VirTouch dá a sensação de que o monitor tem relevo
Ele vai varrer e aspirar o chão da casa, lavar a louça, preparar as refeições e fazer a barba do dono, tornando-se literalmente seu braço direito e esquerdo. Projetado pela Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, o Flexibot vai auxiliar deficientes físicos em tarefas impossíveis de cumprir sem os movimentos dos membros. Comandado por um pequeno motor, o robô rasteja pela casa como uma minhoca e seus braços mecânicos se acoplam a conectores instalados na parede. É assim que ele consegue obter os comandos necessários para executar tarefas como lavar o banheiro ou apanhar um livro na estante. O primeiro protótipo da invenção deve estar pronto até o final do ano.
Jeff Miller
Sensor na língua aponta qual direção tomar...
Inovações tecnológicas como o robô-enfermeiro ajudam cada vez mais a melhorar a qualidade de vida de quem está privado dos movimentos ou da visão. A lista de produtos é grande e inclui desde programas que ajudam deficientes visuais a navegar pela internet até bengalas digitais e mouses que não dependem da mão para funcionar. O mercado consumidor não é pequeno. A Organização Mundial de Saúde estima que um entre dez habitantes do planeta tem algum tipo de deficiência física ou motora. No Brasil, isso representa mais de 16 milhões de pessoas. No mundo todo, somam meio bilhão de seres humanos.
Staffordshire University
... e o robô Flexibot executa as tarefas cotidianas em casa
Elo social – Há casos em que o acesso à tecnologia é a única forma de comunicação com o mundo exterior. O melhor exemplo é o físico inglês Stephen Hawking. Portador de esclerose degenerativa lateral, doença progressiva que o atou a uma cadeira de rodas, Hawking perdeu a fala em 1985. Desde então, usa um computador que opera com um único dedo para escrever livros, criar fórmulas físicas e preparar palestras, que profere com a ajuda de um sintetizador de voz grudado à cadeira.
Reuters
Hawking se comunica utilizando um só dedo e o PC
O som emitido por máquinas também ajuda um grupo de brasileiros. A Rede Saci, entidade ligada à Universidade de São Paulo e à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), oferece gratuitamente no site www.saci.org.br um programa que faz o PC ler em voz alta as frases e a descrição das fotos que aparecem na tela. Logo que o software é acionado, vem a pergunta em alto e bom som: “O que deseja?”, seguida de menus sonoros para o usuário responder de viva voz. O mesmo acontece no HomePageReader, programa de comando de voz da IBM que finalmente ganha versão em português em junho, por R$ 345. O software tem manual em braile e alterna idiomas automaticamente, possibilitando a navegação nos sites escritos em português, inglês e outros sete idiomas.
Ricardo Giraldez
Adenilson reconquistou o emprego após a paralisia
Um bom aliado dos softwares de voz é o mouse da empresa israelense VirTouch. Com pinos de metal que sobem e descem de acordo com a cor que aparece sob o cursor que corre pela tela, ele permite que os usuários tenham a sensação tátil daquilo que é exibido no monitor – como se páginas da internet tivessem relevo e pudessem ser tocadas com o mouse. O programa ajuda os deficientes visuais a “ler” palavras escritas em braile e no alfabeto convencional, além de ter a sensação tátil dos contornos de fotos ou mapas. O problema é o preço: US$ 5 mil.
Dentro de cinco anos, até a boca ajudará quem não consegue enxergar. Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos EUA, projetam um sistema em que 144 minúsculos condutores elétricos – eletrodos – são grudados na língua e conectados a uma câmera digital. O dispositivo emite choques elétricos na língua, indicando qual a direção certa para evitar a colisão com obstáculos. Um sistema mais simples foi criado por três alunos de 17 a 19 anos do curso técnico de eletricidade da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. A bengala dotada de uma espécie de sonar identifica objetos e orienta o dono por meio de frases como “cuidado” ou “vá mais para a direita”.
