quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O INCONSCIENTE E A CAPACIDADE DO SUJEITO DE LIDAR COM SUAS DIFICULDADES




O INCONSCIENTE E A CAPACIDADE DO SUJEITO DE LIDAR COM SUAS DIFICULDADES

Cícero Francisco Hernandes Granato

Reflexão sobre as questões inconscientes e a capacidade / possibilidade do sujeito de elaborar os diferentes momentos de seu processo de desenvolvimento cognitivo e afetivo.
Palavras - chave: período, fase, dimensão, psicopedagogia, articulação, ser
cognoscente, eu cognoscente, psicanálise.

INTRODUÇÃO

De que trata o sistema psíquico ? e o cognitivo ? Quais as dificuldades que o sujeito pode apresentar e que dificultam a assimilação e posterior acomodação ? Porque essas dificuldades interferem na aprendizagem ?
Desde a década de 70, quando era estudante da graduação da Licenciatura em Física pude perceber a dificuldade que a maior parte de meus alunos do atual Ensino Médio encontravam para assimilar e acomodar conceitos, fórmulas e aplicações da Física. A primeira hipótese pareceu-me óbvia: parte de meus alunos não estuda e, portanto o aprendizado não ocorre. Entendo que esta suposição pode ser considerada para alguns casos, verdadeira. No entanto, a freqüência deste fato era enorme ( valores entre 70% e 80% ) e, com o passar do tempo, insuficiente para justificar totalmente o fato. Além disso, em reuniões de pais e mestres pude perceber por intermédio de depoimentos que parte de meus alunos simplesmente não conseguia vislumbrar um significado para a Física e, por mais que se esforçassem, e conhecessem os conceitos e as fórmulas, não obtinham resultados satisfatórios na resolução das questões, fossem elas, simples exercícios em sala de aula ou em avaliações.
Com o passar do tempo, percebi que alguns aprendentes conseguiam ler, interpretar e resolver questões ligadas ao conteúdo enquanto outros permaneciam inertes, desmotivados e preocupados com a questão da nota versus a promoção ao final do ano letivo, embora apresentassem interesse no aprendizado da Física.
Essa situação causou-me muita preocupação visto que a aula era a mesma para todos os alunos. Por que, entre aqueles que têm interesse, alguns aprendem e grande parcela não consegue resolver as questões com assertividade ?
O curso de licenciatura em Física não me fornecia ferramentas adequadas com as quais pudesse contar para efetuar uma análise mais aprofundada e racional sobre o problema e propor outras hipóteses. Quanto aos colegas de profissão, também não obtive sucesso quanto a uma visão pedagógica sobre essa questão. Muitos deles, inclusive da mesma área de atuação, chegavam a afirmar que a "Física é assim mesmo".
No entanto, essa situação continuava a incomodar-me porque entendia que o aprendizado de meus alunos era de minha responsabilidade e o gosto pelo saber passava por minhas mãos ou seja, se algum aluno estava desmotivado, parte da culpa era minha como profissional.
Após alguns anos, constatei que aproximar-me pessoalmente dos aprendentes, criando um clima favorável, de amizade e de um relacionamento informal, talvez fosse uma tática positiva para facilitar o aprendizado. Obtive algum sucesso com esta nova estratégia mas, considerá-la substancial quanto a obtenção de resultados mais animadores, é incorreto. Utilizei esta estratégia embora alguma peça importante do processo de ensino e aprendizagem ainda estivesse aquém de meu conhecimento.
Nos anos 90 tive a oportunidade de obter novos conhecimentos (construtivismo) bem como a adoção por parte de algumas escolas, de tecnologias eletrônicas fundamentadas no uso do computador. Esses conhecimentos foram muito desafiadores e motivadores porque, pareceu-me que havia encontrado o "fio da meada". Assim sendo, alterei o formato de minha aula, passando a utilizar "o cotidiano do aluno" isto é, parcela dos exercícios e questões estavam calcadas em jogos de futebol e de basquete entre outros. Os aprendentes poderiam construir conceitos e idéias próprias, facilitando o aprendizado. Haveria portanto, uma assimilação e uma acomodação ideal. Finalmente, surgiu uma linguagem comum entre a Física e os alunos e pensei que assim o aprendizado, com certeza, ocorreria. Além disso, com a implementação do microcomputador haveria a possibilidade real do aluno visualizar uma determinada situação e conseqüentemente entender o processo. Pensando desta forma e implementando algumas atividades, foi possível constatar o sucesso de uma pequena parcela dos alunos. Percebi no entanto, que nem todos têm cotidiano semelhante e habilidade desenvolvida o suficiente para operar um microcomputador. Portanto, a peça importante que faltava, continuava a existir.
Em função do exposto, entendo que um relacionamento interpessoal adequado entre professor e aluno, a adoção de novas tecnologias de cunho pedagógico e de cunho eletrônico podem facilitar o processo de aprendizagem. Porém essas medidas, não são suficientemente positivas para alcançar resultados efetivos.
Se a aula é a mesma para todos os alunos, os recursos utilizados, os mesmos e, alguns aprendem e outros não, o problema deve se concentrar no aprendente. Se há o interesse e a aplicação adequada, não deveria existir problemas quanto a aprendizagem. A questão resume-se no fato de que aprender é um processo interno e individual do sujeito e metodologias que atuem do externo para o interno podem ser inicialmente animadoras mas, de eficácia incerta.
Constato também que a formação de idéias ao nível abstrato e uma concepção alienada de si e do mundo, mais o menosprezo e conseqüente empobrecimento do conhecimento epistemológico, são habilidades cuja perícia é comum, seja na postura seja na visão de grande parcela dos alunos do ensino médio
Desta forma, se o aluno não consegue aprender, embora haja um movimento nesse sentido, devem existir razões mais profundas, o que me remete a questões de cunho inconsciente visto que o diálogo caseiro, por exemplo, tornou-se raro e apenas as situações do dia-a-dia imediatas permeiam possíveis diálogos que, eventualmente acontecem. Em decorrência desse fato, o aluno do ensino médio cria matrizes que formam seu paradigma, fundamentado principalmente no que vê e ouve na televisão, cujo objetivo é de essência comercial, não estando preparada nem preocupada com a formação de um sujeito epistêmico; e na vivência com seus próprios colegas de classe que, normalmente e na maioria da vezes, não têm respostas adequadas a questões humanas mais profundas.
Nestas condições, entendo que os sistemas Cognitivo e Psíquico, por intermédio das dimensões psicossocial, biofisiológica e epistêmica funcionem de forma inadequadamente articuladas produzindo um ser cujas idéias ocorrem de maneira fragmentada.



DESENVOLVIMENTO

Todo conhecimento é sempre a assimilação de uma informação exterior às estruturas do sujeito e os fatores normativos desse conhecimento correspondem biologicamente a uma necessidade de equilíbrio por auto - regulação isto é, um novo dado gera um desequilíbrio no sujeito que por assimilação tentará acomodá-lo formando um novo esquema. Desta forma, para que haja adaptação ao meio ou a uma nova situação, é utilizado o sistema cognitivo, por intermédio dos esquemas. O conjunto de esquemas forma a estrutura cognitiva. Toda vez que surge um novo esquema, todos os outros são reformulados. Para a formação de um novo esquema, é necessário a assimilação ou seja a transformação do objeto de conhecimento e a acomodação - o aproveitamento ou a apropriação do conhecimento.
Segundo Taís Lima em seu livro A aplicação do conto de fadas Branca de Neve no espaço psicopedagógico, comparando-se essa situação, assimilação e acomodação, ao processo digestivo do organismo humano, poderíamos sugerir o seguinte exemplo:
Quando ingerimos algum alimento, este, com a ajuda dos movimentos dos órgãos responsáveis por esse processo e dos sucos digestivos, transformando-se. Isto é a assimilação. Após essa transformação, a corrente sangüínea que passa pelo intestino absorve os produtos da digestão e os incorpora ao sangue para serem aproveitados pelo organismo, ou seja, ocorre a acomodação.
Para que este processo ocorra com êxito, há necessidade que o organismo esteja funcionando de forma adequada assim como, para que haja a assimilação e a acomodação é necessário que a estrutura psíquica do indivíduo esteja com as três dimensões em equilíbrio.
Neste sentido, todo esse procedimento me remete a Piaget visto que, o Sistema Cognitivo e as construções mentais estão repletas de elementos sociais e afetivos, que formam uma totalidade organizada, articulada e que funciona por si mesma. Didaticamente poderíamos dizer que os esquemas cognitivos dizem respeito à inteligência, enquanto os afetivos levam à construção do caráter.
O esquema cognitivo pode ser funcional / reprodutivo e recognitivo / reconhecedor. No primeiro, um determinado esquema é reproduzido quando reconhece um determinado objeto e no segundo, quando amplia o campo de ação do esquema inicial. Desta forma, o processo de assimilação e acomodação ocorre, apresentando diferentes reações pessoais.
A afetividade representa a fonte energética que mobiliza a inteligência, sem contudo alterá-la.
Assim sendo, os esquemas são construções mais simples ( sensório - motoras, perceptivas, simbólicas ) enquanto que as estruturas são construções mais complexas ( lógicas, operatórias, de classes, de séries, entre outras ). Ambas constituem sistemas, significados que o indivíduo pode utilizar, sem que passem necessariamente pela consciência.
Piaget em seu livro A construção do real na criança sugeriu que alguns fatores são dinamizadores da vida cognitiva e afetiva e variam em graus de importância no decorrer da evolução mental do sujeito. Desta forma, as idades cronológicas e os estágios de desenvolvimento variam muito.

