“O Futuro Saqueado”
Olá, Mentes!
Alguns meses sem post, semestre corrido e aqui estou novamente!
Hoje trago para a leitura de vocês (um pouco longa, confesso, mas ótima!), um capítulo do livro Não Nascemos Prontos! Deste moço da imagem, Filósofo e Dr. em Educação Mário Sérgio Cortella, que admiro muito. Conheci suas palestras e logo que pude, adquiri o livro que traz como sub títuloProvocações Filosóficas. Bem, no mínimo nos faz pensar um pouco, ou melhor, repensar algumas lógicas que já estão impregnadas na nossa sociedade como paradigmas, ou até mesmo que ainda não tínhamos parado um minuto para pensar… A propósito, recomendo sua leitura!
O capítulo que trago, nos remete para um futuro que não estamos dando chance de acontecer, principalmente para nossos jovens que, em contrapartida estão encontrando a sua maneira para viver a vida, interpretando de forma errônea o tão conhecido “Carpe Diem”… Culpa nossa? Talvez!
Sem mais, desfrutem!!
O Futuro Saqueado:
“Estamos vivendo um saque antecipado do futuro! Parece alarmista ou, até, piegas, mas continuamos esboroando e furtando as condições de existência para as próximas gerações depois da nossa. Essa é uma situação inédita, pois, durante toda a trajetória evolutiva e histórica da espécie, a grande preocupação de qualquer comunidade humana vinha sendo garantir a continuidade e a melhoria das estruturas de manutenção da vida para os descendentes.
A questão central nesse saque não é exclusivamente a materialidade da situação, isto é, a degradação do meio ambiente e dos recursos naturais, dado que, ainda que de forma incipiente, disso estamos cuidando.
O fulcro da problemática é, isso sim, os adultos admitirmos e promovermos o apodrecimento das esperanças nas novas gerações. A elas vimos negando o futuro e, com facilidade, ouvem de nós aterradores prognósticos. (Não haverá futuro! Não haverá emprego! Não haverá natureza!). Também desqualificamos o presente e o passado delas. (Isso não é vida; vocês não sabem brincar! Vocês não tiveram infância! Isso que vocês comem é porcaria! Isso não é música, é barulho!)
A tudo isso se dá um ar de fatalidade que indica a crença na impossibilidade de alterar essa rota coletiva; por isso, as novas gerações começaram a acreditar no mais ameaçador perigo para a convivência gregária e a solidadriedade: O individualismo exacerbado. A regra passa a ser a exaltação descontextualizada do carpe diem escrito por Horácio nas suas Odes; deixa de ser um “aproveita o dia”, entendido pelo poeta latino como sinal de equilíbrio e virtude moderadora, e passa a ser um “curta tudo o que puder, no menor tempo possível, pois só há um horizonte: a vida é breve e sem sentido e nada nos resta a não ser o momento”…
Não é casual que haja um aumento desproporcional de jovens (cada vez com menos idade) que desvaloriza a vida, começando pelo desprezo pela própria integridade física e mental; são vítimas fáceis das drogas fatais e do álcool sem medida, proporcionadores de felicidade (ou fuga) momentânea. Claro, desse modo, sem futuro, o presente fica insuportável; o grande Dostoievski escreveu em O idiota que “não foi quando descobriu a América, mas quando estava prestes de descobri-la, que Colombo se sentiu feliz”.
Vive-se, além de tudo, uma sociedade consumista, na qual a mínima possibilidade de sentido fugaz encontra-se na posse, mesmo que circunstancial, de objetos que são anunciados como sendo os portadores do segredo da felicidade. Crianças bem pequenas perderam a capacidade de brincar sozinhas, com um maravilhoso universo imaginativo e abstrato, no qual, nada material precisava adentrar; agora elas têm “necessidades” inseridas nelas pela nossa inteligência adulta e veiculadas por uma mídia que nem sempre se preocupa com o papel formador que desempenha.
Há uma estonteante presentificação do futuro que pode sequestrar a compreensão da vida como história e processo coletivo, fazendo, por exemplo, que com o terceiro milênio ocidental recém-iniciado, ele será todo vivido e passado já; fala-se no terceiro milênio como se ele fosse esgotar-se nas próximas décadas.
Não dá para supor um eterno presente; mesmo o fictício Dorian Gray, com o quase perene retrato, pagou caro pela sua ganância vital; nessa obra, Oscar Wilde fez aviso premonitório para quando algumas máscaras caírem: ” As crianças começam por amar os seus pais; quando crescem, julgam-nos; algumas vezes, perdoam-lhes”.”
FONTES:
CORTELLA; M. S, Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas. Petrópolis, RJ. Vozes, 2012
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