O TrackIR ajuda a navegar na internet
Recomeço – A deficiência nos braços e mãos foi definitiva para o vendedor de autopeças paulistano Adenilson Paula de Souza, 18 anos. No começo do ano passado, ele lesou a coluna vertebral depois de capotar o carro numa estrada. Sem mobilidade nas pernas, Adenilson recupera lentamente o movimento dos braços. “O computador incentivou minha melhora”, diz o jovem adepto de um programa da Rede Saci feito para deficientes físicos. O programa faz o PC reproduzir no monitor um teclado virtual sobre o qual uma seta passa continuamente. Para digitar textos e enviar e-mails, Adenilson move a mão que aciona um botão quando o cursor está sobre a tecla desejada. O esforço do jovem não foi em vão. Seu antigo chefe ofereceu-lhe o emprego de volta, dessa vez numa função administrativa.
Outra solução para quem só tem movimentos do pescoço para cima é o TrackIR, vendido por US$ 100 no site www.naturalpoint.com. O sistema permite que o deficiente mova a seta do mouse com a cabeça. Para isso, gruda na testa um adesivo metalizado que reflete os raios infravermelhos emitidos por um dispositivo apoiado sobre o monitor. O aparelho identifica para onde o usuário aponta a cabeça e move o cursor na mesma direção. Para dar um clique, basta parar a seta sobre o objeto desejado por mais de cinco segundos. Depois, é só navegar por onde quiser. Sem limites.
Na última semana, morreu aos 93 anos a dublê norte-americana Hazel Warp. Em 1939, a profissional substituiu a atriz Vivien Leigh, que viveu a personagem Scarlett O'hara, nas cenas perigosas que foram gravadas para o filme "E o vento levou".
A palavra "dublê" tem sua origem no francês 'double' e designa a pessoa que substitui outro profissional, geralmente em uma aparição pública, situações perigosas ou cenas complicadas, como de nudez, por exemplo. O termo também designa um sósia (pessoa fisicamente semelhante a uma celebridade, autoridade etc..), a quem substitui em determinadas situações por motivos de segurança. Em Portugal, a palavra correspondente a "dublê" é "duplo".
substantivo de dois gêneros. 1 Bras. Cin. Telv. Profissional que substitui o ator ou a atriz em cenas perigosas ou de realização complicada (p. ex. em cenas de nudez). 2 Pessoa fisicamente semelhante a outra (celebridade, autoridade etc.), a quem substitui, por motivos de segurança, em aparições públicas, lugares perigosos etc. 3 Indivíduo que exerce diversas atividades paralelas: João é dublê de professor e poeta. 4 Art.gr. Impressão em duas cores, a partir de dois clichês ou dois fotolitos, para obtenção de um tom (ger. mocromático) especial
Formação: do francês 'double". _____
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Edilaine Nogueira usa a construção e a desconstrução de objetos para ensinar características de figuras geométricas.
Foto: Rogério Albuquerque Ilustração: Carlo Giovani
CAIXAS DESMONTADAS Planificando embalagens, Edilaine leva os alunos a estabelecer relações entre bi e tridimensional.
Para que os alunos do 4º ano do Colégio Parthenon, em Guarulhos, município da Grande São Paulo, pudessem reproduzir sólidos geométricos e estabelecer relações entre eles e as figuras planas, a professora Edilaine Nogueira desenvolveu uma seqüência didática. Com ela, a turma observou e identificou algumas características desses objetos e representações para distinguir uns dos outros. Com as atividades propostas, as crianças passaram a reconhecer e a associar as formas necessárias para cobrir as faces de um sólido e a maneira como elas são dispostas. Além disso, enriqueceram o vocabulário com a nomenclatura própria da Matemática.
Logo na primeira aula a professora lançou o desafio para a classe: Como se faz para montar caixas de diferentes formatos, como as dos chocolates, dos remédios e dos cremes dentais? Depois que todos discutiram, ela verificou se as antecipações estavam corretas de forma simples: confrontando-as com as embalagens e desmontando-as. Em duplas, as crianças abriram duas caixas diferentes, marcaram as dobras com lápis de cor e identificaram os quadrados, retângulos e trapézios existentes em cada uma. A constatação foi de que os sólidos geométricos são compostos por várias formas, combinadas de maneiras diversas.