 


PERÍODOS OU ESTÁGIOS
INTELIGÊNCIA
INTERCÂMBIO SOCIAL
AFETO
Sensório-motor:

Ações ocorrem antes do pensamento

Inteligência prática a partir dos 8 meses:

Ações 

Indissociação entre o eu e o outro:

Ausência de linguagem

Afetos, intra - individuais:


Prazer

Simbólico:


Pensamento egocêntrico

Inteligência simbólica


Imagens 

Início da dissociação entre o eu e o outro:

Linguagem egocêntrica

Início de afetos interindividuais:
Sentimentos morais heterônomos.

Operacional concreto:

Início do pensamento verbalizado e socializado.

Inteligência concreta:


Operações concretas

Dissociação entre o eu e o outro:
Linguagem semi - socializada

Afetos interindividuais:

Sentimentos morais autônomos

Operacional formal:


Pensamento verbalizado 

Inteligência formal:


Operações formais 

Intercâmbio entre o eu e o outro:

Linguagem socializada

Afetos interindividuais:
Sentimentos e ideais coletivos.




1º Estágio - Sensório - motor: esquemas sensório - motores
( de 0 a 2 anos )

Ao nascer o desenvolvimento predominante da criança é o das percepções e movimentos; sua inteligência é sobretudo sensório - motora e evolui na medida em que aprende a coordenar seus movimentos e sensações.
A bebê aprende a conhecer o mundo, levando as coisas à boca estabelecendo em contato com o meio externo direto e imediato, sem contudo representar o pensamento.
O bebê pega o que está em sua mão, mama o que colocado em sua boca, vê o que está diante de si, agindo por reflexos; mais tarde aprimora seus esquemas é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo à boca.
Esse período é tido na Psicanálise como a fase oral, na qual a zona geradora de prazer localiza-se na boca.
Na relação interpessoal a criança não se percebe separada do mundo. É como se a totalidade fizesse parte dela. Nesta fase, o bebê apresenta alguns estágios distintos:

 
1º e 2º estágios

Indissociação entre sujeito e objeto

Não há procura do objeto desaparecido.
Aparecem ações revelando desagrado.

Não há procura do objeto desaparecido.
Ações acidentais podem levar o sujeito até o objeto.

3º e 4º estágios

Início da dissociação entre o sujeito e o objeto

Procura aparente do objeto desaparecido.
Repetição de ações executadas quando o objeto é perdido.

Início da procura intencional do objeto desaparecido. Combinação de ações e de seqüências para atingi-lo.
5º e 6º estágios

Dissociação entre o sujeito e o objeto.

Procura intencional do objeto desaparecido.
Combinação de ações e de seqüência de ações para atingi-lo.

Procura intencional do objeto desaparecido.
Combinação de ações ou seqüências de ações imaginadas para atingi-lo.


2º estágio: Pré - operacional concreto: esquemas simbólicos
(de 02 a 07 anos )

É o momento, da descoberta do símbolo. A realidade já pode ser representada. A criança consegue agir por simulação.
Torna-se capaz de representar mentalmente pessoas e situações; não discrimina detalhes pois sua percepção é global. Leva-se pela aparência, sem relacionar aspectos. É centrada em si mesma, pois não consegue colocar-se, abstratamente no lugar do outro.
Não relaciona situações e não tem noção de conservação da quantidade de matéria por se perceber separada das demais pessoas, desenvolve o egocentrismo. Tem-se como o ponto do referência, achando que o mundo gira em torno dela. Não reparte brinquedos, quer ter seu desejo satisfeito no momento em que se manifesta e apresenta uma certa incapacidade de discutir e ouvir o outro.
Vivendo num mundo de anomia , sendo é capaz de heteronomia somente após os três ou quatro anos, quando torna-se mais sociável e capaz de introjetar as normas.
O egocentrismo desse período deve ser compreendido também no aspecto intelectual já que a criança não consegue transpor abstratamente, a experiência vivida.
Ao colocamos diante da criança e pedirmos que imite nosso gesto, quando levantarmos a mão direita, ela levanta a esquerda, como num espelho por conta da incapacidade de se colocar sob o ponto de vista do outro (referência).


3º estágio - operacional concreto: estruturas concretas
( de 07 a 11 anos )

Nesta fase, diferentes aspectos e abstrair podem ser relacionados a criança tais como abstrair dados de realidade. Embora não se limite a uma representação imediata, ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração. É capaz de refazer um trajeto mental, voltando ao ponto inicial de uma situação.
Quando despejamos água de dois copos em outros, de formatos diferenciados, para que a criança diga se as quantidades continuam iguais, a resposta é positiva, diferenciando os aspectos,é refazer a ação.
Neste estágio, a lógica intuitiva passa a ser operatória. Embora ainda concreta essa operacionalização, transforma o pensamento, tornando-o mais coerente e permite construções lógicas mais complexas.
Os progressos na sociabilidade aparecem na procura de jogos, cujas regras deve ser rigorosamente obedecidas e o egocentrismo se reduz.


4º estágio - Lógico - formal: estruturas formais.
( de 12 nos em diante )

A representação já permite abstração total. A criança é capaz de pensar em todas as relações possíveis logicamente e não se limita mais à representação imediata nem somente às relações previamente existentes.
Se pedimos para analisar um provérbio como "nem que chova canivetes" , a criança com o símbolo da frase e não com a imagem real de chover canivetes.

· Experiência física e lógico - matemática
A experiência física vem do produto de ações como tocar e jogar entre outras, do sujeito para o objeto. A lógico - matemática vem da coordenação de ações que o indivíduo exerce sobre os objetos e da tomada de consciência desta coordenação. Isto leva a aquisição da estrutura de séries, classes e números, entre outros.



· Transmissão ou experiência social
A troca ou cooperação entre as pessoas, desempenha um importante papel na construção das estruturas mentais na fase operacional concreta, principalmente no início da fase formal.
· Equilibração
A pessoa está sempre motivada em direção ao equilíbrio. Alcançado o equilíbrio no plano motor, inicia-se a busca de equilíbrio no plano representativo. A base de todo esse processo de equilibração tem sido buscada na assimilação e acomodação.

· Motivação
A vida mental resulta de um processo construtivo que tem como ponto de partida a motivação, baseado no funcionalismo que propõe que a atividade mental vem de uma necessidade que perturba o organismo, levando-o à busca de equilíbrio, da necessidade de acabar ou de aplicar a construção de um esquema ou estrutura.
Os objetos e os afetos tornam-se assimiláveis quando representam alimentos para o esquema, quando relacionam-se à necessidade.
Durante o processo em que ocorrem a desequilibração e reequilibração, as ações e as idéias tornam-se interessantes ou são valorizadas enquanto atendem a uma necessidade do indivíduo.


· Interesses e valores
A necessidade desencadeia a conduta em direção ao objeto, desde haja interesse. Toda conduta é ditada por um interesse ou por um objeto valorizado. O organismo agirá em função de um interesse maior. A intensidade do interesse é o aspecto regulador das forças. O conteúdo corresponde à identificação dos objetos capazes de satisfazer a necessidade.




