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terça-feira, 31 de maio de 2011

Teoria do Conhecimento



O que é Teoria do Conhecimento?

Roderick Chisholm

A reflexão sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de desconcertantes problemas filosóficos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou Epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como deveriam ser resolvidos ou, no caso de tal não ser possível, abandonados. Descrevendo os temas dos sete capítulos que se seguem , poderemos dar a entender, de modo geral, a natureza desses problemas.
1 ) Qual é a distinção entre conhecimento e opinião verdadeira? Se um homem teve um palpite acertado ("Eu diria que é o sete de ouros"), mas não sabe realmente; e outro homem sabe, mas não diz, e não precisa adivinhar; o que é que o segundo homem tem (se assim podemos dizer) que falta ao primeiro? Pode-se dizer, é claro, que o segundo homem tem a prova evidente e que o primeiro não a tem, ou que algo é evidente para um que não é para o outro. Mas o que é prova evidente e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se temos ou não prova?
Essas perguntas têm suas análogas tanto na Filosofia Moral como na Lógica. O que significa um ato estar certo e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se um certo ato está certo ou não? O que significa uma inferência ser válida e como decidiremos, num determinado caso, se uma dada inferência é ou não válida?
2 ) A nossa prova para algumas coisas, ao que parece, consiste no fato de termos provas para outras coisas. "A minha prova de que ele cumprirá sua promessa é o fato dele ter dito que cumpriria a sua promessa. E a minha prova de que ele disse que cumpriria a sua promessa é o fato de que. . ." Devemos dizer de tudo aquilo para o que temos prova que a nossa prova consiste no fato de termos prova para alguma outra coisa? Se tentarmos formular, socraticamente, a nossa justificação para qualquer pretensão particular de conhecimento ("A minha justificação para pensar que sei que A é o fato de que B" ) e se formos inexoráveis em nossa investigação ("e a minha justificação para pensar que sei que B é o fato de que C"), chegaremos, mais cedo ou mais tarde, a uma espécie de fim de linha ("mas a minha justificação para pensar que sei que N é simplesmente o f ato de que N" ) . Um exemplo de N poderá ser o fato de que me parece recordar que já estive aqui antes ou o fato de que alguma coisa, agora, me parece azul.
Esse tipo de interrupção pode ser descrito de duas maneiras bastante diferentes. Poderíamos dizer: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui estado antes) que são evidentes para mim e que o são de tal forma que a minha prova de evidência para essas coisas não consiste no fato de haver certas outras coisas que são evidentes para mim". Ou poderíamos dizer, alternativamente: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me parece recordar ter aqui estado antes) das quais não se pode dizer que sejam evidentes, em si mesmas, mas que se parecem com o que se pode considerar evidente, na medida em que funcionam como prova evidente para certas outras coisas." Essas duas formulações apenas pareceriam diferentes verbalmente. Se adotarmos a primeira, poderemos afirmar que algumas coisas são diretamente evidentes.
3 ) As coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos não são coisas, portanto, "diretamente evidentes". Mas, ao justificarmos a pretensão de conhecimento de qualquer uma dessas coisas particulares, podemos ser levados de novo, da maneira descrita, às várias coisas que são diretamente evidentes. Deveríamos dizer, portanto, que o conjunto daquilo que conhecemos, em qualquer momento dado, é uma espécie de "estrutura", que tem seu "fundamento" no que acontece ser diretamente evidente, nesse momento? Se dissermos isso, deveremos estar então preparados para explicar de que maneira esse fundamento serve de apoio ao resto da estrutura. Mas essa questão é difícil de responder, visto que o apoio dado pelo fundamento não seria dedutivo nem indutivo. Por outras palavras, não é o gênero de apoio que as premissas de um argumento dedutivo dão à sua conclusão, nem é o gênero de apoio que as premissas de um argumento indutivo dão à sua conclusão. Pois
, se tomarmos como nossas premissas o conjunto do que é diretamente evidente em determinado momento, não podemos formular um bom argumento dedutivo, nem um bom argumento indutivo, em que qualquer das coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos apareçam como uma conclusão. Portanto, talvez se dê o caso de, além das "regras de dedução" e das "regras de indução", existirem também certas "regras de evidência" básicas. 0 lógico dedutivo tenta formular o primeiro tipo de regras; o lógico indutivo, o segundo; e o epistemologista procura formular as regras do terceiro tipo.