O passo seguinte foi listar a quantidade de figuras planas existentes nos sólidos analisados. Edilaine dava as orientações fazendo diversas intervenções: que figura tridimensional é composta por dois quadrados e quatro retângulos? Será que existe só uma figura com essas características? E, com seis quadrados, o que é possível montar? Quem é capaz de dizer os nomes das formas encontradas? As crianças respondiam:
Não sei como chama esse pedacinho aqui que serve para fechar a caixa, professora afirmou Vitor. Ah, é um trapézio. Minha embalagemtambém tem um, só que é bem estreito respondeu Bruna. Depois que a gente desmontou a caixa não dá mais para ver as três dimensões observou Alexander. Penta vem de pentacampeão, né? Cinco vezes campeão! disse Milena. A caixa de cinco lados então é um pentágono? quis saber Ivan. A palavra pentágono vem do grego. Penta quer dizer cinco, e gono se refere a ângulo. O pentágono tem cinco ângulos explicou a professora.
Atividade inversa Em outro momento, Edilaine retomou a relação entre figuras bi e tridimensionais. Para isso, ela distribuiu diferentes planificações (desenhos de figuras tridimensionais) e desafiou a turma a relacionar cada uma delas ao sólido correspondente. Primeiro era preciso levantar hipóteses, para depois constatar se elas estavam corretas. A discussão foi rica, com a participação de todos, e continuou com a montagem dos objetos, que envolveu ainda a pintura das diversas faces com cores diferentes. Surgiram paralelepípedos (ou prismas de base retangular), tetraedros e pirâmides. O mais importante foi o debate que se seguiu, conta a professora. Ela pediu que, em quartetos, os estudantes analisassem as construções, comparassem com as antecipações e classificassem os sólidos formados de acordo com suas características, justificando a resposta. Saíram as seguintes colocações: O prisma de base retangular tem de ter retângulos disse Daniel. A base é onde a figura fica em pé, né, professora? questionou Fábio. Minha figura é uma pirâmide de base triangular porque embaixo dela não é um quadrado arriscou Gustavo.
Foto: Rogério Albuquerque
QUAL É A FIGURA? Construir alguns sólidos a partir da planificação faz com que as crianças levantem hipóteses
Então, Edilaine abriu a discussão e das idéias colocadas foram tiradas algumas conclusões. Para anotá-las, ela estimulou o uso de vocabulário específico. Em vez de linhas, pontas e lados, a garotada deveria falar em arestas, vértices e faces. Depois cada grupo escolheu um sólido e registrou suas características em folha colorida, além de desenhá-lo. As principais conclusões foram socializadas e colocadas em um grande painel no quadro. Veja como cada equipe contribuiu:
■ Grupo 1: A pirâmide de base triangular tem quatro vértices, seis arestas e quatro faces triangulares. As linhas retas são as arestas, e o encontro de duas delas forma uma ponta e se chama vértice. Cada lado do sólido se chama face.
■ Grupo 2: Aprendemos que para fazer um sólido precisamos das formas planas: quadrados, retângulos, triângulos... A pirâmide de base quadrada, por exemplo, tem cinco faces (quatro triângulos e um quadrado), oito arestas e cinco vértices.
■ Grupo 3: O prisma de base retangular ou paralelepípedo tem oito pontas ou vértices, doze linhas ou arestas e seis faces. Vértice é o encontro das linhas retas. Arestas são as várias linhas retas. Faces são os lados do sólido.
Edilaine ficou satisfeita com o resultado: As atividades ofereceram a possibilidade de a garotada resolver diversos tipos de problemas e, principalmente, gerou necessidade de argumentação e fez com que todos avançassem na análise da relação entre figuras geométricas planas e tridimensionais. Ciente da importância de seu papel nessa dinâmica, ela afirma: Sinto que nós, educadores, cumprimos bem nossa missão de mediadores e incentivadores do conhecimento quando proporcionamos uma variedade de situações didáticas significativas e desafiadoras. Para isso, basta observar se os alunos respondem bem, colocando em jogo os conhecimentos prévios.
Quer saber mais?