· Valores e sentimentos
O interesse torna o objeto valorizado e dinamiza as energias do sujeito para agir em direção a este objeto. O valor é a ponte afetiva entre o sujeito e o objeto, é o conjunto de sentimentos projetados sobre o objeto ou sobre a pessoa.
O valor interindividual implica em sistema de trocas pessoais que resultam em sentimentos espontâneos como simpatia, antipatia, gratidão e sentimentos normativos que supõem uma troca com cooperação ou reciprocidade.
O valor intra - individual é o produto da atividade assimilativa do sujeito. O sucesso ou fracasso das ações sobre o ambiente é responsável pelo sentimento de superioridade ou inferioridade.
A passagem do período concreto para o período formal é crítica em função de não existir uma idade cronológica precisa para que isso ocorra. No entanto, não é raro exigir de uma criança de 11 anos um amplo desenvolvimento previsto para o formal. Nessa fase, coincidentemente tem início, a 5ª série do ensino fundamental, que além de grandes transformações curriculares, apresenta a característica de um professor para cada disciplina, com formas peculiares de ação, tomada de decisão e apresentação do conteúdo. Além disso, as mudanças internas, corporais e psicológicas são em muitos casos agravadas por problemas familiares e sociais. Como conseqüência há uma mudança substancial no sistema psicopedagógico. A 5ª série também solicita do indivíduo maior maturidade, com a utilização do pensamento abstrato enriquecido, lógico, hipotético e generalizado, em detrimento da memorização e repetição, o que nem sempre ocorre. Assim o adolescente, em busca de um equilíbrio mental mais duradouro apoia-se em dois pilares: o mundo interno ( mente - corpo ) e o mundo externo ( meio ambiente ). Se um dos dois falhar, ele se mantém apoiado no outro. Se os dois falharem, perde o equilíbrio. Como o primeiro é caracterizado por transformações constantes, não lhe serve de apoio. Há necessidade portanto, que o mundo externo ( vida escolar - familiar ) não falhe para que tenha condições mínimas de organizar-se internamente.
No contexto familiar a organização é de fundamental importância, uma vez que há necessidade de dividir o tempo de tal forma que as disciplinas introduzidas sejam conhecidas e assimiladas diariamente, bem como as tarefas escolares sejam realizadas dentro de prazos estipulados e com assertividade.
Quanto à escola cabe a integração do aluno as suas novas responsabilidades, bem como levantar o que ele sabe e o que não sabe a fim de propor atividades em classe ou extra - classe.
Nestas condições, uma das principais tarefas do adolescente ( dos 12 aos 16 anos ) é construir operações formais próprias da inteligência formal.O pensamento começa a manipular idéias por intermédio de palavras, símbolos matemáticos e outras formas de linguagem.
Através das operações formais, o sujeito começa a pensar sobre proposições ou declarações feitas a respeito de um conteúdo, raciocina com base nas formas, isto é, símbolos matemáticos ou esquemas verbais.
Este tipo de raciocínio pode ligar proposições que são admitidas para que conseqüências possíveis de atos possam ser verificadas, sem que os mesmos ocorram na realidade.
Diante de um problema, o adolescente tenta, em primeiro lugar, imaginar as possíveis relações entre as variáveis e depois combiná-las segundo um padrão sistemático, ou por meio da experimentação ou do puro raciocínio, para concluir qual ou quais dessas relações permanecem verdadeiras.
Este tipo de raciocínio é chamado hipotético - dedutivo.
Outro aspecto importante do pensamento formal é o pensamento proporcional, onde organiza os dados de realidade em proposições que podem ser combinadas de inúmeras formas.
As operações formais adequadamente articuladas permitem a construção de noções úteis para o desenvolvimento de conceitos, idéias e aplicações práticas nas disciplinas Matemática, Química e Física, particularmente.
A noção de proporção capacita a fazer cálculos matemáticos.
A socialização, a formação da afetividade, que consiste na conquista da personalidade e de sua participação na sociedade adulta, ocorre paralela a esta fase e depende de suas conquistas anteriores.
As influências sociais interferem no relacionamento entre o indivíduo e o meio ambiente desde o período sensório - motor, quando o bebê é cercado de estímulos sociais tais como: carinho, atenção, regras e outros; passando pelo estágio pré - operatório quando o desenvolvimento da linguagem altera o cenário social da criança, permitindo-lhe representar a realidade, embora ainda estejam presentes atitudes egocêntricas.
No estágio operatório encontramos essa criança já desenvolvida em atividades de grupo, com atitudes de cooperação que para Piaget é o ponto de partida para comportamentos que impliquem em obediência a normas e regras comuns, como por exemplo, o pensamento lógico.
Esse paralelismo entre o aspecto social e o lógico torna-se mais acentuado no período operatório - formal.
O domínio das operações formais liberta o pensamento de objetos materiais e enriquecem o indivíduo com uma nova forma de poder. Se ele for exacerbado, o sujeito acreditará que tudo aquilo que faz e sente tem uma importância universal. Neste sentido, a reflexão poderá levar o adolescente a construir sistemas teóricos e projetos de reformas dando a ele instrumentos para uma futura integração ao mundo adulto. O eu torna-se forte o suficiente para reconstruir o universo e incorporá-lo.
O decréscimo do egocentrismo, no período da inteligência formal acontece quando há a assimilação do universo físico e social de forma equilibrada para futura acomodação. O sujeito torna-se então um ser com uma visão realística do seu poder para lidar com idéias e valores.
A socialização por intermédio de companheiros, as alterações nas relações familiares, o progressivo aumento das responsabilidades escolares e outras considerações de ordem pessoal, social e cultural são aspectos que facilitam a determinação do comportamento do adolescente.
Tanto família quanto escola não podem esquecer os conceitos de ética, moral e cidadania, elementos indispensáveis na integração do adolescente no mundo adulto de forma articulada.


Paralelamente, a análise da dinâmica psíquica do sujeito, levou Freud a observar por intermédio da terapia e propor uma teoria própria sobre a personalidade e a motivação. Percebeu que a personalidade e a motivação são determinadas por impulsos instintivos e afetos e, o desenvolvimento da personalidade tem estreita ligação com o psicossocial. Por meio de um modelo de fases dá-se o desenvolvimento da sexualidade. As fases oral, anal, edipiana, período de latência e fálica são, segundo esse autor os estágios pelos quais vivencia o indivíduo até a chegada a vida adulta.

Na fase oral (dos 0 aos 02 anos aproximadamente ), dá-se o primeiro contato do indivíduo com o exterior que é implementado pela boca, língua e lábios em função da grande sensibilidade nestas regiões, tornando-se portanto o centro do prazer para o bebê. Há também uma ligação afetiva primitiva nesta região e tudo o que é agradável e estiver disponível é levado à boca.
Na fase anal ( dos 02 aos 04 anos aproximadamente ), o amadurecimento do indivíduo provoca maior sensibilidade na região inferior do tronco e é caracterizado pelos movimentos de expulsão / retenção da toalete própria e, além disso, já consegue desempenhar com assertividade o lugar e horário próprios. Dessa forma o centro do prazer é transferido da zona erógena oral para a anal. Esta fase está intimamente ligada a atitudes de atividade (expulsão ) e passividade ( retenção ).
Na fase fálica ( dos 04 aos 07 anos aproximadamente ), há mudança no centro do prazer da região anal para a genital em função de só agora estar completamente desenvolvida e, portanto, mais sensível. Nesta fase a criança começa a ter sensações de prazer na estimulação da área genital. É durante esse período que crianças de ambos os sexos começam a se masturbar. O Complexo de Édipo e a Angústia da Castração são vivenciados nessa época. No primeiro, Freud sugere que o menino torna-se intuitivamente desperto para sua mãe, como objeto de apropriação sexual e vê seu pai como rival sexual. Uma vez que seu pai dorme com a mãe, abraça-a, beija-a e na maioria da vezes, tem acesso a seu corpo de forma que o menino não tem. Assim sendo, a figura paterna torna-se poderosa e perigosa pois tem o poder de castrá-lo isto é, o menino tem medo que o pai descubra seu interesse sexual pela mãe. Nestas condições, o menino abre mão da mãe, para evitar maiores problemas, sublima, transferindo seu objeto de desejo para outros socialmente aceitos identificando-se com o pai e essa identificação é traduzida por comportamentos semelhantes aos do pai, tais como maneirismos, idéias, atitudes, ética e moral entre outras, entrando no período de latência.
Na fase de latência ( dos 07 aos 11 anos aproximadamente ), configura-se a dessexualização do indivíduo em relação ao objeto de desejo. É o que se pode chamar de uma fase de calmaria depois da tremenda tempestade ocorrida no Complexo de Édipo e na Angústia da Castração. É nesta fase que a criança inicia, na maioria das vezes, um novo período escolar, o que absorve sobremaneira suas energias. Esse período corresponde ao desenvolvimento das operações concretas, as capacidades cognitivas e ao amadurecimento das relações interpessoais e sociais, segundo Piaget. Nesta fase nota-se também, em grande parcela dos indivíduos, o início de mudanças nos órgãos genitais.
Na fase genital (dos 12 anos em diante, aproximadamente ), as mudanças nos órgãos genitais se completam e, conseqüentemente despertam novamente a energia sexual do indivíduo. Observa-se aqui que os objetos sexuais são pessoas do sexo oposto, professores, ídolos em geral e, posteriormente, colegas. Neste período, nota-se de maneira enfática problemas oriundos das fases anteriores, tais como identificações confusas com indivíduos do mesmo sexo ( fase edípica não bem articulada ) e falta de habilidade na resolução de conflitos próprios ( fase oral sucedida de forma inadequada ) entre outros. O interesse sexual é despertado nessas sucessivas fases pela adesão afetiva aos substitutos do objeto sexual do indivíduo, na medida que se registram as frustrações de cada fase ( oral e anal ) impostas pelo educador e o mundo exterior. Assim sendo, no atual período, o pensamento caracteriza-se com freqüência pelo bom senso, prudência e objetividade de uma observação. É o pensamento racional. O objetivo de toda educação é a profilaxia dos distúrbios do comportamento, utilizando sua libido de tal forma que se sinta feliz e, que esse bem estar se harmonize de forma adequada com as outras instâncias. Concluindo, é a energia libidinal que anima todas as atitudes do indivíduo.
Dado o exposto, tentaremos articular alguns aspectos dos períodos classificados por Piaget, o modelos de fases apresentados por Freud e sua visualização em alguns problemas de aprendizagem e a articulação das estruturas cognitiva e desiderativa sugerido pela psicopedagogia.



CONCLUSÃO


Partindo da premissa que a principal característica do Universo é o movimento - pulsão de vida ou a ausência dele - pulsão de morte poderemos encontrar no desenvolvimento psicomotor uma das possíveis causas de grande parte dos problemas de aprendizagem e conseqüentemente, quem tem esse tipo de problema possivelmente não constrói seu próprio conhecimento, não sendo portanto, o autor de suas idéias, conceitos e valores.
A fase oral e o período sensório - motor são caracterizados pelos primeiros contatos do indivíduo com o mundo exterior e a conseqüente exploração desse mundo é implementada por meio do movimento. Toda vez que há movimento, há de se percorrer certo espaço físico. É nesta fase que devem ser desenvolvidas as noções de espaço, lateralidade, motricidade gráfica, coordenação de movimentos e controle visual, entre outros.
O estágio pré - operatório e a fase anal são também caracterizados pelo movimento no entanto, quando esse movimento é ensejado por materiais de massas iguais mas com formatos diferentes, a mesma quantidade de matéria é negada. Portanto, "a sintonia fina" das questões relacionadas ao movimento ainda não estão desenvolvidas de forma mais precisa. Esta fase, de retenção / expulsão, se não for bem articulada, promove situações semelhantes quando houver a necessidade de se expor: idéias, conceitos, fórmulas e aplicações e comportamentos variados. É traduzida na prática, na falta de autoria nos pensamentos e autoridade nos atos.
No estágio operacional concreto que coincide com a fase de latência, o indivíduo relaciona aspectos diversos e abstrai dados. Neste período, uma nova fase escolar, normalmente, se inicia ( 1ª série do ensino fundamental ) absorvendo a maior parte das energias do indivíduo nas operações concretas, amadurecimento das relações interpessoais e emocionais e progressos na sociabilidade por meio de jogos, cujas regras devem ser rigorosamente obedecidas. Desarticulações nesta fase acarretam problemas de aprendizagem oriundos das fases oral e anal.
O estágio lógico formal e a fase genital têm como características as relações lógicas e as experiências física e social.
Segundo Dolto, é despertada na fase genital a energia sexual do indivíduo, a habilidade da resolução de conflitos, o bom senso, a prudência e a objetividade. Questões comprometedoras nesta fase são oriundos de articulações inadequadas em todas as fases anteriores.
Esses períodos ou estágios também se relacionam com as dimensões sugeridas pela Psicopedagogia como constitutivas do processo de determinação do ser cognoscente. Desta forma, as dimensões relacional, desiderativa e racional se entremeiam aos períodos e fases já citados.
Desta forma, a dimensão desiderativa que é caracterizada pelo processo de construção do conhecimento, corresponde a meu ver a todos os aspectos classificados por Piaget e a todas as fases do modelo proposto por Freud. Em todos os períodos e fases o sujeito constrói ou deve construir seu próprio conhecimento.
Nestas condições, a Psicopedagogia aliada as informações e conclusões observadas por Piaget e Freud tem por objeto o ser cognoscente e por objetivo a construção da individuação e a autonomia do eu cognoscente, identificando e clarificando obstáculos na articulação adequada dos períodos, fases e dimensões que impedem a autoria do pensamento.

