sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cabala

 Árvore da vida


Cabala (também Kabbalah, Qabbala, cabbala, cabbalah, kabala, kabalah, kabbala) é uma sabedoria que investiga a natureza divina. Kabbalah (קבלה QBLH) é uma palavra de origem hebraica que significa recepção. A Kabbalah — corpo de sabedoria espiritual mais antigo[carece de fontes?] — contém as chaves, que permaneceram ocultas durante um longo tempo, para os segredos do universo, bem como as chaves para os mistérios do coração e da alma humana. Os ensinamentos cabalísticos explicam as complexidades do universo material e imaterial, bem como a natureza física e metafísica de toda a humanidade. A Kabbalah mostra em detalhes como navegar por este vasto campo, a fim de eliminar toda forma de caos, dor e sofrimento.
Durante milhares de anos, os grandes sábios cabalistas têm nos ensinado que cada ser humano nasce com o potencial para ser grande. A Kabbalah é o meio para ativar este potencial.
A Kabbalah sempre teve a intenção de ser usada, e não somente estudada. Seu propósito é trazer clareza, compreensão e liberdade para nossas vidas.

 Origem

A "Cabala" é uma filosofia esotérica que visa conhecer a Deus e o Universo, sendo afirmado que nos chegou como uma revelação para eleger santos de um passado remoto, e reservada apenas a alguns privilegiados.
Formas antigas de misticismo judaico consistiam inicialmente de doutrina empírica. Mais tarde, sob a influência da filosofia neoplatônica e neopitagórica, assumiu um carácter especulativo. Na era medieval desenvolveu-se bastante com o surgimento do texto místico, Sefer Yetzirah, ou Sheper Bahir que significa Livro da Luz, do qual há menção antes do século XIII. Porém o mais antigo monumento literário sobre a Cabala é o Livro da Formação (Sepher Yetsirah), considerado anterior ao século VI, onde se defende a ideia de que o mundo é a emanação de Deus.
Transformou-se em objeto de estudo sistemático do eleito, chamado o "baale ha-kabbalah" (בעלי הקבלה "possuidores ou mestres da Cabala "). Os estudantes da Cabala tornaram-se mais tarde conhecidos como maskilim (משכילים "o iniciado"). Do décimo terceiro século em diante ramificou-se em uma literatura extensiva, ao lado e frequentemente na oposição ao Talmud.
Grande parte das formas de Cabala ensinam que cada letra, palavra, número, e acento da Escritura contêm um sentido escondido e ensina os métodos de interpretação para verificar esses significados ocultos.
Alguns historiadores de religião afirmam que devemos limitar o uso do termo Cabala apenas ao sistema místico e religioso que apareceu depois do século XII e usam outros termos para referir-se aos sistemas esotéricos-místicos judeus de antes do século XII. Outros estudiosos veem esta distinção como sendo arbitrária. Neste ponto de vista, a Cabala do pós século XII é vista como a fase seguinte numa linha contínua de desenvolvimento que surgiram dos mesmos elementos e raízes. Desta forma, estes estudiosos sentem que é apropriado o uso do termo Cabala para referir-se ao misticismo judeu desde o primeiro século da Era Comum. O Judaísmo ortodoxo discorda de ambas as escolas filosóficas, assim como rejeita a ideia de que a Cabala causou mudanças ou desenvolvimento histórico significativo.
Desde o final do século XIX, com o crescimento do estudo da cultura dos Judeus, a Cabala também tem sido estudada como um elevado sistema racional de compreensão do mundo, mais que um sistema místico. Um pioneiro desta abordagem foi Lazar Gulkowitsch.

 Quais são os ensinamentos básicos da Kabbalah?

A Kabbalah ensina que, a fim de podermos reclamar as dádivas para as quais fomos criados para receber, primeiro temos que merecer essas dádivas. Nós as merecemos quando nos envolvemos com nosso trabalho espiritual – o processo de transformarmos a nós próprios na essência. Ao nos ajudar a reconhecer as fontes de negatividade em nossas próprias mentes e corações, a Kabbalah nos fornece as ferramentas para a mudança positiva.
A Kabbalah ensina que todo ser humano é uma obra em execução. Qualquer dor, desapontamento ou caos que exista em nossas vidas não ocorre porque a vida é assim mesmo, mas apenas porque ainda não terminamos o trabalho que nos trouxe até aqui. Esse trabalho, muito simplesmente, é o processo de nos libertarmos do domínio do ego humano e de criar uma afinidade com a essência de compartilhar de Deus.
Na vida do dia-a-dia, esta transformação significa desapegar-se da raiva, da inveja e de outros comportamentos reativos em favor da paciência, empatia e compaixão. Não significa abrir mão de todos os desejos e ir viver no topo de uma montanha. Muito pelo contrário, significa desejar mais da plenitude para a qual a humanidade foi criada para obter.[1]

 Quem pode estudar a Cabala?

Quando [carece de fontes?] perguntaram ao Rav Kook- Cabalista do século XX e Rabino em Israel – quem poderia estudar Cabala, sua resposta foi inequívoca: "Qualquer um que queira".
De acordo com alguns[carece de fontes?] os Cabalistas, os dias em que a Cabala era um segredo acabaram. A sabedoria da Cabala manteve-se oculta no passado porque os Cabalistas temiam que ela fosse mal aplicada e mal entendida. E realmente o pouco que escapou gerou muitos mal-entendidos. Porque os Cabalistas dizem que a nossa geração está pronta para entender o real significado da Cabala, e para acabar com os mal-entendidos, esta ciência está agora sendo revelada para todos que desejam aprender.[2]

 A Kabbalah é judaica?

A Kabbalah nasceu no seio do judaísmo rabínico (sendo desconhecida por outras vertentes israelíticas, como o judaísmo caraíta), mas existiram muitos estudiosos não judeus, tais como os cristãos Knorr-von-Rosenroth, Pico Della Mirandola e Sir Isaac Newton.