Contato Colégio Parthenon, R. Salvador Gaeta, 578, 07023-010, Guarulhos, SP, tel. (11) 6421-5588
Em julho, o pugilista brasileiro Darli Pires disputou com o espanhol Ivan Pozo o título intercontinental da categoria peso pena pela Organização Mundial de Boxe. Logo no início da disputa, realizada no país de seu adversário, Darli foi nocauteado e chegou a desmaiar. A palavra "pugilista" tem origem do inglês 'pugilist', mas também deriva do termo latino 'pugilatus', que significa "luta com os punhos, com as mãos".
Em nossa língua, "pugilista" significa unicamente o atleta que pratica o boxe (também chamado de "pugilismo").
Definição do dicionário Aulete Digital
PUGILISTA (pu.gi.lis.ta)
substantivo de 2 gêneros. 1 Atleta que pratica pugilismo; BOXEADOR.
[Formação: Do inglês 'pugilist'.] _____
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A obra mostra como um livro na mão de uma criança, embora analfabeta, pode fazer toda diferença, pois mesmo não sendo letrado, Pacu usa de sua imaginação para criar estórias, usando como base apenas ás ilustrações. Paulo Freire faz uma análise no texto A Importância do ato de ler, sobre a leitura da “palavramundo”, onde de forma simples e descomplicada explica essa naturalidade com que uma criança faz sua leitura de mundo, usando para isso, as ilustrações do dia a dia. No filme Abril despedaçado, podemos enfim constatar a veracidade do fato. Na película o diretor Walter Salles deixa claro que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Pacu usa seu livro como um cajado e mostra o caminho da mudança ao irmão, e até mesmo a sua mãe, que já estava conformada com a sina de sua família. A leitura de mundo de Pacu é profunda, sofrida e crítica. Nela o garoto desvenda toda a bestialidade envolvida numa tradição sem nexo e sem futuro para as duas famílias. Muito mais do que desvendar as páginas do livro que não sai de seu lado, o garoto lê o próprio destino e o do irmão, e resolve através da fantasia fazer toda a diferença. Passa então a cobrar de seus pais de forma velada o direito de ser criança, de brincar, sonhar e ser feliz.
O filme por si só tem um tom amarelo-deserto, dando a idéia de algo gasto e fora do tempo. Tempo esse que parece abocanhar os personagens numa fome voraz e devastadora. De repente no meio de seres tristes e desbotados, eis que surge toda a claridade da artista circense Clara, que leva a luz ao menino sem nome. E de forma inconsciente o faz pensar, sonhar e desejar a própria felicidade. O objeto que modifica a vida de Pacu e de seu irmão Tonho é um livro de estórias, que narra ás aventuras e desventuras de dois peixinhos e uma sereia. O filme nos hipnotiza usando o círculo como objeto desta manipulação, isto se dá por duas vezes. A primeira com a roda de bois, que gira constantemente, sem sair do lugar e movimenta uma engrenagem cheia de rodas menores. A segunda quando Clara se prende numa corda amarrada verticalmente, e pede para que Tonho a faça girar por um dia inteiro e cada vez mais forte, parecendo que a qualquer momento pode haver um possível rompimento. A casa de Tonho e Pacu é sombria, a terra da fazenda é árida e sem vida. O trabalho é feito como obrigação, e até as refeições da família é feita de forma mecânica, sem prazer, sem sabor. Pacu sonha com a sereia, com o mar. Más este sonho não é seu, pois o menino instiga o irmão a vivenciar a fantasia que é dele próprio, ao mesmo tempo em que assume para si, o fim trágico que era do irmão. O único momento em que vemos os personagens sorrirem é quando Pacu e Tonho rolam no chão brincando como duas crianças que são. A magia deste momento é quebrada quando o patriarca começa a dar gargalhada, como se fosse um algoz a espera de sacrifício humano. Clara é a primeira a se libertar do circulo vicioso que é sua vida, e provoca Tonho a fazer o mesmo. A rivalidade entre as famílias Breve e Ferreira está prestes a ter um fim. A chuva chega anunciando mudança, de repente um tiro ecoa no ar. O pai já se conforma com o destino de Tonho, quando descobre que Pacu que foi morto, reclama a quebra da ‘tradição’, e clama por justiça. Más tonho ferido e revoltado com aquela situação já não ouve mais o velho pai. Tonho então parte em direção ao mar sem olhar para trás. A obra mostra como é importante mostrarmos o mundo aos nossos pequenos, para que estes possam fazer por fim a leitura da “palavramundo”. Pois esta leitura de mundo, é que dá suporte á leitura da palavra escrita. Mostre aos seus filhos e alunos os animais, as árvores, os pássaros, as flores, as frutas em seus galhos e deixe que eles façam á leitura de mundo. Pois esse ser tão pequeno em tamanho tem a capacidade maravilhosa e diferente de ver as coisas e as pessoas.
