O excesso de ansiedade não é mais um transtorno associado a adultos. Muitas crianças vêm desenvolvendo quadros de ansiedade que podem ter sido agravados pela pandemia e que na grande maioria das vezes não são identificados pelos adultos.
Mesmo nos espaços escolares, as crianças apresentam sinais de ansiedade que são confundidos com insegurança, timidez, hiperatividade e falta de concentração. No ensino remoto, fica muito mais difícil avaliar e perceber quando algo está errado.
Uma investigação mais aprofundada é necessária, principalmente quando esses sintomas se tornam obstáculos para o desenvolvimento da aprendizagem. A realidade em que vivemos hoje, com muitas cobranças, horários, excesso de atividades e de estimulação cerebral, pode desencadear um transtorno de ansiedade que parece ser permanente.
A ansiedade desenvolvida na realização de uma prova é muito diferente do transtorno de ansiedade. Este último, permanece mesmo após a prova e independe do desempenho ou da nota. Em casos mais graves pode gerar depressão e síndrome do pânico.
Estima-se que o Brasil tenha entre 5% e 10% de crianças e adolescentes que apresentem algum transtorno de ansiedade. Considerando-se os números da população infantil brasileira, esse é um índice muito alto. Isso porque só recentemente o transtorno de ansiedade foi reconhecido como patologia no CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde).
Em grande parte dos diagnósticos fica difícil estabelecer a causa, principalmente quando ela é biológica (problemas gestacionais ou histórico na família). Causas psicológicas podem se originar em casa, devido às relações familiares abusivas; ou na escola, com a prática de bullyings, quando a criança não quer ir presencialmente para a escola ou se recusa a abrir a câmera no ensino remoto.
A ansiedade traz inúmeros prejuízos para a aprendizagem e tanto as famílias quanto a equipe escolar precisam estar atentos. Crianças com transtornos de ansiedade podem ter dificuldade para dormir, para se alimentar em razão de sentimentos que levam ao nervosismo constante, e consequentemente, para se concentrar nos estudos.
Se esses sintomas perdurarem por muito tempo e a criança não encontrar uma forma de se expressar emocionalmente, corre-se o risco de uma depressão profunda e até mesmo o suicídio.
Mas como podemos trabalhar em prol da validação das emoções destas crianças que sofrem, muitas vezes, em silêncio? Num primeiro momento é preciso sensibilizar para a empatia. Sem empatia não valorizamos o sentimento do outro, não nos colocamos em seu lugar. Por mais que nós, adultos, julguemos banais os sentimentos de uma criança, tais como vergonha, o medo e a culpa, por exemplo.
Entender que esses sentimentos são legítimos na criança e não uma simples “frescura infantil” ou “invenção de cabecinha fértil” é o caminho para se conectar à criança e criar vínculos.
Sem o compromisso de validar as emoções que a criança sente, ela se torna vulnerável às próprias armadilhas dos transtornos de ansiedade. Uma vez percebido esse problema na escola, é preciso acolher esta criança, desenvolver o sentimento de escuta aberta, orientar a família na busca de tratamento terapêutico contínuo com o mínimo de interrupções possível e propor técnicas de ludoterapia. Todo cuidado especial deve ser destinado às nossas crianças na preservação da saúde mental para promover uma infância saudável e feliz!
* Karyn Teixeira de Lemos é mestre em Educação Tecnologias Digitais e professora da Área de Educação da Uninter.
Créditos do Fotógrafo: Victoria Borodinova/Pixabay
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