 Principais textos cabalistas

A ciência da Cabala é única na maneira que fala sobre você e eu, sobre todos nós. Ele não trata de algo abstrato, apenas com a forma como são criados e como nós funcionamos em níveis mais elevados de existência.
O primeiro livro na Cabala a ser escrito, existente ainda hoje, é o Sefer Yetzirah ("Livro da criação"), escrito por Abraão, o pai das religiões cristãs. Os primeiros comentários sobre este pequeno livro foram escritos durante o século X, e o texto em si é citado desde o século VI. Sua origem histórica não é clara. Como muitos textos místicos Judeus, o Sefer Yetzirah foi escrito de uma maneira que pode parecer insignificante para aqueles que o leem sem um conhecimento maior sobre o Tanakh (Bíblia Judaica ,equivalente ao Antigo Testamento) e o Midrash.
Outra obra muito importante dentro da cabala é o Bahir ("iluminação"), também conhecido como "O Midrash do Rabino Nehuniah ben haKana". Com aproximadamente 12.000 palavras. Publicado pela primeira vez em 1176 em Provença, muitos judeus ortodoxos acreditam que o autor foi o Rabino Nehuniah ben haKana, um sábio Talmúdico do século I. Historiadores mostraram que o livro aparentemente foi escrito não muito antes de ter sido publicado.
O trabalho mais importante da cabala é o Zohar (זהר "Esplendor"). Trata-se de um comentário esotérico e místico sobre o Torah(Antigo Testamento), escrito em aramaico. A tradição ortodoxa judaica afirma que foi escrito pelo Rabino Shimon ben Yohai durante o século II. No século XII, um judeu espanhol chamado Moshe de Leon declarou ter descoberto o texto do Zohar, o texto foi então publicado e distribuído por todo o mundo judeu. Gerschom Scholem, que foi um célebre historiador e estudante da Cabala, mostrou que o próprio de Leon teria sido o autor do Zohar: Entre suas provas, uma é que o texto utiliza a gramática e estruturas frasais da língua espanhola do século XII; outra é que o autor não tinha um conhecimento exato de Israel. O Zohar contém e elabora sobre muito do material encontrado no Sefer Yetzirah e no Sefer Bahir, e sem dúvida é a obra cabalística por excelência.
Após o Zohar, temos os escritos de Ari, um renomado cabalista do século XVI. O século XX, por sua vez, viu o surgimento dos trabalhos do cabalista Yehuda Ashlag.
Os textos do Ashlag são os mais adequados para a nossa geração. Eles, assim como outras fontes cabalísticas, descrevem a estrutura dos mundos superiores, como ela descende e como o nosso universo, com tudo o que possui, veio a existir.

 Cabala no Cristianismo e na sociedade não Judaica

O termo "Cabala" veio a ser usado até meados do século XI, e naquele tempo referia-se à escola de pensamento (Judaica) relacionada ao misticismo esotérico.
Desde esses tempos, trabalhos Cabalísticos ganharam uma audiência maior fora da comunidade Judaica. Assim versões Cristãs da Cabala começaram a desenvolver-se; no início do século XVIII a cabala passou a ter um amplo uso por filósofos herméticos, neo-pagãos e outros novos grupos religiosos. Hoje esta palavra pode ser usada para descrever muitas escolas Judaicas, Cristãs ou neo-pagãs de misticismo esotérico. Leve-se em conta que cada grupo destes tem diferentes conjuntos de livros que eles mantem como parte de sua tradição e rejeitam as interpretações de cada um dos outros grupos.

 Ensinamentos cabalísticos sobre a alma humana

O Zohar propõe que a alma humana possui três elementos, o nefesh, ru'ach, e neshamah. O nefesh é encontrado em todos os humanos e entra no corpo físico durante o nascimento. É a fonte da natureza física e psicológica do indivíduo. As próximas duas partes da alma não são implantadas durante o nascimento, mas são criadas lentamente com o passar do tempo; Seu desenvolvimento depende das ações e crenças do indivíduo. É dito que elas só existem por completo em pessoas espiritualmente despertas. Uma forma comum de explicar as três partes da alma é como mostrado a seguir:
  • Nefesh - A parte inferior ou animal da alma. Está associada aos instintos e desejos corporais.
  • Ruach - A alma mediana, o espírito. Ela contém as virtudes morais e a habilidade de distinguir o bem e o mal.
  • Neshamah - A alma superior, ou super-alma. Essa separa o homem de todas as outras formas de vida. Está relacionada ao intelecto, e permite ao homem aproveitar e se beneficiar da pós-vida. Essa parte da alma é fornecida tanto para judeus quanto para não-judeus no nascimento. Ela permite ao indivíduo ter alguma consciência da existência e presença de Deus.
A Raaya Meheimna, uma adição posterior ao Zohar por um autor desconhecido, sugere que haja mais duas partes da alma, a chayyah e a yehidah. Gershom Scholem escreve que essas "eram consideradas como representantes dos níveis mais elevados de percepção intuitiva, e estar ao alcance somente de alguns poucos escolhidos".
  • Chayyah - A parte da alma que permite ao homem a percepção da divina força.
  • Yehidah - O mais alto nível da alma, pelo qual o homem pode atingir a união máxima com Deus.

 Antiguidade do misticismo esotérico

De acordo com a compreensão tradicional, Kabbalah data do Éden. Ela veio de um passado remoto como uma revelação para eleger os Tzadikim (pessoas justas) e, na maior parte, foi preservado somente para poucos privilegiados.[3]
Literatura Apocalíptica pertence aos séculos II e I do pré-Cristianismo contendo alguns elementos da futura Kabbalah e, segundo Josephus, tais escritos estavam em poder dos Essênios, e eram cuidadosamente guardados por eles para evitar sua perda, o qual eles alegavam ser uma antiguidade valiosa (veja Fílon de Alexandria, "De Vita Contemplativa", iii., e Hipólito, "Refutation of all Heresies", ix. 27).
Estes muitos livros contém tradições secretas mantidas ocultas pelos "iluminados" como declarado em IV Esdras xiv. 45-46, onde Pseudo-Ezra é chamado a publicar os vinte e quatro livros canônicos abertamente, de modo a que merecedores e não merecedores pudessem igualmente ler, mas mantendo sessenta outros livros ocultos de forma a "fornece-los apenas àqueles que são sábios" (compare Dan. xii. 10); pois para eles, estes são a primavera do entendimento, a fonte da sabedoria, e a corrente do conhecimento.
Instrutivo ao estudo do desenvolvimento da Cabala é o Livro dos Jubilados, escrito no reinado do Rei João Hircano, o qual refere a escritos de Jared, Cainan, e Noé, e apresenta Abraão como o renovador, e Levi como o guardião permanente, destes escritos antigos. Ele oferece uma cosmogênese baseada nas vinte e duas letras do alfabeto hebraico, e conectada com a cronologia judaica e a messianologia, enquanto ao mesmo tempo insiste na Heptade como número sagrado ao invés do sistema decádico adotado por Haggadistas posteriores e pelo "Sefer Yetzirah". A ideia Pitagórica do poder criador de números e letras, sobre o qual o "Sefer Yetzirah" está fundamentado, era conhecido no tempo da Mishnah (antes de 200DC).

