No nosso dia a dia, vivemos inúmeras situações que envolvem o ato de planejar.Planeja-se a rotina, as atividades de lazer, os compromissos profissionais, sociais e várias outras ações que se pretende concretizar.
Assim sendo, todas as ações humanas requerem planejamento para que sejam bem executadas e possam alcançar êxito.
Na escola, espaço de ensino, o planejamento é o sinalizador das ações necessárias para a condução do processo de ensino e para que sejam atingidos os resultados desejados. A questão crucial é que, na prática de muitas instituições, o planejamento educacional tem se reduzido ao cumprimento de uma exigência. Sua importância não é reconhecida:
Há quem pense que tudo está planejado nos livros-texto ou nos materiais adotados como apoio ao professor. Há, ainda, quem pense que sua experiência como professor seja suficiente para ministrar aulas com eficiência. (MORETTO, 2007, p. 100).
Primeiro que o planejamento educacional, diferentemente do planejamento que acontece no nosso dia a dia e nas diferentes áreas humanas, não atende as aspirações que se têm em termos de processo e resultados da educação. Nesse caso, torna-se uma atividade burocrática a ser cumprida.
Para Libâneo (2005), o planejamento é o ponto de partida. Nele são expressas as ações a serem realizadas em função da tomada de decisão a respeito dos objetivos que se pretende alcançar. Resulta em um plano ou projeto para a instituição
Estudos realizados mostram que a existência de um plano de trabalho bem definido é uma das características evidenciadas nas escolas com resultados positivos. Segundo os estudos, os planos devem assegurar:
Consenso mínimo entre a direção da escola e o corpo docente acerca dos objetivos a alcançar, dos métodos de ensino, da sistemática de avaliação, das formas de agrupamento de alunos, das normas compartilhadas sobre a falta de professores, do cumprimento do horário, das atitudes com relação a alunos e funcionários. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2005, p 302).
O planejamento exige delimitação das ações tanto da gestão da escola como das ações diretamente relacionadas às atividades específicas da sala de aula. Por muito tempo a função do professor parecia limitar-se ao espaço da sala de aula. Essa visão, embora ainda presente em alguns estabelecimentos de ensino, vem sendo superada.
A tendência atual é que o professor participe ativamente de toda a organização, ou seja, de todo o processo de planejamento, execução e avaliação do trabalho da escola. Para tanto: precisa compreender o funcionamento do sistema de ensino nos seus diferentes níveis, estar atento às políticas para educação, deve conhecer e estudar com detalhes as diretrizes e legislação sobre o ensino, precisa estudar sobre a sua prática, sobre os conteúdos de ensino e buscar evidências científicas sobre o trabalho educativo.
Estar atento ao funcionamento do sistema de ensino, às políticas, diretrizes e legislação, é necessário e fundamental, pois:
[...] não convém às escolas ignorar o papel do Estado, das Secretarias de Educação e das normas do sistema nem simplesmente subjulgar-se a suas determinações. Também é salutar precaver-se contra algumas atitudes demasiado sonhadoras de professores que acham possível uma autonomia total das escolas, como se elas pudessem prescindir inteiramente de instrumentos normativos e operativos de instâncias superiores. (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2005, p 299).
Portanto, o planejamento educacional não pode ignorar as decisões nos diferentes níveis do sistema de ensino.
Formas de Planejamento
O planejamento voltado para a área da educação apresenta variações, sendo que o mesmo pode ser educacional, curricular ou de ensino.
No planejamento Educacional, a visão que se tem é mais ampla.
Segundo Coracy (1972), o planejamento é um processo contínuo que se preocupa com o para onde ir e quais as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto às necessidades do desenvolvimento da sociedade, quanto as do indivíduo.
Já o planejamento curricular visa, sobretudo, a ser funcional, promovendo não só aprendizagem do conteúdo, mas também promovendo condições favoráveis a aplicação e integração desses conhecimentos. Pode-se definir o planejamento curricular nas palavras de Sarulbi (1971), como uma tarefa multidisciplinar que tem por objetivo a organização de um sistema de relações lógicas e psicológicas dentro de um ou vários campos do conhecimento, de tal modo que favoreça ao máximo o processo ensino-aprendizagem.
O planejamento de ensino está pautado a nível mais específico dentro do contexto da escola podendo ser compreendido como “previsão das situações do professor com a classe.” (Mattos, p.14). Este tipo de planejamento varia muito de uma instituição para outra.