Rousseau: A arte da Filosofia, Literatura e Educação
Agnes Cruz de Souza agnescruz@zipmail.com.br Curso de Graduação em Ciências Sociais Unesp – Campus de Araraquara/FCL
"É preciso estudar a sociedade pelos homens, e os homens pela sociedade: os que quiserem tratar separadamente da política e da moral nunca entenderão nada de nenhuma das duas"
Jean-Jacques Rousseau, Emílio ou da Educação
A vida de Rousseau
Tão importante quanto a descrição proposta do Emílio de Rousseau, é o conhecimento de sua vida para que se possa demarcar sua posterioridade nas áreas de política, filosofia, psicologia infantil, literatura, sociologia, entre outras.
Jean Jacques Rousseau foi um dos mais considerados pensadores europeus no século XVIII. Sua obra inspirou reformas políticas e educacionais. Nasceu em Genebra, na Suíça em 28 de junho de 1712 e faleceu em Ermenonville, nordeste de Paris, França em 2 de julho de 1778. Foi filho de Isaac Rousseau, relojoeiro de profissão, com antepassados protestantes e apesar da profissão, nunca chegou a pertencer à aristocracia. Era um pouco mais pobre do que os demais irmãos em virtude de ter que dividir a herança com mais quatorze irmãos. Casou-se com Suzanne Bernard, filha de um pastor de Genebra. A mãe de Rousseau viera a falecer poucos dias após seu nascimento. Rousseau tinha um irmão mais velho, François, que era mais velho sete anos e ainda jovem abandonou a família.
Rousseau foi criado na infância por uma irmã de seu pai e uma ama. Num certo momento, perdeu também o pai porque este, no ano de 1722, desentendendo-se com um cidadão de certa influência, ferindo- o no rosto num encontro de rua. Este incidente obrigou a seu pai deixar Genebra para não ser injustamente preso.
Junto ao seu irmão, Rousseau ficou com o tio Gabriel Bernard, engenheiro militar que era irmão de sua mãe e casado com uma irmã de seu pai.
Rousseau não teve educação regular, senão por certos períodos e não freqüentou nenhuma universidade. Era um autodidata. Ainda na casa paterna leu muito; lia para seu pai enquanto este trabalhava em casa nos misteres de relojoeiros, os livros deixados por sua mãe e pelo pastor, seu avô materno. Juntamente a estas leituras, Rousseau acrescentará muitas outras, especialmente livros de história.
Sob tutela de seu tio, foi enviado para Bossey, a fim de estudar com o pastor Lambercier.
Aos 12 anos, de volta a Genebra, passa alguns anos na casa de um tio (outro), aprendendo a desenhar com um primo. Nessa época pensou até em ser ministro evangélico por admirar a atividade, mas os recursos econômicos de que dispusera não eram suficientes para continuar os seus estudos nesse sentido. Assim, o sentimento de inferioridade social começa a ser alternante no caráter de Rousseau. Aos 14 anos será aprendiz na casa de um gravador e aos 16 anos de idade, foge da cidade para escapar aos maus tratos do patrão. De 1728 a 1742 vagueia e trabalha pelo sul da França, pelo norte da Itália, pela Suíça, lendo muito, ensinando música, vivendo de vários empregos, ao sabor das circunstâncias e de seus amores.