BEE, Helen - A criança em desenvolvimento, Ed.Harper e Row do Brasil Ltda. , São Paulo, SP, 1977. DOLTO, Françoise - Psicanálise e Pediatria, Zahar editores, Rio de Janeiro, RJ, 2ª edição, 1977. LIMA, Taís - A aplicação do Conto de Fadas Branca de Neve no espaço Psicopegógico , Vetor Editora, São Paulo, SP, 1ª edição, 2000. ALMEIDA E SILVA, Maria Cecília - Psicopedagogia: em busca de uma funda- mentação teórica , Editora Nova Fronteira S.A., Rio de Janeiro, RJ, 1998. PIAGET, Jean - A construção do real na criança, 3ª ed. - São Paulo, Ática, 1996.
Publicado em 01/01/2000

Cícero Francisco Hernandes Granato - Mestrando em Psicopedagogia pela UNIFIEO Prof. de Física da rede particular de ensino

Fonre: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=279

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domingo, 10 de janeiro de 2010

Pensamento pedagógico socialista

KARL HEINRICH MARX (1818-1883)

Pensamento pedagógico socialista
Formado no seio do movimento popular pela democratização do ensino. A esse movimento se associaram alguns intelectuais comprometidos com essa causa popular e com a transformação social.
Opõe-se à concepção burguesa da educação, propondo uma educação igual para todos.

Karl Marx:
– Foi filósofo e economista alemão, ideólogo do comunismo científico e organizador do movimento proletário internacional.
– Nasceu em Treves em 5 de maio de 1818. Filho de um advogado judeu convertido ao protestantismo.
– Cursou as Universidades de Bonn e Berlim, onde estudou Direito, dedicando-se especialmente à história e à filosofia.
– Em Berlim ingressou no grupo chamado “hegelianos de esquerda”, que interpretava as idéias de Hegel do ponto de vista revolucionário.
– Não se limitando aos estudos teóricos, desenvolveu, durante toda a sua vida, intensa atividade política, elaborando a doutrina do socialismo.
– Enuncia, ao lado do Engels (1820-1895), os princípios de uma educação pública e socialista;
– Realiza com Engels uma análise sistemática da escola e da educação. à Suas idéias a esse respeito encontram-se disseminadas ao longo de vários de seus trabalhos (a problemática educativa foi colocada de modo ocasional, fragmentário, mas sempre no contexto da crítica das relações sociais e das linhas mestras de sua modificação);

Algumas idéias de Marx:
+ Defende, na obra Manifesto do partido comunista (escrito entre 1847 e 1848), a educação pública e gratuita para todas as crianças, baseadas nos princípios:
* da eliminação do trabalho delas na fábrica;
* da associação entre educação e produção material;
* da educação politécnica que leva à formação do homem omnilateral, abrangendo três aspectos: mental, físico e técnico, adequados à idade das crianças, jovens e adultos;

* da inseparabilidade da educação e da política, portanto, da totalidade do social e da articulação entre o tempo livre e o tempo de trabalho, isto é, o trabalho, o estudo e o lazer.

+ Defende o trabalho infantil, mas insiste em que este trabalho (útil, de valor social) deva ser regulamentado cuidadosamente, de maneira em que nada se pareça com a exploração infantil capitalista.

Contribuições do Marxismo para a educação:
+ Esclarecimento e compreensão da totalidade social, de que a educação é parte, incluindo as relações de determinação e influência que ela recebe da estrutura econômica.
+ Para ele, a educação do futuro deveria nascer do sistema fabril, associando-se o trabalho produtivo com a escolaridade e a ginástica. Essa educação se constituiria no método para produzir seres humanos integralmente desenvolvidos.
+ A transformação educativa deveria ocorrer paralelamente à revolução social. Para o desenvolvimento total do homem e a mudança das relações sociais, a educação deveria acompanhar e acelerar esse movimento, mas não se encarregar exclusivamente de desencadeá-lo, nem de fazê-lo triunfar.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2001.

Fonte: http://sociedadeducacao.blogspot.com/2007/09/karl-heinrich-marx-1818-1883.html

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

2010: previsões para um Ano Novo muito tecnológico.


Por Renan Roesler HamannQuarta-Feira, 30 de Dezembro de 2009
Confira as previsões que o portal Baixaki fez para o mundo da tecnologia no ano de 2010.O ano de 2010 promete ser o ano da socialização web. Estações fixas de processamento estão sendo cada vez consideradas mais obsoletas e descartáveis, ao passo que tudo direciona o usuário a pensar no trabalho por computação em nuvens. Televisão 3D, Realidade Aumentada, Tech-ecologia com televisões LED e Processamento "verde" são só algumas das promessas de um mundo tecnológico cada vez mais interativo e ambientalmente responsável.

E após as apostas para as tecnologias que irão bombar no ano de 2010, o portal Baixaki reuniu informações dos principais institutos de tecnologia do mundo para levar aos usuários quais são as expectativas para o ano que acaba de chegar. Então sente-se, aperte os cintos e se prepare para embarcar em uma viagem rumo ao futuro da tecnologia mundial. 
 Computação nas Nuvens
Logicamente não se trata de um armazenamento de máquinas em nuvens. O nome é reflexo do conceito que a cada dia torna-se mais presente na vida dos usuários. A computação nas nuvens nada mais é do que o uso de aplicativos e armazenamento de arquivos em estações online, assim tornando possível a portabilidade de documentos e a segurança no transporte de informações.
Cloud Computing
Um ótimo exemplo da presença da "Cloud Computing" na vida dos internautas é o uso de um serviço da Google chamado "Docs". Com esse serviço, é possível criar e editar documentos de texto, planilhas, bancos de dados e apresentações de slides, funções desempenhadas por pacotes de aplicativos para escritório, como o Microsoft Office.

Social Computing

O Google Docs permite também a utilização de outro conceito, o "Social Computing (Computação Social)", pois há a possibilidade da abertura dos documentos para que outros usuários também possam alterá-los, mostrando as modificações em tempo real para todos os usuários que tiverem acesso àquele material.

As vantagens mais evidentes da Computação nas Nuvens são relacionadas às facilidades proporcionadas pelo modelo de processamento online: os computadores teriam menos espaço em disco ocupado por aplicações; o transporte de documentos tornar-se-ia mais simples e dinâmico; serviços online costumam ser monetariamente mais acessíveis do que aplicativos instaláveis.
Nuvens de informações
Suas definições, onde você estiver
Além do que já foi citado, há uma série de recursos que a Cloud Computing disponibiliza para os usuários, pode-se citar como exemplo a sincronização de bookmarks que o Google Chrome permite. Com esse serviço, cada usuário pode ter acesso aos próprios favoritos, não importando em que máquina esteja, basta ter instalado o Google Chrome e um login nos serviços Google.

Nuvens particulares

Empresas de médio e grande porte e que precisam manter grandes fluxos de informações de maneira segura, começam a optar por nuvens privadas de informação. Geralmente baseadas em grandes Data Centers, as nuvens são compostas por servidores potentes e com acesso restrito por senhas, IPs e outras medidas de segurança. Essas nuvens particulares também costumam abrigar aplicativos internos e outros softwares essenciais para o bom desempenho dos funcionários.
Smartphones são apenas telefones celulares?
O ano de 2009 foi muito bom para o mercado de smartphones, vários modelos de aparelhos foram lançados, inclusive o iPhone 3GS da Apple, que teve uma explosão de vendas e conquistou o coração de milhões de usuários ao redor do mundo. E se 2009 foi bom, estima-se que 2010 será melhor ainda.
Smartphones
Essas boas expectativas são oriundas da expansão do mercado e do barateamento dos produtos. Com as vendas crescentes e o maior número de aparelhos disponíveis, é bem provável que a concorrência faça com que os preços caiam e mais pessoas tenham acesso aos telefones celulares com funções inteligentes e muito mais interativas do que a dos telefones normais.

Mas não são apenas os aparelhos que começam a ganhar concorrência, os sistemas operacionais para Smartphones também não são mais monopolizados. Há disponíveis vários softwares base para os celulares, sendo que cada fabricante possui suas parcerias particulares, como os Samsung, que geralmente são vendidos com Windows Mobile; os Nokia com o Symbian; os Palm, que são vendidos com o WebOS e os Blackberry, que possuem o próprio sistema Blackberry OS.

