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sábado, 12 de novembro de 2011

Para Jeremy Kilpatrick, a única saída é a capacitação

Professor norte-americano acredita que é necessário encontrar novas maneiras de preparar os docentes para que ajudem os alunos a raciocinar


Foto: Marcos Rosa
JEREMY KILPATRICK "Para melhorar o ensino de Matemática, não é necessário investir mais recursos, mas aprimorar os programas de formação."

Modernização dos métodos de ensino, desempenho ruim em avaliações de Matemática e uso da calculadora na sala de aula. Essas questões preocupam não só professores brasileiros mas também os de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Jeremy Kilpatrick é um deles. Docente do Instituto de Educação em Matemática da Universidade da Geórgia, ele faz parte da Academia Nacional de Educação dos EUA e do grupo responsável pelo Education Policy White Papers, um relatório de recomendações em políticas educacionais. O estudo, que tem como destinatário o governo norte-americano, traz artigos elaborados por educadores com base nas pesquisas mais recentes com a missão de ajudar a entender quais os problemas atuais do sistema de ensino daquele país, apresentando sugestões para resolvê-los.
Kilpatrick afirma que quem leciona Matemática muitas vezes não conhece a matéria a fundo e, consequentemente, não consegue ensiná-la. "Para melhorar o quadro, não é necessário investir mais recursos, mas aprimorar os programas de formação", diz. Pesquisas no ensino da disciplina mostram que quem é bem qualificado sabe, por exemplo, como usar o computador como aliado na sala de aula, auxiliando os alunos a desenvolver o raciocínio. Em dezembro de 2008, a convite da Escola de Altos Estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e da Uniban Brasil, Kilpatrick esteve em São Paulo para ministrar o curso Tendências em Educação Matemática e concedeu a seguinte entrevista a NOVA ESCOLA.

A Matemática ensinada nas escolas ao redor do mundo é ultrapassada?
JEREMY KILPATRICK 
Em geral, a disciplina continua sendo trabalhada do mesmo modo que na época de nossos avós. O que ensinar, certamente, mudou, mas alterações no como fazer são mais difíceis de acontecer. Quem não domina o conteúdo acha mais fácil ensinar do jeito antigo porque sempre existe uma resposta no fim do livro, que pode ser usada mesmo sem a compreensão de como chegar a ela. Para que a turma avance, os professores precisam aplicar novos conceitos, o que é difícil se eles não conhecem os conteúdos. Isso é imprescindível para estimular as crianças a investigar e ter ideias, compreender o que estão querendo dizer e seguir a linha de raciocínio delas. Em sua maioria, os educadores não têm chance de se aprofundar na área. Por isso, eu acredito que o ensino acaba sendo muito tradicional não apenas nos Estados Unidos, mas também no Brasil e em muitos outros países.

Qual sua opinião sobre a interação entre os estudantes - com a formação de duplas ou grupos maiores? KILPATRICK A estratégia é boa. Em situações como essa, em vez de só ouvir o mestre falar o tempo todo, as crianças têm a oportunidade de ouvir a opinião dos colegas e responder a perguntas deles. Em grupos de dois, três, quatro e até cinco, elas não só encontram a resposta para um problema apresentado mas também aprendem a discutir o raciocínio. Se um integrante da equipe mostrou como chegou à solução e alguém não entendeu, cabe a ele descobrir uma maneira de explicá-lo (leia a reportagem sobre o tema). É necessário, no entanto, encontrar maneiras de avaliar pessoas em grupos. Se a estratégia está sendo usada em sala, ela deve ser repetida na hora da avaliação. Além do mais, esse é o modo como as pessoas trabalham atualmente no mundo real.