4) Pode-se perguntar: "0 que é que sabemos? Qual é a extensão do nosso conhecimento?" Poder-se-á também perguntar: "Como decidir, em qualquer caso particular, se sabemos ou não? Quais são os critérios de conhecimento, se porventura existem?" 0 "problema do critério" resulta do fato de que, se não tivermos resposta para o segundo par de perguntas, não disporemos, nesse caso, aparentemente, de um procedimento razoável para encontrar resposta para o primeiro; e, se não tivermos resposta para o primeiro par de perguntas, não teremos então, aparentemente, um processo razoável de encontrar a resposta do segundo. 0 problema poderá ser formulado mais especificamente para diferentes matérias - por exemplo, o nosso conhecimento (se houver) de "coisas externas", "outros espíritos", "certo e errado", as "verdades da Teologia". Muitos filósofos, aparentemente sem razão suficiente, abordam algumas dessas versões mais específicas do problema do critério segundo um ponto de vista, ao passo que outros as encaram de um ponto de vista muito diferente.
5) 0 nosso conhecimento (se houver) do que por vezes denominamos as "verdades da razão" - as verdades da Lógica e da Matemática e o que se expressa por "Uma superfície que é toda vermelha também não é verde" - dota-nos com um exemplo particularmente instrutivo do problema de critério. Alguns filósofos acreditam que qualquer teoria satisfatória do conhecimento deve ser adequada ao fato de que algumas das verdades da razão, tal como tradicionalmente são concebidas, não estão entre as coisas que conhecemos. Outros, ainda, procuram simplificar o problema afirmando que as chamadas "verdades da razão" só pertencem realmente, de algum modo , , a maneira como as pessoas pensam ou a maneira como empregam sua linguagem. Mas, uma vez que essas sugestões sejam equacionadas com precisão, logo perdem toda e qualquer plausibilidade que aparentemente tenham tido, no começo.
6) Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar-se, apropriadamente, por "metafísicos". Abrangem certas questões sobre as maneiras como as coisas nos parecem. As aparências que as coisas apresentam para nós quando, digamos, as percebemos, parecem ser subjetivas na medida em que dependem, para a sua existência e natureza, do estado do cérebro. Este simples fato levou os filósofos, talvez com excessiva facilidade, a estabelecerem algumas conclusões extremas. Alguns afirmaram que as aparências das coisas externas devem ser duplicatas internas dessas coisas - que, quando um homem percebe um cão, uma tênue réplica do cão é produzida dentro da cabeça do homem. Outros disseram que as coisas externas devem ser bastante distintas do que ordinariamente aceitamos que elas sejam - que as rosas não podem ser vermelhas quando ninguém está olhando para elas. Ainda outros afirmaram que as coisas físicas devem-se compor, de algum modo, de aparências; e houve também quem dissesse que «s aparências devem ser compostas, de algum modo, de coisas físicas. 0 problema levou até alguns filósofos a indagarem se existirão coisas físicas e outros, mais recentemente, a indagarem se existirão aparências.
7 ) 0 "problema da verdade" poderá parecer um dos mais simples da teoria do conhecimento. Se dissermos a respeito de um homem, `'Ele acredita que Sócrates é mortal", e depois acrescentarmos, "E o que é mais, sua crença é verdadeira", então o que acrescentamos não é, certamente, mais do que isto: Sócrates é mortal. E "Sócrates é mortal" diz-nos tanto quanto "é verdade que Sócrates é mortal". Mas que aconteceria se disséssemos, a respeito de um homem, que algumas de suas crenças são verdadeiras, sem especificarmos que crenças? Que propriedade, nesse caso, estaríamos atribuindo à sua crença?
Suponha-se que dizemos: "0 que ele está dizendo agora é verdade", quando acontece que o que ele está dizendo agora é o que nós estamos agora dizendo que é falso, seja o que for. Nesse caso, estaremos dizendo algo que é verdadeiro ou dizendo algo que é falso?
Finalmente, qual é a relação entre as condições da verdade e os critérios de evidência? Somos boas provas, presumivelmente, para acreditar que existem nove planetas. Essa prova consiste em vários outros fatos que conhecemos a respeito de Astronomia, mas não inclui, em si, o fato de que existem nove planetas. Pareceria logicamente possível, portanto, que um homem tivesse boas provas para uma crença que, não obstante, é uma crença que é falsa. Significará isso que o fato de existirem nove planetas, se porventura for um fato, é realmente algo que não pode ser evidente? Deveríamos dizer, portanto, que ninguém sabe, realmente, se existem nove planetas? Ou deveríamos dizer que, embora seja possível saber que existem nove planetas. não é possível saber que sabemos existirem nove planetas? Ou as provas de que dispomos para acreditar que existem nove planetas garantem, de algum modo, que a crença é verdadeira e garantem, portanto, que há nove planetas?
Tais questões, e problemas como esses, constituem o assunto da teoria do conhecimento. Um certo número deles, como o leitor já sentirá, é simplesmente o resultado de confusão; e, uma vez exposta a confusão, os problemas desaparecem. Mas outros, como este livro pretende mostrar, são um tanto mais difíceis de tratar.
In Chisholm, R. M. (1966): Teoria do Conhecimento, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 11-15.