O futuro é Open Source

Dentro da lista de sistemas operacionais para smartphones, há poucos que são gratuitos, mas existe um que já começa a se destacar dentre os concorrentes. Trata-se do Android OS, projeto Open Source patrocidado (é claro) pela Google e já está sendo instalado em vários aparelhos da HTC e Motorola.
Você se pergunta qual a grande vantagem do Android? Em primeiro lugar, o sistema possui integração dinâmica com todos os serviços da Google, sendo, portanto, compatível com os principais serviços online existentes; além disso, o Android possui código aberto e pode ser alterado por qualquer programador, por fim, o sistema operacional é grátis e deve baixar os preços dos smartphones.
Android
Aplicações móveis: o fim da estática

Juntamente aos smartphones e sistemas operacionais para os telefones, também são lançados com frequência, aplicativos que contribuem para a expansão do consumo dos produtos referidos. São vários softwares interativos e funcionais que se adaptam às condições e necessidades momentâneas de cada usuário.

As aplicações que mais se destacam no gênero são referentes a transações bancárias e operações de crédito, navegação para internet, serviços de localização GPS com indicações de locais para alimentação, hospedagem e diversão, monitoramento de saúde, propaganda e música.
Google Phone: mais um passo em direção ao domínio

Para quem se interessou pelo sistema operacional Android, e principalmente para quem se interessa por tudo o que envolve a Google, há uma informação quentíssima. Provavelmente no dia 5 de Janeiro será anunciado oficialmente o lançamento do primeiro smartphone da Google, o Google Phone, ou Nexus One, como vem sendo chamado.
Sistema operacional em ação
                                                 Imagens: Engadget (Reprodução
Ao que tudo indica, o smartphone será fabricado pela HTC e terá configurações básicas, com tela Wide VGA de 3,7 polegadas, interface 3D com Android 2.1 e câmera digital de 5 megapixels.  O aparelho terá também integração total com todos os serviços Google Móbile.

Com esse aparelho, a Google estará declarando abertamente guerra conta a Apple, empresa responsável pela fabricação do iPhone. As duas empresas já disputam fãs em outros segmentos, como navegadores, sistemas operacionais e aplicativos web, mas essa seria a primeira vez que a disputa se daria efetivamente no mercado.
Realidade Aumentada, até quando será apenas diversão?
O usuário pode ver no ano de 2009, aqui mesmo no portal Baixaki, alguns artigos explicando as funções e o funcionamento dessa nova mania que tomou conta da internet e deixou milhões de pessoas intrigadas com o futuro da computação e holografia. A Realidade Aumentada ganhou vários fãs após as ações promocionais que visavam promover filmes como Star Trek e Transformers, ou produtos, como alguns salgadinhos e redes de fast-food.
Transformers em Realidade Aumentada
Para 2010, começam a ser estudadas novas maneiras de transformar a realidade aumentada em algo útil e não apenas divertido. Se os anseios de criação de hologramas táteis forem alcançados, a tecnologia poderá ser usada para diversos fins de elevação profissional, por exemplo, médicos e engenheiros poderiam estudar em corpos e terrenos holográficos, em detrimento do uso de cadáveres e tijolos.
Televisão 3D, o que esperar?
Após o lançamento dos diversos cinemas 3D pelo Brasil, começam a ser vendidas no Estados Unidos da América, no segundo semestre, as primeira televisões com tecnologia de projeção 3D. Projeção? Exatamente, não contente com a criação de imagens 3D que demandam óculos especiais para a visualização das camadas de profundidade de imagem, a indústria tecnológica começa a criar aparelhos que projetam as imagens para fora da tela.
Sala de cinema IMAX
No Brasil, espera-se que em 2010 comecem a ser vendidas as televisões com suporte à tecnologia 3D tradicional, ou seja, que necessita o uso de óculos especiais. Os novos aparelhos prometem dar mais vida às reproduções de filmes, jogos, seriados e afins, visto que a tecnologia é uma forma bastante eficaz de aproximação entre espectador e obra.

A Expansão das TVs e monitores com tecnologia LED

Televisores  LEDOs monitores e televisores com tecnologia LED ganharam destaque imenso no ano de 2009, devido às grandes vantagens ecológicas que proporciona (o consumo de energia pode chegar a 40% e a produção dos aparelhos envolve materiais menos agressivos à natureza), em um ano em que análises de ambientalistas e profecias maias apontavam para fins trágicos em um futuro próximo, devido ao aquecimento global, essas questões ecológicas tornaram-se ainda mais importantes para a população mundial.

Em questões de desempenho, as televisões com tecnologia LED também merecem destaque. Devido à estrutura de montagem dos aparelhos, a luminosidade é mais bem aproveitada, além de a imagem proporcionada ser superior tanto no quesito resolução máxima, quanto no quesito qualidade.

Neste ano, a indústria espera conseguir novos avanços nas pesquisas com novas tecnologias, como OLED, AMOLED e SED. Alguns exemplares já existem, mas os preços ainda não são nada atraentes para os consumidores.  Além dessas novas tecnologias, pretende-se prosseguir no desenvolvimento da tecnolgia LED Backlight, para baratear e aumentar a qualidade.
E-Readers: tendências e esperanças
Os leitores digitais são fruto de uma tecnologia que ainda não atingiu em cheio os brasileiros, isso porque a grande maioria dos E-Books disponíveis está em outras línguas. Mas isso deve começar a mudar e os E-Readers devem passar a ser mais procurados à medida que sejam disponibilizados livros em português.
Em 2009, a Amazon lançou o tão esperado novo modelo do leitor digital Kindle. A Sony por sua vez, também lançou o novo modelo do Sony Reader. O que ambos têm em comum? Tanto do leitor da Sony, quanto o da Apple deixaram de ser apenas leitores de E-Books para tornarem-se também centrais multimídia, reproduzindo músicas e acessando a internet.
Kindle
Os brasileiros tiveram uma boa notícia com o lançamento da editora Gato Sabido, que prometeu trazer milhares de títulos para a língua portuguesa e começou a vender um E-Reader fabricado aqui mesmo no Brasil. As expectativas para 2010 são boas, pois estima-se que além dos títulos disponibilizados atingirem um número significativo, os preços dos leitores também devem cair com a concorrência.
Touch Screen: tudo à distância de um toque
Nos últimos anos, a tecnologia Touch Screen foi um privilégio para os usuários de iPod Touchs e outros dispositivos não muito baratos. Com o lançamento do Windows 7 com suporte nativo a Touch Screen, espera-se que a tecnologia torne-se mais acessível, devido à maior procura por hardwares compatíveis com a facilidade do toque na tela.

Mas não são apenas os computadores com Windows que poderão desfrutar dos maravilhosos recursos integrados às telas interativas. Existe um segmento no mercado de computadores que é diferente dos netbooks, notebooks e desktops. Esse segmento chama-se Tablet e funciona como um computador pessoal, mas em formato de prancheta e é completamente comandado pelo toque.

Tablets: as pranchetas inteligentes


O mercado das tablets andava um pouco parado, sem lançamentos significativos ou notícias que pudessem abalar as estruturas. Andava, pois desde que a Apple anunciou o lançamento de seu modelo, o mundo da tecnologia trouxe de volta o assunto à tona.
Tablets
Toda a imprensa e usuários estão ansiosos com o anúncio oficial que deve ocorrer ainda em Janeiro, revelando os detalhes do que (ao menos é o que se especula) deverá se chamar iSlate. Ainda não são sabidos detalhes concretos, mas estima-se que existirão versões de 7 e 10 polegadas e que o dispositivo teria um sistema operacional semelhante ao iPhone OS, outras informações seriam apenas tiros no escuro.

O mais interessante do iSlate não é nem o fato de ser um novo hardware produzido pela Apple, mas sim as informações adjacentes ao plano principal. Várias outras fabricantes já começam a se mexer para também entrar na briga por um segmento de mercado que nunca interessou a muitos.  HP e Dell seriam bons exemplos de empresas que já começam a dar os primeiros passos em direção ao Tablet.
Ascensão do Ubuntu
Os netbooks facilitam em muito a vida de usuários que precisam transportar os computadores, mas não podem carregar notebooks comuns para cima e para baixo. O problema é que devido às limitações, os netbooks costumam ser bastante menos potentes do que laptops e desktops.
UbuntuPara fugir do fardo que é um netbook lento, muitos usuários começaram a utilizar a distribuição LINUX chamada Ubuntu, uma das mais organizadas e simples já lançadas até hoje, tanto que o slogan da distro é "LINUX para seres humanos".  Por ser bem mais leve do que o Windows, o Ubuntu contagiou o mundo dos usuários de netbooks, que passaram a propagar a ideia e difundir o sistema operacional.

Com as crescentes vendas dos portáteis, a tendência é que a cada dia, mais e mais usuários passem a utilizar o OS de código aberto. Por isso estima-se que 2010 seja o ano da ascensão do Ubuntu e de tantos outros softwares livres, que desempenham as mesmas funções que os programas do mainstream e exigem muito menos desempenho dos computadores.
Processamento "verde"
Em Setembro de 2009, a Intel anunciou na IDF (Intel Developer Forum) uma série de novas tecnologias que começariam a ser implantadas já em 2010 nos processadores fabricados pela empresa.
Verde é bom!
Tanto os processadores para netbooks, como os para notebooks, desktops e servidores passariam a ter arquitetura menor e mais eficiente. Com isso, a intenção da Intel é criar chips controladores que possam ter desempenho muito superior aos atuais, ao mesmo tempo em que os gastos de energia passem a ser cada vez menores.