Em meio a muitas humilhações e angústias pelas quais passou, Rousseau tem melhor sorte ao ter amizade com o filósofo Condillac (1715-1780) e com Denis Diderot (1713-1784) que encomendou–lhe artigos sobre música para a enciclopédia.
Em 1745, liga-se a Thérèse Levasseur, com quem tem cinco filhos, ambos direcionados a orfanatos, porque Rousseau achava que não poderia cuidar deles sendo pobre e doente. Presencia-se em Rousseau a marca do remorso presente no resto de sua vida e para livra-se dele, preocupava-se sempre em encontrar justificativas.
Em 1746, com a morte de seu pai, Rousseau recebe uma pequena herança e pode sobreviver folgadamente.
Em 1749, ao visitar Diderot na prisão (estava preso devido a sua obra Lettre Sur lês aveugles), Rousseau leu o anúncio de um concurso da Academia de Dijon e sentiu grande emoção ante a perspectiva de concorrer com êxito. A questão era se a restauração das ciências e das artes tinha tendido a purificar a moral. Estimulado pelo amigo, enviou um trabalho. Seu ensaio, conhecido sob o título abreviado de Discurso sobre as ciências e as artes, ganhou o primeiro prêmio e sua publicação ao final do ano seguinte o tornou famoso.
No Discurso sobre as ciências e as artes (1750), Rousseau articulou o tema fundamental que corre através de sua filosofia social: o conflito entre as sociedades modernas e a natureza humana e ressalta o paradoxo da superioridade do estado selvagem, proclamando a "volta da natureza". Ao mesmo tempo denuncia as artes e as ciências como corruptoras do homem.
Nessa ocasião, Rousseau caiu doente e desenganado por médicos e pensa em reformular sua vida adaptando-se a doença e afastando-se da agitação da vida social.
A Academia de Dijon propõe novo trabalho, desta vez sobre a origem da desigualdade entre os homens. Para escrevê-lo, passeando nos bosques em Saint Germin, procura recriar na mente a imagem do homem natural. Desenvolveu o tema de que da própria civilização vinham os males que afligiam o homem civilizado. Considera os homens iguais no estado natural, quando viviam isoladamente como selvagens, e que a civilização se encarrega de introduzir a desigualdade. Embora sem êxito, sem o prêmio, é seu segundo escrito sensacional. Sua fama estava assegurada.
Em 1756, Rousseau escreve uma carta a Voltaire, dando-lhe conselhos sobre sua visão negativa do mundo. Rousseau diz que o livro "Cândido ou o otimismo" foi uma resposta sarcástica a seus pontos de vista otimistas, expressos naquela carta. Em 1756 também, põe-se a escrever o romance A nova Heloísa, típico de sua personalidade romântica.
Rousseau, um 1762 publica um de seus mais conhecidos e influentes trabalhos: Emílio ou da Educação e Do Contrato Social.
Os dois livros, após sua publicação, foram considerados ofensivos a autoridade e assim Rousseau inicia um período difícil de perseguições políticas. Seus problemas não são mais com amigos ou amantes, mas com o parlamento. Refugia-se em Neuchâtel. Voltaire, através de um panfleto critica Rousseau, magoando-o fortemente. Assim, pôs-se a escrever As Confissões, relatando toda a sua vida e pensamento, sendo assim uma espécie de auto-biografia sintetizando-o como homem, filósofo, educador e romântico.
Em seus últimos anos de vida, Rousseau escreve os Devaneios de um caminhante solitário, com descrições da natureza e dos sentimentos humanos. Falece em Ermenonville e é enterrado na Ilha de Choupos.
O pensamento de Rousseau
Rousseau é filósofo iluminista precursor do romantismo no Séc. XIX, e apesar de ser iluminista, era um crítico ao movimento.
Sendo característico do iluminismo, pensava que a sociedade havia pervertido o homem natural que vivia harmoniosamente com a natureza, livre de egoísmo, cobiça, possessividade e ciúme.
Rousseau recebe várias críticas de Voltaire que diz: ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter em animais " e que ler Rousseau faz nascer desejos de caminhar em quatro patas", mas a proposta rousseaniana é o combate aos abusos e não repudiar aos valores humanos.