A imagem de uma ilha funciona perfeitamente para exemplificar o nível de conhecimento da humanidade. Esse pequeno pedaço de terra é cercado pelo vasto oceano do desconhecimento. Temos apenas frágeis balsas para explorá-lo, por isso, existem tantas lacunas em tudo o que sabemos. Em outras palavras, por mais espetaculares que sejam os resultados alcançados pelas ciências, o que se conhece é muito pouco em comparação com tudo o que nos falta saber.
Esse livro trata exatamente dessa busca. A teoria do conhecimento (ou epistemologia) aborda não somente a natureza e as fontes de conhecimento, mas, sobretudo, as formas de validá-lo ¿ seu maior desafio. Com linguagem simples e didática, o leitor vai explorar ao longo das páginas os tipos de saber, como estudá-lo e buscá-lo, as contradições entre aparência e realidade, a dificuldade em definir a verdade por trás de todos os fatos, entre outros temas. 










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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Teoria do Conhecimento.


Epistemologia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

(Redirecionado de Teoria do Conhecimento)

Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego ἐπιστήμη [episteme], ciência, conhecimento; λόγος logos], discurso) é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficoscrença e ao conhecimento. relacionados à

A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí também se designar por filosofia do conhecimento). Ela se relaciona ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma vez que avalia a consistência lógica da teoria e sua coesão fatual, sendo assim a principal dentre as vertentes da filosofia (é considerada a "corregedoria" da ciência). Sua problematização compreende a questão da possibilidade do conhecimento: Será que o ser humano conseguirá algum dia atingir realmente o conhecimento total e genuíno, fazendo-nos oscilar entre uma resposta dogmática ou empirista? Outra questão abrange os limites do conhecimento: Haverá realmente a distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível? E finalmente, a questão sobre a origem do conhecimento: Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori?

Há ainda outras questões relativas ao conhecimento, como a apostasia da ciência de seu verdadeiro sentido e sua aproximação à outras formas de aprendizado com estruturas ilógicas e irracionais: O senso comum, a filosofia e a ciência, no mais das vezes, dão um caráter universal ao contingente, tornando-o dogmático. Assim, a ciência, que sempre julgou-se detentora única do saber, vê-se inserida em seu coexistente princípio de contradição.

Origem

Provável forma usada por Pitágoras para demonstrar o teorema que leva o seu nome.
Provável forma usada por Pitágoras para demonstrar o teorema que leva o seu nome.

Pode-se dizer que a epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião ("δόξα", em grego) ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O conhecimento é crença verdadeira e justificada.

A teoria de Platão abrange o conhecimento teórico, o saber que. Tal tipo de conhecimento é o conjunto de todas aquelas informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia. Este conhecimento consiste em descrever, explicar e predizer uma realidade, isto é, analisar o que ocorre, determinar por que ocorre dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar uma realidade futura.

Há outro tipo de conhecimento, não abrangido pela teoria de Platão. Trata-se do conhecimento prático, o saber como.

A epistemologia também estuda a evidência (entendida não como mero sentimento que temos da verdade do pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de reconhecimento da verdade.

Ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar diferentes atitudes:

  • Dogmatismo: atitude filosófica pela qual podemos adquirir conhecimentos seguros e universais, e ter absoluta certeza disso.
  • Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, a qual duvida de que seja possível um conhecimento firme e seguro, sempre questionando e pondo à prova as ditas verdades. Esta postura foi defendida por Pirro de Elis.
  • Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas que nega a existência de uma verdade absoluta e defende a idéia de que cada indivíduo possui sua própria verdade, que é em função do contexto histórico do indivíduo em questão.
  • Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade absoluta, mas pensa que nenhum de nós pode chegar a ela senão a apenas uma pequena parte. Cada ser humano tem uma visão da verdade. Esta teoria foi defendida por Nietzsche e nota-se ecos de platonismo.