Como em todos os outros ambientes tecnológicos, as concorrentes devem agilizar os setores de Pesquisa e Desenvolvimento para não ficarem atrás nas novas tendências de processamento "verde". Neste ano de 2010 deverão surgir informações de avanços nas pesquisas da AMD e também da própria Intel.
As redes sociais continuam a se expandir
Fato que já vem ocorrendo faz alguns anos e deve ser ainda mais evidente em 2010 é a presença das ferramentas sócias como instrumentos corporativos. Mídias que entre 2004 e 2009 expandiram exponencialmente com os usuários comuns, como o Orkut, devem dar lugar a ferramentas mais dinâmicas e interessantes para as empresas.
Redes sociais mais detalhadas e que facilitam a comunicação, em detrimento das "vitrinizações sociais" devem ganhar destaque no mundo empresarial. Nesse ponto, deve ocorrem em 2010 uma expansão significativa do Facebook e do Twitter, que já está conseguindo mais fãs a cada dia.
Otzee, a nova mania
Outra rede social que deve ganhar milhares de adeptos ainda nos primeiros meses do ano é a nova mania dos gamers. Otzee, a rede social para jogadores usuais que a NZN criou e disponibilizou para o público. Por que é tão bom? Porque é diferente! É possível adicionar amigos e criar redes internas para conseguir entrar na lista de recordistas dos jogos em flash, simples e divertidos.
Web 3.0: a rede ganha significado
Após a web estática 1.0 e a web dinâmica 2.0, surge a web semântica 3.0. Os conceitos envolvidos na "semântica de redes" representam a interatividade total, mas não apenas do usuário x rede, e sim a integração entre usuário x rede x usuário. Sendo que a rede no caso, é representada também pelos serviços online.

Um dos nomes dados à web 3.0, é web cognitiva. Num prazo de 5 a 10 anos, todos os dados disponíveis deverão estar interligados e prontos para dar ao usuário, informações precisas sobre suas próprias necessidades. Todo clique será armazenado em pacotes de dados de busca e estarão disponíveis para que a rede molde sua estrutura em torno de cada internauta.
LTE: o início da internet 4G
Quando as tecnologias para celulares eram limitadas a CDMA e TDMA, ninguém imaginava que um dia aqueles pequenos (mas não tão pequenos assim) aparelhos pudessem reunir funções tão detalhadas e interação com a web em tempo integral. Hoje, pouca gente quer imaginar como seria o contrário.

LTEPouco tempo após o início do 3G ser implantado no Brasil, já começam a surgir sinais de que a tecnologia está ultrapassada, um bom exemplo disso é a tecnologia LTE (Long Term Evolution), que promete velocidades muito superiores e qualidade de sinal extremamente mais cristalina.

Já em teste no Brasil desde 2009, os celulares e redes com suporte à LTE devem começar a ter o crescimento visível ainda em 2010. Com mais esse passo, a internet móvel começa a dar sinais de que não está para brincadeira e que sim, está buscando alçar vôos cada vez mais altos.
International CES 2010: o futuro já começou
A CES (Consumers Electronics Show), maior feira de eletrônicos do mundo será realizada na próxima semana, entre os dias 7 e 10 de Janeiro. Nessa feira serão apresentados diversos produtos e conceitos que deverão fazer parte do cotidiano do mundo da tecnologia pelos próximos anos.

International CES 2010Algumas das principais categorias de produtos apresentados anualmente na feira são: dispositivos de som; tecnologias de banda larga; novidades em Bluetooth; computadores; TV digital; tecnologias digitais para automóveis; jogos; cinema; gadgets pessoais; tecnologia wi-fi; fotografia digital; GPS; portáteis e tecnologias de áudio e vídeo.

Muito se especula acerca da feira desse ano, é pouco provável que a Apple não anuncie seu tablet no evento, assim como é quase impossível que a Google não apresente o novo Google Phone durante as apresentações de fabricantes. Outros que são muito esperados são os Blu-rays 3D da AMD e novidades sobre televisores 3D.

Um dos destaques da CES 2010 está longe dos holofotes principais. Trata-se da mostra de produtos Eco-Friendly, ou seja, produtos que não agridem a natureza e atmosfera, sendo não-geradores de carbono. Nessa mostra haverá palestras de ativistas do Greenpeace e de outras entidades protetoras do meio-ambiente. É mais uma pequena mostra de que o futuro da tecnologia é mesmo "verde".
Considerações finais
Novos modelos de processamento de informações e novas perspectivas de preservação ambiental, essas são as apostas para o que será destaque no mundo tecnológico nesse ano de 2010. Pelo menos são as expectativas que o portal Baixaki tem para o ano que acaba de começar. Ainda virão 364 dias para dizer se as previsões estão corretas ou se serão apenas esperanças sem atendimento.



Fontehttp://www.baixaki.com.br/info/3286-2010-previsoes-para-um-ano-novo-muito-tecnologico-.htm


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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sinal com maior variedade de uso é desafio para o entendimento de um texto

A soberania da vírgula
Sinal com maior variedade de uso é desafio para o entendimento de um texto

Rogério Chociay

A vírgula é, e não por acaso, o corpo e a alma da pontuação. Quem não a ama não a domina, e quem não a domina não escreve direito. A bem da verdade, os outros sinais, em sua maioria, têm comportamento burocrático, não sendo difícil aprender a empregá-los.

O contrário ocorre com a vírgula, cuja variedade de emprego é um desafio constante.

Já por isso, quando a tratam como parte igual do conjunto, não dando o devido desenvolvimento a seu estudo, alguns autores pecam por omissão, pois, na verdade, o conjunto é quase inteiramente ocupado pela vírgula. 

Uma prova? Quantas vezes ela aparece no parágrafo acima? 14. E quantos pontos? 5. Não há dúvida: a vírgula, carro-chefe de todos os pontos, reina soberana em qualquer texto.

Até mesmo os poemas em versos livres da fase revolucionária do Modernismo, que tentaram prescindir da pontuação, jamais conseguiram eliminá-la.

Para que serve o ponto, mesmo? Para fechar período, fechar parágrafo, fechar texto. E acabou. É apenas um assistente: quando a vírgula vai embora, o ponto fecha a porta.

Para que serve o ponto de interrogação? Para marcar frases interrogativas. Mas o pobre nem consegue distinguir interrogação total de interrogação parcial.

E para que serve a vírgula? Nem ela mesma, se pudesse responder, teria certeza total de quantas funções pode exercer, sintáticas, lógicas, estilísticas. Uma enormidade.

Mais uma prova?
Quantos livros existem dedicados ao ponto, ou ao ponto de interrogação?

Nenhum, porque não há mais que dois ou três parágrafos a escrever sobre eles.

E sobre a vírgula? Artigos, capítulos de livros, livros inteiros.

Por isso, se ela pudesse falar, diria que um livro com um nome ao estilo de Manual de Pontuação seria impróprio e incoerente: por mérito e justiça, deveria ser substituído por Manual de Virgulação.

Falar dos outros sinais é, de certo modo, fazer a introdução ao que se vai falar da vírgula.

Personalidade
Assim, não seria possível revelar todo o poder da vírgula em poucas linhas.
O que se pode dizer, pela voz dos melhores escritores, súditos fiéis dessa soberana, é que o melhor modo de entender a multiplicidade de seus empregos é usar como filtro suas habilidades básicas.

Poderíamos, no limite, até recorrer à prosopopeia, dando vida e voz à vírgula. Que diria ela, além do que acima foi dito? Talvez algo mais ou menos como:
"Sou a única presença feminina autêntica na pontuação.

Certo pesquisador pretensioso anda dizendo que sou sinuosa, insinuante e traiçoeira.
Para falar a verdade, sou mesmo. Minhas curvas suaves me fazem bela, minhas funções me tornam insinuante, minhas virtudes estilísticas me tornam, não digo traiçoeira, mas um tanto oblíqua e dissimulada, como a Capitu. Então, para ter todos os privilégios de minhas prendas, se quer ser mesmo um bom escritor, seja um pouco o meu Bentinho e um pouco o Escobar.

Só quem sabe todas as manhas e malícias do feminino pode desfrutar ao máximo os meus poderes.
Machado sabia".

Rogério Chociay é pesquisador da Unesp, autor de Pontuação, Ponto a Ponto (editora Íbis, 2005)

As 10 habilidades básicas das vírgulas

1 Pausa inconclusa
Quando surge na escrita, marca uma pausa inconclusa na fala. Exemplo: "Quando surge na escrita, marca uma pausa inconclusa na fala".

2 Marcar fronteiras

Opera sempre na oração, marcando fronteiras entre orações ou entre elementos oracionais. Exemplo em que surge com seu charme todo:
"Julião Machado, segundo me dizem, é homem culto e ilustrado; e, como entre nós, no nosso meio doutoral e bacharelesco, os artistas são apresentados como ignorantes, ele quer mostrar com as suas legendas, longas, virguladinhas, que não é" (Lima Barreto, Feiras e Mafuás).

3 Habilidades seriais
A vírgula sinaliza séries de vocábulos, de termos, de orações: "Preguei, demonstrei, honrei a verdade eleitoral, a verdade constitucional, a verdade republicana" (Rui Barbosa, "Oração aos Moços").

Nesta função de seriadora, às vezes cede espaço para o ponto e vírgula, e fazem elegantes manobras conjuntas: "Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes." (Monteiro Lobato, O Engraçado Arrependido).

4 Intercalação
A vírgula marca bem a intercalação de elementos na oração, mas não reclama se o escritor por vezes usar para isso travessões ou parênteses: "Pode-se dizer, sem a menor sombra de dúvida, que a vírgula é - e não por acaso - o corpo e a alma da pontuação".