 Gnosticismo e Cabala

A literatura gnóstica dá testemunho da antiguidade da Cabala. Gnosticismo — isto é, a "Chochmah" cabalística (חכמה , em hebraico, "sabedoria") e a Sophia gnóstica (em grego "sabedoria") - parece ter sido a primeira tentativa por parte dos sábios judeus em fornecer uma tradição mística empírica, com ajuda de ideias Platônicas e Pitagóricas (ou estoicas), um retorno especulativo.

 Doutrinas Místicas nos Tempos do Talmude

Nos tempos do Talmude os termos "Ma'aseh Bereshit" (Trabalhos da Criação) e "Ma'aseh Merkabah" (Trabalhos do Divino Trono/Carruagem) claramente indicam a vinculação com o Midrash nestas especulações; elas eram baseadas em Gen. i. e Ezequiel i. 4-28; enquanto os nomes "Sitre Torah" (Talmude Hag. 13a) e "Raze Torah" (Ab. vi. 1) indicam seu caráter secreto. Em contraste com a afirmação explícita das Escrituras que Deus criou não somente o mundo, mas também a matéria da qual ele foi feito, a opinião é expressa em tempos muito recentes que Deus criou o mundo da matéria que encontrou disponível — uma opinião provavelmente atribuída a influência da cosmogênese platônica.
Eminentes professores rabinos conservam a teoria da preexistência da matéria (Midrash Genesis Rabbah i. 5, iv. 6), em contrariedade com Gamaliel II. (ib. i. 9).
Ao discorrer sobre a natureza de Deus e do universo, os místicos do período Talmúdico afirmaram, em contraste com o transcedentalismo Bíblico, que "Deus é o lugar-morada do universo; mas o universo não é o lugar-morada de Deus". Possivelmente a designação ("lugar") para Deus, tão frequentemente encontrada na literatura Talmúdica-Midrashica, é devida a esta concepção, assim como Philo, ao comentar sobre Gen. xxviii. 11 diz, "Deus é chamado 'ha makom' (המקום "o lugar") porque Deus abarca o universo, mas Ele próprio não é abarcado por nada" ("De Somniis," i. 11).
Spinoza devia ter esta passagem em mente quando disse que os antigos judeus não separavam Deus do mundo. Esta concepção de Deus pode ser panenteísta. Isto também postula a união do homem com Deus; ambas as ideias foram posteriormente desenvolvidas na Cabala mais recente.
Até em tempos bem recentes, teólogos da Palestina e de Alexandria reconheceram dois atributos de Deus: o atributo da justiça (מדת הדין, "middat ha-din") e o atributo da misericórdia (מדת הרחמים, "middat ha-rahamim") (Midrash Sifre,Deut.27): Este é o contraste entre misericórdia e justiça, que é uma doutrina fundamental da Cabala.

 Moderna e contemporânea

A Cabala tem crescido a partir do século XVI, com o Rabino Itzhak Luria, conhecido como Ari ( "O Leão").Ele oferece, em seu livro Etz Chaim (Árvore da Vida) uma explicação aprofundada das dez sefirot , e as explicações sobre o livro do Zohar (incluindo Idra Rabba).
A partir deste período, muitos cabalistas incentivou o estudo da Cabala, como relatou o rabino Azulai Orh Hashemesh em seu livro, "A proibição estabelecida no aprendizado da Kabbalah foi um tempo limitado, até 'em 1490. Desde 1540, é necessário incentivar todos os interessados no livro do Zohar, porque só estudando o Zohar que a humanidade alcançará a redenção espiritual, e Portanto, não é proibido estudar Kabbalah. "
Assim também diz o rabino Yehuda Levi Ashlag, cabalista do século XX: "Não há outro caminho para a população em geral,conseguir alguma elevação espiritual e redenção, a não ser com a aprendizagem da Cabala. Este é o método mais fácil e mais acessível"

 Dualidade Cabalística?

Embora Kabbalah apresentar a Unidade de Deus, uma das críticas mais graves e persistentes é que pode levar longe monoteísmo, em vez disso promover o dualismo, A crença de que há uma contraparte sobrenatural de Deus. O sistema dualista afirma que existe um poder bem contra um poder maligno. Existem dois modelos principais de gnóstico-cosmologia dualista: a primeira, que remonta a Zoroastrismo, Acredita que a criação é ontologicamente dividido entre as forças do bem e do mal, a segunda, encontrada em grande parte greco-romana como ideologias Neo-platonismo, Acredita que o universo conhecia uma harmonia primordial, mas que uma perturbação cósmica resultou um segundo, o mal, a dimensão da realidade. Este segundo modelo influenciou a cosmologia da Cabala.
De acordo com a cosmologia cabalista, as dez sefirot correspondem a dez níveis de criação. Estes níveis da criação não deve ser entendido como dez diferentes "deuses", mas como dez maneiras diferentes de revelar Deus, um por nível. Não é Deus que muda, mas a capacidade de perceber Deus que muda.
Enquanto Deus pode parecer a apresentar natureza dupla (masculino-feminino, compassivo julgadora, criador-criação), todos os seguidores da Cabala têm consistentemente salientado a unidade absoluta de Deus. Por exemplo, em todas as discussões de macho e fêmea, a natureza oculta de Deus existe acima de tudo, sem limite, sendo chamado o infinito ou a "No End" (Ein Sof)-Nem um nem o outro, que transcende qualquer definição. A habilidade de Deus para tornar-se escondido da percepção é chamada de "Restrição" (Tzimtzum).O ocultamento torna a criação possível porque Deus pode ser "revelado" em uma diversidade de formas limitadas, que então forma os blocos de criação.
Trabalhos posteriores cabalístico, incluindo o Zohar, Parecem mais fortemente afirmar dualismo, como eles atribuem todos os males de uma força sobrenatural conhecido como o Achra Sitra[4] (o "outro lado") que emana de Deus. A "esquerda" da emanação divina é um reflexo negativo do lado "de santidade" com que foi bloqueado em combate. [Encyclopaedia Judaica, Volume 6, "Dualismo", p. 244]. Embora este aspecto o mal existe dentro da estrutura divina do Sefirot, a Zohar indica que o Ahra Sitra não tem poder sobre Ein Sof, e só existe como um aspecto necessário da criação de Deus para dar ao homem o livre arbítrio, e que o mal é a consequência dessa escolha. Não é uma força sobrenatural em oposição a Deus, mas um reflexo da luta interna moral dentro de humanidade entre os ditames da moralidade e da renúncia de um de instintos básicos.