A sua teoria política, é sob vários aspectos uma síntese de Hobbes e Locke. O ferro e o trigo civilizaram o homem e arruinaram a raça humana.
Rousseau não busca retornar o homem a primitividade, ao estado natural, mas ele busca meios para se diminuir as injustiças que resultam da desigualdade social. Indica assim alguns caminhos:
1.º - igualdade de direitos e deveres políticos ou o respeito por uma "vontade geral";
2.º - educação pública para todas as crianças baseadas na devoção pela pátria e austeridade moral.
3.º - um sistema econômico e financeiro combinados com os recursos da propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto.
A pedagogia de Rousseau
Os pressupostos básicos de Rousseau a respeito da educação eram a crença na bondade natural do homem, e atribuir à civilização a responsabilidade pela origem do mal.
A educação deveria levar o homem a agir por interesses naturais e não por imposição de regras exteriores artificiais, pois só assim o homem poderia ser dono de si próprio.
Outro aspecto da educação natural está em não aceitar uma educação intelectualizada, levando ao ensino formal e livresco. O homem não é constituído apenas por intelecto, pois suas disposições primitivas, tais como os sentidos, os instintos, as emoções e os sentimentos existentes do pensamento elaborado são dimensões mais dignas de confiança.
Rousseau utiliza-se de novas idéias para combater as que prevaleciam em sua época há muito tempo, principalmente a de que a educação da criança deveria ser voltada aos interesses do adulto e da vida adulta. Introduz a concepção de que a criança é um ser com características próprias, e desse modo não podia ser vista como um adulto ou a partir de seu pensamento.
Com estas idéias, derrubou concepções vigentes que pregavam ser a educação, o processo pelo qual a criança adquire seus conhecimentos, atitudes, hábitos armazenados pela civilização, sem transformações.
Cada fase da vida, para Rousseau, tem suas características próprias. O homem e a sociedade modificam-se, e a educação é fundamental para a necessária adaptação a essas modificações.
Rousseau afirma que a educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza.
No contexto de sua época, Rousseau formulou princípios educacionais que permanecem até os nossos dias, principalmente quando afirmava: que a verdadeira finalidade da educação era ensinar a criança a viver e aprender a exercer a liberdade. Pode-se afirmar que as idéias de Rousseau influenciam diferentes correntes pedagógicas, principalmente as tendências não diretivas, no século XX.
Assim, podemos enfatizar que na verdade Rousseau é ao mesmo tempo amado e temido: sua obra e mesmo sua pessoa são fascinantes para uma época em que um novo homem se abria para novos tempos, em que um eu solitário e muito puro se abria para o futuro e sobretudo para a alma romântica que estava nascendo.
"Educação pública, educação privada, formar o homem ou o cidadão? Questões a partir do Emílio de Rousseau"
Rousseau, a partir da questão acima, propõe rever a contradição existente entre o homem e o cidadão, pois, segundo ele, não é possível a existência de um homem e um cidadão, pois nestas duas pessoas, existem contrapontos, sendo tipos opostos e excludentes.
No plano filosófico geral de Rousseau, a contradição homem/cidadão se dá através da contradição existente entre o homem e a sociedade.
Para Rousseau, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, ou seja, o homem através da história torna-se mau , com o objetivo de lesar o outro.
O homem primitivo era bom porque era natural.
A partir da questão da formação do homem ou do cidadão, como os homens poderiam voltar a ser bons?
Rousseau propõe sua solução política através do Contrato Social e a solução pedagógica é apresentada no Emílio.
A maldade existente entre os homens está presente no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Nesse discurso Rousseau divide a evolução do homem em três estágios diferentes que remetem aos seguintes:
1.º Estado – homem natural 2.º Estado – homem selvagem 3.º Estado – homem civilizado
O homem natural é um animal que se integra a natureza e a mesma é generosa para com o homem (instinto e sensação), que vive isoladamente por vontade própria, independente do semelhante, mas dependente da natureza, de onde retira tudo o que precisa e é guiado pelo instinto da conservação (preocupação consigo).