5 Dar ênfase
Sinaliza com eficácia a transposição enfática de um elemento do meio ou do final de uma oração para o início, ou do início para o final: "Ingênuo, o Inácio nunca foi. - Era um sujeito de fala mansa e longas dissertações, o Inácio."
Colaborar com a elipse

6 Colaborar com a elipse
A vírgula marca a omissão de termos no período:
"Aqueles são a parte da natureza. Estes, a do trabalho" (Rui Barbosa, Oração aos Moços)

7 Ser, muitas vezes, facultativa
O que abre campo a manobras estilísticas: "Mas neste clima singular e típico destacam-se outras anomalias, que ainda mais o agravam." Nessa passagem de Os Sertões, Euclides também poderia ter escrito: "Mas, neste clima singular e típico, destacam-se outras anomalias, que ainda mais o agravam".

8 Ser lógica e articulada
Não se presta a separar o inseparável. Assim, nada de pô-la entre sujeito e predicado ou entre verbo e seu objeto. Não "Pedro, compra livros" ou "Pedro compra, livros" quando se quer "Pedro compra livros". Se há aposto, pode-se tê-la duas vezes, antes e depois, para marcar o fato: "Pedro, meu irmão, compra livros".

9 Substituir outros sinais
A vírgula não é egoísta. Atua em ambientes em que outros sinais atuariam. Uma mina de ouro para escritores, que descobrem veios de expressividade na alternância de vírgula, ponto, ponto e vírgula, dois-pontos, travessões, parênteses. Veja a passagem de Euclides: "O jagunço é menos teatralmente heroico; é mais tenaz; é mais resistente; é mais perigoso; é mais forte; é mais duro." Belo efeito, que teria diferente matiz com a vírgula: "O jagunço é menos teatralmente heroico, é mais tenaz, é mais resistente, é mais perigoso, é mais forte, é mais duro". Matiz distinto haveria com o uso de pontos: "O jagunço é menos teatralmente heroico. É mais tenaz. É mais resistente. É mais perigoso. É mais forte. É mais duro". Ao escritor compete a escolha adequada ao texto.

10 Ser usada com expressividade
A vírgula costuma ser certinha no comportamento, mas, vez por outra, por expressividade, pode surgir onde não devia, ou não surgir onde devia. Malícias do ofício! Foi o que fez Euclides, ao colocá-la para marcar pausa mecânica (também chamada respiratória) em "Mas no sul a força viva restante no temperamento dos que vinham de romper o mar imoto, não se delia num clima enervante."


Os sentidos da vírgula

Há casos em que a vírgula pode mudar o sentido da frase e gerar dúvidas

Josué Machado

É verdade que a vírgula, como a crase, não nasceu para humilhar ninguém. Mas pode humilhar, sim. E até causar pequenos desastres de compreensão. Ou de incompreensão, dependendo do caso e do contexto, porque quem virgula mal em geral escreve mal por não entender bem a estrutura da frase.

Primeiro, convém lembrar que nem toda vírgula indica pausa e nem toda pausa é indicada por vírgula. Depois, é da maior importância ressaltar que nunca se devem pôr vírgulas entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e seus complementos. Posto isso e agrupando casos de alguma semelhança, podem-se resumir a quatro os principais empregos da vírgula.

1 Marcar inversões da ordem direta
Quando a crise chegou, estavam desprevenidos. Embora achasse que não, disse que o amava. Depois da lua de mel, fugiu dele para não mais voltar.

Quando o adjunto adverbial for representado por uma só palavra, a vírgula é dispensável, a menos que se queira acentuar o valor do advérbio: Hoje vamos passear no bosque. Melancolicamente se despediram. (Ou: "Melancolicamente, se despediram" /"Melancolicamente, despediram-se".)

2 Marcar intercalações que interrompam a ordem natural da frase
Em explicações, retificações, ressalvas, continuações, aposições, vocativos, conclusões, inclusive oracionais: Aquele político, eterno candidato, se refugia na Câmara para não ir preso.

Nós, respondeu o representante da bancada da motosserra, daremos um jeito.
Deus meu, por que me abandonaste?

3 Marcar omissão do verbo já enunciado na oração anterior
Ele foi de primeira classe; ela, de terceira. (Foi.)
O marido gostava de balé; a mulher, de luta livre. (Gostava.)
Ou:
O marido gostava de balé, e a mulher, de luta livre.
Nota-se que no exemplo anterior justifica-se a vírgula antes da conjunção "e" porque ela une duas orações com sujeitos diferentes: marido e mulher.

4 Separar termos da mesma função em sequência, coordenados
Laranjas, limões, bananas; ladrões, traficantes, políticos; jogar, correr, disputar; primeiro, segundo, terceiro, quarto. A casa onde nasceu, a rua onde viveu, a cidade onde morreu. Ela deixou livros, discos, quadros, tapetes, saudades.

Mas não se usa vírgula antes do verbo, após o último elemento de uma série de núcleos de sujeito separados por vírgula: Os livros raros, os discos da coleção, os quadros antigos, os tapetes puídos, as lembranças amargas (sujeito) foram deixados pela amada que partia.

Proibição
Fora os quatro grupos de casos mais ou menos óbvios, é preciso acentuar dois casos fundamentais, já citados, de vírgulas absolutamente impróprias.

1 Jamais se separa por vírgula o sujeito (grifado nos exemplos) do predicado verbal, mesmo que o núcleo, modificado por adjuntos, esteja distante do verbo, destacado em negrito.

A) O consultório daquele cirurgião plástico açougueiro no extremo oposto de minha rua foi fechado pela polícia.
B) O padre procurado pela justiça e o filho dele mantinham a igreja caça-níqueis em funcionamento.
C) Muito melhor do que cassar aquele político seria forçá-lo a devolver o dobro do que afanou.

Para descobrir o sujeito pergunta-se ao verbo: o que ou quem.
A) O que foi fechado? Sujeito: o consultório (núcleo do sujeito).
B) Quem mantinha a igreja caça-níqueis? Sujeito: o padre e o filhote (sujeito composto por dois núcleos).
C) O que seria melhor do que cassá-los? Sujeito: forçá-los a devolver em dobro a bufunfa afanada.

Há orações que funcionam como sujeitos. Nem assim devem ser separadas do predicado verbal de que são sujeitos: Quem com ferro fere com ferro será ferido. O homem que lê vale mais. É absolutamente necessário que todos votemos melhor.

2 A vírgula jamais deve separar o verbo de seus complementos (grifados).
O Luís come empadinhas engorduradas todos os dias. O Edgard gostou muito daquela garota robusta.
Elas responderam a eles (compl.) que não voltariam (compl.). À mulher e aos filhos (compl.) ele disse que não voltaria mais (compl.).


Exercício 1

Corrija se necessário

1 O que ela mais queria, era voltar a ser amada.
2 Quem tem pressa, come cru.
3 Até os maus funcionários, ajudaram na tragédia.
4 Estapeada, voltou a outra face.
5 Depois de chorar, confessou, à mulher e aos filhos, que, nunca mais, faria aquilo.
6 Depois da fome, vem a miséria.
7 Os senadores, lamentavelmente, vão à breca.
8 Temos o dever de criar condições, para que, este grande país, cresça cada vez mais.
9 O melhor de tudo isso, é que deixamos de pagar a CPMF, com amor à pátria estremecida.
10 Como diz o velho ditado, quem não tem cão, caça com cachorro.

Solução: As frases que devem ser corrigidas são: 5) Depois de chorar, confessou à mulher e aos filhos que nunca mais faria aquilo; 8) Temos o dever de criar condições para que este grande país cresça cada vez mais; 9) O melhor de tudo isso é que deixamos de pagar a CPMF com amor à pátria estremecida; 10) Como diz o velho deitado, quem não tem cão caça com cachorro.


Exercício 2

Corrija, se necessário

1 Quem quiser se casar cedo, pode fazê-lo desde que tenha meios.
2 Depois dos Jogos Pan-Americanos o governo brasileiro entregou, ao governo cubano, os dois boxeadores fugitivos.
3 Os presidentes atual e anterior fazem, e fizeram no governo, o que criticavam, quando na oposição.
4 Se nunca tivesse visto aquela mulher não teria enlouquecido de amor.
5 Por causa da pressão popular o corrupto talvez seja cassado.
6 Houve muitos candidatos mas poucos foram eleitos.
7 Ele só escapará se o voto for secreto.
8 Se o voto for secreto ele poderá escapar.
9 Já se sabia que se o voto fosse secreto ele poderia escapar.
10 No princípio criou Deus o Céu e a Terra.

Solução: 1) Quem quiser se casar cedo pode fazê-lo (vírgula facultativa) desde que tenha meios; 2) Depois dos Jogos Pan-Americanos, o governo brasileiro entregou ao governo cubano os dois boxeadores fugitivos; 3) Os presidentes atual e anterior fazem e fizeram no governo o que criticavam quando na oposição; 4) Se nunca tivesse visto aquela mulher, não teria enlouquecido de amor; 5) Por causa da pressão popular, o corrupto talvez seja cassado; 6) Houve muitos candidatos, mas poucos foram eleitos; 8) Se o voto for secreto, ele poderá escapar; 9) Já se sabia que, se o voto fosse secreto, ele poderia escapar; 10) No princípio, criou Deus o Céu e a Terra.

- Um Moçambique de histórias
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- O morro dos jesuítas
- Quando partes parecem o todo

Fonte:http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11911


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Erudição acelerada

  REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 152
Erudição acelerada

Preocupação com o futuro dos filhos leva pais a lotar a agenda de atividades das crianças; fenômeno nos EUA ganha o nome de overparenting
 
Fabiano Curi

O menino John cresceu praticamente isolado de outras crianças. Seus companheiros mais próximos eram os irmãos e o pai, que lhe impôs um rigoroso plano de estudos. Tão rígido que aos cinco anos ele já sabia grego; aos nove, álgebra e latim. Viveu mergulhado em ciência natural e letras clássicas. Não teve contato com religião, tampouco com assuntos metafísicos. Artes? Nada além de um pouco de música. Ainda antes dos dez anos, já escrevia densos artigos sobre história e lia Platão e Sófocles em grego. Aos doze, tinha o repertório intelectual de um homem de trinta extremamente erudito, muito mais do que o suficiente para entrar na faculdade.