 Seguidores da cabala

 Predizendo o Futuro

Um pequeno número de pessoas que se diziam cabalistas tentou predizer acontecimentos pela cabala. A palavra passou a ser usada como referência às ciências secretas em geral, à arte mística, ou ao mistério.
Depois disso, a palavra cabala veio erroneamente a significar uma associação secreta de uns poucos indivíduos que buscam obter posição e poder por meio de práticas astuciosas.

 Cabala e a Tradição Esotérica Ocidental

A Tradição Esotérica Ocidental (ou Hermética) é a maior precursora dos movimentos do Neo-Paganismo e da Nova Era, que existem de diversas formas atualmente, estando fortemente intrincados com muitos dos aspectos da Cabala. Muito foi alterado de sua raiz Judaica, devido à prática esotérica comum do sincretismo. Todavia a essência da tradição está reconhecidamente presente.
A Cabala “Hermética”, como é muitas vezes denominada, provavelmente alcançou seu apogeu na “Ordem Hermética do Alvorecer Dourado” (Hermetic Order of the Golden Dawn), uma organização que foi sem sombra de dúvida o ápice da Magia Cerimonial (ou dependendo do referencial, o declínio à decadência). Na “Alvorecer Dourado”, princípios Cabalísticos como as dez emanações (Sephirah), foram fundidas com deidades Gregas e Egípcias, o sistema Enochiano da magia angelical de John Dee, e certos conceitos (particularmente Hinduístas e Budistas) da estrutura organizacional estilo esotérico- (Maçónica ou Rosacruz).
Muitos rituais da Alvorecer Dourado foram expostos pelo miserável ocultista Aleister Crowley e foram eventualmente compiladas em formato de Livro, por Israel Regardie, autor de certa notoriedade.
Crowley deixou sua marca no uso da Cabala, em vários de seus escritos; destes, talvez o mais ilustrativo seja Líber 777. Este livro é basicamente um conjunto de tabelas relacionadas: às várias partes das cerimônias de magias religiosas orientais e ocidentais; a trinta e dois números que representam as dez esferas e vinte e dois caminhos da Arvore da Vida Cabalística.
A atitude do sincretismo demonstrada pelos Kabalistas Herméticos é plenamente evidente aqui, bastando verificar as tabelas, para notar que Chesed corresponde a Júpiter, Isis, a cor azul (na escala Rainha), Poseidon, Brahma e ametista – nada, certamente, do que os Cabalistas Judeus tinham em mente.

 Cabala Qliphótica

Desenvolvida a partir da Cabala Hermética, a Cabala Qliphótica é o foco da assim chamada Cabala Draconiana, que aborda também as forças consideradas sinistras do universo e do homem (o subconsciente). Tem sido por muito tempo uma matéria renegada pela maioria dos cabalistas e ocultistas e, por isto, pouco compreendida. A Cabala Draconiana procura estudar a Luz e as Trevas em vários níveis da constituição humana e cósmica, sendo um sistema cabalístico muito prático que envolve a Magia Sexual, ritualística, meditações sombrias, invocações e evocações, etc. Seu escopo está no trabalho com as Qliphoth, ou as Sephiroth reversas, o outro lado da Árvore da Vida.
Atualmente os mais importantes estudiosos e divulgadores da Cabala Draconiana são: o inglês Kenneth Grant ("Nightside of Eden"), o sueco Thomas Karlsson ("Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic"), o lusobrasileiro Adriano Camargo Monteiro ("A Cabala Draconiana") e a americana Linda Falorio ("The Shadow Tarot").

Referências

 Ligações externas

Commons
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 Bibliografia

  • "A Cabala Mística", Dion Fortune. Editora Pensamento.
  • "A Cabala Draconiana", Adriano Camargo Monteiro. Madras Editora.
  • "A Cabala das Feiticeiras",Ellen Cannon Reed. Bertrand.
  • "Uma Introdução ao Estudo da Cabala", William Wynn Westcott. Madras Editora.
  • "A Kabbalah Revelada", Knorr von Rosenroth. Madras Editora.
  • Gershom Scholem As Grandes Correntes da Mística Judaica
  • Gershom Scholem A Cabala e Seu Simbolismo
  • Moshe Idel, Cabala: Novas Perspectivas
  • Richard Zimler O Último Cabalista de Lisboa ; A Sétima Porta ; Os Anagramas de Varsóvia

 Ver também



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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SABERES E SIGNIFICAÇÕES IMAGINÁRIAS DE UMA ALFABETIZADORA DEFICIENTE VISUAL

SABERES E SIGNIFICAÇÕES IMAGINÁRIAS DE UMA ALFABETIZADORA DEFICIENTE VISUAL                                                            


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Confira se você sofre da síndrome workaholic



Confira se sofre da síndrome workaholic



Há pessoas que não 'desconectam' do trabalho nem mesmo nas férias

Para um número cada vez maior de pessoas, quando chegam as férias, bate um dilema que não consiste em escolher entre ir à praia, ao campo ou à montanha. Também não se perde o sono para decidir entre ofertas ou pacotes turísticos, viagens de trem, avião, ônibus ou no próprio veículo ou ainda como passar o melhor tempo possível com o cônjuge, família ou amigos. O que realmente preocupa a essas pessoas é como continuar trabalhando durante as férias, período que para eles não significa um momento para relaxar, mas um amargo remédio que não querem tomar.



