domingo, 20 de setembro de 2020

O Poder da Apreciação


O Poder da Apreciação

Chaitanya-charana Dasa

Você pode salvar uma vida hoje.

“Eu posso viver por dois meses com um bom elogio.” (Mark Twain)

A vida pode ser desanimadora. As coisas dão errado, as pessoas se enganam, nós mesmos erramos. Nossos melhores planos podem ser destruídos por uma grande reviravolta ou frustrados por um milhão de pequenos contratempos. De qualquer forma, acabamos com vontade de desistir. Em meio a tal desânimo, que pode vir de centenas de direções, algumas palavras de encorajamento podem ser vitais para intensificar nosso estado de espírito.

Há várias carências no mundo, e a maioria delas não está em nosso poder de retificação imediata. Não podemos fazer muito em relação à carência de alimento na Somália, falta de energia na Sibéria ou escassez de água no Sahara. Mas há uma carência que todos podemos retificar: a falta de apreciação.

A falta de apreciação pode doer tanto quanto a falta de alimento. A falta de apreciação pode matar as pessoas emocionalmente, fazendo com que elas sintam que elas não têm nada pelo que viver. E sem algo que valha a pena viver, elas podem perder a vontade de viver. De fato, as pessoas cometem suicídio não apenas porque as coisas vão mal em suas vidas, mas porque, antes de essas coisas darem errado, elas se sentem mal amadas, desprezadas, desapreciadas. E quando eventos negativos são empilhados no topo de seus sentimentos negativos, sua vontade de viver é esmagada em seus corações. É por isso que a apreciação pode literalmente salvar vidas. Palavras amáveis podem dar àqueles que pretendem se suicidar uma razão para viver.

Quando alguém morre, em seu velório, seus conhecidos falam com apreço sobre a pessoa falecida, e às vezes falam de forma tão comovente que trazem lágrimas aos olhos dos ouvintes. E, no entanto, esses conhecidos não falaram uma fração dessas palavras apreciativas quando a pessoa estava viva. Se eles tivessem apreciado antes, essa pessoa poderia ter se sentido muito mais amada, encorajada, estimada. Por que devemos apreciar a pessoa apenas quando ela morre? Por que não começamos a apreciar agora mesmo?

Familiares e amigos se despedem de Asa Branca em velório na Alesp | Jovem  Pan

Por que só elogiamos uma pessoa em seu velório?

Ainda que elogios possam fazer bem, nós somos mesquinhos em elogiar. Por quê?  Podemos temer que o excesso de apreciação gere complacência.  Se estamos sempre elogiando, as pessoas podem se acostumar com os elogios, se tornar excessivamente esperançosas e aceitar nossas palavras de forma barata. Essa é uma preocupação válida. Sociólogos referem-se à geração pós Segunda Guerra Mundial como a geração do elogio – essas foram crianças mimadas que eram sempre elogiadas, nunca repreendidas. Elas cresceram e se tornaram arrogantes e inseguras: orgulhosas demais para receberem críticas e dependentes emocionalmente de elogios.

Nós podemos e devemos dar aos outros feedbacks construtivos quando necessário e apropriado. Mas por que a correção se torna a única coisa que oferecemos? Por que não podemos oferecer tanto correções quanto elogios? Melhor ainda, por que não oferecemos generosos elogios e cautelosas correções?

Se interagimos com os outros apenas para corrigi-los, então nosso relacionamento com eles se torna desagradável, e as pessoas começam a nos evitar. E sempre que eles não podem nos evitar, eles temem as interações inevitáveis, e esse medo bloqueia sua capacidade de funcionar de forma eficaz. Podemos remover muito dessa negatividade inspirando nossas interações com o poder positivo da apreciação.

Bhagavad-gita (17.15) recomenda que falemos de uma forma que não agite, que seja verdadeira, agradável e benéfica. A recomendação que falemos de forma agradável e verdadeira implica que devemos apreciar, não bajular. Os bajuladores têm como objetivo manipular, induzir a outra pessoa a fazer o que eles querem. Em contraste, os apreciadores valorizam a pessoa pelo que ela é e a inspira a se tornar melhor.

Se compararmos o corpo humano com um veículo, o alimento é o combustível. Se estendermos a metáfora do veículo ao coração humano, o encorajamento é o combustível do coração. Considerando que o corpo morre sem alimento, o coração morre sem encorajamento, fazendo a vida parecer sem sentido, sem alegria, sem valor. Assim como o corpo bem alimentado pode funcionar energeticamente, o coração abastecido por encorajamento pode funcionar energeticamente, infundindo uma vida com propósito, entusiasmo e alegria.

Tradução de Mani Manjari Devi Dasi.

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