Essa é uma história bastante conhecida do século 19. Seu protagonista foi o filósofo e político inglês John Stuart Mill, que recebeu um modelo de educação experimental inspirado na devoção ao filósofo utilitarista Jeremy Bentham. Para o pai, assuntos que fugissem dos que foram impostos ao garoto apenas alimentavam a estupidez humana.
Stuart Mill correspondeu aos anseios do pai e se tornou, além de um influente pensador liberal, um defensor da igualdade pública e política das mulheres a partir de seu assento na Casa dos Comuns.

Hoje em dia, ainda que seja difícil imaginar alguém impondo semelhante plano de estudos para o filho, é muito fácil encontrar pais inflados pelos feitos de seus herdeiros. Ainda que as crianças não demonstrem habilidades físicas ou intelectuais acima da normalidade, ninguém segura o orgulho dos pais quando eles ouvem, por exemplo, que sua cria foi a primeira da classe a aprender uma determinada sílaba. Tudo dentro da normalidade da afeição familiar. O problema é quando os pais ultrapassam os limites desse comportamento e obsessivamente traçam metas para que os filhos brilhem quando adultos.

Não é incomum ver pais que se preocupam com a carreira dos filhos antes mesmo de eles começarem o processo de alfabetização. Procuram escolas bilíngues e que prometem um eficiente encaminhamento profissional num futuro distante. As crianças são matriculadas em diversos cursos esportivos, artísticos e de reforço escolar - a agenda dos pequenos é cheia. Nos Estados Unidos já foi cunhado até mesmo um novo termo para o fenômeno: overparenting.
Para a neuropsicóloga Sylvia Ciasca, professora do Departamento de Neurologia Infantil da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e presidente nacional da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, esse desejo dos pais de verem os filhos os superarem sempre existiu, mas nunca com tanta ênfase como agora. "Vivemos num mundo mais competitivo que nos força a ter uma posição de competição e a criança se enquadra nisso", explica. Ela aponta para a visão de mundo predominante nos dias de hoje: "é necessário que um adulto bem-sucedido fale três idiomas e tenha determinadas habilidades físicas. Deixou-se de lado o fato de a criança aprender muito brincando e se relacionando".

A neuropsicóloga comenta que a criança tem um ritmo de aprendizado próprio e os níveis de desenvolvimento são imutáveis. "A criança tem um padrão de desenvolvimento e ela vai seguir esse padrão. Não adianta eu querer que ela ande antes de ficar em pé. O que nós estamos fazendo é simplesmente pulando fases", coloca. Essa opinião é compartilhada por Abram Topczewski, neuropediatra do Hospital Albert Einstein. Ele acrescenta que, por pressão dos pais, as escolas estão ávidas por alfabetizar as crianças com quatro ou cinco de anos de idade. "Isso é um absurdo, pois o sistema nervoso não está maturado para esse tipo de atividade", pontua. Ele também faz alerta: a estimulação precoce de crianças na alfabetização as leva a apresentar dificuldades de aprendizagem um pouco mais tarde.

Estresse
Qualquer adulto que obedece a uma agenda de atividades inclemente acaba, invariavelmente, estressado. Com os mais novos não é diferente. "Temos crianças cada vez mais estressadas, com problemas psiquiátricos. Hoje se fala muito em depressão na criança, em estresse infantil e em distúrbios do sono, coisas que, até pouco tempo atrás, eram características do adulto", conta Sylvia Ciasca. Essa assertiva é ratificada pela psicanalista Marise Bastos, da Associação Lugar de Vida e do Instituto Sedes Sapientiae: "não é por acaso que uma das patologias contemporâneas é a hiperatividade. As crianças têm inúmeras coisas para fazer e depois nos queixamos de que elas estão hiperativas".

O quadro se agrava porque essa preocupação dos pais com o futuro dos filhos acaba sendo transmitida em forma de expectativa para as crianças - elas são responsáveis pela superação das conquistas dos pais. "Nós enriquecemos e prosperamos, e as crianças são colocadas como alvo disso, elas devem conquistar ainda mais", afirma. A psicanalista lembra que na infância é normal fantasiar sobre o futuro, imaginando que será um astronauta ou estrela de cinema, porém, para as novas gerações, o sonho é outro. "O importante é saber quantos carros terão na garagem ou quantas viagens vão fazer.Vejo as crianças muito aflitas com a possibilidade de mais adiante não haver recursos materiais para bancarem aquilo que elas já têm", coloca. A preocupação está ligada à riqueza material. "Os adultos estão o tempo todo mostrando a elas que isso é o sinal de sucesso. Assim, o próprio valor da escola é relativizado, já que a importância para os mais jovens não está na profissão, mas no emprego, que deve ser bacana", diz.

Responsabilidades
O Departamento de Orientação Educacional do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, procura ajudar alunos com problemas na organização de suas rotinas. Evidentemente, muitos dos casos que passam por ali estão ligados ao desempenho escolar. Contudo, os serviços prestados pelos profissionais que lá trabalham não se restringem ao universo da escola. "Se um aluno apresenta dificuldades numa matéria, elaboramos um plano de estudos estabelecendo uma meta que visa recuperar as notas. Procuramos equilibrar a rotina desse aluno", explica a coordenadora do departamento, Vera Lúcia Malatto. Ela ressalva que, apesar de os profissionais definirem o que é prioritário, o intuito não é levar o aluno ao estresse. "Para nós é importante que os alunos tenham tempo para o lazer, para outras atividades, para o esporte", lembra.

Vera Lúcia aponta que os problemas que afligem os alunos da escola variam de acordo com a faixa etária. Entre os mais velhos, que cursam os últimos anos do ensino médio, há a incerteza da carreira. Nos mais novos, a preocupação é com a necessidade de satisfazer as expectativas dos pais e em estar inserido no grupo. "Se nós detectarmos um aluno estressado, fazemos o encaminhamento para profissionais especializados e um trabalho de orientação junto da família", esclarece.

Alguns educadores e psicólogos fazem uma reflexão sobre as mudanças ocorridas nas famílias nos últimos anos em decorrência dos valores instituídos para explicar e criticar esse processo de sobrecarga de atividades na vida das crianças. A emancipação profissional das mulheres e a consequente ausência de mães e pais em boa parte do dia os obrigam a encontrar atividades para que os filhos não passem muito tempo no ócio e sem supervisão. Mas nem todos acreditam que esse seja o único motivo. Para o psicólogo responsável pelo Serviço de Atendimento a Famílias e Casais (Sefam) da USP, Marcelo Lábaki Agostinho, os pais não confiam em suas próprias intuições na hora de educar os filhos. "Vivemos num mundo muito especializado e os pais precisam da certificação de um especialista", coloca.

Os problemas da família
O neuropediatra Abram Topczewski segue na mesma linha e acredita que os pais estão mal orientados e demandam da escola uma educação que contemple soluções para seus temores - o que envolve, inclusive, a existência de um currículo muitas vezes inadequado para o desenvolvimento normal da criança. Para ele, com medo de perder alunos para a concorrência, muitas escolas se submetem às exigências. Para a neuropsicóloga Sylvia Ciasca, uma coisa é ter motivação e estímulo para aprender, outra é sobrecarregar essa motivação e esse estímulo. Voltemos ao relato do começo para esclarecer algumas consequências desse excesso. Que John Stuart Mill se tornou uma figura de muito destaque brilhando como o planejado por seu pai, não há dúvidas. Entretanto, a dedicação incondicional à formação teve seu preço: aos 20 anos mergulhou em profunda depressão. Em suas memórias ele conta que o pessimismo e a melancolia só começaram a dar trégua quando percebeu que havia deixado de lado muitas coisas importantes na infância e, assim, passou a buscar prazer descompromissado nas artes.

"Supereducação"

Nos Estados Unidos, a psicóloga Hara Estroff Marano lançou um livro intitulado A Nation of Wimps: The High Cost of Invasive Parenting. Ela traça um panorama das mudanças ocorridas na educação das crianças nas últimas décadas naquele país. Segundo a autora, estão se formando gerações de pessoas mimadas, incapazes de lidar com a possibilidade de fracasso ou de frustração, devido ao excesso de zelo e de expectativa dos pais.

Marano relata que as famílias um pouco mais abastadas, na sanha de formar indivíduos excepcionais, impõem aos filhos estafantes rotinas de aulas extracurriculares e de atividades físicas para que, desde pequenos, comecem a rechear currículos que garantam o ingresso nas melhores universidades e empregos. O temor do insucesso leva os pais a, por exemplo, mandarem seus filhos para acampamentos de estudos intensivos nas férias escolares e a pagarem até US$ 40 mil por serviços de orientação acadêmica que abram portas nas universidades mais cobiçadas.

A autora também critica o desenvolvimento de uma nova indústria de produtos voltados para uma "supereducação" que explora a insegurança dos pais. Grandes empresas do setor cultural e de entretenimento vêm aumentando seus catálogos com filmes, músicas e histórias que prometem estimular os futuros gênios desde os primeiros meses de vida.

Em reação às pressões de pais e escolas por um desempenho
extenuante das crianças, o Slow Movement já tem uma campanha por escolas e educação mais lentas. O objetivo, segundo a entidade, é evitar currículos extremamente rígidos e padronizados e desenvolver na criança uma relação mais tranquila e prazerosa com a aprendizagem.


- Déficit histórico
- Gestão local
- Pimentas na inteligência
- Trama variada

Fonte:http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=12819


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