"Para trabalhar quando não devem, encontraram aliados nos laptops, tablets eletrônicos, smartphones e outros aparelhos tecnológicos que os permitem armazenar documentos, aplicativos e programas, buscar informações na internet, estar conectados ao escritório e a outras pessoas, fazer ligações e trocar mensagens", assinalou a psicóloga clínica Majendri Marqués.


"Quanto mais conectados estão com seus aparelhos eletrônicos e seu trabalho, e menos conectados ficam com suas férias e mundo interior, mais aumenta o estresse, mal-estar e ansiedade dos que sofrem a chamada síndrome do workaholic, mas esta dependência laboral afeta trabalhadores de todos os níveis e profissionais independentes", alertou a especialista.

"Diferente daquilo que pensam, agir dessa forma não traz benefícios, porque os submete a um desgaste físico, psicológico e emocional, que faz com que, ao retornar à rotina laboral, fiquem cansados, sejam menos eficazes e produtivos, cometam mais erros e tenham maior falta de concentração no trabalho", destacou a psicóloga, que dirige o Centro de Crescimento Pessoal na cidade espanhola de Arroyomolinos.

Aqueles que sofrem dessa síndrome apresentam grande vontade de superação e nível de perfeccionismo, resistem a descansar e temem se ausentar de seu trabalho porque, caso o fizessem, se sentiriam menos importantes do que acham que são. Também lhes falta confiança de que seus colegas de trabalho possam agir tão bem durante sua ausência.

"São pessoas que, durante as férias, tendem a realizar atividades estressantes. Em vez de relaxar e aproveitar, transformam o trabalho em seu principal assunto de conversa, passam o dia falando ao telefone celular e recebendo, enviando e respondendo mensagens", explicou Marqués.

A crise econômica impede o relaxamento
De acordo com recentes estudos, a síndrome do workaholic está se proliferando cada vez mais devido à atual crise econômica mundial, já que muitas pessoas sentem incertezas em relação ao futuro de sua carreira caso não saibam o tempo todo o que está acontecendo em sua empresa e têm medo de que, ao voltar das férias, durante sua ausência, tenham ocorrido coisas que ameacem seus cargos.

O relatório da empresa de recursos humanos Randstad constatou que "a crise e a incerteza laboral incidiram no progressivo aumento dos funcionários que não conseguem se desligar do trabalho durante seu período de férias".

Segundo este estudo, publicado em 2011, tem aumentado a proporção de funcionários que pensam no trabalho durante as férias e ficam em função de possíveis telefonemas do chefe.

Além disso, a Randstad apontou que o estresse acumulado durante o ano - e especialmente às vésperas das férias - são outros fatores que impedem os trabalhadores de aproveitarem plenamente seu período de descanso.

E o que se pode fazer para se desligar do trabalho durante as férias e evitar cair na síndrome do workaholic? A empresa Randstad listou uma série de conselhos para isso, como "procurar ter um último dia de trabalho tranquilo", já que muitos funcionários têm a impressão de que deixaram algo pendente na véspera das férias.

Dias antes do recesso, uma forma de "treinar" para se desligar é, segundo a Randstad, refletir sobre o quanto se pensa no trabalho, para, em seguida, "avaliar se este tempo é rentável e benéfico ao trabalho, à empresa e à família".

Os especialistas da empresa de recursos humanos também sugeriram "não forçar a barra" durante as férias para fingir que aproveita cada minuto do descanso, ou seja, não se deve pensar que "é necessário" fazer todo tipo de atividade turística ou de lazer para aproveitar o recesso. A chave é substituir o "tenho que" pelo "gostaria de", para que tudo se torne menos cansativo e sufocante.

Preparar bem as férias, tirar dias suficientes e não idealizá-las de tal forma que impeça mudanças de planos são outros dos conselhos para se desligar, já que, "se nossas expectativas não forem cumpridas, o resultado de nossas férias será uma decepção, advertiu a Randstad.

Por último, mas não menos importante, os especialistas da empresa recomendaram evitar os e-mails e telefonemas profissionais durante as férias, e "aprender a aproveitar a vida e os pequenos prazeres da existência".

Atenção plena para se desestressar
Para a psicóloga clínica Sonia Algueró, que dirige o Instituto Mensalus, as novas tecnologias representaram um grande avanço para facilitar nosso trabalho. "O avanço na tecnologia de telefonia celular, com iPhone, BlackBerry e internet no celular, significaram um fácil acesso ao e-mail de qualquer lugar e permite trabalhar a qualquer hora e a qualquer lugar.""Muitos de nós vivemos rodeados de computadores e aparelhos em casa e no trabalho. Estamos acostumados a ter acesso ao e-mail quase o dia todo. Por isso, é francamente difícil mudar tal hábito nas férias", disse a especialista.Segundo ela, muita gente não consegue sair de férias sem checar constantemente a caixa de entrada do e-mail. "Todos esses avanços facilitam ainda mais o hábito de levar o trabalho no bolso quando estamos com a família, de viagem ou no hotel descansando."Para atenuar a falta de desligamento que significa o uso de telefone e conexão à internet, a diretora do Mensalus propôs algumas táticas baseadas na técnica da "atenção plena", que busca que a pessoa se centre no momento presente de um modo ativo, procurando não interferir nem avaliar o que sente ou percebe em cada momento.Para aproveitar o desligamento e tranquilidade das férias e incorporá-los como estado de equilíbrio e bem-estar que nos permita enfrentar nossa vida diária, a psicóloga sugeriu "se concentrar no momento presente em vez de ficar pendente do passado (reflexões) ou do futuro (expectativas, temores, desejos)".Sonia Algueró também sugeriu "observar a experiência sem o filtro das próprias crenças e observar os objetos como se fosse a primeira vez", assim como "experimentar e aceitar os sentimentos, pensamentos e eventos da vida cotidiana plenamente e sem defesas, como são, ainda que sejam desagradáveis, já que são ocasionais e limitados no tempo".Para se desligar nas férias, não se deve deixar tomar por nenhum pensamento, sentimento, sensação ou desejo, nem se apegar ou se identificar com eles, mas sim deixá-los acontecer como eventos passageiros em vez de reflexos de um mesmo, segundo Algueró, que também sugeriu manter "toda a atenção no que se está fazendo, esquecendo-se do resultado final".