Estudos recentes

Segundo Lalende, trata-se de uma filosofia das ciências, mas de modo especial, enquanto "é essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar sua origem lógica (não psicológica), seu valor e seu alcance objetivo". Para Lalande, ela se distingue, portanto, da teoria do conhecimento, da qual serve, contudo, como introdução e auxiliar indispensável.

Portanto, temos que epistemologia é o estudo sobre o conhecimento científico, ou seja, o estudo dos mecanismos que permitem o conhecimento de determinada ciência.

Japiassu distingue três tipos de Epistemologia:

  • a Epistemologia global ou geral que trata do saber globalmente considerado, com a virtualidade e os problemas do conjunto de sua organização, quer sejam especulativos, quer científicos;
  • a Epistemologia particular que trata de levar em consideração um campo particular do saber, quer seja especulativo, quer científico;
  • a Epistemologia específica que trata de levar em conta uma disciplina intelectualmente constituída em unidade bem definida do saber e de estudá-la de modo próximo, detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu funcionamento e as possíveis relações que ela mantém com as demais disciplinas.

Segundo Trindade “todo conhecimento torna-se, devido à necessária vinculação do meio ao indivíduo que pertence ao próprio meio, um auto-conhecimento. Essa interação faz-se cogente pela gênese unívoca entre os muitos integrantes do mundo da vida, sem olvidar que o homem é um desses integrantes. [...] Ocorre, deste modo, um acoplamento estrutural entre o sistema nervoso do observador e o meio proporcionando, assim, uma mútua transformação/adaptação. O ser é modificado pelo meio ao qual o próprio ser pertence e modifica”. (2007, p. 97).

Bibliografia

  • JAPIASSU, Hilton F. EPISTEMOLOGIA O mito da neutralidade científica. Rio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188 p.
  • SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21 Ed.
  • TRINDADE, André. Os direitos fundamentais em uma perspectiva autopoiética. Porto Alegre: Livraria dos Advogados. 2007.

Ligações externas

"Ideologia e Utopia", Karl Mannheim

Ver também

Portal A Wikipédia possui o(s) portal(is):
Portal de filosofia
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Portal de história da ciência. Os artigos sobre história da ciência, tecnologia e medicina.



Quer Saber Mais,
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/chisholm.htm
http://www.coladaweb.com/filosofia/teoria.htm
http://www.asmayr.pro.br/textos/teoriadoconhecimento.php
http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4GGIH_pt-BRBR287BR287&q=O+QUE+%c3%89+TEORIA+DO+CONHECIMENTO

De: videoconferencias
EPISTEMOLOGÍA (I BIMESTRE[Octubre 2007])


Universidad Técnica Particular de Loja Carrera: Psicología Materia: Epistemología Bimestre: I Bimestre Periodo: Octubre 2007 - Febrero 2008 Ponente(s): Ps. Richard Ruiz Tema: La Epistemología su Co...
Universidad Técnica Particular de Loja
Carrera: Psicología
Materia: Epistemología
Bimestre: I Bimestre
Periodo: Octubre 2007 - Febrero 2008
Ponente(s): Ps. Richard Ruiz
Tema: La Epistemología su Concepción y Desarrollo


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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Teoria do Conhecimento


TEORIA DO CONHECIMENTO

INTRODUÇÃO

A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe um sentido e descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem, que tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião, quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia. Mas é sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência. E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que hoje lhe damos. É também sobretudo a partir desta época que as implicações da atividade científica na nossa vida quotidiana se têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes. O que é o conhecimento científico, como se adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe entre o conhecimento científico e o mundo real, quais as conseqüências práticas e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos deparamos frequentemente. Diante desses questionamentos, este trabalho pretende fazer um apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, suas correntes e representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.

CONCEITO

A teoria do conhecimento, se interessa pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio cético? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna – é que ela tem ocupado um plano central na filosofia. Basicamente é conceituada como o estudo de assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam explica-las: I - O conhecimento como problema, II- Origem do Conhecimento e III- Essência do Conhecimento e IV – Possibilidade do Conhecimento.

PRINCIPAIS CORRENTES E SEUS REPRESENTANTES

A) O Conhecimento Quanto à Origem

A polêmica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais persistentes ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje em diversas posições de epistemólogos ou filósofos da ciência. Abundam, ao longo da linha constituída nos seus extremos pelo racionalismo e pelo empirismo radicais, as posições intermédias, as tentativas de conciliação e de superação, como veremos a seguir.

• Empirismo

“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).

Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do conhecimento.

Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes. Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a essência do empirismo e a qual, todos os autores conservam, que é a tese de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na experiência e só é válido quando verificado por fatos metodicamente observados, ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora, sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.

Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a científica.

O empirismo integral reduz todos os conhecimentos – inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de contato direto e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos os conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo exceção as verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados da experiência. Ele apresenta a indução como único método científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas matemáticos.

O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser não-empiricamente valido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações são ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as idéias são elaborações de elementos que os sentidos recebem em contato com a realidade.

Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente validas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos matemáticos.

Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o conhecimento oriundo da experiência ou verificado experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas no domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade cientifica”.

• Racionalismo

É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”.

Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried Leibniz, afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, que nem todas as verdades são verdades de fato; ao lado delas, existem as verdades de razão, que são aquelas inerentes ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (como por exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de fato são contingentes e particulares, implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas dentro de limites determinados.

Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios evidentes, idéias natas, que servem de fundamento lógico a todos os elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou seja, para ele, o racionalismo se preocupa com a idéia fundante que a razão por si mesma logra atingir.

Esses dois pensadores podem ser classificados como representantes do racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura explicação da realidade.

Existe também uma outra linha racionalista, originada de Aristóteles, denominada intelectualismo, que reconhece a existência de “verdades de razão” e, além disso, atribui à inteligência função positiva no ato de conhecer, ou seja, a razão não contém em si mesma, verdades universais como idéias natas, mas as atinge à vista dos fatos particulares que o intelecto coordena. Concluindo: o intelecto extrai os conceitos ínsitos no real, operando sobre as imagens que o real oferece.

Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há nele uma concepção metafísica da realidade como condição de sua gnoseologia, que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no particularismo contingente de seus elementos, as verdades universais que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.

Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que alguns autores consideram autônoma, que é o Criticismo.

O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos pressupostos do conhecimento.

Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire validade universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.

Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida do humano.

Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico.

B) O Conhecimento Quanto à Essência

Nessa parte do estudo, analisaremos o ponto da Teoria do Conhecimento em que há mais divergências, sendo estas fundamentais pra o pleno conhecimento do assunto, que é o realismo e o idealismo.

• Realismo

Sabendo que a palavra realismo vem do latim res (coisa), podemos conceituar essa corrente como a orientação ou atitude espiritual que implica uma preeminência do objeto, dada a sua afirmação fundamental de que nós conhecemos coisas. Em outras palavras, é a independência ontológica da realidade, ou seja, o sujeito em função do objeto.

O realismo é subdividido em três espécies. O realismo ingênuo, o tradicional e o crítico.

O realismo ingênuo, também conhecido como pré-filosófico, é aquele em que o homem aceita a identidade de seu conhecimento com as coisas que sua mente menciona, sem formular qualquer questionamento a respeito de tal coisa. É a atitude do homem comum, que conhece as coisas e as concebem tais e quais aparecem.

Já o realismo tradicional é aquele em que há uma indagação a respeito dos fundamentos, há uma procura em demonstrar se as teses são verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente filosófica, seguindo a linha aristotélica.

Por último, podemos citar o realismo cientifico, que é a linha do realismo que acentua a verificação de seus pressupostos concluindo pela funcionalidade sujeito-objeto e distinguindo as camadas conhecíveis do real como a participação - não apenas criadora - do espírito no processo gnosiológico. Para os seguidores desse pensamento, conhecer é sempre conhecer algo posto fora de nós, mas que, se há conhecimento de algo, não nos é possível verificar se o objeto - que nossa subjetividade compreende - corresponde ou não ao objeto tal qual é em si mesmo.

Há portanto, no realismo, uma tese ou doutrina fundamental de que existe uma correlação ou uma adequação da inteligência a “algo” como objeto do conhecimento, de maneira que nós conhecemos quando a nossa sensibilidade e inteligência se conformam a algo de exterior a nós. De acordo com o modo de compreender-se essa “referibilidade a algo”, bifurca-se o realismo em tradicional e o crítico, que são as duas linhas pertinentes à filosofia.

• Idealismo

Surgiu na Grécia Antiga com Platão, denominado de idealismo transcendente, onde as idéias ou arquétipos ideais representam a realidade verdadeira, da qual seriam as realidades sensíveis, meras copias imperfeitas, sem validade em si mesmas, mas sim enquanto participam do ser essencial. O idealismo de Platão reduz o real ao ideal, resolvendo o ser em idéia, pois como ele já dizia, as idéias são o sol que ilumina e torna visíveis as coisas.