De acordo com Ostetto (2000), as formas de planejamento mais encontradas na Educação Infantil são: planejamento baseado em “listagem de atividades”, por “datas comemorativas”, baseado em “áreas de desenvolvimento”, baseado em “áreas de conhecimento”, por “temas” ou por “projetos de trabalho”. Embora a autora se refira à Educação Infantil, estas mesmas formas também são encontradas nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Veja uma breve revisão de cada uma, segundo os estudos de Ostetto (2000):
1. Planejamento baseado em listagem de atividades: É considerado um dos mais rudimentares. Está baseado na preocupação do educador em organizar vários tipos de atividades para realizar durante cada dia da semana e para preencher o tempo de trabalho com o grupo de crianças, entre um e outro momento da rotina (higiene, alimentação, sono e outros). Resume-se a uma listagem de atividades a serem desenvolvidas. Por exemplo: Segunda-feira: Modelagem com massinha, quebra-cabeças, audição de histórias, preenchimento de exercícios em folha mimeografada.
2. O planejamento baseado em datas comemorativas: Nesse, o planejamento da prática cotidiana é direcionado pelo calendário. A programação é organizada, considerando algumas datas escolhidas pela Instituição ou pelo professor. São datas tidas como importantes do ponto de vista do adulto, que as considera relevantes para a criança. Portanto, ao longo do ano são realizadas atividades referentes ao Carnaval, ao Dia de Tiradentes, ao Descobrimento do Brasil, ao Dia do Índio, à Páscoa, ao Dia do Trabalho, ao Dia das Mães...
3. Planejamento baseado em aspectos do desenvolvimento: Esse planejamento tem como parâmetro a psicologia do desenvolvimento, ou seja, está direcionado para as especificidades da criança de zero a seis anos, e a intenção maior é que sejam determinados objetivos a partir dos quais serão organizadas atividades que estimulem as crianças naquelas áreas consideradas importantes: áreas físico-motoras, afetivas, sociais e cognitivas. Por exemplo: estimular a criatividade; estimular a motivação; e estimular a curiosidade.
4. Planejamento baseado em conteúdos organizados por áreas de conhecimento: Nesse, os conteúdos decorrentes da Língua Portuguesa, da Matemática, das Ciências Sociais e Naturais dão o norte para um trabalho intencional com a criança de quatro a seis anos, de modo a favorecer a ampliação de seus conhecimentos.
5. Planejamento baseado em temas (tema integrador, tema gerador, centros de interesse, unidades de experiência): Nesse tipo de planejamento, o “tema” é o desencadeador ou gerador de atividades propostas às crianças. O assunto busca articular as diversas atividades desenvolvidas no cotidiano educativo. Funciona como uma espécie de eixo condutor do trabalho. Nesse caso, visualiza-se a preocupação com o interesse da criança, colocando-se em foco suas necessidades e perguntas. Os temas podem ser escolhidos pelo professor, sugeridos pelas crianças ou surgidos de situações particulares e significativas. Assim, além da preocupação em trabalhar aspectos que façam parte da realidade da criança, são delimitados conteúdos considerados significativos para a aprendizagem dos alunos.
6. Planejamento por projetos de trabalho: O projeto parte de uma proposta que os professores definem após um contato inicial com as crianças e o seu meio ambiente (social, cultural, histórico, geográfico), procurando atender às necessidades constatadas. É um planejamento mais flexível. Sua duração de tempo não é predeterminada com rigidez, não sendo um tema que deve “durar uma semana”, ou uma data a ser festejada apenas na sua época. Seu andamento e as atividades propostas às crianças dependem da observação e reavaliação constantes do trabalho pedagógico. As crianças têm oportunidade de sugerir rumos diferentes para o seu planejamento, nas “rodas de conversa”. O professor conduz o processo pedagógico, mas sempre avaliando, ouvindo e observando as crianças.
Á exceção do planejamento por projetos de trabalho, nas demais formas há uma ênfase na atividade pedagógica, entendida como aquela atividade a ser desenvolvida pelo professor em que, normalmente, as crianças se sentam ou ficam em volta da professora para “aprender” algo novo e para realizar uma ação concreta de aprendizagem, por exemplo: desenhar ou escrever.
Segundo Hernández e Ventura (1998), o projeto está vinculado à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional e sua função é:
Criar estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno do problema ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos [...] (IDEM, p. 61).
Mas, segundo Machado (1996, apud OSTETTO, 2000), é preciso se ter claro que não é a atividade em si que ensina, e sim a troca de experiência, a possibilidade de interagir e de produzir novos conhecimentos.
REFERÊNCIAS
COARACY, Joana. O planejamento como processo. Revista Educação. 4o Ed., Brasília. 1972.
HAYDT, Regina Célia. Curso de didática geral. 8 ed. São Paulo: Ática, 2006.
HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, José Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento das competências. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007.
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In OSTETTO, L. E. (org.) Encontros e Encantamentos na Educação Infantil: partilhando experiências de estágios. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000.
Por: Iara Maria Stein Benítez