Como ajudar os jovens a se preparar para a sociedade de hoje, em que a tecnologia tem um papel central? KILPATRICK Se crianças e adolescentes usam o computador em casa, na escola eles deveriam utilizá-lo de forma mais inteligente não só para jogar games, mas para aprender Matemática e outras disciplinas. É possível, por exemplo, trabalhar a álgebra com o uso de planilhas, que ajudam a entender conceitos, encontrar padrões e perceber o que acontece quando algumas operações são realizadas. Além disso, ensinar a lidar com dados é primordial. Estatísticas e operações com números grandes são recorrentes no mundo do trabalho. Se ninguém faz isso a mão, por que insistir em que a criança o faça? Essas tarefas podem ser realizadas no computador, mas para entender o que os resultados significam é essencial conhecer Matemática - álgebra, estatística, probabilidade e geometria.

Os professores americanos já levam a tecnologia para a escola? KILPATRICK Sim. Eles acham muito positivo utilizar o computador em classe porque alguns programas possibilitam apresentar bons exercícios à turma. Eles também estão usando a calculadora, apesar de se preocuparem com a imagem negativa que ela tem. Em geral, acredita-se que, se recorre a esse equipamento, o aluno não está raciocinando.

E qual sua opinião sobre isso? 
KILPATRICK É importante que a calculadora faça parte do material escolar. Se um educador é bem formado em Matemática, deixa que a garotada recorra a ela. Nesse caso, o equipamento precisa ser aceito também nas provas. Ouvi que no Brasil isso não é permitido, o que não faz sentido. Quando esse recurso é empregado de maneira inteligente, o aluno se torna capaz de questionar, estimar e ser cético. Ele pensa: "Posso ter apertado o botão errado. Essa resposta é razoável?" Isso exige uma boa noção dos números e de como o cálculo é feito. A calculadora não é eficaz se a garotada não tiver desenvolvido essa capacidade.

O raciocínio das crianças mudou em decorrência do contato cada vez mais precoce com o computador?
KILPATRICK 
O equipamento pode ter mudado a forma como elas pensam, mas ainda não entendemos de que maneira. Se isso de fato ocorreu, duvido que tenha sido prejudicial. Não acho que os computadores mudem o jeito de aprender Matemática ou lidar com ela. Há uma preocupação demasiada com o costume das crianças de usá-lo para coisas simples, que seriam facilmente feitas sem ele. É essencial aprender, por exemplo, a multiplicação de números pequenos - para a qual o computador não é essencial. Cabe ao professor encontrar formas de fazer com que os estudantes se lembrem do que deve ser memorizado, mas também ensinar a eles modos de usar o micro com inteligência, o que não afeta o raciocínio. Ao contrário, até ajuda.

Como um dos elaboradores do Education Policy White Papers - com recomendações ao governo sobre formas de melhorar a Educação nos Estados Unidos -, qual sua opinião sobre a disposição de Barack Obama para discuti-lo e fazer mudanças? 
KILPATRICK O presidente Obama afirma querer aprimorar o desempenho dos estudantes em Matemática e Ciências, mas não se sabe se a Educação estará na lista de prioridades dele porque os desdobramentos da crise econômica mundial ainda estão indefinidos. Há uma diferença entre o que o governo quer fazer em relação ao aumento da verba destinada à Educação e o que de fato vai fazer. Além disso, não há a certeza de que o Congresso ouvirá nossas recomendações, apesar de a Academia Nacional de Educação estar interessada em influenciar os deputados e senadores.

É possível para um país como o Brasil aumentar o nível de exigência com relação ao desempenho dos jovens em Matemática? KILPATRICK O ideal é estabelecer metas tão elevadas quanto possível e, então, fazer os encaminhamentos no sentido de atingi-las. A formação e as condições de trabalho podem ser melhoradas, e não é apenas mais dinheiro que vai tornar isso possível. A sociedade deve se convencer de que necessita de professores bem preparados para que a Educação melhore. Só assim vai consegui-los. É importante ainda descobrir quais programas de qualificação funcionam melhor e achar uma maneira de fazer com que preparem mais gente. Outro caminho é encontrar onde estão os profissionais bem qualificados e a razão pela qual eles são melhores que os demais.

