Ingressar num programa de pós-graduação stricto sensu não é tarefa nada fácil. Basta verificar a lista de pré-requisitos descritos nos editais, bem como as inúmeras etapas de seleção dos candidatos. São provas escritas, exames orais, análises de currículos, prévias de projetos de pesquisa, entrevistas pessoais e cartas de recomendações. Um processo longo, cansativo e concorrido. Mas que, segundo especialista, não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.
Normalmente, as vagas para os cursos de mestrado e doutorado no país são abertas entre o fim e o início de cada ano. As regras do processo de seleção dos candidatos variam muito de instituição para instituição, mas é comum ser exigido além do diploma de graduação - para o mestrado - e do título de mestre - para o doutorado - conhecimentos na área do programa e experiência em projetos de pesquisas. "Profissionais com essas características ganham destaques entre os demais concorrentes", enfatiza a coordenadora da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Vera Lúcia Strube de Lima. E é aí que a sua participação na iniciação científica da graduação pode fazer a diferença.
Para avaliar os conhecimentos dos candidatos grande parte das universidades aplica provas escritas, compostas por questões fundamentais referentes aos assuntos técnicos do programa. Em algumas áreas, inclusive, são realizados exames nacionais. ? o caso da área de Administração, com o teste da ANPAD (Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração). "Sem essas informações os participantes terão dificuldades no decorrer do programa, até porque serão discutidos problemas mais profundos e não haverá revisões das matérias básicas", afirma a assessora da pró-reitoria de pós-graduação da USP (Universidade de São Paulo), Aline Maria da Silva. O conteúdo programático das provas é descrito no edital de cada programa.
A análise de currículos também é praticada com bastante freqüência. Por isso, o candidato deve tomar muito cuidado com a elaboração. Esqueça o modelo que você sempre utilizou na busca de empregos. A coordenadora de apoio à pós-graduação do Decanato de Pesquisa e Pós-graduação da Unb (Universidade de Brasília), Dione Moura, recomenda que se use o modelo da Plataforma Lattes, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Nesse documento deve conter os dados gerais da formação e as experiências profissionais, assim como a publicação de artigos e as participações em eventos, congressos e projetos de pesquisa. "Se prioriza na seleção as pessoas que atuam profissionalmente na área do curso e que têm ou já tiveram algum envolvimento na área científica", alerta Dione.
Em alguns casos, o candidato deve anexar ao currículo, uma carta de intenções. "Em um formato de memorial, será possível apresentar os seus interesses e expectativa em relação ao curso e ao título. Poderão ser apresentados também os conhecimentos, experiências e vivências", descreve Vera Lúcia. "Nada de aproveitar essa carta para adular a instituição ou o coordenador. Isso pode se tornar um ponto negativo, ao invés de positivo", acrescenta.
Além de todos esses processos, é desejável ter o domínio de pelo menos uma língua estrangeira, no mestrado, e duas, no doutorado. Algumas instituições, inclusive, exigem a realização de exames de proficiência, como o Toefl, que analisa a capacidade de conhecimento da língua inglesa. "Isto porque, nestes cursos é muito comum a utilização de referências bibliográficas em outros idiomas", diz Aline Maria.
Apresentação de um pré-projeto
Muitas universidades exigem também a apresentação de pré-projeto de dissertação ou tese. E é aí que, de acordo com os especialistas, os candidatos encontram as maiores dificuldades. Ainda mais aqueles que não têm sequer uma idéia do que pesquisar.
A proposta deve se enquadrar nas linhas e áreas já trabalhadas pela universidade. Por tanto, ou você adapta o tema do seu trabalho científico à instituição ou procura uma instituição que tenha linha de pesquisa que englobe o assunto que se pretende estudar. "Esse tema também precisa ser aceito por um orientador. Por isso, para não perder tempo, é recomendável pedir sugestões a ele antes mesmo de candidatar-se a pós", orienta Aline Maria. (Clique aqui e saiba como definir um tema)
Não basta apenas escolher o tema, é preciso montar um pré-projeto, ou seja, um documento escrito que apresente a idéia do trabalho científico. Formatá-lo parece difícil, especialmente para aqueles que não tiveram oportunidade de vivenciar a iniciação científica na graduação. Mas não tem nenhum segredo. Algumas instituições explicitam, no edital do programa, item por item do que deve contar nesse documento.
Informações como tema, justificativa, metodologia, procedimentos, cronograma de atividades, resultados esperados, referenciais teóricos e bibliografia não podem faltar nesse documento. "Através desses tópicos serão analisados a viabilidade do projeto", alerta Dione. "Será dada prioridade às pesquisas inéditas", acrescenta. (Clique aqui e saiba como construir um projeto de pesquisa)
Prepare-se para a entrevista
Passar pelo nervosismo das entrevistas pessoais também faz parte do caminho dos profissionais que buscam vaga na pós-graduação. O contato direto com o coordenador do curso apesar de aumentar a tensão, possibilita que o candidato explore melhor seu currículo e deixe claro seu interesse pela vaga. Por isso, ir preparado para alcançar as expectativas do entrevistador pode ser um passo decisivo. "A avaliação dessa conversa está voltada à motivação do candidato", aponta Aline Maria.
Quando o programa é de dedicação exclusiva, é avaliada também a disponibilidade de horário do candidato e as condições financeiras dele se manter no curso, sem precisar, a princípio, de uma bolsa. "São poucas as vagas oferecidas aos cursos de mestrado e doutorado, por isso é preciso ter a garantia de que aquele que a conquistar chegue até o fim do curso", diz a coordenadora da UnB Dione Moura.
No caso de programas que pedem um pré-projeto, os especialistas dizem que é estritamente necessário que o aluno consiga defender com todas as forças a sua viabilidade de realização. "? extremamente importante demonstrar segurança e conhecimento sobre o projeto de pesquisa que será desenvolvido caso seja selecionado", afirma Vera Lúcia.
Processos facilitadores
Procurar conhecer melhor o mundo da pós-graduação, antes mesmo de encarar todos essas etapas de seleção, pode ser uma excelente estratégia de ingresso. Algumas instituições abrem vagas para alunos especiais, também chamados de ouvintes, que freqüentam as aulas com o objetivo de ter um primeiro contato com este ambiente.
Há uma pré-seleção destes estudantes, com critérios mais abertos, que variam conforme o programa. Em geral, é avaliada a atuação profissional e a experiência em pesquisa e docência do candidato. "Viver esse clima da pós pode dar ao candidato mais segurança na escolha do programa, do tema da pesquisa e do orientador", orienta Aline Maria.
Outra questão essencial é avaliar o curso que pretende fazer. "Isto é possível ao conhecer os temas a serem estudados, as publicações do departamento, quais são os pesquisadores, e procurar ler os autores trabalhados em cada área de pesquisa. Não dá para fazer a inscrição num mestrado ou doutorado por impulso, é preciso preparo", defende Dione.
O Universia Brasil traz no perfil Pós-Universitário informações sobre programas de mestrado e doutorado ofertados por diversas instituições de Ensino Superior brasileiras. Confira!
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