Sobre a origem do latim como candidatus, a respeito de candĭdus, em referência a ‘branco’, ‘puro’, ‘bem-intencionado’, ‘sincero’, e o sufixo -ātus, em atribuição de cargo ou posição. Na antiga Roma, aqueles que aspiravam a funções públicas costumavam vestir togas brancas como símbolo de honestidade e transparência, enfrentando as figuras da corrupção e do abuso de poder.
Exemplos linguísticos:
1. O candidato presidencial apresentou seu programa de governo, prometendo mudanças drásticas no nível econômico para melhorar o bem-estar da população.
2. Os candidatos para o cargo passaram por um rigoroso processo de seleção antes das entrevistas finais.
3. O candidato a prefeito se destacou no debate por sua abordagem inovadora em políticas de habitação.
Palavras associadas
Cândido, adjetivo baseado no latim como candĭdus, descreve alguém ‘sincero’, ‘ingênuo’, ‘puro’. Em sua essência, não está relacionado a nenhum processo de candidatura.
Incandescente, no latim sobre as formas incandescens, incandescentis, com raiz em incandescĕre, formada pelo prefixo in-, em sentido interior, e candescĕre, de ‘brilhar’, cuja raiz candeo, de ‘brilhar’, ‘ser branco’, se vincula com candĭdus. Incandescente descreve algo que emite luz a partir do calor, como um metal exposto em fogo intenso.
Candelabro, apreciado no latim como candelābrum, sobre candēla, estreitamente relacionado com candĭdus. Trata-se de um suporte para velas, destacando a ideia de iluminar.
- Benjamin Veschi. Ano: 2024. Em: https://etimologia.com.br/candidato/
A Toga Imaculada do Candidato
Na Roma antiga(*) a “toga candida”, era assim chamada porque recebia aplicação de uma camada de giz e lustrada a ponto de lhe conferir uma brancura de aspecto reluzente: era vestida pelos “candidatos” a um cargo republicano, devendo ser significativamente branca, brilhante e imaculada, a fim de que estes se destacassem em seus discursos públicos. Tanto quanto significativa também era a existência de uma outra túnica e sua atual compreensão decorrente do propósito de seu antigo uso: A “tunica sordida” ou “Pulla”, era destinada aos réus (e aos pobres), cujo significado perdura ainda hoje, designando aqueles que são ‘sórdidos’ e verdadeiros ‘pulhas’ na sociedade.
A toga era uma peça de roupa do antigo vestuário greco-romano, de origem etrusca, que se tornou mais sofisticada pela civilização romana, quanto à difusão e significação que esta lhe conferiu. Possuía marcantes características que a distinguia em sua diversidade de cores e formatos, relacionadas aos seus significados quanto ao uso, importância e finalidade.
”Exemplo de túnica usada, muito interessante, era a brilhante, na qual eles passavam sobre o tecido um giz branco que a deixava com esse efeito. Era usada pelos candidatos a cargos públicos para chamar a atenção nos discursos.”
Os gregos e os romanos vestiam-se com uma túnica diretamente sobre a pele nua (normalmente de linho) e, por sobre essa túnica, os homens vestiam a toga e as mulheres a estola.
Inicialmente, a toga apresentava a forma retangular e curta. Mais tarde, passou a ser semicircular, tendo seu tamanho aumentado consideravelmente: a toga chegou a atingir, aproximadamente, 6 metros de comprimento e 2 metros de largura. Era difícil de vestir, razão pela qual os romanos mais ricos possuíam mesmo um encarregado (escravo) de ajudar nesta tarefa (o estiplicus). As mulheres romanas, a princípio, também utilizaram a toga sobreposta por uma estola, mas gradualmente adotaram apenas o uso da estola – transformada em uma espécie de vestido – o que parece ter originado o costume atual do traje feminino. Para as mulheres, a partir da época da República, a toga passou a ser usada apenas por aquelas que haviam sido acusadas ou condenadas por adultério.
Nesse particular, o uso da Estola [stola] (transliterada para “stolē” e literalizada como “vestido”) foi a vestimenta tradicional das mulheres romanas e era correspondente à toga, como já foi dito, utilizada pelos homens. Originariamente, as mulheres também vestiam togas sobrepostas por estolas, mas posteriormente, com a sofisticação dos costumes, a toga passou a ser usada exclusivamente por homens sendo às mulheres determinado vestir somente a estola. Naquele momento, era considerado vergonhoso para uma mulher vestir uma toga, porque vestir esta roupa masculina era associada à prostituição (mais tarde, também as mulheres adulteras seriam obrigadas, como parte da punição, a andar de Toga).
A toga era a marca distintiva do cidadão romano, sendo o seu uso proibido aos estrangeiros e escravos – era mesmo considerado crime a sua utilização por alguém que não fosse cidadão romano.