Quais as características de um programa de formação eficiente? KILPATRICK Fiquei impressionado com algo que é feito na Alemanha. Os recém-formados têm muita ajuda nos dois primeiros anos de trabalho, que funcionam como uma extensão da formação. Durante esse período, os formadores checam como eles estão se saindo e dão auxílio. Alguns programas nos EUA estão começando a fazer isso.

Qual o país com o melhor ensino de Matemática atualmente? KILPATRICK Costuma-se dizer que é Cingapura. Eu estive lá e acho que o sistema é muito bom. Como o país é pequeno, todo o Magistério é preparado em uma mesma universidade e o Ministério da Educação consegue monitorar o desempenho de cada docente. Se um deles não está indo bem, o governo procura formas de ajudá-lo. O sistema dá apoio a todos, que são bem preparados e, acredito, bem pagos. O Japão também tem um bom sistema, em que a equipe de educadores se reúne e discute o que e como está ensinando. A Suíça e os países nórdicos também estão se saindo muito bem.

Como as pesquisas sobre didáticas específicas podem ser aplicadas? KILPATRICK Os programas de formação são muito curtos e não há tempo de cobrir tudo. Mas uma coisa a fazer é transformar essa qualificação em uma pós-graduação, que teria duração maior. No fim dessa preparação, os aprovados sairiam com um diploma e teriam aprendido como ensinar conteúdos específicos. Outro caminho - adotado em países como a Nova Zelândia - é colocar na internet para a consulta dos que têm dúvidas sugestões de como ensinar certos tópicos preparadas pelo Ministério da Educação ou algum grupo de pesquisa.

Um modelo que tem como foco levar os alunos a tirar boas notas em avaliações fora da escola é válido? KILPATRICK Não há como fugir disso. A solução é produzir avaliações muito boas e procurar um modo de permitir que os professores possam participar do processo. Na Alemanha, conheci uma iniciativa do governo que consistia em deixar que eles fizessem algumas das avaliações para as próprias turmas, que eram usadas como parte da nota do exame nacional. É claro que num caso como esse a checagem se torna essencial, mas o ponto é deixar que os docentes elaborem provas com base no que ensinam em sala de aula e fazer com que elas tenham algum peso. É difícil, mas possível.

O Brasil tem um histórico de desempenho ruim em avaliações de Matemática. Qual a razão para isso? KILPATRICK O Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que é o indicador mais usado, não é muito relacionado com o currículo, mas com o uso da Matemática no mundo. Ele é aplicado a jovens de 15 anos, não importando em que série estão. O objetivo é avaliar como eles conseguem se valer da Matemática para resolver problemas. Os brasileiros e norte-americanos, dizem os resultados, não sabem como utilizar o que aprenderam na escola. O Pisa requer raciocínio para a resolução de problemas complicados, o que eles não estão fazendo. O resultado negativo revela algo sobre o trabalho desenvolvido nas escolas.

Como mudar esse quadro? KILPATRICK É interessante que os pesquisadores analisem as respostas dadas às questões. Elas podem revelar algumas possibilidades: que os estudantes não estão entrando em contato com bons problemas, que o exame está muito distante do que estão aprendendo na escola e, por isso, eles desistem de tentar responder às questões ou de que os jovens simplesmente não estão levando o exame a sério. Não existe um incentivo para que eles se esforcem no Pisa, já que não recebem uma resposta sobre o desempenho que tiveram. Os professores, por sua vez, também não ficam sabendo como os alunos deles se saíram na prova. Se nada for feito com esses resultados, a avaliação não faz muito sentido.
Quer saber mais?
INTERNET
Site da Academia Nacional de Educação dos EUA, artigos que fazem parte do Education Policy White Papers (em inglês)
Download gratuito do livro Adding It Up: Helping Children Learning Mathematics, Jeremy Kilpatrick, Jane Swafford e Bradford Findell, 480 págs., The National Academies Press (em inglês) 

fonte.http://revistaescola.abril.com.br/matematica/fundamentos/unica-saida-capacitacao-427743.shtml

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