Alguns autores entendem que a doutrina platônica poderia ser vista como uma forma de realismo, pois para eles, o idealismo “verdadeiro” é aquele desenvolvido a partir de Descartes.

O que interessa à Teoria do Conhecimento, é o idealismo imanentista, que afirma que as coisas não existem por si mesmas, mas na medida e enquanto são representadas ou pensadas, de maneira que só se conhece aquilo que se insere no domínio de nosso espírito e não as coisas como tais, ou seja, há uma tendência a subordinar tudo à formas espirituais ou esquemas. No idealismo, que é a compreensão do real como idealidade (o que equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um objeto com os elementos de sua subjetividade, sem que algo preexista ao objeto (no sentindo gnosiológico).

Sintetizando, o idealismo é a doutrina ou corrente de pensamento que subordina ou reduz o conhecimento à representação ou ao processo do pensamento mesmo, por entender que a verdade das coisas está menos nelas do que em nós, em nossa consciência ou em nossa mente, no fato de serem “percebidas” ou “pensadas”.

Dentro dessa concepção existem duas orientações idealistas. Uma é a do idealismo psicológico ou conscienciológico, onde o que se conhece não são as coisas e sim a imagem delas. Podemos conceituá-lo como aquele em que a realidade é cognoscível se e enquanto se projeta no plano da consciência, revelando-se como momento ou conteúdo de nossa vida interior. Também chamado de idealismo subjetivo, este diz que o homem não conhece as coisas, e sim a representação que a nossa consciência forma em razão delas. Seus representantes são Hume, Locke e Berkeley.

A outra é a orientação idealista de natureza lógica, que parte da afirmação de que só conhecemos o que se converte em pensamento, ou é conteúdo de pensamento. Ou seja, o ser não é outra coisa senão idéia.

Seu maior representante, Hegel, diz em uma de suas obras que nós só conhecemos aquilo que elevamos ao plano do pensamento, de maneira que só há realidade como realidade espiritual.

Resumindo: na atitude psicológica, ser é ser percebido e na atitude lógica, ser é ser pensado.

C) Possibilidade do Conhecimento

Essa parte da teoria do conhecimento é responsável por solucionar a seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?

Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem a duas importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos abaixo.

• Dogmatismo

É a corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à conduta, transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites impostos a priori à razão.

Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial.

O primeiro é aquele em que a afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade ultima é feita tanto no plano da especulação, quanto no da vida pratica ou da Ética. Esse dogmatismo intransigente, quase não é adotado, devido à rigorosidade de adequação do pensamento. Porém, encontramos em Hegel a expressão máxima desse tipo de dogmatismo, pois, existe em suas obras uma identificação absoluta entre pensamento e realidade. Como o próprio autor diz “o pensamento, na medida em que é, é a coisa em si, e a coisa em si, na medida em que é, é o pensamento puro”.

Já o parcial, adotado em maior extensão, tem um sentido mais atenuado, na intenção de afirmar-se a possibilidade de se atingir o absoluto em dadas circunstâncias e modos quando não sob certo prisma. Ou seja, é a crença no poder da razão ou da intuição como instrumentos de acesso ao real em si.

Alguns dogmáticos parciais se julgam aptos para afirmar a verdade absoluta no plano da ação. Entretanto, outros somente admitem tais verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.

O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que duvidavam da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir, estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.

Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico, Blaise Pascal, que não duvidava de seus cálculos matemáticos e da exatidão das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por duvidas no plano do agir ou da conduta humana.

• Ceticismo

Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo, mesmo quando são enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação à luz de sucessivos testes.

Ou seja, o ceticismo se distingue das outras correntes por causa de sua posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas.

Há no ceticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção entre absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido nesse trabalho.

O ceticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a impossibilidade de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto as verdades metafísicas (da realidade em si mesma), quanto as relativas ao fundo dos fenômenos. Segundo essa corrente, o homem não pode pretender nenhum conhecimento por não haver adequação possível entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. Ou seja, para os céticos absolutos, não há outra solução para o homem senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal de todas as respostas.

Um dos representantes do ceticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.

CONCLUSÃO

Esse trabalho buscou de forma concisa reunir informações gerais acerca da Teoria do Conhecimento, baseando-se na visão de Miguel Reale, reunindo conceitos e origem de algumas correntes, seus objetivos e representantes.

BIBLIOGRAFIA

Reale,Miguel, Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 65-76;85-89; 119-123.

Artido de: Érika Batista Santos.

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