Tipos de toga
Existiam vários tipos de toga, associadas a diferentes funções e estatutos:
Toga Pretexta [toga praetexta] – era uma toga branca que apresentava uma banda larga de cor púrpura. Era usada pelas crianças, pelos rapazes que ainda não tinham tomado a toga viril e pelas jovens que ainda não tinham casado, bem como pelos principais magistrados e sacerdotes;
Toga Viril [toga virillis] – era um toga lisa, feita de lã branca, usadas pelos homens romanos assim que atingissem a idade adulta;
Toga Trábea [toga trabea] – era uma toga toda púrpura ou então ornamentada com riscas horizontais de cor púrpura. Era usada pelos áugures e sacerdotes durante os atos rituais. Os deuses eram também representados usando esta toga;
Toga Cândida [Toga candida] – toga de um branco imaculado, era envergada pelos candidatos a cargos públicos (os candidati, de onde deriva a palavra candidato). A brancura desta toga era muitas vezes realçada recorrendo-se ao “cré“ (gis ou greda);
Toga Picta [toga picta ou purpurea] – usada pelos triunfadores e mais tarde pelo imperador;
Toga Sórdida [toga sordida ou pulla] – era a toga dos pobres e do réu quando se apresentava no tribunal, servindo, neste caso, a toga para inspirar um sentimento de piedade.
Os materiais e os métodos utilizados na manufatura têxtil eram o que ditava a confecção das Indumentárias grega e romana. Pelo fato de exigir uma mão de obra intensiva no processo de manufatura, os tecidos eram muitos valorizados. Evitava-se, portanto, o desperdício de tecido na confecção: os tecidos eram apenas dobrados, enrolado e franzidos, presos por grampos ou, com menor frequência, costurado em volta do corpo.
As pregas e as dobras eram comuns tanto nas vestimentas gregas, quando nas romanas. Haviam muitos pontos em comum entre as duas culturas (exemplo notável dessas semelhanças, a memorar, foi o sincretismo da mitologia greco-romana).
Vimos que o traje romano tem duas combinações principais de peças indumentárias: túnica e toga para os homens; e túnica e estola para as mulheres. Ambos podiam sobrepor alguma outra peça sobre a túnica ou sobre a estola, a “palla”: era permitido para ambos os sexos (na Grécia era conhecida como Himation e em Roma como pallium ou palla) – percebam a geração embrionária daquilo que hoje se conhece como “paletó”, peça da Indumentária masculina ocidental que, como aquela, vai sobre a roupa que cobre o corpo.
Outra influência bastante reveladora, que o leitor já deve ter notado, é exatamente aquela origem e evolução de termos que hoje se transformaram em adjetivos, substantivos e verbos de nosso vernáculo latino. Especialmente a “toga candida”, particularmente ostentada pelos ‘candidatos’ a um cargo republicano. Tanto quanto reveladora também é a compreensão do decorrente significado da “tunica sordida” ou “Pulla”, cujo atual significado ainda é apropriadamente designado àqueles que são ‘sórdidos’ e verdadeiros ‘pulhas’ da sociedade.
“A indumentária era tão normalizada que infringir suas regras era crime.“
Estes antigos costumes indumentários são especialmente reveladores para a compreensão dos atuais usos e costumes de nossa sociedade. Roma e Grécia foram as maiores influências que inegavelmente alicerçaram os fundamentos da civilização ocidental moderna. A filosofia grega e o direito romano são influências indissociáveis de nossa conformação política e de costumes contemporâneos – a sofisticada civilização grega, com todos os seus ideais filosóficos; e a imponente civilização romana, com seu pragmatismo, objetividade e determinação, moldaram profundamente nossa compreensão do mundo e dos dilemas do homem e da sociedade.
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A Roma antiga foi uma civilização fundada na península itálica durante o século VIII a.C. Durante os seus doze séculos de existência, a civilização romana transitou da monarquia para a república, para a oligarquia até se tornar um grande império que dominou a Europa e todo o derredor do mar Mediterrâneo, através das inúmeras conquistas e da notável assimilação cultural. Entretanto vários fatores sócio-políticos vieram a causar o seu declínio.
No decorrer da história do Império romano, após toda a sua grandiosidade e extensão (que chegou a dominar a totalidade do mundo conhecido), esse poderoso império iniciou o seu declínio. Foi dividido em dois, mas mantiveram-se ainda muito influentes e vastos: a metade ocidental, que somente entrou em colapso no século V, deu origem mais tarde aos vários reinos independentes da Europa; e a metade oriental, governada a partir de Constantinopla (nome atribuído pelo imperador romano Constantino) se transformou mais tarde no Império Bizantino, cuja capital (Constantinopla) passou a denominar-se Bizâncio, atual Istambul.
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