dos sujeitos pode ser efetiva e eficaz, dependendo do jogo de forças em que se insere, ou seja, os homens podem não ser considerados como partes de uma estrutura ou sistema, mas pode tomar atitudes próprias. 
Dentre os elementos que a autora receitua para fazer a leitura de espaço e de mundo da vida se destaca: A leitura das paisagens e de Mapas, que são a representação cartográfica de um determinado espaço. Neste caso, Callai (2005) recomenda que os Mapas sejam trabalhados a partir de desenhos de trajetos, percursos, plantas da sala de aula, da casa, do pátio da escola, etc. Enfim, Esta confecção tem que envolver o cotidiano do aluno observando as formas de representação do espaço. 
Mas que saber construir mapas, ler o espaço e o mundo, Callai (2005) é catedrática ao considerar que o mais importantes é aprender a pensar e reconhecer o espaço vivido não apenas como espaço que pode ser neutro, ou estranho a si próprio; mas, contudo, no sentido de se apropriar das capacidades que lhe permitirão compreender o mundo, reconhecer a sua força, e a força do lugar em que vive. Não se trata apenas de viver, mas aprender e saber transformar a sua realidade vivida, tornando o espaço mais justo e, por último, atingir o Direito á cidadania.

6. CONTRIBUIÇÃO DA AUTORA DO ARTIGO
Callai (2005) prescreve uma metodologia para as series iniciais do ensino fundamental, pautada na geografia, cujo procedimento é a leitura do espaço, paisagem e o mundo da vida, como modo de aumentar a qualidade e o poder de se alfabetizar as crianças. Para tanto, a autora acredita que se tem de mudar o componente curricular aproximando às escolas aos espaços vividos pelo alunado e à sociedade de maneira em geral.
Callai (2005) também aponta mecanismos para que os sujeitos possam se contrapor ao processo hegemônico e global, que tentam homogeneizar os distintos espaços. Trata-se da construção da identidade cultural no sentido de pertencimento, como mecanismo para deixar de apenas servir interesses externos oportunistas e escusos. Porém, isto depende da correta leitura de espaço e de mundo.

7. REFLEXÃO CRÍTICA DOS RESENHISTAS
Na realidade Callai (2005), no seu artigo, contesta a tradicional concepção da geografia de que “o ambiente determina o homem” ou ainda os sujeitos são determinados pelo ambiente em que vivem, cujo espaço onde (co)habitam é estático. A autora não aceita esta concepção determinista, onde os fenômenos são explicados pelo lugar, deixando o homem passivo aos acontecimentos.
Afastando-se desse quadro apático e passivo, Callai (2005) “desloca” o homem desse ambiente e o coloca em um contexto dinâmico e complexo onde o individuo se torna um agente ativo e que constrói o seu próprio mundo. No contexto dessa ruptura, a autora coloca como elemento chave a apropriação da geografia como meio para realizar este “salto”. 
Destarte, pela exposição teórica do assunto, concordamos com Callai (2005), quando considera que a Disciplina Geografia na educação não deve ser um acessório, mas deve representar uma participação efetiva e continua no processo de alfabetização da criança. Ao ler o espaço, o aprendiz estará lendo a sua própria história, fruto da dinâmica interativa das forças sociais e pela vivência de seus antepassados e dos grupos com os quais convive.

Autores
Bruna Safira Araújo Costa
Titulação: É estudante do 3º ano do Curso de pedagogia pela Universidade do Estado do Pará – UEPA
Departamento: Centro de Ciências Sociais e Educação
Email: brunagabi-19@hotmail.com             
Endereço: Rodovia Augusto Montenegro, Conj. Orlando Lobato, avenida principal, Quadra B, Nº 219
Tel.: (91)8823-8067

Francisco de Assis Pinto Bezerra
Titulação: Graduado em Ciências econômicas, com Especialização em Economia Agrobioindustrial e Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento – NAEA/UFPA
Departamento: Núcleo de Altos Estudos Amazônico – NAEA/UFPA
E mail: profissionaldaufpa@hotmail.com
Endereço: Pass. São Sebastião, nº 628, Rua da Marinha, Bairro Marambaia
Tel.: (91) 3231-8437/8855-8584


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