Fonte: Terra e EFE



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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Síntese reflexiva sobre quem foi e quem é o orientador educacional dentro do processo histórico da educação no Brasil.

Síntese reflexiva sobre quem foi e quem é o orientador educacional dentro do processo histórico da educação no Brasil.

            Apesar do texto de Grinspun[1] conter preciosas informações acerca do panorama histórico-legal da Educação como um todo e da Orientação Pedagógica em particular, deter-nos-emos aqui exclusivamente no perfil do Orientador Pedagógico nos documentos legais específicos à área de Orientação Educacional, a saber, as Leis Orgânicas do Ensino na Constituição de 1937; a LDB/61; a LDB/71; a LDB/96.
            As Leis Orgânicas do Ensino Industrial, Secundário, Comercial, Primário, Normal e Agrícola (formuladas entre 1942 e 1946), dão conta do perfil do Orientador Pedagógico, no âmbito geral, nos seguintes termos: o orientador assume funções de caráter terapêutico, preventivo, psicometrista, identificando dons, aptidões e inclinações dos indivíduos. 
Na LDB de 1961, o Orientador ganha status de Orientador Educativo(OE) e Vocacional, identificando aptidões individuais, com um trabalho estendido a todos os alunos, não somente aos alunos-problema, e lançando mão de todos os elementos da escola para o desenvolvimento de seu trabalho. O Orientador Educacional ofereceria orientação escolar, psicológica, profissional, da saúde, recreativa, familiar. Em 1969, dada a conjuntura político-social brasileira, uma nova função é atribuída ao OE: guiar os jovens em sua formação moral, cívica e religiosa.
Na LDB de 1971, o orientador educacional utiliza seu trabalho como mecanismo auxiliar da tarefa educativa cometida à escola como um todo, assim, a OE é interpretada como um esforço entre orientador, professores, administradores e família.
Quem foi o orientador Educacional nesse período? Um profissional de educação que por décadas transitou entre funções generalistas e aglutinadoras, mas sempre  responsável por ajudar a manter a unidade escolar e sócio-educacional.
Na LDB de 1996, a orientação educacional não aparece explicitamente, mas o artigo 64 diz que a formação de profissionais de educação para orientação educacional na educação básica será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós graduação, garantindo nessa forma a base comum nacional.
Dessa forma, podemos dizer que o orientador educacional é um profissional que procura assistir o orientando, considerando o seu ajustamento pessoal e social e relaciona-se com todos os envolvidos no processo educativo, como mediador.


[1] GRINSPUN, Mirian P.S.Z. A orientação Educacional: conflito de Paradigmas e alternativas para a escola.3ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2006.pp.133 a 154.

http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/770.htm

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ensino primário na FRANÇA.

Entrevistas

Anne-Marie Chartier
Realizada em: 14/6/1999
Atuação: Professora Pesquisadora do Instituto National de Recherche Pedagogique, na França
Obras: Discursos sobre a leitura, em co-autoria com Jean Hébrard, publicado pela Ática, 1995; Ler e escrever: entrando no mundo da escrita, em co-autoria com Christiane Clesse e Jean Hébrard, publicado pela Artmed Editora, 1996.

 