O homem selvagem, que remete às sociedades indígenas já tem um interesse particular, marcas, vícios, conflitos a partir da consciência moral, de onde nasce a virtude.
O homem civilizado tem seus interesses particulares fortalecidos e entram em conflito pois sua consciência moral é abafada existindo a oposição de interesses.
Assim, o homem tornou-se egocêntrico e individualista, tornou-se um homem natural no mau sentido.
A contradição homem/cidadão no Emílio está presente num plano de princípios. Seu livro não trata de uma proposta de educação, mas sim de uma filosofia da educação com conceitos e idéias de modo abstrato do homem em geral.
Emílio é um personagem fictício para ilustrar os princípios de Rousseau em seu ensaio pedagógico sob forma de romance.
Como já foi relatado no início da discussão, a preocupação de Rousseau centra-se no objetivo de optar entre formar o homem ou o cidadão, na impossibilidade de haver os dois ao mesmo tempo já que são antagônicos e também são dois tipos puros, conceituais existentes no plano de princípios.
Para Rousseau, o homem, dito homem natural forma-se através da educação doméstica ou privada no seio da família. É um ser inteiro, de existência absoluta, relacionando-se consigo mesmo e tudo é para si mesmo. Como exemplo, pode-se citar o homem natural de que Rousseau trata no "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens".
O cidadão é formado através do projeto educacional público assistido pelo Estado. O cidadão é uma fração, existindo na relação em um todo, tendo uma existência relativa. Rousseau exemplifica o cidadão como a mãe espartana que, diante de uma guerra é informada sobre a morte de seus filhos no decorrer da mesma, pouco importando-se com o fato, mas preocupando se sim com a vitória de sua pátria, demonstrando-se uma verdadeira cidadã.
A partir destas descrições, quem seria o "homem civilizado" do presente em relação a estes dois tipos (homem e cidadão)?
Na verdade, ele não seria nem um nem outro, pois a educação da sociedade não formaria nenhum deles, mas sim um ser misto.
Para a conciliação destes dois seres é necessário o conhecimento do homem natural (por exemplo, a criança, que é um) e assim, o cidadão somente poderá existir a partir deste homem natural, o qual será originado pela natureza e para vê-lo, a história individual será o caminho a seguir.
Referências Bibliográficas
FORTE, Luís Roberto Salinas. Rousseau: da teoria à prática. São Paulo. Ed. Ática, 1976.
STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo. Tradução: Maria Lúcia Machado. São Paulo. Cia. Das Letras,1991
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Ensaio sobre a origem das línguas. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Discurso sobre as ciências e as artes. Tradução de Lourdes Santos Machado. 3.º Ed. São Paulo. Abril Cultural (Os Pensadores), 1983.
Agradecimentos:
Gostaria de parabenizar os coordenadores do curso: Prof. Dra. Karin Volobuef (Unesp) e Prof. Dr. José Oscar de Almeida Marques (Unicamp) pelo talentoso trabalho desenvolvido no Curso de Extensão do Rousseau. De uma forma clara e abrangente, os temas tratados no curso possibilitaram a descoberta das várias facetas existentes em Rousseau, um autor tão importante que nos deixou um legado de muita sabedoria, tanto através de sua vida como de suas obras.
Está acontecendo durante está semana os jogos Paraolímpícos, que assim como as Olimpiadas, também acontece em Pequim, Na China. O país anfitrião vem se mantendo no primeiro lugar no quadro de medalhas também nas paraolimpíadas.
A palavra "anfitrião" se refere a quem recebe os seus convidados. Seja um país ou uma pessoa. A palavra tem origem do francês 'amphitryon'.
>> Definição do dicionário Aulete Digital:
ANFITRIÃO (an.fi.tri.ão)
sustantivo masculino. 1 Indivíduo que recebe convidados para banquete, festa etc., ou arca com as suas despesas
[Pl.: -ãos. Fem.: -ã, -oa.]
[Formação: Do francês 'amphitryon', do antr. gr. 'Amphitrýon'.] _____
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