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Salto – Como podemos definir o papel da escola na formação de leitores?Anne-Marie – Este é um ótimo tema, já que muitos estudos sobre como as crianças se tornam leitoras evidenciam o peso da família no aprendizado do gosto pela leitura. Um ponto que tem sido relegado é a importância da escola na formação do leitor. Recentes pesquisas de opinião pediram a adolescentes que citassem seus livros preferidos para, depois, compará-los aos livros recomendados pelos professores como leitura obrigatória. O fato surpreendente, até mesmo para os pesquisadores foi que, com freqüência, há uma correlação entre os livros prescritos pelo professor e os livros escolhidos pelos alunos. Ao contrário do que pensavam muitos professores, os mestres têm um grande peso como mediadores de leitura. A questão que se coloca é: será que a cultura literária do professor basta para que ele seja um bom mediador? Tenho discutido este problema junto a meus alunos, futuros professores. Alguns (ou algumas) possuem boa formação em literatura infantil por serem mães e lerem para seus filhos, enquanto os outros não têm nenhuma cultura necessária por serem solteiros, não terem filhos, não viverem esta experiência familiar. Estes se mostram despreparados para ajudar as crianças a entrarem no mundo imaginário ou documentário, o que fará com que a criança pequena queira ler um bom livro sozinha. Para mim, é importante que a formação do professor torne obrigatória uma bagagem mínima de livros de leitura à disposição deste professor, para ser trabalhada com os alunos. O problema é que o tempo de formação é muito curto. Ensinar crianças pequenas a ler um conto de fadas, por exemplo, é um trabalho lento e longo, para o qual não se tem tempo na época da formação. Parece-me importante que os futuros mestres saibam que precisam ler para os alunos antes que eles consigam ler sozinhos. Isto vale para que os que não lêem ainda e também para os que já lêem. Há uma série de livros para crianças entre 8 a 12 anos para serem lidos primeiro em sala, pelo professor. E isto é algo pouco produtivo. A idéia que um jovem professor tem é dizer: "Tento ler um livro com as crianças, mas elas parecem desinteressadas. Então, procuro outro livro". O que eu lhes digo é: Recomece! "Como? O livro não interessa!" "Recomece uma segunda vez!" Na segunda vez, as crianças reconhecerão alguma coisa de familiar. Isto é totalmente oposto ao que nos diz a sociedade de consumo: "Eu provo; se gostar, como; se não, jogo fora". Na mediação da leitura, entra-se em um domínio em que o capricho e o prazer imediato não funcionam. Entra-se no campo de um prazer que se constrói na lentidão. E ainda que não se possa ensinar o prazer, pode-se partilhá-lo, aceitando a lentidão. Muitos jovens professores parecem ter pudor de ler com entusiasmo para as crianças e fazer com que elas sintam que o livro deve ser ótimo, porque o professor expressa emoções fortes através da leitura. É por identificação com este leitor magistral que é o professor que começo a sentir as emoções do livro que, mais tarde, vou reviver na releitura como adulto. Muitos professores se vêem demais, como técnicos ou instrumentos da aprendizagem da leitura. Eles devem ensinar a técnica, é claro. Mas também devem ser mediadores culturais, pessoas que transmitem sua própria relação com o livro. Devem aceitar o papel de primeiro leitor, o que lê por delegação, e não o que pensa que a leitura é um processo autônomo. Quando se diz que a criança precisa ser um leitor autônomo, para mim, soa como: "É preciso que a criança nos deixe em paz e leia sozinha". Acho que é necessário ler na sociabilidade e, mesmo quando souberem ler, as crianças precisarão partilhar a leitura com quem tenha lido com elas. Isto significa uma coisa terrível: as possibilidades de leitura são restritas. Se eu divido à leitura com um grupo, não é possível que cada criança tenha uma leitura diferente. Isto significa que terei que fazer uma escolha. E uma escolha de prioridade. Significa que terei que pensar num "corpus" literário. Talvez minha posição pareça tradicionalista, nada revolucionária. Na verdade, o que parece revolucionário é, de fato, uma posição consumista. Neste sentido, a escola tem um papel a cumprir que não é o mesmo que o dos pais. Eles podem comprar livros a metro, mas se não houver quem ponha a criança no colo e leia para ela, estes livros se tornarão objetos inúteis. A escola pensou no seu papel de mediação em relação ao acompanhamento da leitura e, de uma certa maneira, ela cumpre esse papel.
Salto – Como ocorreu a transformação do ensino, na França? E como essa transformação contribuiu para uma revalorização do professor?Anne-Marie – Eu poderia focalizar a revalorização do status, a revalorização simbólica e intelectual, ou, então, ser materialista e focalizar a revalorização dos salários. Vou começar sendo materialista, porque é a partir do materialismo que se pode construir o resto. Com efeito, a grande reforma dos últimos anos constituiu em equiparar os antigos professores primários (das séries iniciais do Ensino Fundamental) aos professores do segundo grau (do Ensino Médio), que passam a ter os mesmos direitos e os mesmos salários. Este foi o choque material sobre o qual se constituiu a revalorização. No entanto, isso não seria suficiente. Uma revalorização dos salários que não fosse acompanhada de uma revalorização intelectual, em que os professores tivessem a mesma paridade intelectual ao serem recrutados, não teria o mesmo efeito simbólico na própria identidade dos professores. O problema, hoje, não está mais na oposição entre professores secundários e professores primários. O problema reside nos quadros de professores primários. Há duas categorias: os antigos, não somente professores primários, recrutados pelas escolas normais, ou pelo sistema supletivo e com escolaridade de segundo grau, e os novos professores primários que possuem formação universitária. Entre estes dois níveis, não se passou do nível de segundo grau ao nível de licenciatura abruptamente. Houve uma passagem progressiva de uma formação à outra. Nem por isso se evitou que no corpo docente das escolas houvesse uma diferença qualitativa. Os nossos professores nos contam que nem sempre são bem recebidos pelos antigos professores primários, que lhes dizem: "Vocês que são novos, que têm tantos diplomas, que sabem tanto.... A vocês, não temos nada a ensinar. Somos simples professores primários, sem as suas qualificações universitárias. Nosso saber prático guardamos para nós". Quando, o que é importante, a meu ver, no espaço da revalorização dos professores do Ensino Fundamental, é fazer com que a integração entre antigos e novos professores primários exista. Acho que a tocha precisa continuar a ser passada nas escolas, porque o que os nossos professores não têm, apesar de seus títulos universitários, é a experiência prática. E o que os antigos professores têm, ainda que não possuam grau universitário, é a experiência da situação escolar, a competência profissional. O que digo sempre a meus estagiários é que quando se analisa a duração do sistema escolar francês, percebe-se que os professores primários sempre constituíram 20% dos mais capacitados da nação. Quando estes 20% correspondiam à instrução primária, os professores precisavam apenas ter esta formação para fazer parte dos 20% dos mais preparados. Nos anos 60, era necessário pelo menos o segundo grau para fazer parte desses 20%. Hoje, é preciso ter a licenciatura, devido à extraordinária democratização do ensino. Isto não significa que para ser professor primário seja preciso ter o terceiro grau. Há e houve professores excelentes, professores geniais em 1900, que não tinham nenhuma formação acadêmica e que foram pedagogos extraordinários. Mas, para atuar no meio escolar e transmitir escolaridade, é preciso ser qualificado e legitimado no âmbito da escola. E, para isso, é preciso fazer parte do grupo que passou por todo o sistema escolar e saiu do topo desse sistema. Não pensem que um mestrado em sociologia, ou um diploma em etnologia, ou medicina, lhes dá competência para ensinar. Eles lhe conferem legitimidade para ensinar. Os professores primários que vocês encontram nas escolas, que só têm o segundo grau, tinham, então, a mesma legitimidade que vocês hoje porque, na época, não havia uma porcentagem maior do país que tinha este diploma. O valor social de um diploma é sempre relativo à escolarização de um país. E já que vocês estiveram na universidade, façam o possível para se tornarem mais inteligentes na sala de aula. Este é o valor de uso do diploma, e não seu valor social.
Acho que a valorização na força da identidade dos futuros mestres não pode ter como preço a ruptura dentro do quadro de professores de primeiro grau. Para evitar esta ruptura, estabeleceu-se um concurso especial para que os antigos professores em atividade hoje se equiparem aos nossos, queimando etapas. Hoje se pode dizer que há um número grande de antigos professores que adquiriram o mesmo status e os mesmos direitos dos nossos professores através de um concurso que legitima sua experiência de campo. Acho que esta foi uma medida excelente para ajudar as novas gerações a serem solidárias com as antigas.
Salto – Como o ensino da leitura e da escrita influenciou na formação de uma identidade cultural francesa?Anne-Marie – Esta é uma pergunta que se refere à história do ler e do escrever na França. Devo começar bem antes de Jules Ferry, se pensarmos em como o ler e o escrever construíram a identidade da França. Todos começam a aprender a ler apenas a partir da Reforma, na França. É a Igreja Católica que incentiva a leitura para que todos leiam as orações em latim e acompanhem a missa. Pode-se dizer que a primeira aprendizagem de leitura universal contribuiu para a formação de uma identidade francesa católica. No século XIX, depois da Revolução Francesa, esta identidade vai se laicizar, vai-se aprender a ler, escrever e contar visando-se à edificação da criança da cidade ou da criança do campo, aberta ao saber moderno. A partir da popularização da imprensa no século XIX, quando os livros se tornam mais baratos, é preciso que haja leitores, é preciso que se ensinem as crianças a ler. No entanto, percebe-se que agora não se trata da mesma modalidade de leitura, nem do mesmo conteúdo de quando se pensava na formação de uma criança católica que dispunha apenas de um corpus de textos sagrados. O terceiro período seria o de Jules Ferry, que parece ser o começo das nossas atividades de ler, escrever e contar, mas que é, na verdade, uma época de resultados. A grande novidade do ensino primário de então é que se aprende a ler, a escrever e a contar para se chegar aos saberes científicos. A presença, no curso primário, da História, que ensina como se formou a França, as batalhas que foram travadas, como a Bastilha foi tomada e a conseqüente mudança do antigo para o Novo Regime; da Geografia, que ensina a nomenclatura de montanhas e rios; a Ciência, que ensina os professores médicos; a literatura, que ensina Victor Hugo às crianças e as faz decorar textos. Percebe-se que a leitura e a escritura deixam de ser a finalidade da escola e se tornam os instrumentos através dos quais a escola forma um saber mínimo, que será o conhecimento dos alunos franceses. E, ao partirem da escola, os alunos levam não apenas seus objetivos escolares, mas também uma categorização do mundo diferente da que tinham antes. Sabem também que não se aprende a rezar na escola, mas no catecismo ou na escola dominical. Os saberes leigos se separam dos saberes religiosos. Esta é a escola de Jules Ferry, que foi substituída pela escola da modernidade.Hoje, a escola se caracteriza pela presença contínua da leitura e da escrita. Hoje, já não basta ter uma bagagem de conhecimentos elementares, mas é preciso lidar permanentemente com a escrita, que é necessária na vida cotidiana, para responder aos jornais, para entrar na Internet, para participar da sociedade interativa, para ter acesso a esta leitura permanente que nos solicita como profissionais e cidadãos. Assim, chegamos a uma definição da leitura e da escrita e sentimos que há sempre crianças em atraso com relação a estes conhecimentos. Por isso, pode-se dizer que, embora o nível da leitura e da escrita tenha crescido consideravelmente para muitos, ainda há hoje um problema de analfabetismo, já que não conseguimos vencer todos os desafios de todos.
Salto – O que a escola pode e o que não pode ensinar?Anne-Marie – É certo que a escola tem um tempo, que é tempo limitado. Idealmente, ela poderia ensinar muitas coisas. O problema da escola e do legislador é decidir o que é prioritário. Neste momento, na França, debate-se muito uma atitude de consumismo escolar. Os pais dos alunos querem que seus filhos saibam não apenas o que eles aprenderam quando pequenos, mas também tudo o que não aprenderam. Querem que a escola ensine línguas novas, informática, equitação, natação antes dos 9 anos e, além disso, a tradicional ortografia. É claro que o desempenho deve ser melhor que o anterior. Logo se sente que estamos diante de uma demanda muito grande: por exemplo, deseja-se que a escola ensine também boas maneiras às crianças, já que nas famílias de uma só criança as regras de convívio familiar não educam para o convívio social. Mas esta excessiva demanda produz mediocridade.
Finalmente, um dos problemas dos educadores e do legislador é saber como distinguir o prioritário do acessório. Há um verdadeiro debate político no espaço público. Os pais dos alunos pressionam para que se acrescentem conhecimentos urgentes e necessários, como, por exemplo, a iniciação às línguas estrangeiras. O que ninguém se pergunta é: o que vai ser suprimido? Porque toda vez que se acrescenta uma nova matéria, diminui-se o tempo das outras. Sentimos que há uma espécie de oscilação, na recente história política da escola, entre os conhecimentos básicos que são ler, escrever, contar, a iniciação das disciplinas obrigatórias antes do 2º grau e, no outro extremo, a necessidade de transmitir conhecimentos da modernidade, já que a criança é jovem e a escola deve ser um lugar de inovação. E cada vez que se ganha em quantidade, perde-se em profundidade. Quanto mais se faz, menor é o tempo para cada atividade. E notaremos de novo que a criança vai mal em ortografia.
No momento, o grande debate no nosso Ministério diz respeito à educação para a cidadania. Haverá novamente cursos para ensinar às crianças o que é a lei, o que é aceitável e inaceitável no sistema escolar no 1º e no 2º graus. Há uma discussão no 2º grau para saber que professores ensinarão esta matéria e o que não será feito. Nessas horas, vemos que a escola do legislador deve responder ao que é sentido como uma urgência social. Houve uma época em que se ensinava costura na escola. O nível de costura se tornou catastrófico na França, as moças não sabem mais enfiar uma agulha, assim como os rapazes. O nível caiu vertiginosamente, mas vê-se que não há mais nenhuma demanda social neste campo. Eu diria que muitas disciplinas sofrem esta variação: em um certo momento, são ensinadas; depois, a demanda social acaba e é substituída por uma outra demanda social, constituindo, assim uma evolução de conteúdos escolares.
Creio que a escola, em termos ideais, pode ensinar tudo. Depois de escolher, a questão é o que ela deve ensinar, dentro de uma certa conjuntura histórica, conjugando a fidelidade à tradição, a resistência à pressão das famílias e a vontade de se adaptar à sociedade como ela é.

Tradução José Roberto Mendes



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